-Então você é mesmo uma princesa- disse Leone, enquanto Astra enchia uma taça de vinho- Quem diria que nos encontraríamos tão fácil.
-Na verdade- disse Astra- Eu sabia onde você estava, e quando você viria.
-Sabia? E como?
-Eu posso prever alguns acontecimentos futuros- Astra disse aquilo de uma forma tão abrupta que Leone demorou alguns instantes para entender- E vi que você estaria na Taverna. Uma mulher alta, bonita e de cabelos cor de ouro.
Leone sorriu com o elogio.
-Me acha bonita?- Astra limitou-se a sorrir- E como não viu que seria atacada em um beco?
-Eu não posso ver todas as coisas, assim como não posso ver o paradeiro de Dorothea, e não consegui prever que seria atacada, se bem que eu mataria aqueles homens se você não tivesse aparecido. Sempre busco uma solução pacífica para as situações.
-Tem fé demais na humanidade- replicou Leone, sorvendo um gole de vinho- A maioria das pessoas não merece nossa fé. Você possui uma Tengu?
-Tengu?- Astra sorriu- Isso são armas imperiais, não são?
-Naturalmente.
-Não, eu não possuo uma coisa dessas, o que eu possuo é algo diferente. A linhagem de seu imperador criou as armas imperiais para conquistar a paz em seu reino, o senhor das terras do Leste criou seres, ‘’armas vivas’’ através da bioengenharia. Ele criou homens a partir da união genética entre humanos e bestas, e criou guerreiros que não eram nem humanos, nem animais, e que eram atormentados por essa dualidade, e essa é a história da minha família. Com o passar dos anos, o sangue de minha família foi sendo passado adiante e se unindo ao sangue de outros humanos, e isso gerou guerreiros mais poderosos, mas que ficavam insanos com o passar do tempo, como animais, e outros que não eram tão fortes, mas que conseguiam manter sua sanidade, e você pode dizer que a experiência foi uma falha, porque nos dias de hoje restam apenas cinco de nossa família, e são fracos em comparação com os antepassados. Mas ainda sim, eu não sou humana... Não totalmente, eu tenho o dom da visão, ou a maldição, se quiser chamar assim, porque tenho fortes dores de cabeça constantemente. Dores fortes mesmo.
-Sinto muito por isso- Leone arrotou, e naquele momento imaginou se deveria cortar os litros de álcool que ingeria todos os dias- Perdoe-me, princesa.
-Me chame de Astra- disse ela- E sinceramente, nunca vi alguém que bebesse tanto quanto você. Também não previ que você beberia toda a adega.
-Eu bebi tudo?- Leone sorriu- Nem percebi, o vinho de Albion é tão bom...
-Não se preocupe com isso, existe mais de onde esse veio- passou os dedos pelos longos cabelos escuros- Muito mais.
Leone pousou a taça ao lado dela.
-Posso dizer o motivo de eu estar aqui? Ou você já previu isso também?
-Você veio até aqui por mim. Najenda tem agora o povo do norte e do oeste ao lado dela, e precisa da minha ajuda para aumentar o exército, e por isso a enviou.
-Na mosca- disse Leone- Você tem mesmo o poder da previsão.
-Não precisei prever, é algo meio óbvio. Mas, podemos falar disso outra hora?- Astra fez uma careta- Não estou em condições de falar sobre guerra agora, não quando o país de meu pai está uma bagunça.
-Sem problemas, temos tempo- aconchegou-se na cama- Temos todo o tempo do mundo. Uma família que foi modificada geneticamente que gerou crianças com dores enlouquecedoras. Mesmo em meio a uma guerra, isso me parece crueldade.
-Não posso dizer por meus antepassados, mas... Se eu pudesse nascer uma pessoa comum e me livrar das dores eu faria, mas bem, isso são divagações. No final das contas, ninguém escolhe a ocasião de seu nascimento, não é?
-Ninguém escolhe coisa alguma- disse Leone- A vida é um grande acaso, seguido de pequenas coincidências.
Astra riu.
-Pode ter razão afinal, podemos dizer que nosso encontro é uma grande coincidência?
-Uma boa coincidência- Leone riu.
-Sim. Agora estou disposta a recompensa-la pela ajuda, se desejar.
