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História Cicatrizes - Vanessa, Não Renesmee


Escrita por: Apolinds

Notas do Autor


OLÁAAAAA, GOSTOSAAAAS.
Chegueeeeei pra alegrar a noite de vocês. Temos fortes emoções nesse capítulos e nos próximos que virão.
Queria agradecer aos diversos comentários e compreensão. Vocês tem sido demais e não poderia pedir leitores melhores. Muito obrigada mesma.
Agora, sem mais delongas, partiu ler?

Capítulo 18 - Vanessa, Não Renesmee


Dois dias depois Nessie estava oficialmente indo cometer seu segundo assassinato da semana. Após a intensa conversa que ela tivera com Henry teve tempo suficiente para pensar sobre o assunto discutido. Sua mente ainda permanecia coberta de alternativas, mas não se decidira por completo o que fazer. A preocupação para com os vampiros, porém, foi ficando cada vez mais em segundo plano até que ele era uma comichão no fundo dos seus pensamentos e não uma dor de cabeça de fato.

Ah, não. O que estava lhe tirando o juízo era certo vampiro com tendências possessivas que andava fugindo dela.

Henry estava — e não havia outra coisa que não isso — escondendo-se de Nessie como um vampiro fugindo da luz do dia.  Ela ainda não conseguira pegá-lo sozinho sem que ele escapasse com uma desculpa esfarrapada. Nem acompanhá-la para caçar ele quisera, embora tivesse tentado empurrar Lilian como companhia — algo que a tinha feito silvar como um gato selvagem.

Ness não havia trocado mais do que cinco frases com Lilian e estava quase certa de que das cinco três foram ofensas e duas uma declaração óbvia de antipatia. Parte dela se viu frustrada por não conseguir se entender com a companheira de Helena. Ela sabia que sua constante recusa em confiar em Lilian estava deixando a bruxa triste e chateada.

A culpa não fora dela, todavia. Lilian não queria dizer exatamente onde Darius vivia e Henry não deixava que ela fosse para Inglaterra investigar por conta própria. Ela poderia ter fugido facilmente e feito o que queria, mas não se via abandonando o irritante vampiro por mais que ele merecesse o susto.

Ugh. Ela ia matá-lo. Sabia a razão do comportamento ridículo dele. Henry simplesmente não queria perder o controle e levá-la para a cama. E os dois sabiam que isso ocorreria se ficassem muito perto de uma superfície plana. Ao contrário de Henry, Nessie estava totalmente pronta para ser desvirginada, fosse ela fisicamente madura ou não.

Obviamente Henry sabia o que estava se passando por sua cabeça porque ele se recusava a pisar em seu quarto por mais de dois minutos antes de escapulir para algum lugar que ela não tinha ideia da onde era. Suas habilidades de rastreamento eram uma vergonha quando o assunto era Henry.

Por conta desse aborrecido comportamento ela não tivera a oportunidade de contar sobre o homem que matara e a humana estranha que havia salvado. Em realidade, Ness estava quase certa de que Henry tinha conhecimento sobre sua pequena aventura, não detalhes, mas uma sabedoria superficial que fez com que os dois entrassem em um entendimento mudo sobre o assunto.

Nessie, de fato, não via problemas em não contar. Não acreditava que os demais saberem do que fizera fosse mudar muita coisa. Talvez tivesse ouvido um discurso muito longo sobre discrição e necessidade de juízo por ter perseguido vampiros misteriosos... Nada do que já não estivesse sabendo no fim.

A única coisa que continuava a incomodá-la eram os detalhes do confronto entre Henry e os vampiros no hospital. Nessie sabia que Henry mantinha-se pensando em alguma ideia, mas até aquele momento ele não abrira a boca para comentar nada. Pensou que talvez devesse insistir em saber sobre o que pensava, mas não estava com cabeça para discutir com Henry sobre o assunto.

Pelo menos não sobre esse assunto.

Entediada e irritada em medidas iguais, desabou como um peso morto no sofá da sala e olhou aborrecidamente para a caixinha preta em cima da lareira.

Bem, eis aqui outra coisa que a tirava do sério. Nessie reparara na caixa desde o primeiro dia que andara pela casa Reese. A vontade de abrir o compartimento era sempre muito forte, contudo era como se uma força oculta a fizesse voltar atrás toda vez que se decidia fazê-lo. Havia uma vibração esquisita na coisa que fazia sua pele coçar como se tivesse tomado banho de rio e usado areia para se esfregar.

