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História Chefe - Inspirado em 365 dni - Novo começo


Escrita por: alaraujooficial

Notas do Autor


Capa: Lis e Lorenzo Salvatore

Capítulo 10 - Novo começo


Fanfic / Fanfiction Chefe - Inspirado em 365 dni - Novo começo

Decidi sair do quarto. Não daria à Lorenzo o prazer de me ver para baixo, trancada no quarto, triste por ele estar paquerando a minha irmã. Levantei da minha antiga cama, passei as mãos pelo vestido vermelho, limpei a maquiagem levemente borrada e saí dia quarto. 

No andar debaixo, meus pais estavam com outros de seus convidados, enquanto do outro lado do jardim estava meus antigos amigos, com a minha irmã. Lis encarava o rosto de Lorenzo, encantada, piscando poucas vezes e rindo exageradamente. Ele movimentava os lábios com sutileza, com o sorriso aparecendo discretamente enquanto falava empolgado sobre algo. Eles não perceberam a minha chegada, estavam ocupados demais interagindo, exceto Lorena que abriu um sorriso ao me ver, amolecendo meu coração. Ela era uma boa amiga, a melhor que já tive, eu sentia saudades. Sorri de volta, para ser educada, mas desviei o olhar rapidamente. 

- Lara, querida! - minha mãe chamou minha atenção 

Caminhei até meus pais e eles estavam no meio dos meus tios, conversavam sobre leis e Direito, foi fácil entrar na conversa. Meu tio me perguntava sobre meus últimos casos e eu respondia com prazer. Era um alívio falar do trabalho em meio aquele caos. 

- Eu tenho uma vaga no meu escritório, eu adoraria tê-la comigo! 

Meu queixo caiu e eu o encarei animada. 

- Nossa... seria incrível! 

- Seu pai sabe que o meu escritório é o melhor de Búzios, e um dos mais prestigiados do Rio de Janeiro. 

Meu pai e meu tio riram, foi impossível não rir também. Meu pai concordou com o que havia sido dito, o que me deixou mais animada, pois trabalhar em uma grande firma me traria grandes desafios. Acertamos os detalhes e a conversa rendeu por longos minutos, até eu olhar para o relógio em meu pulso e ver que já passava das quatorze horas. 

- Eu preciso ir, mãe! 

- Está muito cedo, Lara. - protestou 

- Eu tenho muitas coisas para fazer no novo apartamento... 

- Certo, você vai voltar aqui o mais breve possível, não vai? - meu pai perguntou 

- Sim, vou. - sorri para tranquiliza-los 

- Se cuida, minha filha. - minha mãe disse 

- Vejo você amanhã? - meu Tio perguntou 

- Estarei lá! 

Ele sorriu e concordou com a cabeça. Abracei meus pais e me despedi de meus tios. Caminhei pelo jardim, parando muitas vezes para cumprimentar parentes que há muito tempo não via, sendo o mais breve possível e me apressando até a porta. Chamei um Uber e voltei para casa, me sentindo mais feliz quanto mais perto eu ficava. Minha liberdade não tinha preço, tudo estava finalmente dando certo. 


Horas mais tarde, eu estava deitada no sofá do apartamento, Zeus estava no meu colo, estávamos assistindo um documentário na Netflix. A campainha tocou e eu saltei de susto. Eu não esperava por ninguém, não tinha ideia de quem poderia ser. Abri a porta rapidamente e quase caí para trás. 

- Oi, Lara. 

Lorena estava parada em minha frente, ela usava um vestido rodado e descontraído, os cabelos pretos caiam até abaixo dos ombros - bagunçados de uma forma que a deixava mais bonita ainda. Seus olhos estavam cheios de expectativa, e ela analisava a minha expressão cautelosamente. 

- Oi, Lorena 

- Eu posso entrar? 

Respirei fundo e ignorei meus pensamentos. 

- Claro, por favor. 

Abri passagem para que ela passasse. Lorena entrou, tímida, esperou até que eu a acompanhasse. Fechei a porta e me voltei para ela. 

