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História Cinza das Horas - Quem escolhe o atalho, não aproveita o caminho


Escrita por: Pri__

Notas do Autor


Boa noite, galera!!!

Boa leitura e obrigada por todos os comentários do capítulo anterior.

Beijão !!! ❤

Capítulo 44 - Quem escolhe o atalho, não aproveita o caminho


Fanfic / Fanfiction Cinza das Horas - Quem escolhe o atalho, não aproveita o caminho

 

Mills

 

Arregalei os olhos, estaquei aonde estava, senti o corpo de Emma bater em mim, provavelmente não esperava a minha parada abrupta.  Abri e fechei a boca algumas vezes, procurei uma resposta para dar ao meu filho, ela  não veio.

 

— Eu vim reclamar que estava com come, garoto.  — Emma deu alguns passos, ficou em minha frente — Não ia mexer na cozinha da sua mãe. — deu um sorriso amarelo. Eu, nem isso consegui , atônita  do jeito que  estava, fiquei.

 

— Minha mãe não liga pra isso, Emma. — Henry falou sem dar importância — Eu não sabia que iam dormir aqui.

 

— Ficou tarde. Sabe como sua mãe é  brava. — olhou para mim, não esbocei reação, voltou-se para Henry novamente — Não deixou a gente ir.

 

 — Ava estava chorando, por isso  desci.  — falou, entregou a cachorrinha à Emma.

 

— É! — pegou Ava, olhou de soslaio para mim, disfarçou — Ela gosta de tomar leite de manhã. Também está com fome. — deu um beijo no rosto de Henry — Que tal pegarmos leite pra ela?

 

— Legal! — ele abriu um sorriso.

 

Meu filho antes descer, veio até mim, me agarrou pela cintura. O abracei ainda meio sem jeito. Beijei o topo de sua cabeça.  Emma arregalou os olhos, gesticulou por trás das costas de Henry, me incentivando a falar algo.

 

— Bom dia, meu amor! — sorri, tentei disfarçar o incômodo. Eu não estava preparada para dar de cara com Henry ali, logo na primeira vez que Emma dormiu em casa.

 

— Ela gosta de leite morno. — Emma passou a descer os degraus, Henry a acompanhou animado. Desci logo atrás. Passei a mão pela testa, respirei fundo tentando me recompor. Era muita falta  de sorte! Henry dificilmente acordava antes de mim.

 

Comecei a ajeitar tudo para o café da manhã. Emma me ajudou, preparou o leite para os três. Me olhou receosa algumas vezes.

 

— Ei, você está bem? — sussurrou em tom preocupado no momento em que Henry foi abrir a porta para Ava fazer suas necessidades.  Observei a cachorrinha ir pulando de encontro à porta.

 

Dei um sorriso contido, olhei em seu rosto. Tive vontade de fazer um carinho ali.  Me contive.

 

— Estou sim, Emma. Fique tranquila. Foi só um susto. — sussurrei, ela pareceu mais aliviada — Obrigada por contornar a situação. — falei realmente agradecida.

 

Ela sorriu.

 

— Estamos nessa juntas! — me lançou um olhar de cumplicidade. Retribui.

 

Sem mais turbulências, terminamos o café da manhã.

 

Enquanto Henry foi arrumar-se para o treino, Emma tomou um banho rápido no quarto de hóspedes. Levei uma lingerie nova e suas roupas para que usasse depois que saísse do banheiro.

 

Ava me acompanhou um pouco mais acostumada  com a casa, já não fazia  um estrago por onde andava. A guia passou a ser desnecessária.

 

— Tenha um bom treino. — dei um  beijo demorado no rosto de Emma.  Lamentei mentalmente por não poder beijar seus lábios. Olhei para Henry, ele  estava no banco de trás do fusca com Ava no colo — Gostei muito que tenha passado a noite aqui. — senti meu rosto corar. Será que seria sempre  assim?  Eu nunca fui de me sentir tão envergonhada com tudo. Mas também,  era a primeira vez que sentia a necessidade de expressar o que eu realmente sentia diante das coisas, talvez  isso explicasse tudo.

 

—  Eu adorei ter ficado. — sorriu, colocou as mãos nos bolsos — Sempre é perfeito estar com você. — suas bochechas ficaram vermelhas, pensei por um momento que talvez  estivesse passando pelo mesmo que eu.  Emma sempre teve a fama de não apegar-se a ninguém. Pelo menos, esses eram os comentários que escutava de seus amigos na escola. Ela também tinha deixado bem claro em um comentário  durante  a aula que acreditava no amor, mas o achava uma fraqueza.  Na época, eu mesma concordei. Mas por que eu estava pensando em amor agora? Senti um frio na barriga.

 

Emma afastou-se em silêncio, me olhou ainda outra vez antes de entrar no carro. Esperei que sumissem no horizonte. E meu único pensamento era que eu  poderia me acostumar facilmente a manhãs como esta.

 

***

 

Swan

 

—  Pode colocar Ava no chão, garoto. — falei assim que entramos em casa — Ela fica solta aqui dentro.

 

— E ela não estraga nada? — perguntou, colocou Ava no chão. Minha cachorrinha correu e deitou no sofá.

 

— Não,  já está acostumada.  Sabe até que o banheiro dela é  a lavanderia.  — Henry achou graça.

 

Subi, coloquei uma roupa de treino.  Nos despedimos de Ava. Em poucos minutos estávamos de volta ao fusca, indo em direção ao ginásio.

 

— Emma... — Henry  começou a falar assim que viramos a primeira esquina — Você... — hesitou. Achei estranho.

 

— Fala, garoto! — o encorajei, inclinei a cabeça para ver melhor a avenida.

 

— Você namora? — apertei as mãos no volante. Virei o rosto para ele no mesmo instante.

 

— EU? — comecei e parei — Eu... — desviei o olhar para continuar a dirigir. Henry na mesma posição que estava, ficou. Olhava para mim atento, enquanto eu me atrapalhava com a resposta.

