História Charmant - Saber aproveitar o momento

Jungkook

 

 

Hoje é o casamento de Yoongi e Jimin. Ambos pediram que eu fique hospedado na casa deles por alguns dias a partir de hoje, já que muitas pessoas estão enviando presentes de casamento e eles não estarão lá para receber pois vão aproveitar uma lua de mel minusciosamente planejada por Yoongi. Por falar nele, acho que ele nem dormiu direito.

— Yoongi, você precisa se acalmar. Acabei de chegar e já estou ficando nervoso com essa sua ansiedade. Falta pouco para o casamento. Há pessoas cuidando de tudo. Vou levar você para cortar o cabelo e tudo mais, talvez assim você esteja mais calmo quando eu precisar trocar de lugar com o outro padrinho.

— Ah! Obrigado. — Ele para de andar de um lado para o outro como um leão enjaulado.

— Vamos. — Yoongi me joga a chave do próprio carro.

— Você dirige. Estou nervoso. — Yoongi sorri como se pedisse desculpas por estar assim.

— Tudo bem.

Dentro do carro, noto um adesivo em um canto. Me lembro claramente do adesivo no carro de Taehyung.

— De quem você comprou esse carro? — Pergunto enquanto ele liga uma música.

— Jimin me deu como presente de noivado. Aparentemente TT queria se livrar do carro e vendeu por um preço muito mais baixo do que o de mercado. — Yoongi confere o celular enquanto conversamos, sua distração me dá chance de fazer algumas perguntas.

— Já vi Jimin chamá-lo de Alien e soulmate, você o chama de TT. Porque ninguém o chama pelo nome? Ele não gosta do próprio nome?

— Não é nada disso. Pelo que eu entendi, Alien foi o primeiro apelido. Parece ruim, mas é totalmente carinhoso. — Yoongi parece responder mensagens o tempo todo. — O TT tem algumas atitudes estranhas às vezes, mas ele é totalmente adorável. Soulmate vem da amizade dos dois, eles têm uma amizade forte e se completam em coisas importantes. Chega a ser assustador o quanto ambos são sincronizados. — Ele dá um sorriso como se lembrasse de algo.

— E você o chama de TT.

— É uma redução do apelido que o irmão dele deu à ele na infância. Jin o chamava de TaeTae, daí eu chamo de TT. Acho que ninguém se chama pelo nome. Jin na verdade é Seokjin, TT é Taehyung, Tae, TaeTae, Alien, enfim, Jimin é Chimmy, Mochi, Jiminnie e eu sou Yoonie ou Suga.

Sinto minhas mãos gelarem diante da revelação. O padrinho de Jimin é o meu Tae. Não consigo acreditar! Tento manter o controle e planejar o que direi quando encontrá-lo. Deixo Yoongi na barbearia e vou estacionar o carro. Aproveito para ligar para Hobi.

— Eu sei que estou atrasado, Kook. Tive uma emergência no trabalho. Vou chegar às 13:00 passar no hotel para um banho rápido e então me encontro com você assim que possível. — Hobi se explica.

— Hobi, o padrinho do Jimin é o Tae. — Digo ignorando tudo o que ele disse até então.

— Puta merda! Você vai vê-lo hoje e dizer tudo o que precisa! Já pensou no que vai dizer? O que fazer? Esse casamento promete.

— Você sabia e não me disse nada. Eu devia te dar umas palmadas.

— Achei que seria uma surpresa interessante e eu mesmo só descobri durante os desfiles na Itália.

— Sinônimo de amigo muito fiel é Jung Hoseok, certo?

— Tenho que ir, nos vemos depois.

Entro na barbearia, há tantos profissionais em volta de Yoongi que mal sei o que fazer. Me contento em observar, mas ele logo sinaliza que eu sou o padrinho e então sou cercado por outros profissionais. Quando terminam todo o trabalho, Yoongi e eu passamos no salão de festas onde ocorreria em algumas horas o casamento. Fazemos a checagem do som e seguimos para a casa de Yoongi. Ajudei meu primo com cada detalhe, incluindo verificar várias vezes se não tinha esquecido as alianças ou o discurso que ele revisou tantas vezes que até eu já sei o que será dito.

Ao chegarmos no salão outra vez, procuro entre a multidão pelos cabelos escuros de Taehyung. Mas uma das organizadoras me informa que há um problema com o som da área externa. Retorno quando falta pouco para Jimin entrar, me posiciono atrás de um arranjo de flores. Ainda não quero que Tae saiba que estou aqui.