- Senta, fica à vontade. - fui com ela até o sofá - Aceita uma água ou outra coisa? 

- Não, obrigada. 

Assenti e sentei ao seu lado. Desliguei a TV e desci Zeus para o chão. Lorena aguardava pacientemente, até que estávamos nos encarando em silêncio. Ela parecia escolher as palavras, nervosa, e eu tentava esconder meu constrangimento. Eu tinha tantas perguntas: como sabia onde eu estava morando? O que veio falar comigo? Onde estava seu irmão? A última pergunta era irracional, eu não deveria pensar naquilo. Ele devia estar ocupado com a nova amiga. 

- Sua mãe me deu seu endereço. - quebrou o silêncio, adivinhando meus pensamentos

- Ah.

- Eu vim pedir perdão à você! 

Levei um segundo para processar o que ela disse, imaginando se eu estava pronta para perdoa-la. Eu sentia tanto a sua falta, ela era uma moça incrível, mas colocou minha vida em risco, omitiu coisas sobre seu irmão e provavelmente tinha ligação com o tráfico, como ele. 

- Você é... - hesitei - Você faz as mesmas coisas que ele? 

Lorena respirou fundo e respondeu: 

- Não... mas eu sei de tudo o que ele faz, poderia ser considerada cúmplice. 

- Por que veio com ele para o Brasil? 

- Lorenzo ficou paranóico depois do que aconteceu com a gente! Ele não achou seguro eu ficar em Sicília, sem ele. 

Fazia sentido. O que não fazia sentido era ele largar sua vida na Itália para vir atrás de mim. Os pensamentos me torturavam, era uma guerra entre a razão e a emoção, as duas tinham bons argumentos e gritavam na minha cabeça. 

- E quando vão embora? - minha voz saiu ríspida demais 

Lorena ficou em silêncio por um tempo breve. 

- Ele quer passar um tempo aqui...

Meu queixo caiu

- Como assim? - quase gritei 

- Búzios é lindo... ele se sente bem aqui, e acho que quer ficar perto de você. 

Meus olhos estavam arregalados, as palavras escaparam da minha mente, eu não pensava em uma resposta decente. Ela estava envergonhada, esperando pela minha resposta. Demorou até eu me recompor. 

- Vocês estão aonde? 

- Ele alugou uma casa, perto da praia. 

- Eu não sei o que dizer... 

- Está chateada? 

- Na verdade, sim. 

- Quer conversar sobre isso? 

Respirei fundo e as palavras foram saindo da minha boca sem que eu pudesse impedi-las. 

- Eu fui embora da Itália para ficar longe dele, Lorena! - quase gritei 

Ela ouviu em silêncio. 

- Ele colocou a minha vida em perigo! Nós duas poderíamos ter morrido, você entende isso?! 

Lorena concordou com a cabeça e continuou ouvindo. 

- A gente transou. - disse por último 

- O quê? - ela engasgou 

- Eu sei que é errado, sei disso, mas eu me importo com ele, me importo com você! Vocês se tornaram especiais para mim, mas me enganaram. 

- Lara, eu não sabia que vocês... 

Ficamos em silêncio enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Eu não conseguia olhá-la nos olhos, estava envergonhada por ter contado à ela, mas não conseguia mais guardar aquilo só para mim. Ela era uma das minhas amigas mais próximas, e era irmão dela afinal de contas. Sua mão saiu de seu colo e senti seu toque, ela usou os dedos para limpar meu rosto molhado; quando levantei o olhar para encarar o seu, pude sentir que me compreendia, o que era um alívio enorme. 

- Quer que eu fale com ele para irmos embora do Brasil? - perguntou 

Pensei no assunto, mas não consegui chegar a um consenso dentro de mim. 

- Não sei... 

Lorena baixou a mão do meu rosto e segurou minhas mãos. Ela era uma menina incrível, sempre fazendo e falando as coisas certas e me deixando à vontade com tudo. 

- Você gosta daqui? - quebrei o silêncio 

- Sim! - ela sorriu - É incrível, Lara... 