 

Nunca imaginei  Henry  me perguntando  algo assim. Pensei que ele fosse falar algo relacionado aos treinos, ou ao jogo que tanto queria ir na sexta — Eu... Por que tá me perguntando isso, garoto? — bati a mão no volante.  

 

— Porque eu nunca vi você com ninguém. — falou tranquilamente — A namorada da Ruby é bonita. — me lembrei que ele havia conhecido Belle no final do treino de ontem, quando ela foi buscar Ruby no ginásio.

 

— Elas não estão namorando. — tentei desviar o foco.  Parei em um semáforo.

 

— Mas Ruby falou que vai fazer o pedido. — sorri amarelo olhando para ele. Eu ia matar Ruby por  conversar com Henry sobre essas coisas.

 

— É, pode ser que sim. — fingi não dar importância, voltei a dirigir.

 

— Então, namora ou não namora? — voltou à pergunta. Ótimo, não adiantou nada eu enrolar.  Revirei os olhos.

 

— Não, Henry, eu não namoro.  — respondi finalmente.

 

— Por quê?  — perguntou no mesmo tom de tranquilidade, e isso me deixava mais incomodada.

 

— Como assim por que, Henry? Porque não tem ninguém para eu namorar. — gesticulei de maneira nervosa, segurei novamente o volante.

  

— Mas você gosta de alguém. — virei o rosto para ele espantada. Ele me olhou com um ar travesso.

 

— O que você quer com isso? — perguntei já sem paciência de ficar na defensiva.

 

— Você gosta da minha mãe.  — senti o ar me faltar,  meu queixo quase caiu.  Não era possível que Henry tinha visto algo na noite anterior.  

 

—  O QUÊ? DE ONDE VOCÊ  TIROU ISSO? — alternei o olhar entre ele e a rua, minhas mãos começaram a suar frio. Deus! Regina ia surtar!

 

— Você olha para a minha mãe com a mesma cara  que Milah olha para o noivo dela. — soltei o ar. Sorri fingindo normalidade.

 

— Acha que eu gosto da sua mãe, por que me viu olhando para ela? — tentei ter certeza que era só uma suposição dele.

 

— Sim. — meneou a cabeça — Mas não é  qualquer olhar.  É um olhar bobo.  — fechei a cara.

 

— Ah, agora você tá falando que eu tenho cara de boba? — perguntei indignada, mas agradecendo mentalmente  por ele não ter visto nada.

 

— Não. — achou graça. E eu estava em choque demais para rir —  Não é isso, Emma. É cara de gente apaixonada.

 

— Sua mãe e eu no aproximamos depois que você começou a treinar, Henry. Foi isso. Hoje nós nos damos muito bem. — tentei normalizar a conversa.

 

— É, pode ser. Mas se você estivesse apaixonada por ela não ia dar certo. — falou cheio de certeza.  Franzi o cenho.

 

— Por quê? — apertei os olhos.

 

— Porque minha mãe gosta de meninos. Ela era casada com meu pai. — sorri amarelo.

 

— É! Eu sei que ela era casada com seu pai. — revirei os olhos. Fingi dar atenção à rua.

 

— Por que não namora com minha tia Zel? — engasguei com a minha própria saliva, quase debrucei no volante. Deus, o que eu fiz para merecer uma conversa dessas?

 

— HENRY? — tentei normalizar a respiração.

 

Ele continuou com a mesma  expressão, como se aquilo fizesse realmente sentido.

 

— Ela gosta de meninas. E Ruby disse que dar flores funciona. — levei a mão à testa.  Eu ia bater tanto em Ruby quando a visse.

 

Respirei fundo. Parei no estacionamento do ginásio, o percurso foi tão turbulento que nem percebi o caminho. Me virei para ele.

 

— Henry, isso não seria possível. — ele me olhou decepcionado.

 

— Mas aí você poderia ser minha tia. — arregalei os olhos. Finalmente  percebi aonde ele queria chegar.

 

— Henry... — comecei, mas ele me interrompeu.

 

— Você não acha minha tia  bonita? — virou-se mais para mim no banco.

 

— Claro que eu acho, garoto. Ela é linda. — afirmei também  com a cabeça.

 

— E então? — fez bico.

 

— Henry, as coisas não funcionam assim.  Não é  porque sua tia gosta de meninas, que ela obrigatoriamente vai gostar de mim. Ou vice e versa. As pessoas criam uma afinidade, uma conexão. Por isso acabam se apaixonando. É questão de sentimentos. E isso vale para qualquer  tipo de casal. Sua tia Zelena e eu somos amigas.  — fiz um carinho  em sua perna.

 

 — Tudo bem. — falou abaixando a cabeça, pegou sua mochila que estava no chão  do carro.

 

— Ei, não fique assim. Nós somos  amigos e colegas de treino. Isso já é  bastante coisa, garoto. — empurrei o seu braço tentando animá-lo.

 

Ele sorriu.

 

— É sim. — concordou.  Saímos do carro.

 

Só então eu percebi minhas pernas tremendo.  Soltei o ar pesadamente. Andamos até a entrada do ginásio. Céus! Eu precisaria de alguns minutos para voltar ao normal.

 

***

 

Mills

 

— Você tem que ficar aqui. – falei para Zelena assim que chegamos no escritório.

 

— Ok, irmãzinha, mas seja rápida porque eu não vou mais transar com Victoria.  — Zelena falou sério e eu achei estranho. Desde quando ela descartava  a possibilidade de sexo assim, de maneira tão decidida?

 

— O que aconteceu?  — perguntei já sabendo que ela não tinha me contado algo.

 

— Nada. Apenas não nos damos tão bem assim. — franzi o cenho. Zelena virou o rosto.

 

— Zelena... — disse séria. Ela me interrompeu.

 

— Vá  logo, sis, não temos muito tempo. — ajeitei a postura, isso era verdade.

 

— Fique atenta! — apontei o dedo para ela. Zelena concordou com a cabeça.