-Re... Recompensa?- Leone fingiu sorrir quando Astra se inclinou em sua direção, e inconscientemente livrou-se de todo o álcool de seu corpo, estava sobrea naquele momento, e o toque de Astra era diferente do toque de qualquer outra pessoa, a pele parecia arder ao toque, ainda que estivesse consideravelmente frio do lado de fora, e quando Astra a beijou, Leonel sentiu todo o seu corpo estremecer, como se uma onda de eletricidade estivesse passando entre as duas, o beijo de Astra tinha o aroma de flores, e era refrescante como as aguas geladas dos rios do norte, enquanto o de Leone, tinha gosto de vinho e cerveja. Leone entregou-se a aquela caricia, e a abraçou com ainda mais força. Astra se afastou lentamente, e seus olhos brilhavam em cores que eram impossíveis de se guardar na memória- Você é um sonho?- perguntou Leone, com um sorriso no rosto.
-Eu não sou um sonho- respondeu, com um sorriso no rosto enquanto lentamente abria os botões da roupa de Leone e a desnudava, inclinou-se e colocou um dos seios fartos da loira na boca, e o toque da princesa era diferente de tudo o que Leone já havia experimentado- Eu sou Astra Huron, princesa de Albion, e você é minha agora.
Leone riu, então tomou o rosto de Astra com as mãos e se virou, arremessando-a para baixo de seu corpo e a segurando pelos pulsos com vigor, Astra sorriu. Os olhos de Leone brilhavam como os de um felino naquele quarto escuro, e com apenas um movimento, a loira rasgou a camisa de Astra, expondo seu corpo.
A pele morena estava quase totalmente coberta de tatuagens, mas ao observa-las melhor, Leone percebeu que eram mais do que isso: A pele era coberta de manchas escuras, como escamas de uma serpente, e dentro de cada escama havia um caractere de uma língua antiga a qual Leone não conhecia. Não pareciam ser tatuagens, mas sim, marcas de nascença.
-Encontrou o que procurava?- perguntou Astra, ao perceber que Leone havia se distraído olhando para seu corpo. A loira prendia seus pulsos com tanta força que ela teve a impressão que seus ossos se partiriam, mas aquilo não era uma reclamação.
Leone sorria, e só naquele momento percebeu que havia ativado parcialmente o seu cinto, e ela prendia Astra com tanta força na cama que teve a impressão que estava a sufocando.
-Desculpe-me- disse ela, diminuindo a pressão entre as duas.
-Vai descobrir que meu corpo é mais resistente do que você imagina, Leone- a encarou- Gosto dessa sua aparência felina.
Leone se inclinou para beija-la, mas parou no meio do percurso e se ergueu rapidamente, as orelhas de gato em sua cabeça começaram a apontar em todas as direções.
-Algo errado?
-É Dorothea- disse ela- Sinto que ela está perto daqui.
-Não pode ser, dois ataques no mesmo dia, e agora que está perto de amanhecer?
Dorothea estava parada, em pé na praça da cidade.
-Vocês duas- ela se virou, e para Leone, ela era mais uma garota do que uma assassina em série- São vocês que veem me perseguindo?
Astra estava vestida com uma roupa simples de couro, e carregava um sabre em seu cinto, Leone não sabia o nível de habilidade com a espada que aquela mulher possuía, mas ao que tudo indicava, ela sabia usar aquela arma como ninguém.
Astra sacou o sabre, apontou-o para Dorothea, a lâmina cor de prata brilhou.
-A manhã promete ser bonita hoje, não acha? Princesa Astra? Seria uma pena macula-la com sangue da realeza.
-Em nome do rei Auron- disse a princesa- Eu a sentencio a morte pelos assassinatos de...
Dorothea a calou com um movimento gestual.
-Vai citar o nome de todos aqueles que eu matei aqui?- sorriu- Podemos pular essa parte? Digamos que vocês estão atrapalhando meus estudos e eu preciso lhes dar um recado- os olhos de Dorothea se ascenderam em um brilho doentio- Quebrando os ossos do corpo de vocês.
-Quanta presunção- disse Leone, preparando-se para atacar- Eu quebrarei cada osso de seu corpo!
Dorothea riu.
-Pois eu digo que você não me fará recuar um passo.
Leone sorriu.
