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História Cinquenta Tons de Esdeath - Sem Saída


Escrita por: AstolfinhoRider

Capítulo 112 - Sem Saída


-Como nos encontraram?- perguntou Violet, dando um passo a frente. A roupa ainda estava cheia de pedacinhos de terra, causada pelo choque da imensa lança contra a terra ao seu lado.

-Fique atrás de mim- disse Ilya, ainda segurando o arco, o sabor do beijo de Violet ainda estava em sua mente, e ela imaginava se aquilo havia significado alguma coisa para o companheiro- Eles são perigosos.

-Eu sei disso- disse Violet, uma vez que Rongo Rongo havia lhe mostrado do que Incursio era capaz. O dragão que atormentava os sonhos de Violet era, talvez, aquele homem- Sei disso mais do que qualquer um- Violet franziu o cenho, amaldiçoando o fato de não possuir nenhuma arma para se defender, mas mesmo se tivesse alguma, de que adiantaria contra tais oponentes? Coisa alguma.

Tatsumi deu um passo a frente, a pesada couraça de metal parecia esmagar a terra a cada passo. A assassina de olhos vermelhos encarava a arqueira, e parecia pronta para mata-la a qualquer movimento brusco. Ilya rangeu os dentes. Violet olhou para a companheira.

Raiva. A palavra invadiu a consciência de Violet ao ver a expressão no rosto de Ilya, envenenando seu coração, fluindo pelas suas veias como sangue. Ilya sentia um ódio profundo por Akame, e esse sentimento nublava seu julgamento. Para ela, não faria diferença se morreria naquele combate. A única coisa que importava era matar a assassina de olhos vermelhos, aquela que havia lhe retirado a sua comandante, uma amiga bem próxima. Não restava mais nada em Shisuikan para ela, nenhum vinculo com a terra ou com as pessoas, porque tudo estava morto, e Shisuikan, a ultima grande fortaleza do império, havia sido reduzida a um punhado de cinzas.

Ilya estava se recuperando do disparo quando ouviu as noticias da morte de Hana. E quando viu Akame na masmorra, teve que se conter para não mata-la ali mesmo. Agora não precisava mais se conter, estava ali, frente a frente com a assassina, e tiraria a sua vida sem hesitar. Ilya evocou outra seta, e o cavaleiro de armadura se colocou entre ela e seu alvo, com a imensa lança em mãos. Foi o toque firme de Violet em seu ombro que a retirou daquele transe mortal e a fez baixar a arma e desativar a seta.

- Venham conosco- disse Tatsumi- Não precisamos lutar.

-É uma forma meio estranha de se demonstrar isso- disse Ilya- Tentando nos matar pelas costas. Achei que houvesse algum tipo de honra em suas ações.

Tatsumi a encarou por alguns segundos, e então o elmo de Incursio de desfez. Os olhos vermelhos do rapaz se fixaram no casal, mas não era possível se interpretar o que expressavam. Ilya franziu o cenho, pois os olhos de Tatsumi eram da mesma cor dos de Akame, mas de forma alguma eram humanos. Eram vermelhos e a pupila assemelhava-se a uma cruz. Os cabelos castanhos, amassados pelo elmo, eram compridos e bagunçados, e a expressão em seu rosto era dura como gelo, a beleza daquele homem parecia esconder uma natureza sombria e cruel.

-Não se exalte, Ilya- murmurou Violet.

-Poderia ao menos ter esperado a gente terminar o que estávamos fazendo- Ilya sorriu, tentando mascarar seus sentimentos, sentia raiva de Akame, e apesar de saber que provavelmente ela era a adversária mais perigosa em uma luta corpo a corpo, não entendia o motivo de pensar que preferia enfrentar ela ao cavaleiro. Uma haste de energia se desdobrou do arco, mas ela não planejava solta-la, desejava apenas intimida-los- Não vou perdoa-los por isso.

-São só crianças- disse Akame, em um tom de descaso- Imaginei que encontraríamos pessoas mais velhas em posse dessas armas- ela moveu Murasame em um arco- Isso vai ser rápido.

-Não me subestime- disse Ilya.

-O que vocês querem?- perguntou Violet, de repente- Só nossas Tengus?

-Sim- disse Akame, prontamente- Se nos entregarem as Tengus, eu prometo que não os machucaremos. É só isso o que nós queremos. Nos entreguem as armas e os deixaremos ir- Murasame foi apontada na direção de Ilya- Decidam lutar, e morrerão aqui.

Ilya cuspiu no chão.

-E os rebeldes agora possuem algum tipo de misericórdia?- disse Ilya- A mesma misericórdia que mostraram quando nos chacinaram em Shisuikan?

-Éramos nós ou vocês- disse Akame, se perguntando o motivo de estar se explicando com a inimiga- É uma guerra. Vocês mataram centenas dos nossos.

-E vocês mataram milhares dos nossos- replicou Ilya- Não há mais nenhuma força imperial aqui, pois vocês mataram a todos. Sei o que é uma guerra, sei o que isso significa. Mas isso não diminui o que eu sinto por você!

-Eu e Tatsumi demos aos dois uma chance- disse Akame, a expressão calma da assassina era assustadora- Cabe a vocês aceita-la, ou não. Para ser sincera, não me importo com o destino de vocês- Aquilo significava que Akame não achava que mata-los era de fato, importante, entretanto, Ilya apenas ouviu que a assassina não se importava em elimina-los- A regra de ouro sobre a luta de portadores de Tengu é válida- Violet baixou os olhos, pensando se eles tinham de alguma forma uma chance de vencer aquela dupla- E acreditem em mim... Vocês não tem chance alguma.

Tatsumi. O nome fisgou a atenção de Violet.

-Tatsumi... - ele o encarou- O homem que traiu a senhora Esdeath...

Tatsumi olhou para o garoto.

-Esse mesmo- disse Ilya- Um dos maiores guerreiros da rebelião era o antigo amante de sua senhora.

Violet encarou Tatsumi por alguns momentos então levou a mão até o bolso, de onde apanhou um frasco. Ilya o encarou com o canto dos olhos, Violet havia trabalhado com diversas substâncias nos últimos dias, e havia criado algumas misturas realmente perigosas.

O Dragão, pensou Violet, e o fato dele ter sido tão próximo a Esdeath lhe deu a perspectiva que era aquela a peça que estava faltando em suas divagações. Aquele era o guerreiro que encarnava a força da rebelião, e seu nome era conhecido por muitos, e temido por quase todos. Incursio. Violet pensou em suas alternativas, em lutar e talvez mata-lo, ou fugir. Se tentasse lutar, a assassina provavelmente eliminaria Ilya, e em seu âmago Violet sabia que não podia perdê-la, entretanto, não havia para onde fugir daqueles dois, a mulher obviamente tinha alguma habilidade de rastreamento, o que tornava a fuga dos dois quase impossível. Violet poderia se utilizar das técnicas que havia aprendido, mas havia uma grande lacuna entre o conhecimento teórico e a prática, e acima de tudo ele não estava preparado para enfrenta-los naquele momento.