 

Entrei na sala de minha mãe, deixei a porta encostada. Fui até seu computador, liguei. Coloquei o pendrive com um programa de identificação de códigos. Kristoff o advogado, e  faz tudo de Cora, o havia conseguido no ano passado. Minha mãe tinha a intenção de pegar os arquivos de Eric, o meu maior rival dentro do partido para a disputa às eleições ao Senado. Quando fiquei sabendo, fiz um escândalo, a proibi de continuar com tal plano. Se o partido me escolhesse para a disputa, teria que ser por mérito próprio, não porque Cora havia descoberto os podres do outro possível candidato. Acabou que não precisou, Eric perdeu a chance sozinho.  Eu fiquei com a candidatura,  e o pendrive. Claro que fingi destrui-lo na frente de Cora.

 

Entrei no sistema. Passei a copiar todas as pastas que faltavam. Bufei! Parecia que o processo estava mais lendo do que da última vez. Provavelmente esses  arquivos eram mais extensos.

 

— Você tem que ir mais rápido! — Zelena entrou na sala sussurrando.

 

— O que está fazendo aqui?   — usei o mesmo tom, bati a mão na minha própria perna.

 

— Cora está com Victoria. — falou, olhou pela fresta da porta — Mesmo se eu as abordasse, Cora me viraria as costas e entraria aqui mais rápido ainda, só para não ficar no mesmo ambiente que eu. — Zelena estava certa, era exatamente isso que nossa mãe  faria.

 

— Merda! — arregalei os olhos, virei para o computador, o processo de cópia   ainda estava na metade.

 

— Anda logo! — balançou  a mão no ar.  Deus!  

 

— Droga! Droga! Droga! — xinguei baixo, me mexi de maneira nervosa, olhando para a tela.

 

— Elas estão vindo. — falou e trancou a porta.  Deu um passo para trás. Virou-se para mim.

 

Soltei o ar, coloquei as mãos na cintura. Observamos as investidas na maçaneta.

 

Por que  a minha sala está trancada, Victoria?  — trocamos olhares desesperados. Permanecemos em silêncio.

 

Não sei. Devo ter trancado ontem quando sai. — escutamos também a voz de Victoria — Vou buscar as chaves.

 

Fitei novamente a tela do computador, o processo de cópia tinha acabado.  Revirei o pendrive, guardei no bolso.  Deixei o computador como estava antes de eu chegar.

 

Olhei para os cantos da sala, não havia onde nos esconder, atrás da cortina seria visível, debaixo da mesa, Cora nos veria assim que sentasse. Merda! Andei de um lado para o outro na sala sem saber o que fazer. Zelena me olhava com os olhos mais arregalados do que nunca.

 

Aqui! — Victoria  voltou,  pelo seu tom de voz parecia sorrir — escutamos  o barulho da chave na fechadura. Zelena deu alguns passos para trás, ficou ao meu lado. Prendi o ar, e esperei dar de cara com minha mãe, não havia o que fazer.

 

A porta se abriu. O sorriso no rosto de Victoria  morreu. Ela arregalou os olhos. Alternou  o olhar entre minha irmã  e eu. Zelena deu um passo em sua direção. Victoria deu um passo abrupto para trás, puxou a porta  consigo.

 

Tudo aconteceu em um segundo, eu nem mesmo respirei.

 

Eu me esqueci. Preciso mostra uma coisa urgente para você, Cora!  — seu tom de voz agora era nervoso.

 

Depois, Victoria. — vimos a porta fazer um movimento para ser aberta, instantaneamente, demos mais um passo para trás, provavelmente  era Cora tentando entrar.

 

NÃO! — a voz de Victoria  saiu alta — É  algo que pode manchar muito a campanha de Regina.

 

Silêncio.

 

Zelena e eu nos entreolhamos mais uma vez. Esperamos atentas.

 

Era só o que me faltava! — o tom ríspido de Cora pôde ser ouvido — O que foi dessa vez? — a voz de minha mãe ficou mais distante.  Escutamos os passos das duas se afastando.

 

Soltamos o ar na mesma hora. Balancei a cabeça me recuperando.

 

— Como vamos sair daqui? — Zelena sussurrou, ainda abalada pelo susto.

 

— Eu não sei. — andei até a porta, retirei a chave, Cora não  podia ver que ela havia sido trancada por dentro. Guardei também no bolso.

 

Abri a porta lentamente, pude ver que Cora estava de costas, olhava algo no computador de minha secretária.  Victoria tampava justamente o seu campo de visão na direção do corredor aonde estávamos.

 

— O plano é o seguinte... — virei para a minha irmã — Vamos sair rápido daqui, e sem barulho, cuidado com os seus saltos. — apontei para baixo — Assim que chegarmos no hall, finja ter subido pelas escadas.

 

Zelena concordou com a cabeça.

 

Respirei fundo.  Me certifique que Cora estava na mesma posição. Troquei um breve olhar com Victoria. Saímos a passos rápidos. Minha secretaria apontou algo na tela, provavelmente envolvendo minha mãe ainda mais no assunto. Chegamos ao hall.

 

— VOCÊ PRECISA DE MAIS EXERCÍCIOS FÍSICOS, IRMÃZINHA! — Zelena falou alto, e eu fingi estar cansada.

 

— São muitos lances de escalada. Não é  fácil.— entrei na história. 

 

— O que ela está fazendo aqui de novo? — Cora falou entredentes. Victoria me olhou aliviada. Eu quase tive vontade de rir. Minha mãe tinha caído.

 

— Sua filha?  —  usei um tom irônico — Veio me acompanhar. Pensei que você já tivesse se acostumado, Cora. Isso não vai mudar! — ergui uma sobrancelha.

 

— Eu não vou perder meu tempo. Tenho um problema maior agora. — minha mãe bufou, endireitou a postura. Achei estranho.

 

— O que aconteceu?  — franzi o cenho.

 

— Isso aconteceu! — apontou para a  tela do computador. Me aproximei para observar, Zelena fez o mesmo.

 

— Era só o que me faltava, perfis falsos na internet comentando as postagens em suas redes sociais. — Cora colocou a mão na cintura. Andou de um lado para outro.