Quando a música se inicia e as portas se abrem Yoongi sorri amplamente e seus olhos brilham cheios de lágrimas. Ainda me mantendo escondido, observo Tae, agora de cabelos pretos, e suas reações ao que acontece. Seus olhos demonstram alegria em ver os amigos se casarem. A mãe de Jimin lhe dá um beijo carinhoso e logo ele retorna ao seu lugar. Todos parecem amar Taehyung, até mesmo eu. Depois do que houve em Seul, não sei se ele sente o mesmo. Sinto uma pequena pontada em meu peito, a chance de ser rejeitado outra vez me preocupa. Encaro seu rosto imaginando os mais diversos cenários. Então ele me vê, o choque é quase palpável. Vejo culpa em seu olhar, até mesmo vejo-o desviando o olhar.

Jimin começa a dizer seus votos, acabo me imaginando fazendo panquecas com Tae no meu apartamento. Dormindo e acordando com ele ao meu lado. Me sinto lacrimejando um pouco, mas disfarço. Os votos de Yoongi também são incríveis. Lamento que meus tios tenham a mente fechada e não aceitem as escolhas do próprio filho. Por fim, eles trocam as alianças e juras de amor.

Com o fim da cerimônia, sou instruído a guardar os envelopes vermelhos que os noivos recebem. Procuro na multidão por Tae, mas vejo algo perturbador. Ji Eun conversando com Taehyung. O que ela está fazendo aqui? Logo ele sai.

Continuo guardando os envelopes, há de vários tamanhos. Desde muito pesados até os mais leves. Todos igualmente agradecidos. A todo momento me imagino nessa situação. Como seria me casar com Taehyung? Nós receberíamos muitos envelopes? Hobi, Yoongi ou Jimin cuidariam da minha função deste momento?

Vejo Tae vindo cumprimentar os noivos. Ele está lindo com os cabelos pretos e paletó branco. O contraste perfeito. Me perco por alguns segundos admirando o quanto ele é lindo sorrindo. Só volto a prestar atenção quando Jimin me entrega mais um envelope. Parabenizo os dois pelo casamento.

Yoongi nos apresenta e sinto que é a hora. Conto ao meu primo que Tae é o cliente misterioso e aparentemente eu fui chamado de senhor Babaca. A reação de Jimin deixa tudo mais leve. Ele definitivamente é uma alma preciosa. Após as fotos, Taehyung desapareceu. Acabei ficando responsável por atender as necessidades de Jimin e Yoongi.

No meio de tudo isso, Yoongi me apresentou a diversas pessoas. Muitos elogiavam Yoongi que apenas agradecia um pouco constrangido. Dentre os convidados conheci Seokjin, irmão de Tae, mas o que me deixou incomodado foi sua escolha de acompanhante para o evento. Apoiada em seu braço estava Ji Eun.

— Não acredito que ele teve coragem de trazer essa lombriga asquerosa ao meu casamento. — Jimin para ao meu lado e aponta sutilmente para o irmão de Tae.

Permaneço em silêncio ouvindo o esposo de meu primo reclamar das coisas absurdas que Ji Eun já fez. Pobre senhora Park, se soubesse o que a neta aprontou e ainda apronta, ficaria envergonhada mesmo não tendo culpa de nada.

Vejo Tae passando em direção às salas reservadas, resolvo avisá-lo que logo cantaremos a música de Yoongi. Minha preocupação com Tae cresce quando o encontro de olhos fechados em uma das salas. Digo que precisamos conversar, mas não me expressei corretamente e ele acha que quero fazer isso imediatamente. Acabo deixando assim, antes que eu diga algo que piore a situação.

O jantar é servido e devo dizer que não comia nada tão bom há séculos. Durante a sobremesa os discursos começam, a família de Jimin é linda. O apoiam com tanto amor, me sinto mal por Yoongi não ter quase ninguém da família o apoiando hoje. Passei dias escrevendo o discurso perfeito para no final dispensar e deixar o coração falar. Fiz certo, já que tanto Yoongi quanto Jimin tem grandes sorrisos no rosto.