-Eu não tenho armas- disse Violet, então tocou a cabeça- Nada além disso, e acho que não conseguiria derrotar sua armadura com um discurso edificante, da mesma forma que não tive tempo para preparar alguma coisa. Mas quero que saiba que eu o odeio, Tatsumi, e isso me impede de simplesmente dar as costas nessa situação. Se quiser as nossas armas, terá que nos matar- Violet endireitou a postura, mostrando-se mais alto do que aparentava ser e olhou para Ilya, mas a arqueira não censurou suas palavras- Mas acho que você já está acostumado com isso, não está? Acho que decidiu seu caminho, e aceitou sua própria natureza ao seu unir a uma traidora da Elite dos Sete.

-Vim até aqui com a intenção de matar os portadores das armas- disse Tatsumi- Mas vocês dois são jovens, são tolos. Peço que cuide do tom de suas palavras, ou coisas ruins podem acontecer- Tatsumi sorriu- Nos entreguem as armas, e depois vocês podem voltar a fazer o que estavam fazendo.

-Como disse a minha amiga. Vocês tem uma péssima forma de dizer que vieram em paz- declarou Violet, não entregaria as Tengus, como também não se arriscaria em tentar mata-los, então Violet atirou o frasco para cima- Ilya!

Ilya liberou a seta que atingiu em cheio o frasco em pleno ar, despedaçando o vidro âmbar enquanto a seta se perdia no firmamento. O frasco explodiu, liberando uma expeça névoa sobre os inimigos. A arqueira percebeu que eles não haviam se movido, tampouco gritado, e que ainda estavam parados no mesmo lugar, então mirou o arco na direção de um deles. O que quer que Violet tivesse feito, havia funcionado.

-Não atire!- gritou Violet, puxando-a pelo braço antes que ela pudesse mirar, e como não havia dado ordem alguma a Tengu, a seta se cravou no tronco de uma arvore.

-Eles estão na mira- protestou Ilya- Podemos acabar com eles agora!

-E depois? Eles provavelmente sabem que estamos aqui, se os matarmos conseguiremos algum tempo e vingança, mas depois com certeza seremos caçados até a morte!

-Aquela mulher matou minha comandante- disse Ilya, entre os dentes e preparou outra seta- Eu vou acabar com ela!

Violet a segurou com ainda mais força, puxando-a em sua direção.

-Confie em mim- disse Violet, abraçando-a, prendendo o corpo de Ilya junto ao seu- Mata-los não nos levará a lugar nenhum- suspirou, poderia enfrenta-los, mas temia pela vida de ambos- E não sei se temos como derrota-los também, o transe em que estão durará apenas mais alguns segundos. Confie em mim.

-Violet, eu...

-Confie em mim- disse ele, e a beijou na testa- Ilya. Mata-los só nos trará tragédia.

Ilya baixou o arco, relutante e seguiu Violet pela mata.

-Eu não posso perder você, Ilya- disse Violet- Não seja tola. Precisamos sair daqui antes que o transe acabe.

-Transe?- perguntou ela.

-Aquela fumaça vai bagunçar os sentidos dos dois por um tempo- Violet olhou para a fumaça- Talvez dure um pouco menos com Incursio. Mas temos que voltar para as tendas dos Naun.

-Você sabe o que fazer?- perguntou ela.

-Não- respondeu Violet- Mas preciso pensar em alguma coisa.

 

 

-Aqui está- disse Suzuka, segurando na frente do rosto o objeto esférico. A guerreira tinha as roupas brancas marcadas por tons cinzentos, e utilizava óculos que eram grandes demais para o seu rosto. Os cabelos escuros estavam presos em um coque e a expressão em seu rosto era a de triunfo- Uma das principais armas dos piratas no mar de Albion.

Wave estava ao seu lado e apanhou a esfera da mão da companheira, observando como aquele trabalho havia sido feito com cuidado e habilidade. O Jaeger sabia pouco sobre Suzuka, e sobre seu passado, mas era obvio agora que aquela mulher pertencia aos povos do mar tanto quanto ele.

-Já vi muitas bombas como essa- disse Wave.

-Você já foi um agente da ordem nos oceanos, não?- disse Suzuka, e Wave sorriu ao vê-la vestida daquela forma, mais parecida com uma erudita do que com ela mesma- Caçando os bandidos do mar.

-Algumas vezes, sim. Talvez eu tenha encontrado com você em algum ponto do nosso passado.

-Duvido, eu me lembraria de um rostinho bonito e desprovido de malicia como o seu- Suzuka ascendeu o pavio na mão de Wave- É melhor jogar isso longe, ou vai matar nós dois.

Wave a catapultou para longe, assustado com a ação abrupta da companheira. Uma poderosa explosão destruiu uma pedra no vale onde ela atingiu o solo. Uma explosão grande para um objeto tão pequeno.

-Sua maluca- disse Wave- Poderia avisar antes de ascender?

-Poderia, mas aí eu não veria essa expressão divertida em seu rosto- Suzuka sorriu- Pronto. Eu disse que conseguia fazer.

-Muito bom- disse Wave, limpando um pouco de sujeira que havia no ombro de Suzuka- Enshin ensinou isso a você?

-Disse que aprendi com ele, não que ele me ensinou- Suzuka soprou um pouco do pó negro de suas roupas, se dando conta do quanto estava suja- Acontece que ele sabia fazer, e eu sou bem rápida para aprender. Algumas perguntas para a alquimista de Honest preencheram as lacunas daquilo que eu desconhecia.

-É claro- Wave deu um tapinha no ombro de Suzuka- Não é atoa que você era uma das principais guerreiras da Capital.

-Não diria a melhor, diria que fui uma das poucas que restou viva.

-Quanto tempo você precisa para terminar tudo?

-Um pouco- disse Suzuka- Talvez mais um dia. Já podemos eliminar as tropas da ponte.

Wave balançou a cabeça afirmativamente.

-Quando Eligor cair- disse Wave- Tenho certeza que a rainha lhe dará a recompensa que deseja. E então você poderá viver em paz, longe de tudo... Isso.

-É, talvez.

-Acho que sentirei sua falta.

Suzuka o olhou com estranheza diante da declaração, estavam juntos fazia muito tempo, e mesmo que a amizade de ambos tenha começado de uma forma violenta, era estranho que ela o considerasse mais seu companheiro do que os outros três demônios, pessoas com quem ela lutou por anos. Suzuka se importava com Wave, e lhe alegrou o coração saber que ele também se importava com ela, e por um instante Suzuka se recordou de quando estavam buscando por Cosmina, quando Wave lhe disse que Suzuka era uma pessoa com a qual ele gostaria de lutar lado a lado. Suzuka admirava a integridade de Wave, sua decência e sua honra, porque essas qualidades eram inexistentes em quase todas as pessoas que ela conhecia, e lhe admirava o fato de alguém tão generoso quanto ele se importar com alguém como ela, que já havia errado tanto por toda sua vida.

