História Cidade Clareana - S05: Fantasmas existem

Narradora on

Newt acordou com o som de gaivotas e das ondas altas do mar, além do Sol que bateu na entrada da barraca, despertando-o, demonstrando um novo dia que começara. Ele estava feliz por descobrir que tinha realmente, alguém do seu passado, vivo como sua irmã estava, e estava ainda mais feliz, por ter a visão que tinha agora.

Elizabeth respirava com calma, mansa, como se estivesse tendo o mais lindo dos sonhos. Ah, como era maravilhoso poder acordar e a primeira coisa a ver, era Elizabeth dormindo. Ele queria que fosse sempre assim, gostaria de poder ser o primeiro que ela visse quando acordasse, e o último a colocar os olhos antes de dormir todos os dias para o resto da vida.

Com o coração batendo forte, porém, não acelerado, levou seu braço até o rosto dela, ajeitando os cabelos que estavam sobre sua boca, obviamente, molhados. Ela poderia não acordar como a Cinderela, mas ainda assim, era linda.

Sendo assim, suspirou, levantando-se com cautela para não acordá-la, trocou de roupa e, antes de deixar a barraca, deu uma última olhada em Eliza, ela ainda dormia. Saiu de lá e viu que a praia ainda estava praticamente vazia, todos deviam estar dormindo.

Ele seguiu para uma parte afastada da praia, e aproximou-se da água, vendo-a ir e voltar várias vezes, segundo o vento forte da manhã. Também viu as gaivotas não tão distantes e viu o Sol afastando-se do horizonte do mar, erguendo-se.

Tudo estava tranquilo. Aquele era um lugar manso pelo o que verificara, não deviam acontecer muitas coisas, talvez fosse este o motivo de Elizabeth ter ido com a IRONV. Ela nunca gostou de dias monótonos, ficar na clareira trabalhando com os jardins, por exemplo, era uma grande tortura, quando estava correndo no labirinto, sendo algo novo, foi divertido no começo, até descobrir que os corredores não tinham fim. Ah, como era bom se lembrar do labirinto, nunca pensou que fosse pensar assim, mas era bom poder se lembrar dela.

Estava silencioso, a água prosseguia em seu timo, assim como o Sol se estendia pelo o céu, porém, ele surpreendeu-se quando ouviu um bocejo feminino atrás de si. Não era Elizabeth, ela só boceja quando acorda de verdade, e não se passou tempo suficiente para que ela ejá estivesse acordada, além disso, a voz não pertencia a ela.

Curioso, ele se virou, dando de cara com fios loiros amarrados em uma trança nada desengonçada e na verdade, perfeita, lateral. Ela vestia um shorts marrom e uma blusa larga branca, de mangas longas, abraçava seu próprio corpo enquanto andava descalço, aprofundando seus pés na areia.

Newt sentiu sua garganta entalar.

—Bom dia.—disse, mas ainda não tinha aberto os olhos para reparar na face de Newt.—Eu te conheço?

Quando a visão dela já não estava turva devido ao sono, arregalou os olhos, assustando-se com o que, ou melhor, com quem via. Realmente era ele, não era aquele quem estava morto? A pessoa por quem tantas vezes ela viu Elizabeth chorar, o pai do bebezinho que uma vez tinha segurado? Sim, ele estava morto! Devia ser um pesadelo!

Newt por sua vez, ficou estático, não soube como agir ou o que dizer. Ah, oi, sou seu o Newt, eu to vivo e sou o seu irmão, é que o CRUEL separou a gente, simples assim? Não, nada é simples! Ao invés disso, ele esperou o próximo passo dela.

—Ah, meu Deus!—exclamou, tentando dar alguns passos pra trás, caiu na areia.—Meu Deus, eu to vendo fantasmas!

—Não, não, não...

—Socorro!

Ele foi até ela e colocou os braços para a frente, tentando acalmá-la, mas Sonya estava estérica e nos primeiros instantes não quis ouvir, apenas se afastava e tentava se arrastar pela areia, enquanto tentava se levantar, mas ao ao mesmo tempo, mantinha sua atenção intercalada entre ele e o acampamento.

—Fica longe de mim!

—Sonya, eu posso explicar!

—Sai daqui!

Por fim, ele parou bem em frente à ela, silenciando-se, ergueu os braços, rendendo-se. Ele não se moveu, esperando que ela se acalmasse. E realmente, ela não se acalmou.