 

— “A ex-prefeita tem um segredinho sujo!”  — li em voz alta um dos comentários feitos em minha foto do último evento.  Senti um frio na espinha.

 

— “Anônimo” — Zelena leu o nome do usuário.

 

— O que essa pessoa quer dizer com isso, Regina? — Cora me olhou com cara de poucos amigos. Sorri de nervoso.

 

— Ora, como eu posso saber?  — balancei a mão no ar — Desde quando haters precisam de algo real ? É só mais um desocupado. — tentei parecer tranquila, mas por dentro eu estava apreensiva.

 

— Eu espero mesmo que seja isso. Porque a última coisa que precisamos agora é  um escândalo envolvendo  o seu nome. — pegou a sua bolsa de maneira brusca — Victoria, vamos para a minha sala. Temos que tirar este perfil do ar o mais rápido possível.

 

Minha secretária  a seguiu. Pude ler nos lábios de Zelena um “obrigada” inaudível quando a loira passou ao seu lado. Victoria sorriu.

 

Respirei fundo, apesar de não  ser em total alívio. O objetivo era prejudicar a minha imagem, isso era óbvio. Mas por que exatamente? Passei a mão pela testa. Entrei com Zelena em minha sala. Eu precisava de um café forte.

 

***

 

Os dias passaram rápidos. Segunda-feira chegou, e com ela, o retorno às  aulas. Novembro se anunciava.  Parei meu carro no estacionamento da escola. Sorri ao ver o fusca de Emma. Pelo horário da mensagem que me mandou, tinha acordado bem cedo. Passei pelo portão de entrada, senti um frio na barriga. Finalmente eu iria encontrá-la.  

 

Eu não a via desde a última terça. Emma levou Henry para casa depois do treino,  avisou que Kurt queria todas as jogadoras na concentração para o jogo de sexta. Ou seja, passei o resto da semana falando com ela apenas por mensagem. Para piorar, no mesmo horário  da partida de Emma, tive um evento insuportável com Cora e Gold. No sábado, estive brevemente em Portland, também por causa da campanha. E ontem, precisei preparar as aulas de retorno. Apressei o passo, não  estava me aguentando de saudades dela.

 

—  Olha se não é  a loira eleita a melhor jogadora da partida de sexta? — falei com um enorme sorriso nos lábios, me aproximei, ela estava sentada no mesmo banco de costume, no início do corredor.

 

Emma levantou.  Meu coração se agitou. Ah, aqueles olhos!

 

— Sou eu mesma! — ergueu o queixo, fez um ar teatral de superioridade.

 

— Parabéns! — a abracei pelo pescoço Emma passou as mãos pelas minhas costas — Estou tão orgulhosa de você. — sussurrei em seu ouvido.  Beijei  seu rosto. Me afastei. Emma  ganhou como destaque da partida. Uma pena eu ter perdido isso.

 

— Obrigada! — colocou as mãos nos bolsos de trás da calça jeans, balançou o corpo nervosa. E eu me peguei reparando no quanto eu tinha sentido falta disso.

 

Foi inevitável não me perder em seu olhar.  Que falta ela me fez! Emma retribuiu o contato visual. E  eu me arrepiei pela intensidade. Ficamos presas ali. Desviei para a sua boca. Como eu queria os seus lábios nos meus.

 

Um grupo de alunos passou por nós, inevitavelmente voltamos à realidade. Alguns poucos alunos já iam para as suas salas.

 

— Pronta para a reta final dos estudos, senhorita  Swan? — mudei o tom de voz, ergui uma sobrancelha. Ela endireitou a postura.

 

— Tô! Tô sim. — gaguejou.

 

 Acabei rindo.

 

 — Não  faz isso. — disse vermelha — Esse seu tom de voz intimida.

 

Aprofundei ainda mais meu olhar no seu.

 

— Mas é exatamente  essa a intenção. — Emma engoliu seco.

 

Meneei a cabeça. Fiz esforço para permanecer séria. Os alunos não eram acostumados a me ver sorrindo o tempo todo. Eu precisava controlar o sorriso bobo que brotava em meus lábios toda vez que estava com ela.

 

— Vamos para a sala? — chamei.

 

— Não vai passar na sala dos professores antes? —  apontou com o queixo para a direção oposta.

 

— Não.  Estou com tudo aqui. — falei,  me virei para o corredor,  minha primeira aula seria com a turma dela.

 

— Ruby veio com você? — Emma afirmou  com a cabeça. Passamos a caminhar lado a lado.

 

— Está com Belle na cantina.  Parece que o pai de Belle está achando ruim porque ela anda saindo demais.  Então viemos mais cedo, para elas terem mais tempo juntas.

  

— O pai de Belle, pelo que vejo nas reuniões, é  bem controlador. — essa foi a impressão que tive desde o início.

 

— É sim! Mas Belle sempre dá um jeito de escapar. — sorriu largo — Ruby está  feliz como nunca.

 

— Parece que o casal realmente vingou. — também sorri.

 

— É o que parece. Ruby só não a pediu em namoro  ainda porque Kurt inventou a concentração.  — balançou a mão no ar.

 

— E  segundo a teoria dela, flores funcionam. — falei,  Emma riu alto.

 

Entramos na sala, estava vazia.

 

— Pois é! Até Henry já sabe disso. — ela havia me contado sobre a conversa com meu filho. Fomos em direção à minha mesa.

 

— Eu não acredito que Henry  queria você e Zelena  como um casal.  — revirei os olhos. Coloquei minha bolsa em minha cadeira. Escorei, fiquei quase sentada em minha mesa. Emma ficou em minha frente.

 

— Zelena é  gata.  — franzi o cenho — Mas eu sou  apaixonada por uma morena.

 

— Zelena é gata? —  falei séria.  Emma  arregalou os olhos.

 

— Não! Quero dizer, é! — ficou vermelha, quase não conseguiu terminar — É , mas não desse jeito. — se enrolou.

 

— Você nunca me chamou de gata, Swan. — cruzei os braços.

 

— Claro que já. — neguei com a cabeça.