-Que bonito- disse Suzuka, o rosto corou- Sentirei sua falta, também.

 

Kurome estava sentada em posição e lótus, meditando. O som da explosão a tirou de seu transe e a fez se levantar. Eligor não lhe causava medo, o que fazia o coração da assassina vacilar era o fato de que, depois dele haveria Esdeath. Kurome não tinha certeza se tinha a força para enfrentar sua antiga senhora, ou mesmo Run. Apesar de tudo, seu caminho se mostrava outra vez bloqueado por antigos e amados companheiros.

Mas aquele era o caminho que havia escolhido, e ela já era adulta o suficiente para saber que escolhas tinham consequências.

Com os pés descalços Kurome avançou em direção a espada e a Tengu que repousavam sobre uma pequena mesa, e então ela apanhou a espada. Cortana, a espada da família real de Albion, usada pelos guerreiros com o sangue dos Huron, entretanto, agora não havia nenhum Huron que pudesse empunha-la, e Astra lhe presenteou com a espada depois de lhe oferecer os suprimentos.

Kurome liberou a arma da bainha e observou a luz serpentear pela lâmina, era uma arma esplendida, e linda. A empunhadura dourada era cravejada com uma joia vermelha, e o fio era perfeito, como se fosse recém-forjada. Kurome não sabia o que o futuro lhe guardava depois de Albion, mas jurou a si mesma que Eligor sentiria o gosto do aço gelado daquela espada antes do fim.

 

O frasco explodiu no ar, libertando uma cortina de fumaça que caiu sobre Akame e Tatsumi.

Tatsumi não teve tempo de reagir, e no momento seguinte tudo estava turvo e escuro e ele sentiu o corpo ser arremessado contra o chão, como se o peso do mundo fosse atirado contra suas costas. Por um instante ele amaldiçoou a ideia de ter retirado seu elmo, porque o ar que respirava agora parecia lhe arranhar por dentro. Podia ser alguma espécie de veneno, mas mesmo assim seu corpo levaria algum tempo para eliminar a toxina, e ele sofreria durante algum tempo.

-Akame!- ele gritou, tentando se levantar, mas não houve resposta, sua voz não parecia soar como deveria, e respirar feria sua garganta-... Akame!

-Tatsumi?- perguntou alguém.

O coração de Tatsumi disparou ao ouvir aquela voz, e ele se ergueu. Esdeath estava ali, em pé, como se alguém a tivesse retirado de uma de suas lembranças e a colocado a sua frente, e ela avançou em sua direção lentamente.

-Lhe busquei por tanto tempo. Que bom que está aqui.

Mas Tatsumi sabia que não era real, não podia ser. O corpo de Esdeath parecia ser pintado, desbotado, como uma pintura antiga, ela sorriu, e o canto de sua boca trincou como tinta velha. Tatsumi percebeu que não estava mais na floresta, estava em um cômodo familiar. Era o quarto de Esdeath, idêntico ao que era na época em que ele chamou aquele lugar de lar.

-Você... - Tatsumi recuou um passo. Não era real, não poderia ser. Mas sua mente não conseguia negar que era, aquela voz, aqueles olhos... - Como?

A ultima vez que Tatsumi viu Esdeath foi em Shisuikan, e havia sido um encontro breve, antes disso, na fortaleza de Bolic. Tatsumi se recordava da expressão melancólica de Esdeath ao saber que ele era Incursio, e agora aquela mesma expressão estava estampada no rosto da figura a sua frente. Os cabelos azuis se moviam como fumaça.

-Eu achei que tivéssemos algo especial- disse ela, e os dedos finos da general roçaram a maçã do rosto de Tatsumi, seu toque era frio como a pele de um cadáver- Todo aquele tempo que passamos juntos... Achei que tivesse significado alguma coisa para você. Olhe para mim, diga-me que não quer me matar... Diga-me que, apesar de tudo, teria algum tipo de piedade comigo no fim.

Esdeath nunca diria aquelas palavras, mas isso não tornava tudo menos estranho.

-Eu...- Tatsumi recuou um passo, tentando evocar o elmo ou sentir o poder de Tyrant neutralizar o que quer que fosse aquela névoa, mas não sentiu o poder, tampouco poderia mover a lança.

-Disse a Najenda que me mataria- Esdeath suspirou- Que havia acabado o tempo de hesitação, mas foram palavras ao vento, não foram? Você estava... Exagerando, levado a crer em sua raiva pela dor que sentia depois da morte de Mine. Diga-me que...

Esdeath se calou abruptamente. Tatsumi olhou para baixo e viu Neuntote cravada na barriga de Esdeath. O sangue pingava e manchava o chão. A lâmina de Neuntote era atroz, e partiria ao meio o corpo da general, entretanto, não foi isso o que aconteceu, a lança parecia estar atravessando o corpo de um fantasma, envolta em névoa.

-Mas você me matou- disse ela, enquanto um fio de sangue escorria pelo canto da boca- Escolheu me matar- os olhos de Esdeath caíram sobre uma figura parada ao lado de Tatsumi. Era Akame- Escolheu ficar ao lado dela.

-Esdeath... - Tatsumi não conseguia se mover, e a general tombou de joelhos, os olhos perderam o brilho e a pele tornou-se cinzenta. Tatsumi ficou parado, observando aquela figura por alguns segundos, mas a sensação foi a de que haviam se passado horas.

Acorde.

 Ouviu uma voz, distante, ele olhou para os arredores e tudo estava se desmanchando. Então ele sentiu uma dor profunda, e a ilusão desapareceu, o quarto de Esdeath se despedaçou como vidro. Estava novamente na floresta, e Akame estava ao seu lado. Tatsumi estava de joelhos. A assassina havia acabado de desferir um soco contra o rosto do rapaz. Tatsumi estava atônito, e Incursio havia desaparecido de seu corpo, a espada estava caída poucos centímetros a frente dele.

-Tatsumi- gritou Akame, as pupilas de Tatsumi estavam dilatadas, mais do que o normal - Acorde.

-Akame... - Tatsumi se levantou, então limpou o sangue que escorria de um corte no lábio- Ai.

-Temos que sair dessa fumaça- disse ela, puxando Tatsumi pelo braço e correndo na direção que viu Ilya e Violet irem- Essa fumaça causa alucinações- disse ela, cobrindo o rosto com um pano.

-Eu vi Esdeath- murmurou Tatsumi, enquanto recobrava a consciência aos poucos, a névoa parava aos poucos de afeta-lo- Esdeath estava morta, e eu tinha matado ela...

Akame suspirou.

-Eu vi você- disse Akame, mas algo em sua voz não era de forma alguma, sincero. Akame sabia muitas coisas, mas era péssima em mentir - E eu o matei. A fumaça deve mostrar a coisa que mais tememos que aconteça, alguma coisa assim.