O mais curioso disso tudo? Todas as vezes que perguntara para Helena e Henry sobre a caixa, ambos desconversavam e não lhe respondiam.

Seria muito mais fácil se somente dissessem que não querem falar sobre ao assunto, pensou mal humorada.  Onde diabos está Henry?

Realmente, Nessie queria muito saber onde o maldito vampiro se metera. Era o terceiro dia como companheiros e o pobre infeliz desaparecera como um passe de mágica. Tinha até levado Tohrment com ele! Ah, mas ele iria ver só. Ness não via hora de se vingar.

Bufando por estar sozinha e sem fazer nada, ficou pensando no que fazer para lhe tirar do tédio. Talvez ela devesse pegar uma foto de Henry e usar como tiro ao alvo para suas adagas. Ou quem sabe usar os bonitos ternos dele e queimá-los em uma fogueira.

Não, pensou com uma carranca. Os ternos não.

Infelizmente Henry ficava muito bonito de terno para se livrar deles. Ela gostava muito de vê-lo vestido elegantemente.

Tocar piano? Cogitou a ideia por um instante e descartou logo em seguida. Não, ela não estava inspirada para tocar.

Ler?

Ugh, não. A não ser que fosse uma história sangrenta, Ness não estava nem aí para livros hoje.

Correr?

Não havia mais graça em correr sem Henry. Ele fazia tudo mais divertido e Nessie o amaldiçoou mais uma vez por fugir dela.

Descobrir onde Helena e Lilian foram?

Jesus, decididamente não. Aquelas duas andavam distribuindo feromônios de excitação por onde passavam; seria surpreendente se conseguissem ficar mais que vinte minutos com as mãos longes uma da outra.

Compras?

— Hummm... — murmurou para si mesma. Compras poderia ser uma boa, mas o que ela iria comprar se seu closet estava lotado?

Ficando apenas alguns segundos parada no lugar, Ness subiu para seu quarto e escancarou as portas do closet e olhou para dentro procurando alguma coisa que pudesse substituir ou que não tinha (o que era praticamente impossível, pois Helena a mimava demais).

Encontrou suas t-shirts, croopeds, calças de couro, jeans, blusas de seda, de linho, botões, algumas de mangas longas, sobretudos, shorts e alguns vestidos que ela sequer arriscara por. Foi um em especial, no entanto, que a fez parar com a mão no cabide e olhar pensativamente para ele.

A peça tinha sido um capricho de Helena, um que Nessie sabia que não iria usar por conta do tamanho e da cor suave. Lembrou-se que tinha discutido com Helena por conta disso, mas a bruxa tinha insistido que levasse, pois a agradeceria por tê-lo mais tarde. Ness imaginou que deveria fazê-lo quando visse Helena, pois estava prestes a colocar o vestido que jurou que jamais usaria.

Com planos rolando em sua mente, Nessie depositou o vestido na cama e voltou para o closet para pegar sapatos que combinassem. Um sorriso sinistro foi moldando seus lábios quando uma ideia idiota viajou por seus pensamentos.

Uma hora e meia mais tarde, Vanessa se olhou no espelho e se surpreendeu com o resultado final de sua arte solitária. Franzindo a testa ela tentou procurar uma palavra que a descrevesse, mas não obteve nenhuma se não... Jovem.

Não de forma ruim. Normalmente ela se parecia com uma pequena intransigente propensa a violência. Agora ela parecia uma adolescente normal de quinze ou dezesseis anos com uma gorda conta bancária.

Ela ainda não acreditava que havia conseguido replicar todas as lições de Helena fielmente. Mas por tudo o que via, parecia ter acertado. Seus cabelos sempre tão revoltados de cachos agora eram suaves ondas ruivas brilhantes repartidas em cada lado do rosto. Seus olhos estavam levemente esfumados com sombra marrom e surpreendentemente emoldurados por cílios alongados graças ao rímel que utilizara. Seus lábios estavam brilhantes e rosados por conta do gloss e ela tinha um saudável rubor em suas bochechas.

Tudo isso se harmonizava ao vestido salmão que vestira. Ele era leve e de acabamento suave, um decote em “V” discreto, mas que lhe dava um pequeno vislumbre do vão de seus seios, as alças finas delicadas como todo o vestido e o comprimento terminava dois dedos acima de seus joelhos.

