História Cinza - 1

   Eu estava comprando uma bateria, pequena, mas minha. finalmente, eu mal podia esperar pra chegar em casa, montar e tocar que nem uma louca. Meu pai levou tudo e eu segui pra metrô.
   No meio do caminho eu o encontrei, desviei a minha rota. Sabia que o metrô não era pra lá, mas eu nem ligava, só queria ficar com ele, mas ele começou a andar tão rápido, tão longe. Ele não queria ficar comigo, não sei como não notei antes. Eu sou tão burra.
   Eu dei meia volta, comecei a andar, sabia para onde ficava o metrô, eu só queria me afastar, só queria sair, fugir, eu sou um incômodo pra ele, eu me odeio, não sei como não notei antes. Burra.
   Eu corri, corri, queria correr para longe da minha pequenez. Mas algo me enterrompe, bem no meio do caminho, em baixo de uma árvore, ao lado de uma praça. Algo de moletom, cinza, que me abraça, que me conforta. Ele.
   Eu não sou um incômodo, ele veio atrás de mim.
   Nós começamos a andar. O orfanato/escola, o nosso destino. Ao entrarmos, belas escadas, subi, até o sótão.
   Ao sair, lá estava ele, sentado no peitoril da janela, os pés a escada, desenrolava seus fones. Pretos. Meus fones. Os fones que eu dei pra ele, os fones que ele nunca usa, mas lá estava ele, colocando música no celular. Eu estava tão feliz, não contive o sorriso, não conseguiria.
   Camila, quem nós encontramos no meio do caminho. Seguimos pelo mesmo caminho pelo qual eu o seguia. Um carro. Ele sabia dirigir!
   A avenida era tão bonita, já era noite, as luzes piscavam, a música fluía. Eu estava tão feliz! Meu amor, minha melhor amiga, meu lugar no mundo.
   "Se aparecer uma árvore que é uma rosa, vou saber que isso é um sonho!". A árvore, uma rosa, linda. Ela brilhava em tons de rosa, seu caule trançado, prata, brilhante, os espinhos, adagas. Tão bela. Um sonho!
   Um sonho...