-E está bem com isso?

Akame balançou a cabeça negativamente.

-Não era uma ilusão tão boa assim- disse ela- Aquele rapaz...

-Como ele tinha algo como aquilo no bolso?- perguntou Tatsumi, olhando para a redoma de fumaça que estava onde eles haviam estado momentos atrás, que desaparecia aos poucos.

-Eles não nos atacaram- disse Akame- Na situação em que estávamos eles poderiam ter facilmente nos atingido com uma daquelas setas. Não querem nos matar, se quisessem já teriam feito alguma coisa- Akame olhou para trás- Eles querem escapar, mas não querem nos dar motivos para mata-los caso falhem. São espertos.

Mas aquela era uma aposta no escuro, Violet devia acreditar que havia alguma honra nos dois oponentes.

-Esdeath não teria o treinado se não fosse- disse Tatsumi- Esdeath viu potencial nele.

-E que tipo de potencial ela viu em você?- perguntou Akame, de forma descompromissada.

-Deve ter o meu sorriso maravilhoso- Tatsumi sorriu- Ela me disse que se apaixonou por ele.

-Quem não se apaixonaria?- brincou Akame, então tocou o chão- Deve ter um povoado aqui perto. Quer ir atrás deles?

-É claro- disse Tatsumi- Agora que está ficando divertido- o sorriso desapareceu de seu rosto- E pessoal.

 

Ilya apontou L'Arc Qui Ne Faut para o céu, enquanto Violet evacuava os Naun da aldeia e preparava alguns outros frascos. O conhecimento da alquimia havia lhe dado certo conhecimento sobre o oculto, sobre os espaços entre os espaços, coisa que Dorothea havia demorado a aprender, e que mesmo ela acreditava ser uma pratica ruim, mas Violet não tinha alternativa, e através dos símbolos antigos, escondeu Rongo Rongo em um lugar onde homem algum além dele seria capaz de alcançar. Ilya se recordou de como Thomas havia utilizado o arco naquela fortaleza, e então retesou a corda da arma novamente. Não havia forma de dizer como ela sabia o que tinha que fazer, ela apenas sabia.

-L'Arc Qui Ne Faut- murmurou ela, e logo a seta em sua mão se dividiu em mais três, então em mais cinco, e assim consecutivamente, até que as setas se tornassem filetes da mesma espessura de fios de cabelo, então fez uma careta, tentando imaginar um nome para a técnica- Tormenta de Flechas.

Violet observava aquela ação, haviam tantos filetes de energia partindo dos dedos de Ilya que ela parecia segurar uma pequena estrela. Ilya então a soltou, e a energia avançou em direção ao céu, despedaçando as nuvens, brilhando por alguns momentos e depois se apagando, para então se expandir no céu como fumaça.

-O que você acabou de fazer?- perguntou Violet.

Ilya olhava fixamente para o céu.

-Sinceramente, eu ainda não sei. Quanto mais setas, menos poderosas elas são, e menos precisas...- Observaram ambos enquanto as setas começaram a despencar do céu em direção a floresta- Mas tudo bem, eu não quero mata-los, só assusta-los...

-Quantas flechas você lançou?

-Não sei- Ilya sorria- Centenas, talvez.

 

Uma seta quase atingiu Akame no rosto. Era fina, rápida e mortal, e atravessou um tronco de arvore como se fosse feito de manteiga. Outras setas como aquela começaram a chover a sua volta, e a assassina correu rapidamente para trás de uma pedra. Centenas de flechas caíram a sua volta, devorando a terra como uma chuva de granizo. As setas se enterravam profundamente na terra, e depois desapareciam. Aquilo devia ter durado menos de um minuto, mas foi surpreendente. De súbito, Akame percebeu que Tatsumi não havia colocado Incursio novamente depois de ter se desconcentrado por causa da fumaça, então olhou para o lado, buscando o companheiro.

Uma das setas o havia atingido diretamente no ombro, e ele estava abaixado a alguns metros de Akame. A seta não parecia ser perigosa o bastante para matar Tatsumi, tampouco retira-lo do combate, e apesar do ferimento, ele sorria.

-Eles são bons- gritou Tatsumi.- Vai ser difícil nos aproximar assim.

-Vista sua armadura e se proteja das próximas setas- disse Akame. Uma flecha explodiu contra a pedra que estava as suas costas.

-Bastaria uma ou duas setas concentradas para perfura-la- disse Tatsumi- É uma Tengu perigosa.

Akame rangeu os dentes.

-Odeio arqueiros- resmungou.

-Eu também odeio- Tatsumi se levantou e evocou a armadura e saltou para a frente- Isso foi apenas para nos assustar.

-Eu vou seguir pelo lado- disse Akame- Você avança pela frente.

-E eu me torno um alvo fácil- protestou Tatsumi.

-De nós dois, quem está de armadura?- Akame sorriu, então se atirou para o lado- Vou eliminar a arqueira!

 

 

Lubbock encarava o horizonte. O vento frio do entardecer elevava seus cabelos. Os fios de Cross Tail estavam espalhados pelo perímetro de onde estavam, e ele sentiria qualquer tipo de aproximação. Leone estava ao seu lado, os sentidos primais elevados ao máximo. A ponte de suprimentos se erguia diante de um precipício.

-Acha que eu deveria ter escrito uma carta de amor para Najenda antes de vir para cá?- perguntou Lubbock.

-O que?- Leone o encarou com o canto dos olhos, brilhantes como esmeraldas- Não. Cartas de amor são bobas.

-Não seriam cartas de amor se não fossem bobas.

Leone revirou os olhos.

-É claro. Mas isso não combina com você.

-Acha que não?- Lubbock sentiu um grande grupo de aproximando.

-É. Você é um cara de atitude, digo, não simplesmente deixaria uma cartinha e esperaria pela reação do par. Falaria nos olhos, sabe... Acho que dar a ela tempo para pensar na resposta é uma ideia ruim.

-Acho que foi uma péssima ideia.

-É- sorriu- Algumas coisas precisam ser ditas frente a frente. Olho no Olho.

-Eu queria ter sua coragem.

-Meia garrafa daquela cerveja da Kurome e você ganha essa coragem.

-Meia garrafa daquela cerveja e eu vou acabar em coma- de súbito, os sentidos de Lubbock se ascenderam mais ainda.

-Depois que isso acabar, o que acha de visitarmos um bordel?- sugeriu Leone- Você está carente.

-Não estou a fim de encontrar alivio momentâneo no colo de uma meretriz- disse Lubbock- Eu provavelmente começaria a chorar e a contar da minha vida para ela. Não seria legal.

-Vou leva-lo a um curandeiro, então. Você não está bem.

-Temos visitantes- disse Lubbock.

