Ele tinha certeza que já teve ressacas piores, mas havia algo naquela que não podia explicar, era como se o peso do mundo tivesse caído sobre ele, e não era por causa da bebida, era mais uma espécie de aviso do que viria quando ele acordasse. Gemeu de dor se mexendo entre seus travesseiros e abriu os olhos lentamente, tentando se concentrar no ambiente ao seu redor. Colocou uma mão em frente ao seu rosto quando raios solares vindo da janela o atingiram interrompendo sua visão por hora e foi inevitável não ficar confuso ao se deparar com Lysandre sentado todo de mal jeito cochilando na cadeira perto de sua cama.
Pensou em Mia. Ela estava ali? Espera, como chegou em casa? Resmungou quando sentiu um enjoo, a bile subindo a sua boca com pressa, mas foi só um mal estar que levou ao despertar de Lysandre. Quando ele se alarmou e ficou de pé Castiel notou as olheiras que ele tinha e como seus olhos estavam vermelhos, não se lembrava do amigo ter consumido algo na festa.
Lysandre fez uma careta carregando não incomodo, era algo como sofrimento profundo, encarou Castiel quase se arrependendo de ter se oferecido para contar a ele o que aconteceu. Em resposta Castiel tentou se levantar cambaleando, só não caiu porque se segurou em um móvel.
— Eu fiz merda não é? Quer dizer, mais merda porque já comecei fazendo quando briguei com Mia. Que horas são? Ela está aqui? Eu preciso ir até ela e consertar tudo, eu sou um babaca. — começou a desabafar enquanto reparava que estava com a mesma roupa de ontem. É, seria idiotice considerar que Mia cuidaria dele após uma bebedeira a ponto de trocá-lo. — Ela deve estar tão irritada, caramba. — se auto estapeia mentalmente pelo que fez na noite anterior.
Não nota que por todo esse tempo Lysandre estava calado, e quando se virou para ele não compreendeu porque o amigo estava fazendo um bico ridículo como se estivesse prestes a chorar. Castiel ficou incomodado, tanto que olhou em volta como se procurasse por algum traço de Mia naquele ambiente, seu cheiro, suas roupas, mas nada, era como se ela não existisse.
— O que mais eu fiz? — gritou preocupado, pensando em avançar até ele para que lhe contasse.
— Você foi para a festa ontem e eu não tinha como te trazer então chamei a Mia. — começou a explicar, Castiel procurou o grande problema na situação.
— Agora a Mia quer matar nós dois? — tenta adivinhar, ao falar em morte Lysandre não aguenta, ele deixa uma lágrima fugir causando pavor a Castiel que não entende nada do que está acontecendo.
— Ela não chegou lá Castiel. — sussurra e Castiel sabe que tem uma mensagem subliminar, ele se recusa a acreditar mas ele sabe, tanto que seus próprios olhos conquistam lágrimas. Esperando que ele falasse. — Estava chovendo, eles acham que ela derrapou... Mia está morta, Castiel. — o seu universo se partiu em pedaços tão pequenos que era impossível colar, o mundo girou ao seu redor, quando aquela ânsia se transformou na mais profunda dor, seu coração latejou enquanto o ar parecia escapar de seus pulmões. Ele observou Lysandre alarmado e tremeu seus dedos enquanto se aparou mais uma vez, dessa vez em uma parede.
Não. Mia estava bem. Eles só tinha discutido e ela foi para a casa dela. Não. Não. Não. Se recusava a acreditar naquela realidade, ele não havia levado ela para sua morte. Tentou controlar seus sentidos quando sentiu seu pulmão ser agarrado pela angústia e encarou seu amigo chorando como um recém nascido.
— Você está mentindo, Lysandre. — afirmou enxugando o rosto, não, não fazia sentido. Não.
Lysandre engoliu a seco.
— Eu sinto muito, por ter ligado para ela, por ela estar morta, por você, eu sinto muito. — tenta justificar, Castiel mal consegue ficar de pé.
— Ela não pode estar... Lysandre, eu amo ela, eu fiz, eu fiz isso com ela... Eu trai ela... Eu prometi ela que me amar não ia doer... Você disse não é? Eu acabaria com a Mia. — berrou mal conseguindo controlar as palavras.
Lysandre sofreu por ele, sofreu desde que a notícia chegou a ele quase no fim da festa. Ele estava esperando por Mia, mas o que recebeu não foi sua presença mas sim uma ligação de Chani aos soluços contando sobre o acidente, desmanchando-se em infortúnio enquanto desabava sobre o fato do carro ter simplesmente explodido e o corpo de Mia ter sido carbonizado. Ele se culpou por chamá-la. Se culpou tanto que decidiu que seria ele a comunicar Castiel sobre a tragédia. Explicou a situação a um amigo e ele deu carona aos dois, levando um Castiel destruído pelo álcool de volta para casa.
O peso da responsabilidade só aumentou quando ao chegar no apartamento se deparou com dezenas de fotos de Mia espalhada pelos cômodos. Nunca duvidou do amor de Castiel por ela, mas também nunca notou o quão impregnada ela estava em tudo que ele tocava, em tudo que ele era.
Nenhum dos dois se pronunciou mais, enquanto choravam cada um por seus motivos. Castiel cortou a distância e abraçou o amigo deixando ele despejar seu desespero nele, Castiel teria que ser forte daquele dia em diante, porque Mia tinha ido embora, Lysandre iria o ajudar, Lysandre prometeu que ajudaria seu irmão.
...
