História Cinderello - A minha Historia - A mais linda das lindas.

Acordei com o barulho do despertador, com um pouco de preguiça me levantei da cama e fui em direção ao banheiro fazer minha higiene pessoal. Voltei ao quarto com uma toalha amarrada na cintura e outra enxugando meu cabelo, abri o guarda roupa e com calma escolhi uma blusa xadrez vermelha e um short jeans preto, como ainda estava em meio as férias de verão não tinha tanta preocupação com os horários, mesmo assim gostava de acordar cedo para apreciar mais o dia.

Desci as escadas indo para a cozinha em busca de algo para comer, pois minha barriga já começava a dar sinais de quem estava acordando. Assim que adentrei a mesma pude notar o bilhete na porta da geladeira, soltei um longo suspiro já acostumado com aquela rotina do meu pai, afinal já fazia alguns meses que estava sendo assim. Cheguei mais perto para ler o que estava escrito no mesmo.

“Bom dia meu filho, dormiu bem?

Seu café da manhã está na geladeira, e tomei a liberdade de deixar o almoço e a janta prontos só tem que esquentar no micro-ondas.

Se comporte, okay? Beijos papai!

Ps: Deixei um pouco de dinheiro embaixo do pinguim para o caso de emergências.”

Desde a morte da mamãe ele vem mergulhando cada vez mais no hospital, não tento mais tempo nem de dormir direito ou prestar atenção em mim, já que além da parte emergencial que era responsável ele vem pegando a administrativa. E mesmo que nos dois saibamos que ele não precisa trabalhar tanto quanto vem trabalhando, também tenho plena consciência do por que ele o faz.

Em parte, por não ter aceito a partida da mamãe e em parte por não querer ver Your Life, - o hospital que eles criaram juntos e que em poucos anos virou uma rede media muito importante em nosso estado – perder seu brilho. Era o jeito dele de fazer seu amor ainda permanecer em sua vida, mesmo depois da morte.

Deixei as lembranças de lado, não queria chorar as nove da manhã. Abri enfim a porta da geladeira retirando de lá uma embalagem escrito café e o coloco para esquentar no micro-ondas. Me apoio no balcão enquanto espero o mesmo ficar pronto.

Olhando agora ninguém conseguiria perceber que aquela casa já fora um dia feliz, que se a um ano atrás alguém chegasse nesse horário se encontraria com uma família feliz; minha mãe estaria fazendo panquecas enquanto eu e meu pai falávamos sobre futebol e como estavam as coisas no hospital, e acabaríamos por dar risadas quando mamãe queimasse a comida ou deixasse alguma panqueca cair ao tentar virar ela no ar...

Fui acordado pelo bipe do micro-ondas que alertava que a comida já estava pronta, peguei a mesma e coloquei em cima da mesa, onde já se encontrava um copo de suco de laranja. Em quanto comia peguei o celular e entrei no whats para ver as mensagens no grupo, como sempre tinha um monte de imagens da maluca da minha amiga, ela adorava encher a memória dos celulares alheios com um monte de imagem de algum personagem de anime.

Abri o chat do meu melhor amigo, mandando uma mensagem para ver se ele estava livre e podia conversar...

@Gui [9:29]: “Ei, está acordado?”

Envie a mensagem e alguns minutos depois meu amigo me mandou a resposta.

@Sr.urso_polar [9:35]: “Gui?! Isso lá é horas de mandar mensagem?”

Soltei uma risada pelo nariz imaginando a cara de sono que o mesmo deveria estar. Lucas tinha o costume de acordar tarde aos finais de semana, e isso só piorava durante as férias.

@Gui [9:35]: “Tá afim de jogar bola hoje?”

Soltei a pergunta tão conhecida, eu adorava praticar esportes mesmo parecendo um sedentário e sempre arrastava Lucas comigo, íamos juntos ao clube que tinha na cidade nos encontrar com mais alguns garotos que sempre frequentavam o local. A resposta veio mais rápido do que eu esperava.

@Sr.urso_polar [9:36]: “Cara, moiado em....”

@Sr.urso_polar [9:36]: “vai dar não.”

Aquilo me pegou de surpresa, era raro as ocasiões que o loiro negava minhas chamadas para sairmos ou fazermos algum programa, principalmente se isso envolvesse algum esporte com bola.

@Gui [9:36]: “Que?”

@Gui [9:37]: “Você recusando jogar uma partida?”

@Gui [9:37]: “Que tá pegando?”

Mandei preocupado, deixando o prato e o copo na pia e me concentrando mais na conversar, para ver se tinha deixado algo passar.

@Sr.urso_polar [9:39]: “>^-^<”

@Sr.urso_polar [9:40]: “Realmente estou me contorcendo para não aceita”

@Sr.urso_polar [9:40]: “mas sabe aquela mina que eu te falei que estava me dando bola na formatura?.”

Me lembrava vagamente da garota ou do que de fato tinha acontecido na formatura, acho que ouvi ele comentar para ela qual escola iríamos frequentar após as férias.