-Deixe-a comigo, princesa. Vou derruba-la em um só golpe.
Astra não parecia tão certa assim da vitória.
-Tome cuidado, Leone.
-Ainda temos contas a acertar, nós duas. Não vou morrer aqui.
Leone avançou, invocou toda a força de sua Tengu e deferiu um soco diretamente no rosto da adversária, aquele golpe era forte o bastante para nocautear um dragão, e se acertasse um humano diretamente com certeza o mataria. Dorothea não se moveu em uma tentativa de se esquivar da investida, simplesmente aparou o golpe com uma de suas mãos. Leone sentiu os ossos de seu punho estralarem, e era como se tivesse atingido uma parede de aço, ouviu-se um estrondo com o impacto, e Dorothea fechou seus dedos sobre o punho de Leone, para então aperta-lo com tanta força que Leone sentiu o punho se quebrar e gritou de dor, então Dorothea a ergueu segurando-a com força pelo braço e a atirou contra o chão. Uma pequena cratera se abriu onde Leone foi arremessada e com o pouco de força que ainda lhe restava, Leone tentou se levantar, mas foi atingida no rosto por um chute tão poderoso que a arremessou a metros para trás.
Dorothea suspirou, olhou para a sua bota. Estava manchada de sangue. Provou.
-Que sabor rústico- disse ela- Gostei.
Astra se colocou entre ambas, empunhou o sabre e estocou, o golpe foi tão rápido que Dorothea não teve tempo de fazer mais nada além de parar a arma com sua própria mão antes dela atingir o seu rosto, era afiada, e um fino fio de sangue escorreu do punho fechado, mas bastou apenas um movimento para que ela arrancasse a arma das mãos da princesa e a dobrasse, atirando-a para o lado.
Astra sentiu o coração congelar quando Dorothea deu um passo em sua direção.
-Não me fizeram recuar um só passo- disse ela- Mantive minha promessa.
-Como... - Leone se colocou em pé outra vez, o rosto imundo de sangue- Você é forte...
-Alquimia- respondeu ela, andando lentamente na direção das duas- Essa é a resposta final. Meu corpo é mais resistente do que os demais, então, por favor- Astra a atacou novamente, mas foi atirada para o lado com apenas um chute, Leone avançou para cima de Dorothea, aproveitando-se da oportunidade que Astra lhe concedeu e atingiu-a com força no rosto, Dorothea cambaleou, mas então revidou com um golpe diretamente no estômago de Leone, Leone o aparou e revidou atingindo-a novamente no rosto, sentiu o nariz da adversária quebrar e explodir em sangue. Dorothea cuspiu um dente - Chega!- rugiu, e então ela sacou um pequeno frasco de vidro e o atirou em direção a Leone, quando o frasco se partiu, Leone foi banhada por um liquido pegajoso, e sentiu todos os músculos de seu corpo se enrijecerem- Paralisia- continuou Dorothea- Admito que você é bem forte. Mas a força física não é meu único triunfo. Por favor, não se enganem pela minha aparência frágil. Vão descobrir dolosamente que a verdade é o oposto, agora- Aproximou-se de Astra, e a prendeu ao chão, Leone tentou se mover, mas seu corpo estava paralisado, e ela mal podia falar- Princesa Astra.
Astra tentou se mover, mas não era possível. Dorothea era muito forte.
-Dorothea...
-Por favor, não me odeie- inclinou-se e lambeu o rosto da princesa- Você é tão linda, o cheiro de seu corpo... Você parece tão... Saborosa. Imagino qual o gosto de seu sangue... Desespero melhora muito o gosto, sabia? Mas... Sinto um gosto diferente em sua pele, o gosto da mulher loira- lhe dirigiu um sorriso sugestivo- Antigamente as princesas tinham mais pudores. Me chamem para a próxima brincadeira de vocês.
-Seu demônio!- disse Astra, quando sentiu as mãos de Dorothea se fecharem em seu seio direito.
-Demônio?- Dorothea fez uma careta- Por que todos me chamam dessa forma? Maniqueísmo é uma coisa tão ultrapassada. Vilões e heróis, santos e pecadores, anjos e demônios... Em vez de blasfemar, poderia me perguntar o motivo de tudo isso, não é isso o que os heróis fazem?
-Por que está fazendo tudo isso?