—Ei, olha pra mim!—suplicou-a.—Sou eu, sou o Newt, não sou um fantasma, eu to aqui!

Ela ainda o encarava afobada, o peito subia e descia descompassadamente, atenta a qualquer movimento brusco, na defensiva.

—Eu to vivo, sou eu, não precisa ter medo.

Ela franziu o cenho, virando-se mais para ele, encarou-o, abaixando um pouco a guarda, mas não totalmente confiante.

—Como você ta aqui?

—Eu vim com a Liza.—explicou, abaixando os braços.—Chegamos tarde ontem à noite, você devia estar dormindo.

Por fim, ela sentou-se na areia—bem distante da água, já que tentou correr dele mais cedo—, e ajeitando-se, abraçou os joelhos, arqueando as sobrancelhas.

—Como é que você tá vivo?—perguntou, abatida.—A Liza disse que...

—Eu sei, eu sei, é uma longa história.—disse, engolindo em seco, ainda na frente dela.—Não sei se você vai querer ouvir agora.

—Ah, eu não vou sair daqui até ouvir cada palavra.

A forma confiante como ela disse aquilo fez ele sorrir, sua irmã era forte e decidida, era bom reparar nesses detalhes e saber que, quem estava bem na sua frente, era a garota que veio do mesmo lugar que ele.

Newt sentou-se ao lado dela na areia e sem pressa, contou cada detalhe, cada vírgula, cada ponto de exclamação de tudo o que passou nesses dois anos até encontrar Elizabeth—até ver, estando em cima de um telhado, vigiando os arredores, aquela garota forte com passos seguros entrar na Cidade dos Cranks acompanhada de Jorge, e repentinamente, sentir que a conhecia de alguma forma.

—Ela era tão linda, tão...

—Tá, pode pular essa parte, eu já sei o que rola entre vocês.

Ele não pode evitar apenas assentir e sorrir, bobo. Esse era o tipo de conversa que fluiria entre eles? Porque se fosse, ele não se incomodaria nem um pouco em levar alguns tipos de sermões como esses vindos dela.

—Como se lembrou dela?—perguntou Sonya, curiosa.—Quer dizer, que loucura, perder a memória pela segunda vez.

—Foi uma loucura, mas muita coisa aconteceu.

Ele a contou como eles ficaram presos no deserto e via como ela parecia interessada em saber sobre, e em como ela ria quando fazia caretas ou quando ela fazia careta ao dizer a ela sobre quando finalmente, se beijaram pela primeira vez após muito tempo.

Sonya não entendia o porque de a conversa fluir tão naturalmente, eles nunca foram de conversar muito e agora, era estranho para ela ver como ele parecia à vontade conversando com uma estranha como ela, ou o fato de ela realmente se divertir enquanto ouvia.

—Nossa, eles estavam quase invadindo a cidade e você estava lendo cartas?—falou ela, e ele assentiu como resposta, prensando os lábios.—Fala sério, é por essas e outras que a Liza surta às vezes.

—Ei, foi por ler aquelas cartas que eu lembrei de tudo, me respeita.

Eles continuaram conversando. E mesmo que não soubesse sejá  agora devia contar a ela sobre serem irmãos ou não, ele apenas esperava o momento certo, esperando que Liza estivesse certa, e que ele realmente soubesse quando a hora chegasse.

[...]

Elizabeth abriu os olhos contra a vontade e logo tratou de fechá-los, seu sono estava bom de mais para simplesmente acabar. Frustrada por ter que acordar àquela hora, virou para o lado esticando seu corpo todo de uma única vez, e só então, voltou a abrir os olhos, reparando que seu loirinho não estava ali.

—Newt?—chamou, sonolenta.—Newt!

Mas aí se deu conta, ele não estava ali. Sentou-se com pressa e olhou em volta, ele realmente não estava na barraca, ou seja, acordou mais cedo.

—Ah, mas que...

Ela tirou o cobertor de cima de seu corpo e deixou-o de lado, levantando-se, trocou de roupa, colocando qualquer jeans e blusa verde água que viu pela frente, finalizou amarrando as botas pretas e abriu a entrada de panos da barraca com força. Reparou que pessoas já estavam levantadas e o dia estava claro, porém, com o vento, um pouco frio.