 

— Não mesmo. — arqueei a  sobrancelha  — Eu me lembraria.

 

Ela corou ainda mais, abriu  a boca para me responder.

 

— BOM DIA, PROFESSORA MILLS. — August Booth entrou falando alto.

 

— Bom dia, senhor Booth — me virei  para ele — Não grite, o senhor não está em sua casa — usei um tom  ríspido. Ele parou de sorrir na mesma hora. Não disse mais nada, foi para seu lugar. Voltei a olhar para Emma.

 

— Em casa nós  conversamos. — falei só para ela ouvir.  Emma abriu mais os olhos, pareceu analisar a situação.  Virou-se em silêncio, foi para a sua carteira.

 

Mais alunos apareceram na porta da sala.  Ruby e Belle chegaram logo em seguida, cumprimentaram-me de longe.

 

Esperei que todos se acomodassem. Emma me olhava ainda apreensiva. Comecei a falar.

 

— Bom dia a todos. —  usei um tom firme, o silêncio total logo fez-se presente — Espero que tenham descansado bastante, pois eu preciso de vocês bem dispostos. Temos pouquíssimo tempo para o término do ano letivo, e ainda muito conteúdo  pela frente. — endireitei a postura, peguei o meu livro em minha bolsa, anotei a página na lousa —  Então não podemos perder tempo, abram na página 89.

 

A aula teve um início tranquilo.  Falei sobre o período histórico e a sua influência na escola literária que trabalharíamos a fundo.

  

— Senhorita Lucas, por favor, leia o segundo parágrafo da página 90?  — Ruby fez o que eu pedi. Emma alternou o olhar entre sua amiga e eu.

 

Logo em seguida, fiz uma breve introdução sobres as fases do Romantismo, falei sobre as suas principais características. 

 

Abaixei a cabeça, passei as páginas até chegar na próxima a ser lida — Preciso da ajuda para a próxima leitura. — ergui a cabeça, Emma estava com a mão levantada. Sorri. Abaixei a cabeça  para que a sala não visse  o meu sorriso idiota e fora de contexto. Ótimo! Logo agora ela ia pedir para ler? Sem opção, continuei — Ok! Coloquem na página  103. — me virei para anotar a nova página no quadro —  Quero que vocês identifiquem algumas dessas características no poema que está aí — Senhorita Swan, por favor, comece. Emma mudou de página. Passou a ler.

 

— “Beijo eterno” — leu , e só de escutar o título em sua voz, me arrepiei. Emma continuou — “Diz tua boca: "Vem!” — não resisti levantei  o olhos para vê-la.

 

 — “Quero um beijo sem fim. Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!” — olhou para mim com o ar envergonhado e isso a deixava  ainda mais linda.

 

— “Ferve meu  sangue: acalma-o com teu beijo!” —  engoli seco — “Beija-me assim!” —  disfarcei,  ela desviou o olhar para o livro.

 

— “Vive só para mim, só para a minha vida. Só para o meu amor!” — finalizou, fixou suas orbes verdes em mim, estava levemente corada,  ficamos presas naquele contato visual. Acho  que nem ela tinha a noção do efeito que causaria em mim apenas com uma  simples leitura.

 

— Professora  Mills,  Castro Alves é da terceira geração romântica, certo?  — Ruby interrompeu aquele momento. Desviei o olhar para ela, seus olhos estavam arregalados, esperava por uma resposta. Meneei a  cabeça retomando o raciocínio. Passei os olhos por Belle, que estava  vermelha.

 

 — É ...— comecei — É  sim, senhorita Lucas — limpei a garganta, tentei me recompor — Ele é  um dos principais poetas desse período.  — coloquei as mãos na cintura — Agora eu quero que  formem grupos e apontem as características da escola literária neste poema. Façam por escrito. Podem se organizar! —  a maioria se levantou puxando suas mesas. Respirei fundo. Sentei em minha cadeira. Eu nunca pensei que um poema me deixaria em um estado tão inerte.  O que eu estava dizendo? Me repreendi. Claro que não foi só o poema. Foi Emma! Soltei o peso de meu corpo no encosto. Olhei para ela, Ruby disse alguma coisa em seu ouvido, Emma me olhou preocupada.

 

— Ninguém quer formar grupo com você, narigudo! — a voz alta e o tom zombeteiro de Will Scarlet tirou-me desse devaneio. Franzi o cenho, tentei entender a conversa.  Alguns alunos que estavam próximos começaram a rir. Booth ficou sem reação.  Levantei.

 

— Você o chamou de que, senhor Scarlet? — perguntei já sem paciência para tamanha infantilidade, me aproximei deles.

 

Pelo meu olhar periférico percebi o resto da sala nos observando.

 

— Não tem problema, professora Mills, eu procuro  outro grupo. — August fez menção de afastar-se.

 

— Não! — ergui a mão. Ele estacou  aonde estava.

 

— Professora Mills, ninguém quer esse pinóquio  no grupo. — debochou. Os mesmos alunos acharam graça. Meu sangue ferveu.

 

— Senhor Scarlet, nós  estamos no final do ano e, pelo que vejo, o senhor não aprendeu nada relacionado a respeito. Há meses eu conversei com você... — apontei o dedo para ele — Sobre bullying, e disse que não permitiria mais atos assim. Parece que a sua memória é  curta. Você deve desculpas a seu colega de turma. — Will fechou o cenho.

 

— Eu não vou pedir desculpas pra ele. — disse com raiva, seu rosto ficou vermelho.

 

— Ah, o senhor vai! — meneei a cabeça — Vai porque está em minha aula. E aqui quem decide as coisa sou eu. — fui firme, dei um passo a frente. Cruzei os braços, esperei.

 

Scarlet alternou o olhar entre mim e Booth. Hesitou.

 

— Desculpa, cara. — falou baixo.