-Estou terminando uma pesquisa- Astra ficou surpresa ao vê-la responder a pergunta de forma tão natural.
-Você... - a pressão do corpo de Dorothea sobre o de Astra a deixava sem ar- Está matando pessoas!
-Não me importo em pavimentar meu caminho com corpos- aproximou-se do ouvido de Astra, a respiração de Dorothea era quente- A vida eterna que busco está acima de tais trivialidades.
Então Dorothea se levantou, deixando Astra, quase esmagada, deitada no chão, a princesa se ergueu cambaleante, e sacou uma faca.
-Que corajosa- Dorothea sorriu- Isso está no sangue, não está?
-Onde está meu irmão?- rugiu Astra.
‘’Irmão?’’- pensou Leone.
-Comigo- sorriu- Servindo de alimento para mim todas as noites, e também servindo de amante. Diria que ele tem sorte.
-Eu juro que vou mata-la...
-Vai, com certeza vai. Mas não hoje- com um salto, Dorothea ficou ao lado de Leone, e com apenas um movimento, cortou o pescoço da adversária, o sangue jorrou, pouco, porque Leone se esforçava ao máximo para frear o sangramento, mas com a paralisia, era quase impossível se curar utilizando a Tengu.
-Leone!
- Lhe farei escolher, princesa, entre me atacar com um punhal patético e morrer, ou- apanhou um frasco- Salvar a vida de Leone. Veja, sei o poder daquela Tengu, e sei que se você for rápida, poderá salva-la a tempo dela se recuperar do ferimento e vocês podem voltar a fazer o que quer que estivessem fazendo.
Astra rangeu os dentes, mas deixou o punhal cair de seus dedos.
-Dê-me o frasco.
-Não dessa forma- Dorothea sorriu- De joelhos. Não me faça mata-la, Astra, matar a princesa de Albion me daria problemas demais, entretanto, o faria com prazer. O que eu quero lhe dar hoje é um aviso, não uma sentença, se voltar a me procurar, seu irmão vai morrer, e eu virei atrás de você e a capturarei, deixarei você na mesma sala que seu irmão e te deixarei ver o corpo dele apodrecer dia após dia. Então, de joelhos, ou sua amiga ali morrerá.
Astra caiu sobre um joelho, tentou conter as lagrimas, mas não conseguiu.
-Dorothea...
-Senhora Dorothea- repreendeu- E inicie a frase com ‘’Por favor’’.
-Por favor... Senhora Dorothea... Dê-me o antidoto.
-A princesa aos meus pés- Dorothea sorriu- Confesso que isso me excita mais do que deveria. Conheci uma mulher outrora, o nome dela era Esdeath, e ela tinha uma mania estranha de fazer os inimigos lamberem suas botas. Bem, isso antes dela conhecer um desgraçado da Night Raid que a fez ficar mais branda, mas enfim. Lamba minha bota, sua princesa vadia, e eu lhe darei o frasco.
Astra olhou para Leone, os olhos da guerreira estavam arregalados, e sua pele estava mais pálida do que o habitual, ela parecia ter pouco tempo de vida.
-Apresse-se, é uma pena aquele sangue ser desperdiçado dessa forma. Sua dignidade pela vida de sua amiga, não é uma troca justa?
Astra suspirou e lhe fez o que foi ordenado, nunca se sentiu com tanto ódio e tão impotente em toda a sua vida, fechou os olhos e ouviu o riso doentio de Dorothea, e naquele momento percebeu que a odiava mais do que tudo no mundo. Quanto terminou, Dorothea largou o frasco, e ele teria se partido se Astra não o tivesse pegado. Deu um ultimo olhar de ódio à Dorothea e correu em direção a Leone, a fez beber o frasco e a amparou quando ela caiu, quase sem forças, em seus braços; usou um pedaço de pano para estancar o ferimento, e quando olhou para Dorothea, ela não estava mais lá.
Odiou a si mesma pela fraqueza, e naquele momento sentiu a cabeça doer, era como se seu cérebro estivesse sendo esmagado por duas barras de ferro.
-Maldição- Astra rangeu os dentes, aquela sensação a fazia se desconcentrar da realidade.
Leone abriu os olhos, e lentamente o ferimento se fechou. O antidoto havia funcionado.
Astra chorou.
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