Ela olhou em volta, e em lugar algum encontrou seus fios loiros, nem os dele, nem os de sua irmã. Sentindo seu estômago roncar, pensou no café da manhã, eles deviam estar comendo.

Liza foi até o refeitório e viu a maioria dos adolescentes e dos já adultos comendo ou se levantando e indo fazer suas tarefas. Seu olhar se fixou no balcão em que serviam a comida, onde Vince e Harriet conversavam animadamente.

—Ah, Liza!—exclamou Vince e então, jogou uma maçã na direção dela.—Bom dia.

—Bom dia pra vocês.—respondeu, caminhando até eles e colocando a maçã na boca, teve certeza de que não haveria melhor café da manhã que este.—Alguém viu o Newt?

—Ué, vocês são grudados.—disse Harriet, Liza revirou os olhos, encarando-a com certo tédio.—Não, não vimos.

—Achei que ainda estivessem dormindo.

—Ele não tava na barraca quando eu acordei.—falou ela, prosseguindo com a maçã.—Vou procurar, se virem ele por aí avisem que eu fui atrás dele, tudo bem?

Harriet olhou no horizonte e então, ao invés de responder o que Liza esperava, apontou para a praia com a cabeça.

—Acho que não vai precisar.

Elizabeth virou-se, dando de cara com duas imagens loiras que andavam sem pressa até eles, enquanto conversavam com certa sintonia. Ela reparou no quanto Sonya sorria enquanto ouvia alguma coisa que ele dizia.

Liza arqueou as sobrancelhas, será que ele já contou?

Depois de já não estar mais tão longe do refeitório, finalmente, Sonya reparou na presença de Elizabeth ao lado de Vince e Harriet. A loira arregalou os olhos, abrindo seu largo sorriso mais ainda, mostrando os dentes.

—Liza!

A loira correu até ela, e Liza recebeu-a de braços abertos, sentindo-a pular em cima de si, e abraçá-la na mesma intensidade ou até maior, do que quando Harriet a encontrou. Sonya apertou-a e depois soltou-a, colocando ambas as mãos em seus ombros enquanto analisava-a.

—É tão bom ver você.

—É bom ver você também.

Liza trocou olhares confusos com Newt—que também andou até ela—, estranhando a cena que acabara de ver. O loiro aproximou-se dela e assim que sua irmã se afastou um pouco, recebeu a companheira com um selinho rápido, apenas como cumprimento.

—Vocês já...

—Ah, já conversamos.—disse a loira.—Ele já me explicou tudo, e aliás, você é maluca? Como é que você pula de um helicóptero no meio de uma tempestade e no meio do deserto?

Elizabeth piscou algumas vezes e então com o cenho franzido encarou o loiro, quem ergueu as mãos em rendição pela segunda vez nesta manhã.

—Ela pediu pra contar tudo.

—Eu achei que tivesse visto um fantasma.—retrucou Sonya.—Mas aí eu pensei e meu Deus, você deve estar tão feliz.

Liza suspirou, soltando ao final, um sorriso confortante. A loira apressou-se em ir até os pratos e pegar seu café da manhã, e assim que ela se afastou, enquanto faziam seus pratos, Elizabeth precisava tirar certas dúvidas.

—Você contou?—perguntou, sussurrando.—Contou ou não?

—Não consegui, sei lá, ainda não deu.

—Tudo bem, não foi isso é que...—pausou, pegando uma maçã extra, enquanto uma delas já estava presa entre seus dentes. Quando se sentaram, sozinhos, isolados dos outros, ela segurou a maçã que estava na boca.—Vocês estavam conversando tão naturalmente, eu fiquei chocada.

—Eu sei, não é?—disse ele, animado.—É como se fosse, sei lá, eu não sei explicar só saiu.

—É coisa de irmãos, Newt.—falou Liza, e então, revirou os olhos.—Quer dizer, irmãos normais como vocês dois, eu e o Gally sempre vamos brigar, então não conta.

Newt gargalhou balançando a cabeça negativamente enquanto bebia um gole de água, e ao terminar de fazê-lo, sorriu, colocando sua mão em cima da mão vazia dela, apertou-a.

Mesmo com a boca cheia de maçã, Liza prestou atenção nele, ainda mastigando.

—Eu to com um bom pressentimento.—disse ele.—Acho que quando chegar a hora, ela vai encarar bem.

Liza terminou de engolir, mostrando-o seu melhor sorriso.

—Ela vai ficar feliz de te ter como irmão.