 

— Ótimo! — me afastei . Virei para os demais —  Mas que uma coisa fique bem clara, ele age assim porque tem platéia. Hoje o punido será ele, se acontecer novamente, os apoiadores irão junto. — vi alguns alunos desviarem  o olhar receosos — Senhor Scarlet, quando bater o sinal do intervalo, me espere na sala, conversaremos  sobre a sua punição.  — me virei para August   — Senhor Booth, escolha outro grupo. — ele fez sinal  de entendimento, olhou para os lados.

 

—  August, você pode fazer com a gente. — Belle o chamou. Vi Emma e Ruby se entreolharem, mas nada disseram. Booth se juntou a elas.

 

O clima ficou pesado. Passei a circular por entre os grupos. E apesar de sentados juntos, só o barulho dos meus saltos ecoavam pela sala.

 

O sinal bateu. Will Scarlet ainda me olhava de soslaio. Ergui uma sobrancelha, e com uma expressão mais fechada que a dele, me despedi  da turma.  Olhei para Emma ao passar pela porta, ela sorriu para mim sem mostrar os dentes.

 

Fui para a minha terceira aula com um péssimo  humor. Foi uma volta horrível!

 

***

 

Swan

 

Regina saiu da sala e a minha vontade era de quebrar a cara de Will por atrapalhar a aula dela assim.  Já não bastava tudo o que ele tinha feito com  Kill? Esse idiota não ia crescer nunca?

 

Todos os alunos arrumaram suas carteiras no lugar. Fiz o mesmo. Graham chegou, fez a introdução da aula, e como de costume, levou o grupo para o laboratório  de informática. Eu estava com meu notebook, até pensei em ir para a sala de Leroy, mas desisti depois que lembrei do receio de Regina. Fiquei ali mesmo, comecei a pesquisa.

 

— Procurei você na sala do Leroy. — dei um pulo na frente  do computador.  Neal entrou na sala — Desculpa, não quis te assustar.

 

— Eu estava entretida aqui. — sorri amarelo. Não consegui disfarçar o incômodo em vê-lo.

 

— Resolveu fazer as suas pesquisas aqui? — se aproximou mais de minha carteira.

 

— É, aqui é  mais confortável. — menti. Me ajeitei nervosa na cadeira.

 

— Eu estava com saudades, Emma.  — falou e tentou segurar minha mão que estava  sobre a mesa. Levantei bruscamente.

 

— Neal, não comece! Nós já tivemos essa conversa antes.  — falei séria.

 

— Eu não consigo esquecer você. — tentou se aproximar, dei um passo para trás.

 

— Neal, o que nós tínhamos acabou! Não vai voltar a acontecer! Poxa! — bati a mão na minha própria  perna — O ano vai acabar e você não aceitou isso ainda?

 

— Eu gosto de você, Emma!  Isso não passa de uma hora para outra. — usou um tom de lamento.

 

Respirei fundo.

 

— Eu sei que não passa. Mas você tem que procurar seguir em frente. Se ficar alimentando algo que não tem futuro, só vai sofrer ainda mais. — meneei a cabeça.

 

—   Nós tivemos momentos tão bons juntos. — deu um sorriso triste.

 

— Tivemos sim, Neal. — concordei — Mas eu nunca escondi de você que seria algo momentâneo. Fui sincera desde o início.

 

— Nós podemos voltar a ter. — segurou em meus braços, tentei me esquivar, mas ele foi mais rápido.

 

— Neal, me solta!  — ele me puxou para um beijo. Quase tocou meus lábios. Virei o rosto. — Não! — ele tentou mais uma vez. Usei mais força ao empurrá-lo, acertei um tapa com a maior força que podia em seu rosto.

 

Ele deu alguns passos para trás, colocou  a mão no rosto, ficou totalmente vermelho.

 

— VOCÊ ESTÁ LOUCO? — gritei — EU NÃO GOSTO DE VOCÊ!  — apertei minhas mãos. Eu queria voar no pescoço dele — NUNCA MAIS CHEGUE PERTO DE MIM! — senti meu rosto pegar fogo.

 

— Você vai se arrepender de me rejeitar desse jeito, Emma.  — disse, e seu tom agora era de raiva.

 

— Arrependida eu estou de um dia ter ficado com alguém como você. — falei entredentes.

 

Will entrou na sala.

 

— Sai, idiota! — Neal o fuzilou com o olhar — Scarlet arregalou os olhos, voltou de onde tinha vindo.

 

O sinal do intervalo bateu.

 

 

***

 

Mills

 

Assim que o intervalo começou, me dirigi à sala de Emma. Queria resolver logo o problema Will Scarlet.

 

— Que bom que já  está aqui. — falei séria, quando vi  Scarlet  na porta da classe  me esperando  — Vamos falar com Zelena.  — apontei a direção, ele se virou, começou a caminhar.  Passei os olhos pela sala, estava vazia, exceto por Emma que conversava com Neal  Cassidy. Deus! Hoje era dia.

 

Parei.

 

— Senhor Scarlet? — Will virou-se — Me espere no banco ao lado da sala da coordenação. Chego lá em instantes.  Ele meneou a cabeça, ainda emburrado. Foi.

 

Respirei fundo. Entrei na sala de Emma.

 

— Algum problema aqui, senhorita Swan?  — me aproximei  de Emma, sua expressão não era nada suave.  Ela me olhou,  e pareceu ficar aliviada.

 

— AH, ERA SÓ O QUE FALTAVA! — Neal Cassidy  falou alto, sorriu de maneira irônica. Só  então olhei para  seu rosto, estava com uma marca vermelha. Algo tinha acontecido ali.

 

— Desculpa? — ergui uma sobrancelha, coloquei as mãos não cintura, e fiz a minha melhor cara de superioridade.

 

—  Ninguém te chamou aqui, prefeita. — falou com ódio nos olhos.

 

 Não me abalei nem um pouco.

 

— Diferente de você... — fiz questão de olhá-lo  de cima a baixo — Eu posso estar em qualquer ambiente desta escola.  Então acho melhor você  recolher o resto de sua dignidade que está espalhada aqui pelo chão — apontei irônica — E  sair desta sala. Emma já disse e repetiu várias vezes, rapaz, ela não quer mais nada com você! — falei pausadamente o final da frase.

