História Chegue antes da tempestade - Catradora FelinaxAdora - She-ra - Capítulo especial - Ame

06.09.2011 - Na cidade de Yesterville, em um apartamento no subúrbio.

**Mermista

Achei que me mudar para aquele apartamento seria entediante como tudo em minha vida.

Mas no primeiro dia já arranjei confusão.

Desci até o playground onde um bando de garotos pareciam brincar. Só para chegar lá e descobrir que todos ali eram uns chatos irritantes.

Menos um.

Um garoto que parecia sofrer bullying por ter a voz "de garota" e ser delicado…

Esse era diferente. O garoto parecia encantado com as flores do jardim da frente. Era alegre. Feliz.

Ele tinha um cabelo lindo que batia em seus ombros, ondulado e loiro.

E se não me dissessem que era um menino jamais saberia.

De alguma maneira me sentia bem ao lado dele.

Então viramos amigos.

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12.01.2015 - No apartamento da Mermista, subúrbio de Yesterville.

**Perfuma

Olhei todas aquelas roupas espalhadas na cama. Uma mais delicada e linda que a outra.

- Vai logo, coloca! - Mermista me empurrou.

- Sério? - Perguntei encabulada.

- Sério! - Ela disse sorrindo.

(…) Parei em frente ao espelho me olhando…

Era como se finalmente eu me encaixasse. Como se tudo finalmente estivesse em seu lugar. Aquela era eu…

Reparei nas cores claras das roupas, no corte da saia, na camiseta que caia perfeitamente em mim.

E me senti completa.

Mermista se aproximou e soltou meus cabelos que caíram sobre meus ombros e parou ao meu lado admirando meu reflexo;

- Viu? - Ela sorriu para mim no espelho - Você é uma garota linda.

Meu sorriso saiu estranho já que foi uma mistura de alívio e choro.

Eu a abracei;

- Não acha estranho?

- Você sempre foi uma garota mais delicada e bonita que eu… - Ela riu - Você sempre foi… A minha garota…

Eu a beijei. Por me amar. Por me aceitar do jeito que eu sou e por estar comigo naquele momento.

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06.09.2016 - Ainda no apartamento, início da tarde.

**Mermista

Estava andando de um lado para outro roendo as unhas para me segurar.

Podia ouvir a gritaria do outro lado da parede.

E cada grito me machucava cada vez mais…

Me aproximei e colei meu ouvido á parede;

-… Você não entende! - O homem velho gritava - Isso é anormal! Uma doença!

- Você é quem me não entende! - Perfuma parecia desnorteada - Eu sou assim, não há nada de errado comigo!

- Você é meu FILHO! - O homem berrava - Eu tive um menino! Não essa aberração que está na minha frente!

- Eu sou uma garota! Você não pode mudar isso!

Pude ouvir o barulho do soco e ela caindo no chão chorando.

Não consegui mais me conter e saí correndo.

Atravessei a sala e não me importei em fechar a porta.

Na casa do lado eu abri a porta com força só para perceber que a corrente da tranca estava lá. Mas a cada grito dela meu coração doía mais e mais e de alguma maneira aquilo me deu forças para arrombar a porta.

Assim fui até o quarto de Perfuma.

Ali a encontrei no chão, pronta para levar mais uma surra de seu pai, um velho gordo que agora desatava o cinto.

Ele se virou mas antes mesmo que pudesse reagir acertei em cheio um soco em seu rosto, que o fez cair para trás tonto.

Me ajoelhei segurando o rosto de Perfuma.

Com o lábio sangrando ela chorava…

Eu a abracei forte. Só queria que a dor dela parasse.

- Pegue as suas coisas - Eu me levantei encarando o velho - Agora!

Ela se levantou e foi até o armário, pegando somente os vestidos e um casaco e os enfiando na mochila…

O velho cuspiu sangue;

- Como aceita ele assim? - Ele disse cerrando os dentes.

- ELA é assim - Respondi séria.

- Ele não é normal, está doente - O velho se sentou - Precisa de um médico para curar a loucura dele…

- Se levantar daí vou te socar até não sobrar nenhum dente - Falei, deixando todo meu ódio implícito em cada palavra.

Assim que terminou ela veio até mim, olhando para o chão, ainda tremendo de medo.

Segurei sua mão e a encarei. E naquele momento jurei a mim mesma que nunca mais a deixaria passar por nada como aquilo.

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01.10.2018 Acampamento da Horda, em meio às montanhas e a floresta. De madrugada.

**Mermista

Eu estava nervosa. Tinha que confessar isso. Essa seria nossa primeira noite em nossa "Casa contêiner" no meio da floresta. O mais perto de um teto que tivemos em anos.

Ou seja, estávamos finalmente sozinhas…

E talvez tinha chegado a hora da conversa inevitável.

Me deitei na cama esperando ela terminar de colocar o pijama florido. Podia ver em Perfuma o mesmo nervosismo que o meu e o quanto ela estava relutando em deitar ao meu lado.

Mas assim que o fez ela se aninhou em meu peito e fechou os olhos suspirando.

Eu fiquei encarando o teto;

- Sabe que não tem pressa - Falei baixinho - Se não estiver pronta podemos só dormir como sempre.

