Mex estava odiando a ideia de levar Bianca junto com ele para a Terra, mas a decisão de estar lá era dela. Foi ela quem disse que tinha uma dívida com Amanda, e Mex imagina que ela tenha dito isso por se sentir culpada pela morte de Moe, apesar de não ter culpa de absolutamente nada.
*
Ao chegar perto da casa de Moe, Mex procura um lugar para pousar. Ele segue pelo bosque e aterrissa a nave nessas terras.
Sem perder mais tempo, Mex aperta um botão para abrir a porta da aeronave, e Kall, Maxim e Bianca se levantam rapidamente. Os quatro descem da nave e caminham em direção à casa do falecido Moe, mas Veloce permanece dentro do transporte aéreo para tomar conta dele.
Do lado de fora, Mex usa um controle remoto que está em suas mãos para acionar o modo camuflagem da nave espacial. Ele aperta um botão e a espaçonave fica invisível.
Os quatro atravessam a rua e, de frente para eles, está a antiga casa de Moe. Ela está um pouco abandonada, mas continua sendo a mesma de sempre.
Mex respira fundo antes de abrir a porta e entrar na residência. A porta range e ele dá um passo à frente para esticar o braço em direção à parede, apertar o interruptor e ligar as luzes do primeiro cômodo. As luzes se acendem e Mex sente como se tivesse voltado ao passado, um passado nem tão distante. Maxim tem a mesma sensação, e as lembranças acabam invadindo todos os seus pensamentos.
Incomodado com toda aquela sensação, sentindo muita vontade de chorar, Maxim resolve se retirar dali.
Os quatro se separam. Kall vai para um lado, Maxim para outro, mas Mex e Bianca permanecem no mesmo lugar.
Bianca observa Mex paralisar, como se tivesse parado no tempo e não quisesse mais voltar para o presente.
O cheiro de hortelã pendente no ar, um odor que faz Mex lembrar de Moe. Uma sensação de vazio o invade, e ele sente um aperto no peito só em lembrar de tudo o que aconteceu com Moe. Talvez ele devesse estar muito abatido no momento, pois Bianca se aproxima e pousa uma das mãos sobre o seu ombro.
— Esse lugar ainda te traz muitas lembranças, não é mesmo?
— Eu vivi praticamente a minha vida inteira aqui — uma lágrima involuntária escorre de um dos olhos de Mex, e ele estende rapidamente a mão para secá-la. — O Moe não era só meu tio. Ele era como um pai pra mim.
— Não precisa esconder sua dor, Mex. Acima de tudo, você é humano, e humanos choram. Essa é a prova de que você está vivo e tem sentimentos.
— Eu estou bem. Não esquenta — responde Mex, tentando disfarçar sua profunda tristeza.
Bianca percebe que ele está apenas tentando se desviar do assunto. Mesmo assim, ela resolve deixar para lá. Ocorre uma breve pausa.
— É melhor voltar pra realidade agora — Mex se vira e caminha pela casa. Bianca o segue.
Os dois caminham por um corredor e descem alguns degraus até chegar no porão. Logo que chegam ali, muitas lembranças começam a surgir.
Mex encaixota algumas coisas enquanto Bianca percorre cada canto daquele lugar, observando distraidamente o ambiente. Mex percebe e levanta a cabeça para olhá-la por um instante.
— Foi aqui que demos o nosso primeiro beijo — comenta Bianca, com um sorriso radiante no rosto.
Nesse momento, Mex a observa com surpresa. Ele para completamente o que está fazendo para se aproximar devagar, observando-a.
— A gente estava dançando, olhando nos olhos um do outro, e então você me puxou para perto e disse que não conseguia evitar o que sentia por mim. Depois disso, você me beijou — descreve Bianca enquanto se vira para Mex, segura os seus braços e chega ainda mais perto para encostar seus lábios nos dele, tão somente. — Me lembro como se fosse hoje, sabia? Aquele dia foi muito especial pra mim.
Bianca estende os braços e passa as mãos pelos cabelos de Mex. Ela suspira em seus lábios enquanto fecha os olhos, devaneando, voltando ao passado, vivendo todo aquele momento mais uma vez. Durante esse período, Mex a observa fixamente, prendendo os olhos em Bianca.
— Eu nunca disse isso antes, mas, naquele dia, eu senti como se estivesse me levantando das cinzas — confessa Mex, acariciando o rosto de Bianca. — Você me reviveu.
Mex aproxima o corpo de Bianca do seu, envolvendo a cintura dela com um de seus braços e usando a mão livre para tocar-lhe a nuca. Ele cola os lábios nos dela e a beija com leveza, tendo a intenção de eternizar aquela sensação. O gosto de fruta em sua boca, o batom de Bianca manchando os lábios de Mex e os pelos dos braços dele arrepiando quando ela toca em sua pele.
Quando os dois separam os lábios um do outro, Bianca arqueja e abre os olhos para encontrar Mex olhando-a fixamente. E ao vê-lo com aquele olhar, ela abre um belo sorriso.
De repente, escuta-se um forte barulho de explosão. Os dois tomam um enorme surto. A explosão parece ter ocorrido perto de onde eles estão, do lado de fora da residência.