 

Seu rosto ficou ainda mais vermelho.

 

— E  você  não tem nada a ver com isso não é, prefeita? — também  usou de ironia. Achei estranho. O que ele estava insinuando.

 

—  EU JÁ MANDEI VOCÊ SAIR! — falei alto,  apontei para a porta.

 

— Eu vou. Mas isso não vai ficar assim.  — alternou o olhar entre Emma e eu.

 

O encarei até que sumisse pela porta.

 

Soltei o ar.  Vi Emma respirar fundo.

 

— Não fique assim. —  passei a mão pelo seu rosto.

 

— Ele é um idiota!  — me abraçou. Retribui.

 

— Acho que já passou da hora de fazermos algo em relação a esse rapaz. — falei com a cabeça em seu ombro. Ela concordou com a cabeça — A noite conversamos sobre isso.   — nos  afastamos — Vem, vou deixar você no intervalo com  Ruby. Preciso ir  à sala de Zelena.

 

Emma pegou o que precisava. Saímos em direção ao pátio.

 

***

 

—Volto  em instantes para buscar você.  — falei ao passar por Scarlet, ele estava sentado aonde eu indiquei.

 

Entrei na sala de Zelena, sem bater, como de costume. E me arrependi no mesmo instante. Ariel estava lá. Perfeito! Tudo no mesmo dia. Bufei!

  

— Sis, ia te chamar agora.  — olhei já com cara de poucos amigos — Senta. — Indicou a cadeira ao lado de Ariel. Revirei os olhos. Fiz o que minha irmã  pedia.

 

— O que foi? — perguntei ríspida. Zelena segurou o riso. Estava louca para soltar alguma piadinha, eu a conhecia.

 

— Ariel e eu estávamos conversando sobre os grupos de estudos intensivos que serão feitos a partir da semana que vem, nas duas últimas aulas do período. — abri mais os olhos, agora interessada no assunto, era um ótimo projeto — Serão grupos mistos.  — concordei com a cabeça.

 

— Ótimo!  Eu gosto da ideia! —  fiz menção de me levantar, queria encurtar o assunto. Depois perguntaria os detalhes só para Zelena. 

 

— Calma, sis!  — levantou a mão para mim. Revirei os olhos. Fiquei onde estava — Ariel deu a ideia de dividir os alunos nos mesmos grupos da  exposição da Jornada Literária. —  já arregalei  os olhos — E  os professores  orientadores serem também os mesmos — sorri de nervoso.

 

— Você só pode estar de brincadeira, Ariel! — me virei na cadeira, a encarei de frente. Cruzei as pernas, já descontente. E eu tinha cara de palhaça agora?

 

— A exposição que eles fizeram sobre o meu comando foi um sucesso, Regina. — falou usando  aquele tom sonso  que me tirava do sério  — Se você tivesse vindo nos prestigiar naquele sábado, poderia ter visto.  Inclusive, a arrecadação do poço dos desejos ajudou muito a instituição. — apertei as minhas unhas no braço da cadeira.

 

— Sim! Poço dos desejos que foi um sucesso  porque EU... — bati o dedo em meu peito —  Ajudei  Emma  a terminar de colar os tijolos. Ela quase ficou presa na escola, porque VOCÊ — apontei agora para ela —  Não separou as funções entre os alunos de maneira equilibrada. Justamente com a intenção de sobrecarregá-la.  — alterei o meu tom de voz.  Ariel arregalou os olhos, sorriu irônica.

 

— Tudo isso por que quer ficar com o grupo que tem Emma Swan ?  — usou de deboche — Parece que as coisas evoluíram aí.

 

Meneei a cabeça. Fiz um esforço para me controlar.

 

— Tudo isso porque eu não a quero com você! — inclinei o corpo para frente, mas ainda continuei sentada  — Nós duas não fomos profissionais aqui, mas a única que mostrou-se injusta foi você! — essa mulher me tirava do sério — Eu sou a professora titular do segundo ano. Eu decido como os grupos serão separados.  Você faça o que bem quiser com as suas turmas. Com as minhas não! Emma fica comigo, e isso não é  um tópico para discussão.

 

Zelena engasgou, provavelmente  por estar segurando a risada.

 

Ariel fechou o semblante.

 

— Você se acha muito superior porque é  titular de cargo. Não é? — ela queria mesmo falar sobre isso? Neguei com a cabeça.

 

— Não! — ergui uma sobrancelha — Eu não me acho superior porque  tenho o diploma de mestrado na Universidade onde você precisou comprar um. — a olhei fixamente  —  Eu me acho superior porque não tento descontar a minha frustração  na pessoa mais vulnerável dessa história. A única que não pode se defender à altura.

 

Ariel levantou bruscamente, saiu batendo a porta.

 

Zelena finalmente gargalhou.  Bateu palma.

 

— Gostei de ver, irmãzinha!  — se mexeu de maneira histérica  — Pisou no pescoço.

 

Soltei meu corpo na cadeira.  Respirei fundo.  Isso porque não era nem meio dia!

 

***

 

 

—Anda, Zelena,  Henry sai da escola em alguns minutos.  — apressei minha irmã, ela pegou sua bolsa, saímos de sua sala.

  

Almoçaríamos com Henry. Depois ele iria para o treino, e eu, para o escritório.

 

 

Por sorte, as últimas aulas foram mais tranquilas. Zelena conversou com Will, o suspendeu por dois dias. Ele já vinha aprontando em outras aulas.

 

Fomos em direção ao estacionamento.

 

— O que vai fazer na sexta, sis? — Zelena perguntou, ajeitou a bolsa no ombro.

 

— Provavelmente terei um evento. — olhei para ela. Continuamos a caminhar — Victoria ficou de me mandar a  agenda  desta semana, mas pelo jeito está atrasada com isso.  Também Cora a sobrecarregou. Parece que conseguiram tirar o perfil hater  do ar, mas assim que uma conta cai, surge outra, com o mesmo nome de usuário, só mudam os números na frente.