Nessie se achou particularmente mais alta com a escolha de sapatos, que eram um singelo trabalho de tiras prateadas e um salto médio. Podia facilmente andar com aqueles sapatos sem cair de cara no chão.

Ela havia abdicado de bijuterias, guardado seu medalhão Reese na caixinha de joias, mas mantendo o anel do clã em seu indicador. Ness parecia simples, feminina, jovem e atraente tudo de uma vez. Viu-se sorrindo para o próprio reflexo enquanto se analisava.

Com vestido ou não, ela não se esqueceu de agarrar suas adagas e colocar cada uma presa em nas coxas por uma faixa preta. O peso era esquisito, mas nada que não pudesse se habituar. Por fim ela agarrou uma bolsa pequena e dourada, encheu com cartões de crédito, dinheiro vivo, seus documentos e o celular e saiu do quarto.

 Nessie queria realmente fazer Henry se arrepender por estar agindo como um idiota, mas não era tão má ao ponto de não deixar que ele soubesse que iria voltar. Não acreditava que Helena e Lilian pudesse aguentar outra rodada de Henry versão homem das cavernas.

Por isso ela escreveu um bilhete e colou na geladeira avisando que estaria na cidade e que retornaria no fim do dia.

Uma vez fora de casa, Nessie se viu em uma curiosa indecisão. Fisicamente falando ela já poderia se passar por uma garota de dezesseis anos, idade que era mais do que suficiente para ser habilitada. Ela sabia dirigir bem, só não tinha o documento necessário para provar isso caso fosse parada por uma viatura. Se não pegasse o carro de Henry emprestado teria que andar um bom pedaço até ser seguro chamar um táxi.

— Não... — falou em voz alta com uma careta. — Prefiro arriscar.

Ela não iria de jeito nenhum caminhar com aqueles sapatos.

— Quanta prioridade, Nessie. O espírito de Helena baixou em mim... Preocupada com sapatos, pelo amor de Deus! — murmurou para si mesma, seguindo caminho para garagem.

Henry iria esganá-la quando descobrisse sua fuga. Já até podia imaginar seu olhar negro.

Sorriu. Bem, ele podia totalmente gritar com ela, mas só depois que ela terminasse sua viagem.

Óculos de sol postos, mãos no volante, motor ligado... Nessie colocou o carro em movimento e pegou a estrada.

Ahhh, liberdade. Ness soltou um gritinho atípico cheio de entusiasmo e apertou o pé no acelerador. Vento fresco jogou seus cabelos para trás, o sol esquentando suas mãos pelo vidro do para-brisa. Era a coisa mais louca que fizera nos últimos meses tirando sua vontade em jogar Henry na cama.

Ela pensou qual seria sua primeira parada e decidiu rapidamente que iria ao cinema. Quase um ano morando com os Reese e não tivera a capacidade de entrar em um cinema. Pela primeira vez em tempos ela deixou de lado sua constante preocupação com os vampiros do mestre e o próprio mestre e se concentrou em fazer algo que a satisfizesse.

Onze horas da manhã não era exatamente um horário em que o cinema se encontrava cheio. Especialmente em dia de semana. Por isso, Ness agradeceu. Menos movimento evitaria com que ela esbarrasse em alguém e acabasse pegando pensamentos indesejáveis.

Infelizmente mesmo com poucas pessoas ela ainda foi abordada na fila dos ingressos por alguns garotos bobões que a olhavam como se fosse um petisco gostoso. Um deles, provavelmente com não mais que dezoito anos, lhe lançou um sorriso que ela supôs que ele achasse sexy e piscou um olho azul para ela.

— Olá, bonita. Está sozinha? — perguntou quando se aproximou, deixando seus amigos para trás para que presenciassem. Nessie inspirou quando chegou mais perto e espirrou no outro segundo quando o cheio de seu perfume coçou seu nariz.

Eca.

— Estou — respondeu com um falso sorriso.

— Humm... Que tal uma companhia? Eu sou Derek — disse o garoto, estendendo a mão para ela.

— Prazer — respondeu, ignorando totalmente a mão estendida. O rapaz percebendo que seria deixado no vácuo, corou e abaixou a mão. Ness ouviu facilmente as risadas dos supostos amigos.

— Que filme vai ver? — questionou ele, olhando para os cartazes na parede.

Ness suspirou.

— Não sei ainda. — ela lhe deu um olhar — Por que não retorna para seus amigos?