Sorri com ela. Por algum motivo eu me sentia bem por ela estar em Búzios, comigo, no meu apartamento. Desejava que as circunstâncias que nos levaram até lá fossem diferentes, mas estava feliz.

- Tem muitos lugares legais para ir, eu posso te levar! 

- Então somos amigas de novo? - sua animação era quase palpável 

- Nunca deixamos de ser! 

Lorena escancarou o sorriso e me puxou para um abraço apertado. Não demorou até que a campainha nos fizesse saltar, e eu tive que larga-la. Aquilo era mais do que eu estava acostumada, eu nunca recebia visitas quando morava com Felipe naquele apartamento, nem nas duas últimas semanas. Levantei e fui até a porta. 

E lá estava ele, usando jeans pretos e uma regata sem mangas, azul. Os cabelos estavam bagunçados como os da irmã, e assim como ela, ele não estava menos do que maravilhoso. Engoli em seco, desejando estar usando outra coisa além da minha camisa, duas vezes maior que o meu tamanho, que eu usava para dormir. 

- Eu fiquei preocupado com a Lorena, ela estava demorando... 

Eu devia saber que Lorena não foi até lá sozinha. Ele deveria estar esperando no carro, com Victor. Saber que ele moraria no mesmo lugar que eu era de enlouquecer, eu estava muito chateada, mas ao mesmo tempo estava feliz. Mais uma vez havia uma guerra entre meu lado racional e o irracional. Virei as costas para ele e voltei para o sofá. Lorena estava contendo um sorriso e eu revirei os olhos. Lorenzo vasculhou o apartamento com o olhar, mas eu me convenci a tirar os olhos dele, seria mais fácil de tomar atitudes sensatas. 

- Lugar legal! - ele disse 

- Obrigada. - ironizei 

- E então, vamos embora, Lorena? 

- Tá bom. - ela revirou os olhos 

Ficou de pé e eu a acompanhei. Ela me puxou novamente para um abraço caloroso, repousei minha cabeça em seu ombro, totalmente confortável. Pela primeira vez, em semanas, não me senti sozinha. Queria que ela ficasse mais um tempo comigo, mas não pediria isso na frente do seu irmão. 

- Você deveria voltar mais vezes! - disse quando ela me soltou 

- Eu adoraria. 

Suspirei e sorri, sem graça. 

- Até logo, Larinha. - ela caminhou até a porta e jogou um beijo para mim 

Sumiu no corredor, deixando apenas eu e Lorenzo, ele caminhou devagar até a porta, parando abruptamente para me encarar. Ele se aproximou de mim e meus batimentos aceleraram, sua mão tirou uma mecha do meu rosto e a colocou para trás, se inclinou para mais perto e eu fechei meus olhos, como uma tola. Senti seus lábios na minha testa, de forma prolongada, e mesmo não sendo o que eu esperava eu senti todo o meu corpo amolecer. 

- Boa noite, linda. 

Lorenzo saiu rapidamente e eu fechei a porta com a mesma velocidade. Soltei o ar que estava prendendo e senti os lábios repuxando-se nas laterais. 


***


No dia seguinte, eu estava no meu novo emprego, na firma do meu tio. Dr. Marcus Medeiros era uma figura importante no ramo da advocacia. Ele era irmão do meu pai, o Juiz Manuel Medeiros, minha família era formada por doutores, o que não me deu outra escolha além de me tornar uma advogada, como eles. Eu amava o que fazia, e graças a isso, tinha uma vida confortável, sem depender financeiramente de outra pessoa. 

O lugar onde ficava seu escritório era bonito e elegante, mas não ficava em um prédio alto, ele praticamente comprou uma casa e a transformou em escritórios amplos. A aparência, olhando de fora, era de uma casa - muito grande - exceto pelas grandes letras que anunciavam: "Dr. Marcus Medeiros & advogados associados", mas pelo lado de dentro era uma firma a todo vapor. Pessoas bem vestidas caminhavam apressadas com papéis ou notebooks. Havia uma recepção com uma bela moça atrás de um balcão, me aproximei e ela abriu um sorriso gentil. 