A primeira decisão típica que Castiel fez foi a de que precisava de um banho. Não usou o chuveiro, ligou a banheira que Mia adorava e mergulhou nela querendo lavar todo o desamparo que sentia naquele momento mesmo sabendo que não era possível. Suas lágrimas se misturavam pela água enquanto esfregava seu corpo como se precisasse limpar a causa da morte de Mia. Ele
Foram bons minutos imergido no líquido transparente, encostando a cabeça na borda fechou os olhos, podia escutar Mia rindo enquanto se banhavam ali tomando vinho, ela sempre ria com ele, Mia não fingia estar feliz com ele, Mia era feliz. E ele, bem, ele duvidava que um dia seria feliz sem ela novamente.
Ele sabia que depois de Mia Grey nunca seria o mesmo.
Talvez esse fosse seu castigo, ter plena consciência que nunca seria presenteado com outra pessoa capaz de se encaixar perfeitamente a ele.
Quando saiu e vasculhou as gavetas em busca de aspirina não encontrou o teste que Mia deixou lá. Porque Rosalya foi a primeira a encontrá-lo quando veio saber dele antes de ele acordar, ela o jogou no lixo como estipulou a si mesma que faria com cada detalhe de Mia que fazia Castiel amá-la.
Se olhou no espelho e viu o rosto do homem que prometeu um bom futuro a mulher que amava e que não foi capaz de dá-la e chorou, até só restarem soluços.
...
Ele falou com o investigador do caso, ficou sabendo que nada sobrou dela além de um corpo que não poderia ser reconhecido como seu, então depois Chani o informou que queria vê-lo. Se encontraram no clube que ele conheceu Mia, ela não lhe deu pêsames nem colocou em sua voz seu apoio, Emma apenas o abraçou entendendo ele e sua perda.
Foi triste como só conheceu o pai de sua noiva na cerimônia de despedida dela, e foi revoltante perceber que Mia estava certa sobre aquele homem, ele realmente não parecia amá-la. Enquanto seus conhecidos sofriam o desânimo por sua ida o homem se limitava a ficar em um canto em silêncio sendo acompanhado de sua mulher.
Castiel desviou do toque de sua mãe quando ela tentou consolá-lo porque considerava hipocrisia que ela fingisse que sentiria falta de Mia. Aceitou no entanto o abraço do pai e se segurou para não admitir que ele também se foi, que nada da pessoa que gostava de ser sobrou depois que Mia morreu.
Ele não lembra muito bem de como aquele dia terminou, apenas tem flashs de segurar uma garrafa de whisky encostado nas grades de proteção da quadra de tênis. O céu estava sem estrelas como se despedisse da luz que um dia ele conheceu. Aquelas 24 horas foram as piores de sua existência. Era o que achava.
Então a primeira semana se passou, com todos o enchendo de condolências, falando como se ele fosse um vidro prestes a se quebrar, falavam dela a todo momento, odiava que falassem porque não a conheciam e muito daquilo era mentira.
Mas odiou mesmo quando pararam passado um mês. Porque foi como se Mia Grey tivesse sido apenas uma ilusão em sua vida, um sonho bom que durou um ano. Mia só permaneceu como um fantasma para ele.
Rosalya se aproximou aos poucos, as coisas estavam estranhas pelo beijo, mas Castiel gostava da presença dela, sentia que ela era a única que entendia o quanto doía perder Mia. Quando se sentia sozinho a chamava para jantar ou algo assim, mas no começo não houveram risos.
Passados três meses Castiel notou que não precisava deles, só precisava de alguém que não o abandonasse, precisava de alguém para depender porque era muito peso para carregar sozinho.
...
Era irônico como a formatura de Rosalya ocorreria no dia que deveria ser seu casamento com Mia. Ele fez um esforço para ir, tanto que no caminho parou em um floricultura, sufocando as lembranças que tinha sobre Mia e comprou rosas para ela.
Quando o recebeu na festa e ganhou as flores Rosalya o abraçou e Castiel notou que algo tinha mudado entre eles. Na verdade seus amigos também, mas não se intrometeram, só queriam que ele seguisse em frente.
— Nem acredito que consegui. Estou tão orgulhosa. — Rosalya falou quando já exaustos da comemoração os dois se encontravam na varanda do salão aproveitando os últimos minutos juntos.
— Estou feliz por você. —Castiel só não foi mais sincero, porque feliz não era bem como poderia definir sua vida naquele momento. Rosalya sorriu de um modo que fingia inocência e suspirou.
— Não falamos sobre o beijo desde que ele aconteceu. — ela toca naquele assunto causando surpresa em Castiel. Ele gosta dela, realmente gosta, Rosalya é uma dessas pessoas que todo mundo gosta então ele não quer magoá-la.
— Falar sobre o beijo levará a questionar se ele tem que acontecer de novo, e eu não quero beijar ninguém agora, certo, eu não quero estar com alguém agora, Mia morreu... Eu...Uma parte de mim foi com ela. — admite com sinceridade, mal segurando suas lágrimas.
Rosalya segura seu braço e assente.
— Ela iria querer que fossemos felizes, você e eu, e juntos só parece mais certo. Só deixe acontecer entre nós, não estou pressionando, só deixe acontecer. — pede indo mais uma vez para o plano de ter tudo que Mia tinha, Mia que não merecia toda sua sorte, Mia que possuía o universo sem fazer nada para honrar essa posse. Ela só queria equilibrar as coisas.
Começaria a trabalhar na empresa do pai dela em breve, teria seu reconhecimento.
Aproximou-se da mãe de Castiel em alguns almoços usando de todos seus métodos.
E Castiel estava carente, ele escolheria ela.
É. Ele escolheu.
Porque a beijou mais uma vez no que seria o inicio de uma relação baseada nos desejos deRosalya e desespero por presença deCastiel.
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