O garoto ficou ainda mais sem graça com a pergunta e olhou para trás como se temesse que os demais meninos ouvissem o que falavam.

— Olha, eu só me aproximei porque te achei muito bonita e achei que talvez nós pudéssemos trocar uma ideia — disse, esfregando as palmas úmidas no jeans.

— Sinto muito, mas eu tenho namorado — falou divertida. O menino parecia que ia desfalecer.

Derek pareceu extremamente decepcionado.

— Ah, é mesmo? Ele não parece estar por aqui — murmurou descontente.

— Eu disse que estava sozinha. E não nasci grudada nele. Agora se me der licença, tenho um ingresso para comprar e um filme para assistir.

Ness deixou o garoto plantado e foi comprar o ingresso antes que ele resolvesse acompanhá-la na sessão.

Carregando apenas um saquinho de amendoim e uma garrafa d’água para a sala onde o filme passaria ficou se perguntando se havia sido muito brusca com o humano. Estivera esclarecido para ela que o garoto queria flertar, mas Nessie se descobriu sendo muito franca para esse tipos de joguinhos. Será que Henry esperava algo do tipo vindo dela?

Ele havia dito para ela que era um romântico. Talvez as manias humanas fossem importantes para ele. A possibilidade de ter que agir como um casal humano a pôs de mal humor. Não sabia nada de sedução e duvidava que Henry a levasse a sério com a aparência que tinha.

Não que não fosse uma boa aparência. O humano que a abordara parecia gostar de como se parecia, embora não notasse suas cicatrizes. O que não ocorria com Henry. O vampiro era muito ciente delas, algumas até suficientemente grossas para serem facilmente sentidas com as pontas dos dedos.

Bufou. Aqueles pensamentos eram ridículos. Henry era atraído por ela. Com ou sem cicatrizes. Ele não a atormentaria por ter ficado o dia inteiro fora se não gostasse um pouco que fosse dela.

Sua atenção foi subitamente atraída quando os trailer iniciais terminaram e o filme começou. Endireitando-se na poltrona, Ness colocou alguns amendoins na boca e assistiu.

 Sozinha e com dezenas de cadeiras para lhe fazer companhia, Vanessa pareceu extremamente pequena na sala de cinema, especialmente quando seu sorriso infantil e expressão entusiasmada foram capturadas pela luz da tela.

Mais ou menos duas horas depois do filme acabar, Nessie se sentiu com uma parte de si suavizada de uma forma pouco convencional. Havia um sentimento de tranquilidade nela que não estava acostumada.

Seu estômago deu o primeiro sinal de fome o ir para fora do cinema e seguir pelos corredores do shopping que estavam surpreendentemente calmos. Colocando a mão no estômago e pensativa no que comer, ela andou distraída por entre as poucas pessoas.

Tão distraída que não notou que era observada.

 

Após dois dias desde o episódio no hospital, Edward não achou que teria sorte em encontrar o vampiro desconhecido ou até mesmo Renesmee pela cidade. Por conta disso escondeu de Bella o que ocorrera, mantendo o segredo apenas entre ele, Carlisle e Alice que assim que chegaram em casa percebera de que algo não ia bem.

Era desapontador o fracasso que se seguia dia após dia.

Era por isso que quando Alice insistira para ir ao cinema com ela sem motivo algum ele não se encontrava nem um pouco entusiasmado. Bella não quisera acompanhá-los, sentindo-se tão ou talvez mais desapontada quanto ele. A única pessoa que poderia estar mais irritado com a falta de pistas era Jacob e ele não parecia estar lidando muito bem com a situação.

Assim que o filme terminou, Edward só faltou arrastar Alice pelas pernas para irem embora. A vampira soltou um grunhido realmente assustador para alguém pequeno como ela e o olhou aborrecida.

— Dá para ir com calma? Por que a pressa? — resmungou ela, puxando o braço para longe de seu agarre.

— Você nos trouxe para um shopping, Alice — disse Edward impaciente. — De todos os lugares possíveis... Minha mente está me matando com todas as vozes.

Alice revirou os olhos andando na frente dele.

— Você está muito mal acostumado. A escola foi mil vezes pior e você sobreviveu. Por que não aguentar um pouco de cinema com sua irmã?

— Porque seu timing é horrível. Acha mesmo que estou paciência para ficar duas horas num quarto escuro com um monte de seres humanos cheio de pensamentos estúpidos? — rosnou ele.