- No que posso ajudá-la? 

- Eu vim ver o Dr. Marcus. Sou Lara Medeiros. 

- Ah, claro, a sobrinha do Dr. Ele me avisou que você vinha. Bom, sua sala é no segundo andar, número 7. 

Meu queixo caiu. 

- Eu não deveria passar por uma entrevista ou coisa assim? 

- Parece que ele confia no seu trabalho, senhorita Medeiros. 

- Você pode pedir para ele ir na minha nova sala quando puder? - pedi 

- Claro. O número da recepção está anotado em sua mesa, ligue se precisar. Tenha um ótimo dia.

- Obrigada. 

Fui até a escada e logo estava no segundo andar. Era tão grande quanto o primeiro, a diferença era que o segundo era um corredor com muitas portas. Uma das últimas era a minha, puxei a maçaneta e me deslumbrei com a minha nova sala: era espaçosa, toda decorada com a cor branco, os móveis eram de madeira, havia um sofá elegante, e até uma TV. Atrás da minha mesa a parede era toda de vidro, do chão até o teto, e eu tinha vista para a praia. Era magnífico, lindo, e bem mais dia que eu almejava conquistar um dia. 

Eu sempre soube do escritório do meu tio, e quando me formei ele ofereceu o emprego, mas eu estava noiva, morando com Felipe, eu não tinha tempo para trabalhar, eu me dedicava à nossa casa. O tempo passou e nós mudamos para a Itália, então continuar nos negócios da família nunca foi uma opção. E lá estava eu, depois de perder tudo, pronta para recomeçar a minha vida. 

Meu primeiro dia de trabalho seguiu sem grandes novidades. Meu tio me visitou e dispensou a entrevista de emprego, ele disse que sabia do meu potencial e que eu tinha ótimas referências. Me mantive ocupada resolvendo algumas causas que eram do meu interesse, e assim meu dia no trabalho chegou ao fim. Houve um toque na porta. 

- Entra! - pedi

Meu tio apareceu novamente em minha sala, e eu sorri gentilmente. Ele aguardou na porta, entreaberta, o que significava que não queria demorar muito. 

- Lara, eu esqueci de avisar que você vai precisar de uma secretária, eu tenho algumas opções caso precise, mas saiba que está livre para escolher quem desejar. 

- Certo. Resolvo isso o mais breve possível. 

- Até amanhã, sobrinha. 

- Até amanhã. 

Marcus saiu e fechou a porta. 

Eu precisaria de alguém para me auxiliar e não tinha ideia de quem chamar. Certamente era muito trabalho para mim, eu daria conta sozinha, mas ficaria sobrecarregada. Respirei fundo e guardei minhas coisas. 


No meu relógio eram dezoito horas. Eu estava caminhando pela orla da praia, voltando para casa, o que significaria vinte minutos a pé. Eu teria que comprar um carro quando me estabelecesse, seria mais prático para mim. O sol estava se pondo e as ondas batiam contra a areia de maneira sútil. Eu senti falta daquele lugar, era tranquilo, me trazia paz. Meus saltos scarpin batia contra o cimento da calçada, minha calça social quase arrastava no chão, eu deveria parecer deslocada naquele lugar. 

- Lara! - uma voz me tirou dos meus devaneios

Virei em direção à voz e então eu os vi. Estavam sentados em cadeiras de praia, em frente a um portão, usavam roupas nada formais e bebiam bebidas caras. A casa atrás deles era bem grande, e parecia bonita, pelo pouco que aparecia atrás do portão. Lorenzo, Lorena, Victor e uma mulher desconhecida, uma desconhecida extremamente atraente e bonita. Lorena acenou e abriu um sorriso. 

- Vem cá! - insistiu 

Eu atravessei a rua e logo estava na frente deles. Na calçada daquela magnífica casa. Me arrependi de estar usando roupas tão formais, geralmente era o contrário, nossos papéis estavam invertidos. 

- Oi, Lore. - falei com o máximo de simpatia e naturalidade

- Você tá bonitona com essas roupas! - ela comentou 

- Eu estava... - hesitei - Estava trabalhando. 