A hora que eu mais temi finalmente chegou. Fazer um dueto sem ensaio foi a coisa mais insana que Yoongi já fez, mas ele disse que artistas fazem esse tipo de coisa às vezes e dá certo. Vi tanta gente influente do mundo da música e alguns nomes da moda que conheço por Hobi sempre falar deles. Me sinto ansioso, mas quando vejo Tae vindo em minha direção todo o resto desaparece. Me lembro apenas de anunciar o título da música. Ele não podia ser mais perfeito, a letra não podia ser melhor, o ritmo mais lento do que o originalmente pensado é perfeito. Me perco momentaneamente em toda a beleza e doçura de Tae. Sinto como se cantasse para ele e mais ninguém. A música termina e vejo-o sorrir para Yoongi e Jimin, ele definitivamente é um bom amigo. Ficar feliz vendo a felicidade de outra pessoa é algo raro.

Tae logo vai em direção a outras pessoas na pista de dança. Preciso de alguns minutos para pensar em todo o turbilhão de sensações que passei hoje. Sigo para as salas reservadas, só não esperava estar sendo seguido. Ji Eun me seguiu e parece disposta a fazer qualquer coisa por atenção.

— Jungkook? — Ela pergunta como se realmente fosse necessário confirmar.

— Vá embora, Ji Eun! Volte para o seu acompanhante. — Digo esperando que ela entenda de primeira.

— Meu acompanhante me trocou por outra. Kookie, sei que fui má com você mas eu sinto muito. Eu era jovem e não pensei no que estava fazendo.

— Não! Você sabia exatamente o que estava fazendo. Cada palavra que você disse foi minusciosamente planejada para me ferir. Desde me chamar de brinquedinho sexual à menino do interior sem futuro.

— Eu errei. Todos erramos Kookie, mas eu sou uma pessoa diferente agora. Nós podemos tentar fazer dar certo. Somos adultos agora.

— Nem se você fosse a última pessoa da Terra. Foi isso que você me respondeu quando eu sugeri tentar continuar o relacionamento assim que você veio conversar comigo sobre terminar o que tínhamos. Então faço agora das suas palavras as minhas. Vá embora, Ji Eun.

— Não! Eu ainda te amo, Kookie. Me perdoa? Sinto falta dos seus beijos. Das suas mãos me apertando. De você me fodendo. — Ela vem em minha direção enquanto vou recuando até ficar encurralado.

Felizmente Tae aparece e me salva. A maneira como ele usa as coisas que sabe contra Ji Eun só me fazem crer que não há homem mais incrível no mundo do que Kim Taehyung. Apesar de tentar ofender meu Tae, coisa que eu jamais permitirei, sinto um pouco de pena da situação deplorável em que ela se encontra. Ela provavelmente achou que por ser abandonada pelo acompanhante, podia vir até aqui e se dar bem com o antigo idiota que ela chutou anos atrás. Assim que ela sai, Tae me encara por um tempo e então se vira para sair.

— Espere! Obrigado por isso. — Digo tentando fazer com que ele fique mais um pouco.

— Tudo bem. Nos vemos na casa de Jimin e Yoongi, aparentemente eles pediram a nós dois que ficássemos na casa até que voltem da Lua de Mel.

Dou um grande sorriso com a ideia de passar uma semana com Tae em uma bela casa com vista para o mar. Ele sai antes que eu diga mais alguma coisa. Droga! Eu tenho que ter mais atitude, mostrar à ele meu interesse. Corro em sua direção e o intercepto no corredor de acesso. Selo nossos lábios o deixando surpreso.

— Nos vemos na casa de Jimin e Yoongi. — Digo e saio andando como se nada tivesse acontecido, mas por dentro meu coração bate tão rápido que sinto que vou dar um infarto.

Após o beijo no corredor, sigo para a área da festa. Meus lábios formigam pela sensação de beijar Tae mais uma vez. Me aproximo de Yoongi. É muito bom ver meu primo tão feliz. A forma como ele olha para Jimin, mostra todo amor que sente.

— Está tudo bem? — Ele pergunta.

— Sim. Como não estaria? O casamento foi muito bonito e você está feliz, então está tudo mais que bem.

— Jimin já quer ir, então estamos nos despedindo de todos. Não sei como agradecer por você ficar na minha casa para receber os presentes que faltam chegar. — Ele olha para os lados e então fala mais baixo. — Se for usar o sofá com o Tae, coloque uma manta. Jimin quase jogou o sofá fora por conta de uma mancha de lubrificante. A mesa de jantar não é tão estável, então você tem que segurar boa parte do peso dele. Enfim, divirtam-se.