— Jesus, Edward. Quanto mal humor. Precisa melhorar um pouco. E o filme já acabou, se não percebeu. Era só não ter vindo se ia ficar com essa cara feia.

— E fazer o quê em casa? Agora que Bella fez as pazes com Jacob ela prefere passar mais tempo com ele — murmurou um tanto amargurado.

Edward estava contando com a raiva de Bella para que Jacob se cansasse de estar com eles, mas com sua esposa lhe dando uma segunda chance era praticamente impossível tirá-los perto um do outro.

Alice suspirou.

— Pensei que já tivesse superado isso. Eles são praticamente irmãos, Edward. Uma conexão como a deles não termina de um dia para o outro. Bella te ama e ama o Jake e ele precisa dela. Sem ela... — Alice balançou a cabeça. — Ele não está bem para estar sozinho.

— E a culpa é de quem? — perguntou abruptamente, fuzilando Alice com os olhos.

Alice o olhou com raiva.

— Dos vampiros que sequestraram, Renesmee, é claro.

Edward rangeu os dentes. Ele não queria brigar para valer com Alice. Não poderia afastar a única pessoa que parecia suportar ficar perto dele sem ser repelido por sua raiva enraizada. De algum jeito, Alice compreendia o que estava sentindo, embora não concordasse para onde estava direcionando suas emoções.

Em realidade, tirando Rosalie que nascera com uma nuvem negra em cima da cabeça, todos eram silenciosamente contra a culpabilidade que jogava em Jacob. Eles tentavam não pensar no assunto enquanto estava por perto, mas Edward sabia que todos haviam resolvido dar uma segunda chance ao lobo.

Menos ele.

— Edward — murmurou Alice de repente, parando de supetão.

Enrijecendo por conta do tom de voz que a vampira adquirira, Edward se pôs em alerta e passou para seu lado, vasculhando rapidamente o lugar.

— O quê? — perguntou baixinho. Alice lhe lançou um olhar dourado cheio de choque e virou o rosto em uma direção.

— Olhe — sussurrou ela, indicando discretamente para frente.

Parecendo pensativa, não muito longe deles, uma pequena garota de cabelos ruivos ondulados olhava para uma vitrine cheia de roupas punks. Ela parecia estar se decidindo de algo, até que ela fez uma expressão determinada e entrou na loja. Edward sentiu o impulso de segui-la, seu coração morto quase voltando à vida. As mãos de Alice, no entanto, o detiveram. Ele entendeu o porquê dela ter o parado, mas não podia dizer que gostou. A ansiedade era algo difícil de conter.

Os dois então esperaram.

Dolorosos vinte minutos depois a jovem retornou com duas sacolas pretas nas mãos. Foi assim que Edward viu completamente seu rosto. Um pequeno, marcado de cicatrizes, familiar rosto.

Renesmee.

Ela parecia um pouco diferente do desenho que Alice fizera anteriormente. O cabelo se encontrava maior e mais domado, o vestido era claramente de alta costura e ela parecia ter uma segurança ali em pé de frente a loja que não havia na lembrança de Alice.

— O que nós vamos fazer? — sussurrou Alice, atordoada.

Edward sacudiu a cabeça. Ele não tinha ideia. Na mente de Alice ele só podia ver Renesmee fugindo como um gato escaldado uma vez seguida da outra. Edward temeu que qualquer movimento que ele fizesse fosse repetir a situação, algo que ele não queria que ocorresse de maneira alguma.

— Ela está indo embora — chiou Alice.

Ela não precisava ter dito. Edward estava vendo isso acontecer. Renesmee simplesmente girou em seus saltos medianos e caminhou ereta para a área de refeição. Inconscientemente ele agarrou a mão de Alice e os dois andaram atrás dela discretamente, cuidando para que não notasse que estava sendo seguida.

Eles observaram ela escolher um pequeno restaurante que serviam almoços e a analisaram comer quietamente. Edward sentiu uma comichão nos olhos ao vê-la olhar ao redor com intensa curiosidade. Os olhos marrons lembrou-lhe de Bella, pois em tom era tão parecidos que era atordoante.

De onde estava viu mais semelhanças entre a esposa e a filha. Viu até mesmo seus próprios contornos naquela face jovem. Os cabelos eram a maior semelhança, embora os dela fosse um pouco mais claros que o seu.

Alguns minutos depois ela terminou de almoçar. Chamou a garçonete e pagou pela comida. Ela demorou alguns minutos para sair da mesa, sua atenção agora voltada para o celular que retirava da bolsa.