O primeiro disparo veio de um lugar distante, quando uma seta se cravou no ombro de Leone e a fez recuar um passo. A loira rangeu os dentes e arrancou a seta do corpo. Lubbock observou o ferimento se fechar lentamente, enquanto um fio de sangue escorria em direção ao braço direito da companheira. Eles haviam chegado rápido demais, e uma luz piscando no firmamento mostrou a Lubbock que eles já estavam cientes da tocaia.

Era a hora de agir.

Lubbock moveu os dedos, concentrando os fios de Cross Tail em uma única ponta afiada e a lançou na direção do arqueiro. A seta se cravou diretamente no peito do inimigo e o cravou contra uma arvore. Lubbock não tinha tempo para imaginar o que tinha que fazer, tampouco de pensar em quão cruel eram as mortes que causava. No instante seguinte Lubbock abriu a mão, e Cross Tail se expandiu, despedaçando o cadáver do arqueiro e se dividindo em seis outras hastes, que avançaram como estacas contra os inimigos em volta, empalando-os onde estavam, com outro movimento rápido de mãos, Lubbock despedaçou as rodas de uma caravana que avançava.

Leone se atirou do alto do morro, despencando sobre um dos homens, esmagando-o com o peso de seu corpo. O guarda seguinte atacou, mirando em Leone e estocou. A loira desviou da lança, puxando-a em direção ao seu corpo, depois cravou o braço no peito do adversário, enterrando-o até o cotovelo no tronco exposto. Banhada em sangue, a usuária de Leonel avançou, derrubando um homem do cavalo antes que ele ativasse seu lança chamas.

-Tropa de Incineração- disse Leone, ao cair sobre ele- Covardes.

Leone o atacou, atingindo-o com um soco diretamente no rosto, esmagando o crânio contra o chão, sangue e pedaços de cérebro se espalharam pela terra. O ultimo dos homens tentou correr, mas Leone saltou em sua direção, partindo o pescoço dele antes que ele fosse capaz de se afastar muito. O objetivo da dupla era eliminar a patrulhas daquela terra, e haviam feito aquilo com aparente facilidade.

-Você fica linda toda banhada de sangue- disse Lubbock, descendo do morro. Moveu os dedos, e Cross Tail voltou ao seu lugar de origem.

-Tem certeza que não está apaixonado por mim?- disse Leone, limpando o sangue das garras com uma capa, olhou para o que havia feito com certa repulsa.

-Olhando para como você despedaçou o corpo desse aí, penso que é a mulher da minha vida.

 -Eu exagerei- disse Leone, então deu um passo para frente- Me deixei levar pelo combate e...

Leone se calou abruptamente, pois quando deu um passo na direção da ponte, uma haste metálica se ergueu do chão, tão rápida quanto um raio. Leone se atirou rapidamente para trás, mas não foi capaz de desviar de outra dessas hastes, que a atingiu diretamente na altura do estômago, partindo de dentro da terra. Leone cambaleou, tossiu sangue, então quebrou a lança, que desapareceu como fumaça.

-Que desagradável- disse ela, caindo sob um joelho.

-Leone!- Lubbock se aprumou a ela, pois conhecia aquelas lanças, mas se tranquilizou ao ver a aliada levantar, mesmo que a lança houvesse rasgado seu corpo de uma forma que mataria qualquer coisa- A ponte está cheia de armadilhas.

-É claro que está- disse Leone, observando uma figura negra se erguer da caravana destruída e avançar lentamente na direção dos dois- Eligor está aqui.

 

 

Esdeath avançou a passos rápidos pela entrada do salão do Imperador, e quando entrou, Honest a olhou de forma inquisitória. Alguns lordes no salão murmuraram coisas que a general não entendia, tampouco se importava, então ela caiu sobre um joelho, pois o próprio imperador estava ali.

-Então... - a voz de Honest ecoou pelo salão- Budo está morto.

-Budo e quase todos naquela fortaleza- disse Esdeath- Shisuikan caiu diante dos revolucionários.

Honest e todo o salão ficaram calados por alguns momentos. Budo era considerado um dos generais mais brilhantes na história do Império, e apesar da derrota no Norte, ele ainda era um símbolo da força do Imperador. Budo agora estava morto, Shisuikan agora estava aos pedaços. O ultimo resquício da fora Imperial fora das terras da Capital era a Tropa de Incineração e algumas legiões de soldados protegendo a fronteira leste, e se Budo não conseguiu conte-los, que chance Eligor teria? Ouvir aquelas palavras da boca da própria Esdeath era um choque,

Honest passou os dedos na expeça barba. O Primeiro Ministro não costumava demonstrar nenhum tipo de emoção exagerada na frente das pessoas, mas todos no salão conseguiam sentir a raiva que seus olhos emanavam.

-Você estava lá, Esdeath. Como aquela fortaleza caiu?

Esdeath se levantou.

-Eu poderia ter protegido a fortaleza. Poderia ter confrontado o exército rebelde. Mas foi ordenada uma... Retirada- Esdeath estreitou os olhos- É a segunda vez que eu sou obrigada a recuar.

-Se você continuasse lá, morreria- disse o Imperador- Não morreria?

Esdeath não se deu ao trabalho de olhar para o Imperador, seus olhos estavam cravados nos de Honest.

-Eu poderia ter vencido aquela batalha- disse a general- Poderia ter transformado toda aquela fortaleza em pó, mas agora tudo o que resta de Shisuikan são ruínas. É uma mancha na história do Império.

-Esdeath...

-Não!- disse Esdeath, os olhos emanavam a fúria contida em seu coração- Sem desculpas agora, Primeiro Ministro. Eu já me cansei dessas derrotas patéticas. Se tivessem me deixado agir por conta própria desde o começo a rebelião já teria sido esmagada... Estou farta de tratos com Príncipes Heróis ou rainhas traidoras, farta de generais incompetentes, e de lordes que se escondem atrás de muros, preocupados em não perder seu dinheiro sujo, em vez de verem o que realmente importa- Esdeath olhou para os arredores, e ouviu a voz de Tatsumi ao pronunciar a ultima frase, e aquilo encheu seu coração de ódio- Chega, Primeiro Ministro, chega de tanta... Fraqueza, ela está espalhada pela nossa capital como uma praga.

-Baixe o tom de sua voz- disse um lorde próximo a porta- Está na presença do imperador, e...

Esdeath moveu o indicador, de uma forma tão sutil que apenas Honest, que estava mais próximo a ela, conseguiu notar o movimento. Naquele instante, uma atroz estaca de gelo se projetou do chão, atingindo o lorde diretamente na garganta e atravessando-a. O lorde foi erguido do chão pela força e rapidez daquele golpe, se debateu uma única vez antes de morrer. Todos na sala observaram enquanto o sangue que jorrava da garganta do homem manchava a estaca de rubro, e o corpo pendia de uma forma doentia.

-Não me interrompam- disse Esdeath- Nenhum de vocês tem o direito de falar em meu lugar, estou falando com Honest, e não com vocês. Se recolham a sua insignificância.