Yoongi me abraça e sai se despedindo dos outros convidados, inclusive de Tae que já voltou para a festa. Ele evita cruzar nossos olhares. Me sinto frustrado em saber que ele provavelmente vai ficar até o fim da festa por aqui.

Tae caminha em direção à Hobi, eles se cumprimentam e conversam gesticulando e rindo. Logo os noivos se despedem de todos e vão para a lua de mel. Meu melhor amigo guia Tae para a pista de dança, logo ambos dançam alegremente. Me limito a sentar e assistir essa bela cena. Rejeito convites para dançar e também todo álcool que passa nas bandejas. Preciso estar sóbrio já que vejo Tae beber várias taças de champanhe. Ele pode precisar de ajuda.

Quando começa a tocar 'the night we met' vejo Tae andar para fora da pista. É minha chance! Caminho até ele, mesmo com medo da rejeição. Sigo em passos falsamente confiantes.

— Me concede essa honra? — Pergunto estendendo a mão, milagrosamente ele segura a minha.

O mesmo perfume que eu desesperadamente borrifava em meus lençóis, agora bem próximo à mim com o cheiro de Tae misturado. Suas mãos estão em meus ombros. Seguro sua cintura e aproveito o momento. Dançamos por alguns segundos em silêncio, até Tae começar a falar.

— É bom te ver. — Recebo um sorriso tímido.

— Bom te ver também. Sinto muito por tudo o que houve, eu fui um idio- — Ele me interrompe.

— Nós dois erramos e vamos conversar sobre isso, mas não agora. Vamos só aproveitar o momento? — Tae praticamente sussurra para mim.

— Tudo bem.

Puxo Tae até que seu corpo esteja colado ao meu. Ele me abraça e nós dançamos juntos até sermos os últimos na pista de dança. A música para e nós nos separamos.

— Senhor Kim? — Uma mulher, que acredito ser uma das organizadoras chama por Tae.

— Amanhã eu virei às dez para conferir a arrumação do salão e suas dependências. Estou extremamente chateado com a falta de previsão de vocês com a cozinha. Vou confiar que pelo menos a arrumação ficará impecável. Tenha uma boa noite.

Tae entrelaça os dedos com os meus e me puxa para fora do salão. Vejo-o tatear os bolsos até retirar de um deles a chave de um carro. Ele a joga para mim.

— Você dirige. Eu ainda estou bêbado.

— Para a casa do Jimin? — Pergunto apenas para confirmar.

— Sim.

Destravo o carro e ligo o aquecedor quando entramos. Está frio lá fora, é o fim do outono. Tae se aconchega no banco do passageiro, ele parece sonolento. O percurso até a casa de Yoongi é relativamente rápido, mas Tae parece tão cansado e adormece nos primeiros minutos. Quando chegamos ao destino, fico com pena de chamá-lo então o pego no colo. É um pouco difícil, ele parece leve mas é bem pesado. O coloco no quarto de hóspedes com melhor vista.

Tiro seus sapatos, o paletó e o cubro com o edredom ouvindo seus pequenos resmungos. Deixo um travesseiro para que ele abrace. Fecho as cortinas e ligo o aquecedor. Deixo seu telefone carregando no criado e dou um beijo em seus lábios, ele sorri.

— Obrigado Kookie. — Ele diz com uma voz rouca, sem abrir os olhos.

Fecho a porta do quarto e sigo para o que Jimin arrumou para mim. Me preparo para dormir, mas ao deitar não sinto sono. O sentimento de euforia por ter reencontrado Tae, beijado seus lábios e dançado com ele me impede de dormir. Revivo cada um dos acontecimentos com alegria. Meu telefone vibra anunciando uma nova mensagem.

 

 

Jeon Jungkook, eu nunca mais te acompanho em um casamento!

Você me convidou como seu par, mas eu mal te vi durante a festa.

Ainda estou chocado que o senhor Park é o noivo do seu primo.

Só vou te perdoar porque sei que você estava empolgado por ver Tae outra vez.

Achei muito fofo vocês dançarem juntinhos no fim da festa.

 

 

Sinto muito, Hobi.

Fui um péssimo acompanhante.

Vou me redimir com você depois.

Estou me sentindo tão feliz!

Mas sinto um frio na barriga só de pensar na conversa que provavelmente teremos amanhã.

 

 

Não se preocupe, Kook.

Vocês vão se acertar.

Sinto que o destino de vocês está entrelaçado.

Vou dormir!

Até mais!

 

 

Até!