No momento do susto, Mex aperta Bianca em seus braços involuntariamente, como se ele pudesse protegê-la somente com tal gesto. E quando o barulho cessa, Mex gira a cabeça em direção à escada do porão, preocupado, imaginando o que pode ter acontecido. Bianca segue o olhar de Mex, tensa e temerosa.
— Meu Deus! O que foi isso? — indaga Bianca, preocupada.
— Não sei, mas vou dar uma olhada — responde Mex.
Mex corre desesperadamente, subindo os degraus da escada de dois em dois. Bianca segue logo atrás.
Ele sai do porão e caminha em passos longos pela casa à procura do pessoal da sua equipe, mas não encontra ninguém. Ele começa a ficar preocupado, e Bianca estranha a situação.
Mex corre em direção à saída, e Bianca faz o mesmo. Os dois saem da residência e estão atravessando a rua quando escutam a voz de Kall gritando para os dois:
— Aqui! Estamos aqui!
Mex e Bianca se viram para ver Kall e Maxim ainda na calçada da casa de Moe, só que um pouco mais adiante. Os dois correm até eles, e no caminho Mex e Bianca tentam encontrar indícios de algo destruído, mas não encontram absolutamente nada. Todos se veem muito confusos nesse momento.
Esse é um bairro pequeno e não possui muitos moradores, mas a maioria dos que vivem ali saíram de suas casas após o estrondo, a fim de entender o que aconteceu.
— Nós escutamos um barulho muito forte de explosão e viemos ver o que era, mas não encontramos nada — conta Kall, horrorizado. — Foi sinistro.
— Que estranho. Isso não faz o menor sentido — comenta Mex, confuso.
— Em Giguex eles usam uma bomba que não causa danos, só um barulho ensurdecedor, pra espantar bichos selvagens. Mas eu não sabia que a Terra já estava tão desenvolvida para usar esse tipo de tecnologia — Kall fica pensativo. — Estou achando que a pessoa que fez isso não é daqui.
— Acertou em cheio. Estou impressionado — escuta-se alguém de fora dizer, o indivíduo responsável pela explosão. — Esse foi o melhor chute de todos os tempos, mas você acabou errando em uma coisa: a bomba não era pra espantar ninguém, e sim atrair. No caso, vocês.
Um homem surge caminhando em direção aos quatro. Ele é magro, veste uma roupa escura por baixo de uma comprida capa preta com capuz e cobre o rosto com uma máscara. Este é Águia Negra, assassino da mãe de Félix.
Águia Negra chega perto dos quatro, mas sem tirar seus olhos trevosos de Mex.
— Quem é você? — indaga Mex, encarando-o.
— Como eu posso dizer? — alega ele, sorrindo perversamente. — Eu sou aquele que veio te destruir.
Após dizer tais palavras, Kall, Maxim e Bianca recebem uma espécie de descarga elétrica que paralisa seus movimentos (obra de Águia Negra) — o objetivo não é matá-los, mas sim desestabilizá-los por um tempo. — E quanto a Mex, ele é atingido por um veículo que surge repentinamente e o atropela.
As pessoas ao redor ficam horrorizadas com a cena. Mesmo assim, muitas ainda permanecem no mesmo lugar, umas filmando e outras apenas observando. Algumas chegam a chamar a polícia enquanto outras mais temerosas chamam os Neutralizadores, encarregados de prender mutantes.
Quando o veículo o atinge, Mex é jogado no ar e bate com toda a força contra uma árvore, arfando. Ele mal tem tempo para se recompor quando percebe o mesmo veículo voando em sua direção: o automóvel estava sendo controlado através da mente de um dos comparsas de Águia Negra.
Nesse momento, Mex poderia usar a sua força sobre-humana para socar ou chutar o carro, a fim de evitar que este veículo caia em cima dele. Porém, Mex pensa em algo melhor: para que ele não precise expor as habilidades especiais, Mex resolve simplesmente rolar para o lado, ainda deitado no chão. Em resultado, o carro se choca na árvore, mas não atinge Mex.
Ao ver que não conseguiu fazer Mex expor seus poderes, Águia Negra fica furioso.
Mex se levanta o mais rápido que pode, o que leva um pouco mais de sete segundos. Após ele se levantar, Águia Negra se dirige a este, dizendo:
— Que que há, Mex? Mostre a eles do que você é capaz. Exponha seus poderes.
— Qual é o seu problema? Por que veio até aqui? — grita Mex, exaltado e confuso. — Por que você quer tanto me matar?
— Não, Mex. Eu não quero te matar,... não do jeito que você está pensando — Águia Negra abre um sorriso sombrio, leve e tranquilo, com o corpo assustadoramente relaxado. — Eu quero providenciar uma morte "acidental", sem sujar minhas mãos, sem deixar rastros.
— Por quê? O que você ganharia com isso?
Águia Negra apenas dirige um sorriso maligno para Mex, mas não responde.
— Será que você iria expor suas habilidades se alguém estivesse em perigo? — Águia Negra o ignora fazendo uma pergunta retórica e transparecendo um sorriso maligno em seu rosto; Ele se vira e observa algo por cima do ombro. Mex segue o olhar de Águia Negra e é levado para a imagem de um menino do outro lado da rua, aparentando ter uns seis anos de idade, sentado em um banco e brincando com alguns bonecos super-heróis.
— Não faça isso — grita Mex, implorando mais do que exigindo, já sabendo o que Águia Negra é capaz de fazer. E o pior acontece.
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