Ela levantou a cabeça e me encarou;

- Eu quero… - Seu olhar estava calmo - Mas é confuso… Não sei o que fazer…

Eu me sentei, trazendo ela para o meu colo. Perfuma começou então a soltar minha trança, tirando aos poucos enquanto eu falava;

- Estamos aqui para conseguir o dinheiro para a sua cirurgia de resignação de sexo, podemos esperar até lá.

Ela terminou e me encarou;

- O problema é que eu não quero mais esperar - Ela disse baixinho.

E então, delicadamente ela segurou meu rosto e me beijou docemente. Não tinha como não me derreter com o modo carinho como seus lábios se moviam nos meus.

- Nós podemos tentar, mas se sentir que quer parar me avise…

Voltamos a nos beijar. Seus lábios macios hora estavam em minha boca, hora em meu pescoço.

Eu pensei em tirar sua camiseta mas ela não deixou. Então sorri ao ver seu olhar preocupado tentando mostrar a Perfuma que estava tudo bem.

Resolvi tirar a minha camiseta. Como não vestia nada por baixo meus seios ficaram á mostra.

Perfuma se aproximou e com cuidado começou a lamber devagar. Seu toque foi aos poucos se transformando em ondas de prazer...

Eu a deitei na cama, me colocando em cima dela enquanto nós beijávamos.

O cheiro doce de seus cabelos e o toque macio da pele dela estavam me deixando louca.

Logo os beijos ficaram mais profundos, e eu me sentia completamente envolvida.

Então me obriguei a parar e olhá-la, que naquele momento estava totalmente vermelha e arfando;

- Se quiser parar a hora é essa.

Ela me olhou, sua expressão era doce e gentil;

- Vamos tentar.

Eu voltei a beijá-la enquanto procurava a camisinha embaixo do travesseiro. Assim que o peguei ela escondeu o rosto com o braço enquanto eu abria o pacote...

Confesso que me senti estranha ao parar para notar a ereção e colocar a camisinha.

Mas tentei me concentrar em deixá-la confortável com aquela situação. Jamais poderia enteder realmente o que se passava na mente dela.

E a única coisa que podia fazer naquele momento era deixar claro o quanto a amava.

Queria que ela entendesse o quanto a admirava por ter tido coragem de lutar para ser quem é.

O quão delicada e linda era.

Como podia ser feminina de um jeito tão lindo.

Tirei seu braço da frente para que ela pudesse olhar para mim.

- Você é linda - Disse sorrindo.

- Você que é - Ela disse baixinho.

- Pronta?

- Pronta - Ela respirou fundo e fechou os olhos.

Demorei alguns segundos para me acostumar com a sensação. Uma mistura estranha de prazer e dor da primeira vez.

Quando comecei a me mover fiquei observando o modo como ela reagia;

O gemido baixo e meigo, o modo delicado como arqueava o corpo, as mãos macias que acariciavam minhas coxas…

Ela era doce em cada gesto, até mesmo enquanto gemia meu nome.

Tudo aquilo me encheu de felicidade…

E a felicidade se transformou no mais puro prazer e no meu orgasmo. Sentia meu corpo tremer em êxtase…

Queria que ela sentisse o mesmo então quando a sensação diminuiu comecei a me movimentar com mais força, beijando-a incansávelmente que finalmente a senti gozar.

Depois de um tempo estávamos ambas ofegantes mas sorrindo. Eu me deitei ao seu lado e ela se aninhou em meu peito.

E passei o resto da noite acariciando seus cabelos.

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02.01.2019- Acampamento da Horda, início da manhã.

** Mermista

Aqueles foram os cinco minutos mais demorados da minha vida…

Perfuma e eu nos encaramos por um tempo;

Ela como sempre sorridente e positiva enquanto eu estava um poço de nervos.

Ainda assim seu olhar doce de alguma maneira me manteve com a cabeça no lugar.

Estávamos sentadas no chão do contêiner. De mãos dadas enquanto esperávamos o alarme do cronômetro do celular tocar.

E quando tocou me sobressaltei assustando Perfuma;

- Ok - Ela disse ainda sorridente - Independente do resultado estamos juntas.

Não consegui achar minha voz para responder então apenas peguei a pequena caixa e olhei no verso;

O teste de gravidez era bem simples e seu resultado era composto por linhas. Uma linha não grávida, duas grávida.

Tinha feito assim que acordei e enfiado o bastão de volta na caixa por medo de já ver o resultado. Não que cinco minutos depois eu estivesse mais preparada para aquilo…

Mas pelo menos tinha dado tempo de respirar.

Perfuma chegou mais perto, atenta enquanto eu abria a caixa e pegava o bastão .

Respirei fundo e virei.

Encarei sem saber reagir aos dois traços que apareciam no pequeno visor.

Perfuma no entanto começou a rir;

- Eu vou ser mãe! - Ela disse já dando pulinhos.

- Nós vamos ser mães… - Falei ainda esperando a ficha cair - Eu nem me eduquei, como vou educar uma criança?!

Nós nos entreolhamos. De todas as notícias do mundo aquela era a que eu menos esperava.

Mesmo assim, ou ver o brilho no olhar daquela garota meu coração estava em paz e eu tinha certeza de que tudo daria certo.

Sempre tínhamos sido a família uma da outra. Agora só teríamos mais um integrante.