Tão absorta na ligação, mal se deu conta quando passou por eles.

— Henry — disse numa voz cantante coberta de aborrecimento. — Não seja um idiota. Estou me divertindo.

Edward ouviu facilmente a voz do outro lado rugir.

— Sozinha. Numa cidade cheia de vampiros!

Renesmee revirou os olhos, andando calmamente com Alice e Edward em seu encalço.

— Se você não tivesse fugido como o diabo foge da cruz talvez tivesse me encontrado em casa — disse ela, virando para a direita.

Não há nenhuma graça nisso, Nessie. Volte para casa já! — rosnou Henry.

— De jeito nenhum. Está sendo um dos meus melhores dias e você quer que eu retorne para que possa me encher de discursos.

Você roubou meu carro!

— Não roubei! Peguei emprestado.

Vanessa! — gritou o vampiro. — Diga-me onde está.

— Não — teimou ela. — Isso é para você aprender que não vou sentar e esperar você pela eternidade.

Jesus Cristo, fêmea teimosa, eu só fui correr com Tohrment! — exclamou Henry.

— Vou fingir que esse é o único motivo. — bufou Renesmee — Você odeia o Tohr.

Não é verdade!

— Sim, é.

Não é.

— É sim e não minta para mim! — rosnou Nessie de repente. — A culpa é sua se resolvi escapulir pela cidade. Uma pena também. Eu estava tão entediada que até decidi por um daqueles diversos vestidos que Helena comprou pra mim — Um sorriso matreiro moldou seus lábios. — Acho que posso me acostumar com isso, Henry. Acredita que até um adolescente tentou flertar comigo?

No outro lado da linha houve um silêncio fúnebre.

Você está usando vestido? — perguntou ele depois de um segundo de silêncio.

— Sim — respondeu docemente.

E um humano flertou com você? — a voz se tornou quase inumana.

— Não se preocupe, querido, eu o rejeitei. — fungou. — Não que ele tenha ficado feliz.

Volte para casa! — disse Henry tenso. — Agora.

— Não — respondeu Ness.

AGORA, VANESSA! — rugiu Henry tão alto que Renesmee precisou afastar o celular do ouvido.

— Qual é a parte que você não compreendeu, Henry? — perguntou Ness pacientemente — Será que vou precisar falar em sua língua materna para que entenda?

Você não sabe romeno — ele respondeu automaticamente.

— Estou aprendendo. “Não” é uma palavrinha bem fácil de memorizar, sabia disso?

Nessie... — choramingou Henry. — Por favor, volte. Você já fez seu ponto. Entendi, okay? Não serei mais um idiota. Agora faça o que estou pedindo.

Renesmee suspirou.

— Retornarei em algumas horas. Mandarei mensagens para que tenha certeza que estou bem. Por favor, Henry. Deixe-me curtir meu dia, sim?!

Você é impossível! — resmungou ele.

— Sim, eu sei, nós dois sabemos, e ainda assim você me ama, não é mesmo? — perguntou Nessie suavemente, parando de caminhar.

Talvez — disse Henry de mal humor.

— Henry?

Sim, Nessie. Eu te amo — Suspirou.

De perfil Edward observou o rosto de Renesmee suavizar e um sorriso torto crescer em seus lábios.

— Bom, porque eu também te amo. — disse ela num tom que lhe pareceu pouco usual. — Lembre-se disso pelas próximas horas, okay?

Henry bufou. — Vou ver o que posso fazer.

A risada de Renesmee ao finalizar a ligação era como o soar de sinos de vento, os olhos risonhos fitando a tela do celular mesmo quando ele desligou. Ela pareceu perdida em pensamentos ao guardá-lo na bolsa.

Eles estavam na garagem subterrânea. O silêncio quebrado ocasionalmente com algum carro que ia ou vinha e som de vozes ao longe era tudo o que se podia escutar em vários metros. Edward estava mudo por conta da conversa entreouvida e se a falta de pensamentos de Alice era algum indicio, a vampira se encontrava tão chocada quanto ele.

Porque, se Edward tivesse entendido bem, Renesmee se importava com o vampiro denominado Henry e não de uma forma mais familiar... Ele estremeceu só de imaginar na possibilidade de aquilo ser mais do que carinho fraternal.

— Sabem, ouvir conversa alheia é extremamente rude — disse Renesmee, elevando a voz.