-Ele sempre teve uma boca grande demais- disse Saikyuu, mas se calou quando Esdeath olhou para ele.

Honest franziu o cenho. Odiava se sentir indefeso, mas aquela ação da general mostrou a ele que aquela mulher era capaz de mata-los antes que qualquer um deles fosse capaz de fazer alguma coisa. Esdeath havia os ajudado a afastar os inimigos, mas para o Primeiro Ministro aquela mulher era uma bomba relógio. Esdeath era uma guerreira extremamente poderosa, talvez a mais poderosa do mundo, e agora era a senhora suprema do exercito imperial, mas ao contrario de Budo, não havia coisa alguma que a mantivesse fiel ao Império. A Capital era a casa de Budo, mas Esdeath havia nascido no norte, Budo tinha um elevado senso de justiça e de honra, enquanto Esdeath só se importava com o combate, e pouco se importava com as leis. O fato dela ter salvo da execução um assassino da Night Raid havia sido um duro golpe contra a autoridade de Honest, apesar dele ter cedido aos desejos da general por consideração a sua importância. Esdeath era forte, mas Honest se perguntava o que a mantinha ali, presa a hierarquia da Capital, quando ela própria poderia destruir a todos. Ele havia erguido Shikoutazer para que pudesse se livrar de uma vez daquelas questões, mas a arma estava nos limites da Capital, se preparando para o possível ataque, e mesmo assim, Honest se perguntava se o Imperador seria capaz de vencer Esdeath se esse fosse o caso.

A indignação de Esdeath contra a atual situação do Império incomodava o Primeiro Ministro profundamente, porque ela, apesar de tudo, tinha razão. Esdeath sempre fora sua maior arma, sua maior guerreira, seu verdadeiro triunfo diante das adversidades, e ele negara a ela o que ela sempre desejou por, talvez, medo.

-Basta- Honest se levantou- Esdeath...

-Deixe-me voltar para lá- disse Esdeath- Dê-me mil guerreiros, e eu juro que devastarei o Norte!

-A nossa situação hoje é diferente do que era a anos atrás, as nossas forças estão...

Esdeath o calou com um movimento de mão, ela não o deixaria falar, pois se o fizesse, seria facilmente ludibriada. Honest era um politico, e mentir fazia parte de sua natureza.

-Sim ou não?- disse.

-Não- disse Honest, de uma forma dura- Não. Você deve proteger a Capital.

-Está brincando comigo- Esdeath sorriu- Aquela aberração do Imperador já não serve a esse propósito?

-Sim, mas todos os portadores de Tengu foram convocados para a proteção da Capital- Honest se levantou- Eles virão, Esdeath, e cabe a vocês proteger-nos dos rebeldes.

-Então me manterá aqui- Esdeath deu de ombros- Presa no meio de todos eles, esperando um ataque como uma noiva espera seu marido voltar da guerra, em vez de eu estar fazendo alguma coisa- suspirou- Disse que convocou todos os usuários de Tengu, mas Eligor ainda está na frente de batalha.

-Eligor recusou o chamado- disse Honest- Preferiu continuar defendendo a fronteira.

-É um homem de verdade- Esdeath franziu o cenho e olhou para o seu redor, e tudo o que viu foi medo e fraqueza estampada no rosto daqueles lordes. Dezenas de lordes, todos acuados em seus cantos, com os olhos mergulhados no medo da revolução. Apenas Eligor ainda estava em pé, e por um momento Esdeath sentiu admiração por aquele homem que mal havia conhecido. Esdeath balançou a cabeça negativamente. A única coisa no mundo que era capaz de fazer o seu sangue ferver era a covardia. A general olhava para seus arredores e não via nada que valesse a pena ser salvo ou protegido, e por um momento seu descontentamento superou sua ânsia por batalhas e ela viu o quão patéticos eram todos aqueles homens, e pensou que os guerreiros mais bravos já haviam caído, e tudo o que restara era uma corja de insetos. Honest era o pior de todos eles. Um homem velho e maligno, escondido atrás de sua influência e de uma arma capaz de obliterar cidades. Mas fora isso, o que Honest tinha? Nada. Talvez nem mesmo a lealdade daqueles lordes todos, ao final, Esdeath desejava simplesmente ir embora dali, ou destruir aquela capital ela mesma- Ao contrario de todos vocês- disse ela, por fim, antes de dar de ombros e virar as costas.

 

Tatsumi encontrou Violet no centro de um vilarejo aparentemente vazio.

-Então você é Tatsumi- Violet estava em pé, sozinho, em meio a algumas casas com o teto de sapé, rudimentares- Não imaginei que o encontraria.

-Desistiu de tentar fugir?- Tatsumi parou onde estava, olhou para os lados, procurando pela arqueira, mas não encontrou nada- Vai me entregar sua Tengu?

-Para onde eu fugiria?- os olhos de Violet brilhavam, dourados como eram- Estamos no meio do nada, e vocês chegaram perto demais. Não há coisa alguma que possamos fazer. Mas não entregarei Rongo Rongo.

Tatsumi olhou para o lado, Violet não tinha arma alguma.

-Então vai lutar- disse Tatsumi- Onde está a sua Tengu?

-Em um lugar onde você não pode encontra-la- disse Violet- Se eu morrer, o livro se perderá para sempre, e se você tentar me ferir, Ilya atingira os frascos que estão espalhados por essa terra, libertando um veneno mortal sobre nós.

-Eu sobrevivo ao veneno.

-Você sim, sua companheira não.

Tatsumi franziu o cenho.

-Tampouco você.

-Eu tenho o antídoto- Violet sorriu- Ilya também. Ficaria impressionado com os ingredientes que esses aldeões calados possuem.

Tatsumi balançou a cabeça negativamente, haviam demorado cerca de meia hora para encontra-los porque a chuva de flechas havia destruído as marcas de passagem.

-E o que você quer?

-Eu quero conversar, negociar alguma coisa, agora que não estamos em uma situação tão complicada. Sei que a assassina está preparada para me matar caso eu tente alguma coisa, escondida em algum lugar escuro- Violet olhou para o lado- Você é o mais resistente dos dois, e se atira primeiro ao combate, ela estaria me flanqueando, não?

-Muito bem- disse Tatsumi- Admito que não esperava por isso. Você estava bem preparado.

-Eu não estava- Violet se sentou- Vocês nos pegaram de surpresa, e desprevenidos. Ilya tentou atrasa-los, mas ao que parece, não funcionou muito.

Tatsumi suspirou, então se aproximou de Violet.

-Violet, não é?- disse Tatsumi- Você deve ter chegado ao Império um pouco depois de meu desaparecimento, e deve ter ouvido coisas horríveis ao meu respeito. Esdeath deve me odiar por tudo o que eu fiz.

Violet sorriu.