- Sério? Minha nossa, que legal! - sua simpatia era reconfortante em um momento tão constrangedor 

- Sim. Eu trabalho na outra rua! - indiquei a direção 

- Naquele escritório na outra esquina? Dizem que os melhores advogados de Búzios trabalham lá! - Lorena tentava me deixar mais confortável 

- Os melhores advogados trabalham lá? Bom, isso não é totalmente verdade agora. - a mulher  desconhecida disse, sorrindo 

Ela não tinha sotaque, como Lorena e os dois, era brasileira. Cabelos exageradamente loiros, olhos verdes, e pernas grossas. 

- Como é? - franzi o cenho 

- Catarine é advogada, e ela é a melhor no que faz no Rio. - Lorenzo explicou, de maneira convencida

- Ah - foi tudo o que consegui dizer 

- Dra. Catarine Nolasco. Advogada da família, é um prazer! - ela estendeu a mão e eu retribuí por educação 

- Lara Medeiros. 

- Medeiros? - ela perguntou, intrigada 

Dei de ombros 

- Então você é parente do Dr. Marcus, dono do escritório? 

- Ele é meu tio! 

- Ah, minha nossa - ela arregalou os lindos olhos verdes - Você é filha do juiz Medeiros?

- Sim

- Ele é um homem legal, trabalhamos juntos algumas vezes. 

Levantei uma das sobrancelhas

- Não fomos apresentados, mas ele é um juiz excelente. Sua mãe também é uma ótima advogada. 

- Eu não sabia que sua mãe é advogada, Lara. - Lorenzo comentou 

- A família Medeiros é uma família tradicional de advogados, todos eles são. Exceto uma moça que não seguiu a carreira por amor. Bom, é o que dizem. 

Meu estômago gelou. 

- Você a conhece? - perguntou - Soube que ela viajou com o noivo. 

Fiquei em silêncio encarando meus pés. Queria sair correndo, mas não conseguia me movimentar. Senti a mão de Lorena na minha e ela me puxou para dentro da casa enorme. 

- Vou roubar ela um pouco, Catarine. 

Fiquei grata por aquilo. A casa era linda, espaçosa de uma maneira exagerada, haviam três carros de luxo na garagem, fomos para a sala de estar e sentamos no sofá branco. 

- Tá tudo bem? 

- Sim. - dei de ombros 

- Ela é uma tagarela! 

Dei risada pela forma como ela se referiu à mulher. Lorena me acompanhou. Seu sorriso era bonito, como o do irmão. 

- Eles estão saindo ou o que? - perguntei 

Lorena ficou em silêncio, escolhendo as palavras. 

- Sim. Sinto muito, Larinha. 

- Ah, tudo bem. - menti 

- Ela não mora em Búzios, vem de vez em quando para ajudá-lo com os assuntos da empresa. 

- Sei. - ironizei 

- Ele é um bobo! Eu gostaria muito mais se meu irmão estivesse com você. 

Eu deveria contar à ela que não estamos juntos porque eu o rejeitei? 

- E a minha irmã? 

Eu não queria saber a resposta, tinha medo, mais a curiosidade era maior. Eu precisava saber se ele ficou com ela, ou algo do tipo. 

- Não aconteceu nada! Embora ela quisesse muito. 

- Eles ainda... se falam? 

Para de perguntar. Para de perguntar. Para de perguntar. 

- Sim. 

Seus olhos estavam cheios de empatia. Lorena era uma amiga de verdade, e mesmo se tratando do irmão dela, ela continuava ao meu lado. Eu percebia que falar para mim como o irmão dela seguiu em frente lhe causava mais dor do que qualquer outra coisa. Tentei amenizar a dor dentro de mim e mantive a expressão contida. 

- Hoje o dia no trabalho foi cheio! - mudei o assunto bruscamente 

- Muitas coisas para fazer? - perguntou 

- Sim. Meu tio quer que eu arrume uma secretária, vou ter que procurar por alguém e...