 

 

Finalmente desligo o telefone e tento dormir. Mas me lembro do quanto Tae bebeu na festa. Ele definitivamente vai precisar de um remédio para ressaca. Me levanto outra vez, indo até a cozinha procuro por água e remédio para dor de cabeça. Entro com cuidado no quarto de hóspedes, a pouca luz no quarto vem do lado externo da casa, apenas o que passa pelas cortinas. Observo suas feições suaves enquanto dorme. Coloco o remédio e a água no criado, não resisto e tiro alguns fios caídos em sua testa. Nesse momento levo um susto, pois sua mão segura meu pulso e me puxa para deitar na cama consigo.

— Tae, eu... — Sou interrompido.

— Shhh. Só vamos dormir juntos, está frio. — É tudo o que ele diz com a voz grossa de sono.

— Posso pelo menos entrar debaixo do cobertor? Está frio.

Tae joga o cobertor sobre mim e me abraça, como ele fazia nos dias em que dormimos juntos antes de toda aquela confusão. Nenhum dos dois diz mais nada. Logo sinto a respiração dele de tornar suave e ritmada. Minha respiração sincroniza com a dele e mal vejo quando adormeço.

Acordo com a cama vazia, mas ouço o barulho do chuveiro. Observo o criado mudo, o remédio se foi e a água do copo também. O barulho no chuveiro cessa, finjo estar dormindo porque não sei o que fazer. Ouço Tae sair do banheiro, abrir sua mala e então voltar de onde veio. Seu cheiro inebriante paira no ar. Sinto seus dedos retirando alguns cabelos dos meus olhos e um beijo ser depositado em minha testa minutos mais tarde, não consigo deixar de soltar um suspiro.

— Jungkook? — Continuo meu fingimento. — Kookie? Acorde.

Faço manha por alguns segundos até finalmente "acordar". Vejo Tae sorrindo para mim.

— Que horas são? — Pergunto me sentindo perdido.

— Quase dez. Tenho que ir ao salão ver como tudo ficou. Quer ficar e dormir mais um pouco? Eu passo em algum lugar na volta e compro nosso café da manhã.

— Vou ficar e arrumar minhas coisas, tomar um banho, então adianto o café e um suco enquanto você vai lá. Pode ser?

— Claro. Não vou demorar.

Tae me dá um beijinho na testa e sai. Por alguns minutos imaginei que já tivéssemos nos acertado e fôssemos namorados dividindo uma casa e uma vida, com um cachorro e talvez eu tivesse um par de alianças escondido na gaveta de meias pronto para pedi-lo em casamento. Teríamos um casamento reservado, apenas para família e amigos. Tenho certeza de que Tae estaria lindo, elegante e maravilhoso como sempre. Posso imaginar ele entrando no salão enquanto eu o espero e... Sou interrompido com o barulho do meu telefone tocando no outro quarto. Sigo até lá vendo o nome de Hobi brilhando na tela.

— Bom dia! — Hobi cumprimenta alegremente.

— Bom dia. — Respondo com menos animação.

— Tenho que voltar para casa à tarde, você vai ficar aqui até que dia?

— Até o próximo domingo. Jimin e Yoongi têm muitos amigos fora do país que enviaram presentes ao invés de dinheiro como fazemos por aqui. Alguns ainda não chegaram, então eles pediram que eu espere. Não faltam muitos pacotes, eu acho. Enfim, porque quer saber?

— Vou passar três dias no apartamento em Daegu, talvez eu leve um amigo para casa. Só queria ter certeza de não te atrapalhar.

— Tudo bem. Faça bom proveito.

Encerro a ligação me despedindo do meu amigo e começo a arrumar as camas. Minha esperança é ter que arrumar só uma cama a partir de hoje e não duas. Tomo um banho demorado. Gasto quase dez minutos tentando escolher uma roupa que seja bonita mas não bonita de mais. Por fim, desisto e visto o de sempre, moletom e camiseta.

Sinônimo de confusão é mexer na cozinha de outra pessoa. Demorei um bom tempo para achar xícaras e copos. No meio do processo achei um potinho de lubrificante. Yoongi e Jimin são dois pervertidos! Assim que terminei o suco e a cafeteira terminava seu trabalho, ouvi a porta ser aberta.

— Jungkook? — Tae me chama.

— Na cozinha.