-Ela não o odeia, bem, não tanto quanto deveria. Ouvi dizer que ela o buscou por um tempo, mas quando eu a conheci no oeste, ela estava com o coração despedaçado pela sua ausência.

-Não foi isso o que eu entendi quando ela quase me matou meses atrás- tocou o peito- Ou alguns dias atrás.

-Não estava na ocasião, mas eu aposto que com certeza ela lhe deu a chance de retornar.

-Ela me disse que me amava- disse Tatsumi, em um tom melancólico- Me estendeu a mão.

-E você ainda sim a renegou.

-Foram palavras ao vento- disse Tatsumi- Ela... É uma senhora da guerra, não ama coisa alguma além do combate.

-Então você já aprendeu os jargões da rebelião- Violet balançou a cabeça- Mas não acredita nessas palavras, acredita?

-Tenho minhas duvidas- respondeu- De que importa?

-Ora, se você deseja destruí-la, precisa estar ciente das coisas que sente- Disse Violet - decisões difíceis demandam de uma vontade poderosa. E você não deseja mata-la, pelo menos é o que me parece.

Tatsumi manteve-se em silêncio.

-É difícil odiar alguém que um dia já foi tão importante para você, não é?- Violet tentava abalar Tatsumi de alguma forma.

-Talvez... Talvez precise ser feito.

-E você tem poder para isso?- Violet franziu o cenho- Tudo isso começou com você e com ela, você esteve ao lado dela por muito tempo, intimamente, mais do que qualquer um de seus guerreiros jamais esteve, lutou por ela, sangrou por ela, ela o ensinou a lutar, ensinou maioria das coisas que você sabe sobre combate, sobre sua própria natureza, menos a domar o poder de Incursio, porque na época ela não sabia que vocês dois eram a mesma pessoa.

-Como sabe dessas coisas todas?

-Eu perguntei- Violet sorriu- Perguntei a ela, aos registros das guerras que estão aqui- Violet tocou a cabeça- Tudo o que é reportado no Império está em Rongo Rongo... Se você pudesse ler esse livro, saberia como é incrível. Tudo se iniciou com os dois- voltou ao monólogo- E tudo pode terminar com os dois, não é mesmo? Com um dos dois morrendo pelas mãos do outro. Não é isso o que você gostaria?

-Não pense que essa perspectiva me traz algum tipo de prazer. Mas algumas coisas precisam ser feitas, independente do que nosso coração diz.

-Como a destruição do Império.

Tatsumi balançou a cabeça afirmativamente.

-O Império cairá, já perdi muito nessa guerra, então... Colocarei um fim a ela.

-E o Dragão se ergue contra o Império uma vez mais- Violet se levantou- Algumas coisas nunca mudam. Diga-me, depois de terminar de fazer o que tem que fazer, depois que o Império arder nas chamas da revolução... O que você fará?

Tatsumi pensou por alguns momentos, então o lampejo de uma esperança distante se ascendeu em seus olhos.

-Depois que tudo acabar eu poderei descansar meu corpo ferido, enfim- Tatsumi suspirou- Eu me sentaria no alto de uma colina, e veria o nascer do sol de um mundo em paz. Penso que jamais empunharia essa espada outra vez, apesar de que, sinto-me mais confortável com Incursio agora do que qualquer coisa.

-Descansaria- Violet balançou a cabeça negativamente- Aposto que veria o pôr do sol do alto das torres de Daiken, enquanto o vento tocava a sinfonia dos amantes.

O elmo de Incursio se desfez, e o rosto que estava por baixo dele era triste e devastado.

-Daiken- disse ele- Eu iria para lá um dia, acompanhado da pessoa que eu mais amei nesse mundo. Mas não irei mais.

-E por quê?

Tatsumi suspirou.

-Ela se foi- disse Tatsumi.

-Sinto muito.

Tatsumi se aproximou de Violet, então ficou frente a frente com o rapaz.

-Eu perdi mais nessa guerra do que você pode imaginar... Muitas pessoas que eu amava caíram uma a uma, e eu nada pude fazer para impedir. Nada até agora- A manopla de Incursio se fechou e Tatsumi ergueu o punho- Fui indeciso por grande parte de minha vida, e meu coração sempre esteve dividido, apesar de tudo, mas... Como você mesmo disse, decisões difíceis demandam de uma vontade poderosa. Tive meu coração arrancado do peito na batalha de Shisuikan quando Mine se foi, mas minha vontade agora é mais poderosa do que qualquer outra força nesse mundo... Farei o que for necessário, não importa quem ou o que estiver em meu caminho- Tatsumi cravou Neuntote no chão- Disse para a sua senhora que eu não desejava enfrenta-la, mas que ela não me deixava escolha, e sei que você sabe que a natureza daquela mulher jamais permitiria um fim pacifico diante de tudo o que aconteceu, Violet- ele estendeu a mão- O que há entre mim e Esdeath é algo que somente nós dois podemos resolver, não há motivos para você e a mulher que você ama se envolverem nisso, não há motivos para perderem tudo o que tem agora, aqui, no meio do nada. Não devem morrer em um lugar como esse, esquecido, onde ninguém jamais se lembrará de seus rostos, você é jovem, Violet. Pense no futuro. Não é vergonha alguma se abster de um conflito que não é seu.

-Mas esse conflito é meu- disse Violet- Eu amo Esdeath.

-E eu já amei. Mas você não deve coisa alguma ao Império... A Honest. Se é tão inteligente como acredita que é, sabe que não terá coisa alguma do Império além de sangue e devastação.

O semblante de Violet fraquejou.

-Eu poderia entregar-me a natureza da minha arma e mata-lo aqui, mas eu não sou o monstro que atormenta seus sonhos. Alguém me disse para que nunca me esquecesse de quem eu era, e penso que de nada vale criar um mundo novo se não podemos ter misericórdia.

-Para você me matar faria alguma diferença?

-Você armou a emboscada que capturou o grupo de Akame, o que causou a morte de minha amada.

-E ainda assim está disposto a me perdoar?

-Não- disse Tatsumi- Mas mata-los não me traria nenhuma glória, só me atiraria mais ainda na escuridão de meus sentimentos obscuros.

 

Akame sacou Murasame, a espada cantou ao ser liberta e parou a poucos centímetros do rosto da arqueira.

-Se me matar, soltarei a flecha- disse ela- E seu companheiro morrerá. A seta já está ordenada.

-Você compartilharia do destino dele- disse a assassina- Assim como seu amado.

-O veneno a mataria antes que pudesse alcança-lo.

-Apostaria a vida dele nisso?- Akame franziu o cenho- Posso alcança-lo antes do fim, facilmente. Antes que ambos comecem a se matar...

-Não acho que eles vão se matar- disse Ilya- Estão conversando.

-Abaixe o arco- repetiu Akame, havia ouvido grande parte da conversa dos dois- Sinceramente, vocês dois já esgotaram a minha paciência.

A lâmina amaldiçoada tocou o braço de Ilya, ela sentiu um arrepio subir pela espinha.