@Sr.urso_polar [9:40]: “Então, adivinha cusão!!”

Ele não deu nem tempo de pensar e muito menos digitar alguma resposta para o desafio, pois logo mandou o que tinha acontecido.

@Sr.urso_polar [9:40]: “Ela vai para mesma escola que nós e me convidou para ir numa tal festa com mascaras que vai ter lá.”

Pego pela curiosidade resolvi perguntar para ter certeza de que tinha entendido o que ele dissera.

@Gui [9:41]: “Baile de máscaras?”

@Sr.urso_polar [9:43]: “É... é acho que, é isto aí mesmo. E agora estou aqui igual doido querendo saber como vou arrumar uma fantasia para ir.”

@Sr.urso_polar [9:43]: “Por falar nisto você quer ir não?”

O convide me pegou novamente de surpresa, a ideia não me agradava em nada, sabia que estes tipos de eventos costumam ser chatos e entediantes, então inventei uma desculpa qualquer e mandei.

@Gui [9:45]: “Há sei não em, também não tenho fantasia.”

@Sr.urso_polar [9:45]: “Então pronto vamos procurar juntos.”

Conhecendo aquele cara como eu conhecia, sabia que não adiantaria em nada tentar negar o pedido ou protestar, soltei um suspiro e penas mandei uma mensagem concordando.

@Gui [9:45]: “Uhm... Beleza doido.”

Não demorou nem dois minutos e ele já respondeu de volta.

@Sr.urso_polar [9:46]: “Chego ai em meia hora.”

Após ler a mensagem, eu bloqueie a tela do celular guardando ele no bolso e começando a lavar a louça que sujei. Assim que terminai de guardar a louça, subi para o quarto para calçar meu all star azul e pegar uma blusa de frio.

Comecei a descer as escadas indo em direção a sala, passei pelo quarto do meu pai. Deixei um bilhete na porta do quarto do mesmo falando que iria sair com o Lucas e não sabia quando voltaria. E assim como prometido meia hora depois eu pude ouvir uma buzina do lado de fora, sai pela porta tendo a certeza de trancar a mesma e logo pude ver o carro preto do outro lado da rua, andei na direção do mesmo vendo Lucas acenar de dentro do carro.

— Yo — falei adentrando o carro e me sentando no banco do passageiro. Lucas deu partida no carro. — Conhece alguma loja de fantasias? — perguntei depois de um tempo, vendo que ele parecia saber por onde ir.

— Olha, na verdade conheço sim — falou dando um sorriso amarelo, em quanto parava em um sinal vermelho

— Haha, vou nem perguntar. — Zoei em meio as risadas.

— Melhor mesmo. — Completou me acompanhado nas risadas.

Lucas seguiu na avenida até o centro da cidade, manobrando o carro em meio as ruas e lojas, logo pude avistar a fachada em um tom delicado de azul claro com grandes letras em branco. Era uma loja bastante antiga e conhecida na cidade, por algum motivo eu não imaginava que ela vendesse fantasias.

— Bonita né? — pergunta enquanto tenta achar um local para estacionar. Eu apenas concordo com a cabeça.

Realmente é uma loja muito interessante, agora vendo mais de perto podia se notar que ela tinha uns três andares e ocupava praticamente o quarteirão todo. Possuía uma porta de vidro que era repartida por três grandes vitrines de cada lado da porta, contendo uns pilares de tijolo entre as vitrines que eram pintados de um tom delicado de azul claro, na porta era possível ver o logo da loja pintado de branco – uma varinha de condão.

Dentro da loja podia se notar que a mesma era dividia em várias categorias nos seus três andares, no térreo onde nos encontrávamos estava a sessão infantil, infantojuvenil e roupas intimas; e de acordo com o mapa era no segundo andar que se encontravam o que estávamos procurando: as fantasias.

— Credito por favor — minha atenção foi roubada para a direção do caixa, onde se encontrava uma garota de longos cabelos pretos, e mesmo vendo só as costas da mesma dava para perceber que ela era muito bonita.

— Posso? — perguntou a atendente estendendo a mão para pegar os dois cabides correspondente as fantasias.

As fantasias me chamaram atenção, e como eu sou um curioso inclinei a cabeça levemente para a direta para poder observar elas melhor. Uma era um vestido totalmente branco semelhante a um de noiva contendo alguns detalhes em verde; já o segundo era roxo e parecia ser uma fantasia de fada por conta das asas.

Soltei uma risada discreta ao perceber como aquelas fantasias passavam um ar de ironia, devido aos contos de fadas e tudo aquelas histórias de amor, porém não comentei nada com o meu amigo que estava muito o culpado babando pela garota que terminava a compra tranquilamente, concluindo que provavelmente era para o baile que teria hoje a noite, o mesmo ao qual estava sendo “obrigado” a comparecer.

Cutuquei Lucas ao meu lado para que juntos pudéssemos ir até as escadas rolantes que davam acesso ao segundo andar onde se localizava as fantasias, ao chegar na mesma passamos ao lado da morena que nos dá um sorriso gentil, que logo retribui com um simpático.