- Posso me candidatar? - perguntou animada 

Eu a encarei surpresa. Lorena não precisava trabalhar, seu irmão dava tudo à ela, por que ia querer trabalhar como secretária comigo? 

- Mas, por que? Você parecer ter tudo aqui

Ela suspirou 

- Sim, tenho. Mas passo o dia assistindo TV enquanto Victor e meu irmão trabalham, eu estou entediada, não tenho mais você para assistir filmes e comer pipoca. Me sinto sozinha e inútil. 

Lorenzo entrou na sala. Nós duas olhamos para ele surpresas, ficamos em silêncio por alguns segundos até Victor e Catarine chegarem, conversando sobre algo. 

- É melhor você conversar sobre isso com o seu irmão. - falei baixinho, me inclinando em sua direção 

Fiquei de pé e peguei minha bolsa.

- Mas e você, deixa? 

- Eu adoraria, Lore. Acho que seria uma experiência construtiva para você! 

Minha voz estava carregada de sinceridade. Eu realmente adoraria passar meus dias com ela, e vê-la se tornar independente do irmão era algo que podia fazer muito bem. Lorena sorriu e concordou com a cabeça, ficando de pé também. 

- Eu vou para casa. Nos falamos depois, por mensagem. 

Abracei-a e ela fez o mesmo. Me despedi de Victor e Caterine, e antes que pudesse me dirigir à Lorenzo ele virou-se para a porta de saída. 

- Eu te levo em casa! - seu tom era de ordem e não uma sugestão 

Ele saiu até a garagem e eu o acompanhei. 

- Não precisa, não é tão longe daqui! 

Ele abriu a porta do motorista e olhou para mim.

- Por isso eu vou te levar! 

Olhei para o céu e estava praticamente escuro. Voltar andando, durante a noite, e usando esses saltos enormes não pareciam uma boa ideia. Concordei e fui até o banco do carona. Ele saiu com o carro, passeando pela orla, enquanto eu admirava o mar em silêncio. 

- Então, do que estavam falando? 

- Lorena quer trabalhar no escritório, comigo. 

- Ela não é advogada! - sua voz saiu ríspida

Encarei seu rosto, surpresa. 

- Seria como minha auxiliar! 

- Você sabe que ela não precisa. 

- E você ouviu o que ela disse, não ouviu? Ela sabe que não precisa, mas se sente sozinha e não tem nada para fazer! 

- E daí, porra? Posso conseguir amigas novas para ela, se o problema for esse! 

Meu queixo caiu, e eu dei uma risada sem humor. 

- Você é inacreditável! O escritório é três ruas da sua casa, ela poderia ir andando, qual seu problema? 

- Você é que deve estar louca se acha que eu vou deixar a Lorena ir andando para qualquer lugar! 

- Lorenzo, não estamos na Itália! 

Ele suspirou, com raiva. 

- Você não sabe de nada sobre mim, tá bom?! Eu tenho inimigos! 

- Bom, eu sei disso melhor do que ninguém! - rosnei 

Lorenzo ficou em silêncio por um instante, submerso em seus pensamentos ou lembranças.

- Ela não vai trabalhar com você! - disse por fim

- A decisão não é sua! 

Virei para a janela e segurei o fôlego vendo a cidade correndo, cada vez mais rápido, pelo vidro escuro. Aquele carro era veloz, e o motorista era um inconsequente. 

- Não fica colocando coisas na cabeça dela! Ela é muito nova para tomar decisões... 

- Colocar coisas na cabeça dela? Como ser uma mulher independente, que sabe o valor de trabalhar e ganhar dinheiro honestamente? 

- Cala boca, Lara. Você não sabe de nada! - ele gritou 

Eu tinha certeza de que meus olhos estavam arregalados. Respirei fundo para não gritar de volta, afinal ele estava dirigindo. Virei o rosto para a janela e aguardei pacientemente enquanto a rua da minha casa se aproximava. Ele parou o carro na frente do prédio de cinco andares, que sequer tinha porteiro, e eu levei a mão até a maçaneta. 

- Obrigada pela carona.


Notas Finais


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