Alice e ele trocaram um olhar horrorizado. Tinham sidos descobertos.

— Por favor, apareçam — pediu calmamente.

Dizendo a si mesmo que aquela era uma reação melhor do que a repetia incessantemente nos pensamentos de Alice, Edward saiu de trás da coluna onde se ocultava e arrastou Alice consigo.

Os passos alertaram Renesmee e ela se virou para encará-los. Pela primeira vez em três anos Edward encarou os olhos castanhos da filha e não viu nenhum reconhecimento neles.

Se houve reconhecimento Edward podia dizer com segurança que não fora aquele que se tem quando uma filha olha para um pai. Não houve lágrimas enchendo seus olhos, nem expressão que chegasse a ser denominada saudade. Renesmee o olhou como se fosse um estranho, mas também o fitou como semelhante em espécie.

Doeu como se estivesse passando novamente pela transição de humano para vampiro.

Os olhos de Nessie passaram dele para Alice e ali ele viu um estranho brilho em seu olhar, ainda não o tipo o que satisfizesse, mas um o suficiente para que soubesse que ela tinha uma ideia de quem era Alice.

— Então você é a vampira que estava me perseguindo da outra vez — comentou ela, analisando a vampira. — Qual é o seu nome?

— Alice — respondeu Alice em voz suave.

— Alice — ela repetiu como se testasse o nome da ponta da língua. — E o que você e seu parceiro querem comigo? Ou deveria dizer clã? Afinal lembro-me bem que havia mais de vocês, estranhos de olhos dourados...

Os olhos de Nessie vagaram, perdidos por poucos segundos antes de voltar a encará-los. Edward parou por um momento para ler sua mente, esperando desesperadamente que pudesse entendê-la, entender o que tinham feito com ela, mas foi frustrado por uma névoa densa que encobria seus pensamentos. Ouviu sussurros fracos dos seus pensamentos, quase ininteligíveis, até que foi empurrado por um muro que o expulsou de sua mente.

Edward se sentiu mais chocado que toda sua imortalidade.

Renesmee deu-lhe um olhar frio.

— Henry me falou de você e de sua habilidade em entrar nas mentes alheias — disse gélida. — Não tente esse truque comigo.

— Não é um truque — disse Edward tenso, ainda surpreso pela resistência mental que enfrentara. — É o que eu faço.

Os olhos de Ness piscaram uma vez, quase como se tivesse surpreendida com sua franqueza.

— Um dom — deduziu ela, inclinando a cabeça. — Um leitor de mentes, não é mesmo? Mas não como Aro Volturi... — murmurou mais para si mesma.

— Você conhece Aro? — perguntou Alice.

Ness virou o rosto para ela.

— Me diga você — pediu docemente. — Tenho essa sensação de que sabem mais de mim do que eu mesma. Estou errada?

Edward tinha a sensação de que se respondesse algo que não a agradasse ela desaparecia com a mesma facilidade que Alice tinha a perdido da última vez. Isso o assustou. Não havia nada da menina doce que ele e Bella tinham criado. Essa menina que o encarava era analítica, cética e perigosa. Alguma coisa em sua atitude o fazia crer que ela poderia ser letal quanto qualquer vampiro puro.

— Eu posso ler os pensamentos de qualquer pessoa, em qualquer lugar, como se estivesse em um ambiente muito cheio e com pessoas conversando ao mesmo tempo em voz alta — respondeu Edward ao invés.

— Parece desconfortável — ela comentou, mas não havia tom condescendente em sua voz.

— Não existe ninguém que possa esconder seus pensamentos de mim exceto minha companheira.

— Acho que eu e Henry somos uma novidade então.

— Henry... — Edward mastigou o nome como se fosse algo ruim. — Vou supor que é o vampiro que esbarrei no hospital. Ele desapareceu rapidamente de lá.

— Ah, sim. Ele é incrivelmente habilidoso — Os cantos dos lábios de Ness subiram. — E muito esperto também. Ele não está satisfeito com interesse de seu clã em mim.

— Nós deduzimos isso pela ligação — disse Alice. — Ele parece se importar muito com você.

Renesmee encolheu os ombros.

— Acredito que é isso que se espera de um membro do clã que se faz parte. — Ela ergueu uma mão pálida e esguia onde havia um pesado anel — Vê isso? Ele me liga ao clã de Henry.