Caminhamos pelo segundo andar meio perdidos por entre o mar de roupas, até trombarmos com uma moça que vestia o uniforme da loja, ela exibiu um sorriso simpático parecendo perceber só de olhar que estávamos perdidos, sustentei o sorriso com outro um tanto quanto que culpado e envergonhado pela situação.

— Bom dia, posso ajudar? – Pergunta a castanha

— Sim, queremos comprar fantasias — comunicou Lucas coçando a nuca num gesto de nervosismo e vergonha.

— Hm, e vocês já tem algo em mente? — perguntou ainda sorridente, mas agora passando um ar pensativa, como se ponderasse enquanto nos avaliava qual fantasia ficaria melhor na gente.

— Eu tava pensando em algo parecido com a do fantasma da opera ou alguma de pirata — falou com a mão coçando o queixo como se tivesse pensando em qual ficaria melhor, por fim desistiu e olhou para mim — E você Gui?

— E-Eu... eu vou querer algo semelhante a um príncipe! — soltei meio vermelho por gaguejar, e pelos olhos arregalados do loiro a minha frente já tinha noção que seria zoado mais tarde.

— Okay, por aqui — falou a atendente nos guiando.

Enquanto seguíamos a castanha, pude sentir o olhar de meu amigo sobre mim, me analisando com cuidado afim de entender ao que me levara a escolher aquele tipo de fantasia, que nos dois sabíamos não ter nada a ver comigo. Em seu rosto eu podia facilmente notar sua confusão, então antes que ele pudesse se pronunciar:

— É, de príncipe. Melhor nem perguntar, nem eu sei direito o porquê disso.

— Como quiser, vossa majestade — falou fazendo uma curta reverencia enquanto ria da minha cara. Ia ser uma longa tarde...

----X----

Não sabia o que tinha me dado no momento que decidi ouvir o Lucas e vir para este baile. Não tinha nada de bom ali, nenhum ponche batizado ou globo de luz – gay, como carinhosamente eu chamo -, e a maioria não está usando máscara.  Para que vir num baile de máscara, se você não vai usar a máscara?

Passei a tarde toda atrás de uma fantasia para vir, e agora que estou aqui só queria ir embora. As músicas lentas que tocavam eram irritantes e a falta de animação era perceptível. Podia facilmente definir aquele baile com uma única palavra: tedioso!!!

Sem lugares para sentar, eu me encontrava perto da mesa de comes e bebes onde o wifi tinha o melhor sinal, ao meu lado em costado na mesa de frente para entrada estava Lucas. Eu a muito tempo deixei que o sentimento de tédio me dominasse e estava vendo as publicações dos meus amigos no facebook, o que particularmente estava mil vezes mais interessante e divertido do que aquela festa.

 — Gui... Gui... Gui — chamou baixinho Lucas cutucando meu braço. O que eu prontamente ignorei, mais como ele não parou de me cutucar acabei por perguntar:

— Que se quer Lucas? — sem tirar os olhos da tela do celular

— GUILHERME!!!!

— Qual a necessidade de gritar? —  Levanto a cabeça já irritado em sua direção. Mas percebo que o loiro estava estático olhando para a entrada.

Acabo por seguir seu olhar, vendo a silhueta de uma pessoa virada para a entrada, parecia estar olhando algo no estacionamento. De morei algum tempo para perceber que era uma garota que estava parada; logo pude perceber que conhecia aquela fantasia, um curto vestido roxo purpurinado com um par de asinhas em suas costas - seus cabelos estavam presos em um coque para deixar mais evidente este detalhe -, a fantasia deixava bem claro que aquela era a mesma menina da loja mais cedo. Lucas estava babando novamente pela jovem, mais duvidava que ele a reconhecera.

Fazia alguns longos minutos que estávamos observando a jovem que parecia estar falando com alguém. Lucas exibia um sorriso bobo no rosto, o que era muito raro de acontecer. O DJ parou a música que estava tocando, os holofotes foram focados para a entrada ao mesmo tempo que a melodia de Listen to you heart começava a tocar, o silencio dominou o local, todos estavam focados na entrada, a tensão era palpável. E mesmo com a melodia de fundo, se uma agulha caísse no chão faria um barulho que chamaria atenção de todos ali.

A fada deu espaço para ela passar ao mesmo tempo em que a primeira frase da música começava a tocar. Na segunda frase da música eu já podia ver ela caminhar para dentro com passo lentos e tímidos, e mesmo ao longe eu tive certeza de duas coisas:

A primeira coisa que me dei conta, é que ela era a garota mais linda que já tinha visto em todos os meus anos de vida, não sabia como um simples vestido branco podia ficar tão bonito em alguém ou como os detalhes verdes pareciam mágicos ao se misturar com a pele clara da jovem. A segunda coisa que me deu contar era que quando nossos olhares se encontraram na terceira frase da música, eu pude sentir um calafrio passar por todo meu corpo, provocando um arrepio gostoso. Me sentia elétrico.

Ela com certeza era a mais linda de todas as jovens daquele baile...