Puxo o travesseiro para cima da minha cabeça, tentando abafar a música que vem do andar de baixo. Não obtenho sucesso. Resmungo quando preciso abrir os olhos e a luz entra em contato com a minha retina. Porque eu não fechei a cortina ontem a noite?
-Ai! -exclamo ao sentir uma pontada na parte esquerda da cabeça.
Levo a mão direita até lá e lembro-me do início da noite anterior. As taças de vinho e as bebidas, que não lembro o que eram, me deixaram com uma puta ressaca. Ergo a cabeça e vejo que tem um copo d'água e um comprido na minha escrivaninha. Sorri. A minha mãe é a melhor pessoa desse mundo! Uso os travesseiros para apoiar as costas e o comprimido desce com todo o conteúdo do copo.
Como não vou conseguir dormir novamente, levanto-me para tomar um banho. Demoro mais de meia hora no chuveiro. Com o cabelo pingando, visto um short de moletom e um cropped preto que deixa a minha barriga a mostra. Desembaraço o cabelo, passo hidratante no corpo e escovo os dentes pelo menos duas vezes antes de descer.
Procuro os meus pais ou o meu irmão pela casa, mas não os encontro. Sigo a música e termino no jardim atrás da casa. Tem uma piscina retangular, área de churrasco, um gramado verde e amplo com árvores e flores por toda extensão. O que me surpreende é a quantidade de pessoas presentes. Acho que todos os jogadores do Real Madrid estão aqui e obviamente trouxeram as suas esposas e filhos. Procuro os meus pais com os olhos e encontrei a dona Verónique conversando com algumas mulheres.
-Mãe! -aproximei-me.
-Boa tarde princesa! -ela sorri. -Como você está?
-De ressaca. -faço bico. -O que está acontecendo aqui?
-Seu pai decidiu fazer um churrasco para comemorar a nova temporada.
-Porque não me avisaram? Eu não teria descido assim. -apontei para a roupa que uso.
-Você fica linda de qualquer jeito, amor.
Reviro os olhos. Frase típica de uma mãe.
-Deixe-me te apresentar a Clarisse, Pilar, Jessica e Anna. esposas do Marcelo, Sérgio, Toni e Casemiro respectivamente.
-É um prazer. -sorri.
Passei alguns minutos conversando com elas, mas o assunto girava em torno de criação de filhos e eu não tenho nenhuma experiência nesse assunto. Afastei-me aos poucos, procurando por meu pai ou o Elyaz. Felizmente, encontro meu irmão batendo uma bolinha com Álvaro, Isco e Marco. Fico um pouco longe, apenas observando os quatro na brincadeira.
-Catarina! -Isco me chama assim que me vê. Não tenho escolha a não ser me aproximar.
-Oi. -sorri meio envergonhada por ter sido pega espiando.
-Eu queria pedir desculpas por ontem. -Isco coça a nuca.
Franzi a testa.
-Para ser sincera, eu não me lembro de ontem. -cruzei os braços. -O que você fez?
-Não foi nada demais. -ele esclarece. -Só agi como um bêbado alegre. Achei que você estivesse chateada.
Sorri despreocupada.
-Fique tranquilo, estou acostumada a lidar com pessoas bêbadas.
-Você não estava muito bem. -acusa.
-Qual a graça de sair e continuar sã? -ergui a sobrancelha.
Isco ri.
-Gostei de você, garota. Deveria passar essa filosofia para o Marco.
Por instinto, olhei para Marco que prestava atenção a nossa conversa. Ele parecia receoso em se aproximar. Não entendi o porque. Lembro vagamente de tê-lo visto atrás de mim segurando uma cerveja. Será que aconteceu alguma coisa entre nós dois ontem?
-Quer jogar? -Álvaro convida.
-Claro.
Elyaz chuta a bola para mim e pego com o peito do pé. Faço algumas embaixadinhas antes de jogar para Isco. Ele domina, faz firula e toca para Marco. Ficamos nessa brincadeira por vários minutos.