Nada bom, Edward. Ela confia nesse Henry, pensou Alice pesarosa. Edward também se sentiu assim. Seria mais difícil convencer a híbrida de segui-los.

 Os três ficaram em silêncio. Renesmee ficou os olhando sem expressão por talvez cinco minutos até que se cansou e suspirou.

— Olhem, digam-me o que querem para que eu possa ir embora em paz. Não sou clarividente para ter alguma ideia de quem são.

— É um pouco... Complicado — disse Alice hesitante.

— Complicado? — Ness arqueou a sobrancelha. — Minha vida é inteiramente complicada, querida. Talvez você queira facilitar um pouco.

— Você é uma mestiça! — disse Edward bruscamente. — Tem alguma ideia de quem são seus pais?

Renesmee congelou no lugar, os olhos caindo nele. Ele não conseguiu captar metade das emoções que havia em seu olhar, e amaldiçoou silenciosamente que Jasper não estivesse ali com eles, mas numa viagem de caça com Emmett, Rosalie e Carlisle.

— Ai vai um pequeno detalhe sobre mim. Minha mente é essa pequena coisa conflituosa, cheia de peças perdidas. Então se você não for claro comigo não poderei ajudá-lo. Seja direto, por favor.

— Você não quer que eu faça isso — disse Edward em tom incerto. Nada no modo como a híbrida agia era normal. Ela era segura, brusca e dura em suas palavras. E se ele falasse algo que a fizesse correr?

— Acredito que você não esteja lendo minha mente para ter certeza. Por isso diga-me o que quer.

— Eu... — Edward suspirou, perdido.

Houve alguma coisa em sua expressão que pareceu quebrar o semblante sério de Renesmee. De repente a expressão caiu e ela lhe fitou com intensos olhos, quase doloridos, como se entendesse o que estava sentindo. Edward a observou balançar a cabeça e respirar profundamente, como se abrisse mão de algo.

Dessa vez o olhar que trocaram houve algo a mais, uma pequena chama de aparência frágil que poderia se apagar em qualquer instante, especialmente quando ela falou mais uma vez

— Meu nome é Nessie — ela disse calmamente, pondo uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Ou suponho que seja. Não me lembro exatamente. Henry me nomeou como Vanessa por conta disso. E eu não sei quem são meus pais — Ela o fitou. — Mas tenho uma pequena noção de quem seja.

— Você tem? — repetiu Edward sufocado.

Ness assentiu lentamente.

— Nós gostaríamos muito explicar tudo, mas não acho que esse seja o melhor lugar. Seria ótimo se viesse conosco — disse Alice, dando um passo à frente.

Renesmee não moveu um músculo com a aproximação.

— Eu seria tola em ir a qualquer lugar sozinha com dois vampiros — ela apontou.

— Nós não queremos prejudicá-la — Edward garantiu.

— Seria mais tola ainda em confiar — acrescentou Nessie, erguendo os cantos dos lábios. — Mas darei o direito da dúvida. Com uma condição, é claro.

— Qual? — perguntou Edward tenso.

— Eu irei no meu carro e seguirei vocês para onde quiserem. Contudo, se eu perceber que estão me lavando para alguma armadilha tenham certeza que não verão mais o meu rosto. — Um sorriso ameaçador cresceu em seu rosto adolescente. — Eu irei matá-los antes que possam encostar um único dedo em mim. Agora... — Ajeitou as sacolas nos braços — Podemos ir?

Um olhar puro substituiu o sorriso gélido. Não houve indícios da garota que os ameaçara. A que os olhavam mantinha um inocente olhar e agia como se nunca tivesse dito que os matariam.

O que fizeram com minha filha? Edward pensou com horror. Não havia nada nela. Nenhum traço de Renesmee existia nessa menina. Toda luz e bondade que sua filha tinha ao nascer havia desaparecido.

Não era Renesmee.

Vamos, Edward. Alice lhe deu um puxão no braço para que eles seguissem Vanessa que agora se dirigia a um Mercedes preto e destravava o alarme. Ela adentrou o carro no banco de motorista e fechou a porta. Edward não a via por conta dos vidros filmados, mas teve a sensação de estar sendo observado.

Não era Renesmee.

Vanessa, mas não Renesmee.


Notas Finais


Ai, espero que tenham gostado e se gostaram ou não, por favor, comentem para eu saber, porque dependendo do que disserem só sei que poderão amar ou odiar os demais capítulos.
Esperando ansiosamente.
xoxo;
apol


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