-Um corte- disse Akame- E você morreria, não falarei outra vez.

Ilya engoliu a seco a ameaça, então lentamente baixou a arma.

-Você matou a minha comandante...

-E creio eu que esse é um dilema parecido ao que os dois estão passando- disse Akame.

 

-Minha parceira foi rendida- disse Violet, enquanto observava Ilya retornando, ao lado de Akame- Mas ao menos não foi morta. Eu não sei o que fazer, Tatsumi.

-É claro que você sabe- disse Tatsumi.

Violet olhou para o homem a sua frente, então olhou para Ilya. A espada amaldiçoada estava a poucos centímetros do rosto da garota, suspirou, então ergueu a mão. Ilya baixou o olhar. A palma da mão de Violet brilhou, enquanto o livro se materializava no ar. Tatsumi e Akame pareceram impressionados com aquilo.

-Se eu lhe der o livro... Vocês nos deixam ir?

-E para onde iriam?- questionou Tatsumi- Se retornarem ao Império sem suas Tengus serão punidos.

Ilya, o livro, sua casa. Violet sentia-se dividido. Rongo Rongo já fazia parte dele, assim como Ilya era sua parceira e a noção de lar já não existia em sua mente desde que saíra do oeste.

-Não posso me desfazer do livro. Não posso ver Ilya ser machucada...- Violet mordeu o lábio inferior com força- O que eu posso fazer?

-Com o poder do livro- disse Tatsumi- Poderia estar ao nosso lado.

-E compactuar para a morte de minha senhora?- Violet o olhou, mas seus olhos dourados procuravam uma resposta, e não julgamento.

-Não é seu conflito- disse Tatsumi- Mas existem muitas pessoas feridas pelo mundo, e haverão muito mais depois que essa guerra acabar, você poderia ajudar a curar as cicatrizes de guerra- Tatsumi lembrou-se de Dorothea, e de como ela havia sido ‘’perdoada’’- Conheço uma pessoa que poderia auxilia-lo a entender melhor esse livro. E então- estendeu a mão novamente- Quer ser apenas mais um soldado caído, ou quer começar de novo?

 

 

-Estou orgulhosa de você- disse Akame. Sentados em uma colina, a dupla descansava da incursão observando o pôr do sol. Um vale se estendia até onde os olhos eram capazes de alcançar- Conseguimos resolver o conflito sem mata-los, e talvez dois bons guerreiros tenham vindo para o nosso lado- Akame olhou para Violet e Ilya, que estavam distantes, sentados lado a lado- Deixei as coisas acontecerem para ver como você agiria... Não me arrependo.

Tatsumi sorriu.

-Eram só crianças. E Violet não está exatamente do nosso lado. Está do lado daquela menina.

-Não eram mais novos do que eu quando ingressei nas fileiras revolucionárias- disse Akame- E não somos idosos, Tatsumi. A menina quase matou você, se a seta tivesse o atingido na cabeça...

-É claro- suspirou- Eles não foram os primeiros inimigos que tentamos converter. Já encontrei caminhos menos violentos para pessoas que não desejavam a guerra.

-Mez, dos Quatro Demônios?

-Eu poderia tê-la matado, teria feito isso se Lubbock não tivesse me impedido, mas não o fiz, e depois disso ela se tornou uma aliada. Espero do fundo do meu coração que ela tenha encontrado um caminho e que esteja em paz.

Akame olhou para Tatsumi enquanto o pôr do sol manchava com um dourado profundo o mundo a volta dos dois. Há muito os olhos de Tatsumi não transmitiam nada além de tristeza, mas naquele dia estavam diferentes, manchados de dourado pela luz do sol e de certa forma transmitiam um alivio profundo.

-Ouvi seu discurso- disse Akame- Sobre escolhas... Sobre Esdeath e o Império. Não posso imaginar o quanto essas escolhas são difíceis para você.

-Esdeath- Tatsumi balançou a cabeça negativamente- Qualquer caminho que eu trilhar a partir daqui me levará até ela, é inevitável.

-São as ultimas linhas de defesa do Imperador- disse Akame- Esdeath, Shikoutazer...

-São- Tatsumi baixou o olhar- Mas gostaria de falar com Esdeath uma única vez antes do fim.

Akame franziu o cenho.

-Falar com ela? Já não fez isso na Cidadela?

-Ela estava abalada na ocasião.

-Ela sempre está.

-Sim, mas, isso pode acabar com ela me matando, ou com eu a matando, ou com nós dois mortos. Queria tentar tudo antes do fim, ter a consciência limpa quando eu tiver que fazer o que preciso fazer.

-Eu entendo- disse Akame.

-Entende?

-É uma coisa muito semelhante ao que eu e minha irmã tínhamos. Mas não pense nem por um momento que eu concordo com isso.

-Eu também não sei se concordo- Tatsumi fingiu sorrir- Mas se tudo der errado... O que me restou para perder? Já não me resta coisa alguma além de... Consequências e arrependimentos.

Akame mordeu o lábio inferior, então passou seu braço por cima do ombro de Tatsumi, o puxando para perto de seu corpo, o rapaz ficou atônito diante daquela ação abrupta, mas sentiu-se aconchegado no aperto desajeitado do braço de Akame. A pele da assassina era quente, assim como todo seu corpo.

-Você tem a mim- disse ela- Naquela noite eu disse que você não precisava mais se sentir sozinho, e é verdade, porque estou com você... – estava desde o dia em que ele escolheu salva-la em vez de salvar a si mesmo. Laços criados pela lealdade e sacrifício eram os mais poderosos. Não era a culpa que mantinha Akame sempre preocupada com Tatsumi, mas era uma coisa mais profunda, que nem mesmo a assassina era capaz de explicar. As catástrofes daquela guerra eram capazes de unir as pessoas das formas mais diversas, de criar laços fortes, da mesma forma como era capaz de desuni-las, de criar desavenças tão profundas que jamais poderiam ser perdoadas.

-Se não fosse por você- disse Tatsumi, fechando os olhos- Eu já teria enlouquecido.

-Tatsumi, eu...

Akame se calou. Uma trombeta soou ao longe, parte do exército revolucionário começava a se mover. As trombetas eram poderosas, e ecoavam pelas montanhas, apesar de tudo, era uma perspectiva assustadora imaginar a criatura de aço negro que era o exército de Najenda marchando para a batalha final.

-O que você ia dizer?- perguntou Tatsumi.

-Esqueça- disse Akame- Não era nada.

Tatsumi bocejou.

-O exército se move.

-Está começando- disse Akame- Os exércitos estão marchando para as terras da Capital, esperarão apenas a confirmação do outro lado... Eu mal posso acreditar que depois de todos esses anos, a missão está perto de acabar.

-Eu odeio essas trombetas- disse Tatsumi- Odeio o som delas.

-É o som da morte- disse Akame- Nada irá parar Najenda a partir desse momento.



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