-Filha, você já comeu? -dona Véronique se aproxima com a preocupação transbordando na sua voz.
-Ainda não. -disse sem desviar os olhos da bola.
-Catarina, larga logo essa bola e vem comer.
-Mas mãe…-virei para ela e fiz manha.
-Nada de mas. Vem logo.
Cruzo os braços e vou atrás dela. Entramos em casa e sento-me na frente do balcão enquanto Véronique remexe nos armários e na geladeira antes de começar a preparar algo para que eu possa comer. Batuco os dedos na mesa, esperando que o meu lanche fique pronto.
-Coma tudo. -ordena. -Quando terminar pode voltar para a festa. -ela beija a minha cabeça antes de sair.
Encaro o prato na minha frente. Tem um sanduíche de salada de frango, batatinhas fritas e um copo enorme de suco de laranja. Minha barriga ronca e percebo que estou faminta. Dou uma mordida generosa no sanduíche e mastigo devagar. Bebo um gole de suco para ajudar a comida a descer.
-Catarina? -diz uma voz atrás de mim.
Levo um baita de um susto e começo a engasgar. Minha garganta fecha e sinto dificuldade para respirar. Marco aparece em meu campo de visão e dá uns tapinhas nas minhas costas para ajudar. Pego o copo e metade do suco em um gole só. Respiro fundo ao constar que esse ataque de tosse passou.
-Desculpa. -Marco coçou a nuca sem graça.
-Não tem problema. -sorri com os olhos ainda cheios de lágrimas. -Estava me procurando?
-Sim, acho que precisamos conversar. -ele senta ao meu lado.
-Sobre?
Marco pareceu confuso.
-Você...não se lembra de ontem? -perguntou.
-Não. -dei de ombros. -Acho que bebi vodka. Vodka me dá amnésia
Marco suspira aliviado.
-É melhor assim. -ele sorri.
-Porque? -comi uma batatinha. -Você fez algo errado?
-Não. -ele se justifica. -Mas a conversa que tivemos não faz falta.
-Se você diz. -dei de ombros.
Não sei que conversa foi essa que tivemos, mas se Marco acha que não vale a pena repetir por mim tudo bem. Aliás, ele está falando comigo e é uma grande evolução já que ele me evitou durante toda a semana. Admito, senti falta de conversar com ele. Marco tornou o meu primeiro dia mais divertido e leve. E ele é um gato! Músculos saltados, cabelo perfeito, maxilar definido e um sorriso que faz qualquer mulher ficar de pernas bambas. Pena que nunca vai se interessar por mim. Eu devo parecer uma pirralha pra ele.
-Você vai ao jogo amanhã? -puxou assunto.
-Com certeza. -sorri. -Vai ser o primeiro jogo que vou em muito tempo.
-Porque? Sei que ingresso nunca foi um problema.
-Tem razão, mas eu estava no colégio. Passava o meu tempo estudando e saindo com as minhas amigas.
-Ainda não consigo acreditar que você tem apenas dezoito anos. -Marco apoia a cabeça na mão.
-Porque? -sorri sem entender.
-Você é muito madura e seu corpo…-ele parou.
-O que tem? -olhei para baixo analisando minha barriga e pernas.
-É desenvolvido para sua idade. -ele completa sem jeito.
Não consigo evitar de rir.
-Quer dizer que sou gostosa? -ergui a sobrancelha. Marco parece apreensivo, mas balança a cabeça. Ri mais uma vez. -Obrigada!
Ele parece aliviado pela minha reação. Continuamos a conversar sobre assuntos banais, mas que mostram a personalidade de nós dois. É tão fácil conversar com Marco, parece que nós conhecemos a muito tempo. E o sorriso dele, meu Deus! É o mais bonito que já vi na vida.
Acho que estou encantada por Marco Asensio!
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.