Isso foi muito como se a casa fosse nossa. Ah meu Deus! O que está havendo comigo? Todo iludido como uma garotinha lidando com o primeiro amor. Isso é ridículo! Tae aparece na cozinha com diversos pacotes. O cheiro de cada um parece atiçar ainda mais a minha fome. Nos sentamos para comer encarando um ao outro.

— Acho que está na hora de conversarmos. — Tae diz me encarando seriamente.

— Quer começar? — Pergunto.

— Vou ter que começar te contando uma história, pode ser? — Apenas aceno afirmativo. — Eu não acreditava que amor fosse algo bom, porque via as pessoas sofrerem por ele todos os dias. Cinco anos atrás, mais ou menos, eu conheci o Angelo na semana da moda. Nós nos demos bem de cara, ele era divertido, inteligente e atencioso. Pelo menos era o que ele queria que eu achasse. Nas semanas seguintes nós conversamos e aos poucos a amizade foi se tornando algo mais forte para mim. Três meses depois nós estávamos namorando. Foram quase dois anos até eu receber um vídeo de Angelo transando com uma mulher e dizendo que só estava comigo pela influência que eu tinha. Ele me usou, manipulou, mentiu e traiu. Tudo por dinheiro.

— O que?! Que filho da puta! Eu bem que devia dar uma surra nesse desgraçado. — Vocifero.

— Calma. Quando eu soube, terminei com ele e segui em frente com a minha vida. Foram três anos e eu nunca permiti que ninguém entrasse na minha vida outra vez. Até você aparecer. Mesmo assim eu tinha medo de acabar traído e machucado outra vez. Quando eu ouvi você dizer aquelas coisas para o Hobi, meu coração se quebrou mais um pouco. Eu tive o comportamento de auto preservação que me fez fugir sem que você me explicasse. O banco me ligou, a operadora do cartão também, dizendo que você queria devolver o valor que eu paguei a mais. Sinto muito se fiz você ou Hope se sentirem mal com isso também. Eu fui infantil, agi como uma criança mimada sem me importar com os sentimentos dos dois.

— Eu... — Chocado, é isso que estou. Não esperava por algo assim. — Naquela manhã eu estava sendo irônico, apesar de um medo latente continuar me dominando por dentro. Ji Eun destruiu meu coração, achei que eu nunca fosse me recuperar. Eu me permiti baixar a guarda com você, sei que errei. Tentei te ligar, te procurar. Naquele dia em Daegu, quando vi aquele homem saindo da sala todo sorridente e te chamando de amor, me senti enganado, usado. Achei que tivesse traído ele comigo.

— Angelo sempre foi bom em disfarçar. Ele tinha sido massacrado naquela sala de reuniões. Estou processando ele em vários países. A situação não é nada boa para ele. Eu nunca voltaria a namorar com alguém que me humilhou, traiu e mentiu para mim daquela forma.

— Descobri depois o que ele tinha feito com você. Tentei te procurar para me explicar, mas você barrou minha entrada na Charmant de Seul e quando troquei de telefone e também de número, eu estava me sentindo mal. Tinha prometido a mim mesmo que não ia procurar por você nunca mais, então excluí seu número.

— Eu tentei te ligar algumas vezes. Pensei que tivesse bloqueado meu número. E quanto à Seul, barrei sua entrada na semana em que voltei de viagem. Eu tinha medo de encarar você de novo. Quando te vi no casamento só queria correr até você, te abraçar e pedir perdão por ter sido infantil e não dar uma chance de se explicar.

— Está tudo bem, Tae. Eu juro que não fiquei com você porque estava interessado no seu dinheiro, eu não ia me importar mesmo se você tivesse aparecido por lá com a roupa do corpo. Me apaixonei por você aos poucos, pelo seu sorriso, pela forma como você trata as outras pessoas, pelo jeito que você sempre tenta ajudar todos e principalmente pela pessoa maravilhosa que você é por dentro. Me perdoe também por ser tão idiota, eu não devia fazer piada sobre o que estávamos tendo.

Tae pisca várias vezes tentando conter as lágrimas. Seguro sua mão sobre a mesa, usando o polegar para fazer uma pequena carícia. Surpreendentemente, ele se levanta e senta em meu colo. Seu rosto se aproxima do meu e me beija. Correspondo ao beijo na mesma intensidade, há um misto de saudade e alívio.

— Podemos tentar outra vez? Sem fugir um do outro ou tomar decisões precipitadas? — Pergunto quando paramos de nos beijar.

— Podemos. — Tae responde com um sorriso.