 

Zelena  franziu o cenho.

 

— Isso me parece estranho. — usou um tom sério.

 

— Eu também acho. Reclamações e cobranças  sempre houveram. Mas esse, com tanta insistência, e sem mostrar o rosto. Parece pessoal. — fui sincera.

 

Zelena apertou os lábios.

 

— Está preocupada com isso, não está? — afirmei com a cabeça.

 

—   Vem me tirando o sono nos últimos dias.  — passei a mão na testa.

 

— E Cora? — perguntou, mas já  sabia a resposta.

 

— Está possessa! — gesticulei  insatisfeita — Victoria que o diga,  tem que ficar o tempo todo vendo se tem algum comentário ou perfil novo.

 

— Preciso agradecer Victoria pelo que ela fez.  — a olhei curiosa — Agradecer, sis. De verdade! Agradecer com calma. Não é isso que  você está pensando. — meneei a cabeça fingindo acreditar.

 

— Eu também preciso. Não consegui ficar as sós com ela. Cora está  sempre por perto. — assim que terminei de falar olhei para o estacionamento. Não acreditei! Eu merecia mesmo isso? 

 

— Calma! — Zelena já  me olhou temerosa.

 

Emma  conversava com a italiana tarada na frente de seu fusca.

 

— Oi, ruiva! —  a italiana beijou o rosto de minha irmã — Oi, prefeita.  — balancei  a cabeça em um cumprimento, nem ia me dar ao trabalho de falar para ela não me chamar assim. Certeza que fazia de propósito.   Olhei séria para Emma, ela ficou sem graça.

 

— Viram a Ruby? — Emma perguntou, passou a mão pelos cabelos.  Não respondi.

 

— Não vimos. — Zelena falou por nós.

 

— Picci está esperando por ela. — e lá estava aquele  apelido. Como isso me irritava! Apertei as mãos.

 

— Convidei Ruby e Belle  para uma piscina hoje. Temos que aproveitar a folga. Na verdade, convidei Emma também, mas ela me deu o bolo como sempre, né, bela? — tocou o ombro de Emma. Fez questão de olhar para mim enquanto fazia isso. Revirei os olhos. Essa mulher só pensava em piscina? Emma me olhou receosa — Está convidada ruiva, as meninas não bebem, mas podemos tomar algo juntas.  — olhou Zelena com cara de safada. Pela expressão sorridente  de minha irmã, ela tinha adorado a ideia. Limpei a garganta, chamando a sua atenção. Ela fechou o sorriso.

 

— Eu vou precisar voltar para a escola.  — disfarçou.

 

— Vamos, prefeita? — virou-se para mim. Ótimo, eu teria mesmo que falar com ela?

 

— Eu agradeço — fiz um esforço para não ser grossa — Mas  ainda tenho muito trabalho hoje.

 

— Ah, é  verdade.  — ergueu as duas sobrancelhas. Balançou a cabeça positivamente — Você tem uma vida dupla — falou sugestiva. Franzi o cenho — Professora e candidata!  — achei estranho por ela saber que eu era professora. Mas afinal estávamos  no estacionamento da escola, não seria difícil  deduzir que eu tinha uma função ligada à educação. Todos na cidade sabiam, e ela já estava morando ali há algum tempo. Em minhas referências públicas, campanhas e redes sociais, isso não era um segredo, pelo contrário, Cora usava como um diferencial. Fora a sua proximidade  com Emma, Ruby e agora Belle,

 

— Eu tenho, sim, duas jornadas de trabalho. Não uma vida dupla! — dessa vez não tentei ser simpática. Emma abriu mais os olhos. A italiana achou graça.

 

— Eu fiquei sabendo do evento que você participou neste final de semana em Portland. Meu amigo Sidney Glass estava  lá. — não  consegui disfarçar a surpresa. Sidney era da oposição, um partido pequeno, de pouco alcance, lembro de tê-lo cumprimentado no sábado.

 

— Não sabia que se interessava por política. Tão pouco, que tinha influências entre os seus conhecidos. — falei incomodada.

 

— Na verdade, não  me interesso por política. Apenas por eventos que promovam atividades esportivas. E conheci Sidney exatamente em uma dessas ocasiões. — ótimo! A italiana tarada, que tinha visto o meu beijo com Emma, conhecia alguém do meio político. Se ela abrisse a boca a situação ficaria complicada,  só não seria um completo  escândalo porque não teriam como provar. Tentei não ficar paranóica com isso.

 

Zelena interrompeu.

 

— Olha as meninas aí.  — Ruby e Belle chegaram.

 

— Oi, pequena! — a italiana falou de maneira carinhosa  para Ruby.

 

— Oi , Picci. — Ruby sorriu,   abraçaram-se. Fiz careta ao ver a cena. Zelena virou o rosto para rir.

 

Belle a cumprimentou com um beijo.

 

Emma me olhava a todo instante, se mexia de maneira nervosa. Eu me mantive séria.

 

— Vamos indo. Emma não vai mesmo. — abraçou as meninas uma de cada lado.  — Ruiva, se mudar de ideia, manda uma mensagem. Fiz uma expressão ainda mais insatisfeita. Como assim Zelena tinha o número da italiana tarada?   Acenaram, se despedindo. Emma e Zelena retribuíram os acenos.

 

Zelena percebeu a minha cara, desviou o olhar para o outro lado.

 

As três entraram em um veículo que estava à frente.  

 

— Eu vou esperar você no carro. — Zelena falou e pegou a chave em minha mão  — Tchau, loira! — deu um beijo rápido no rosto de Emma.  

 

— Tchau! — sorriu.

 

Esperei minha irmã  se afastar.

 

— Por que não aceitou o convite, bela? —  usei um tom irônico. Ergui uma sobrancelha.

 

Emma me olhou sem jeito,  acabou rindo.

 

— Tá achando graça no quê? — cruzei os braços.

 

— Você fica linda quando usa esse tom. — neguei com a cabeça.

 

— Não me queira brava, Swan! — ela riu ainda mais. Que ódio, como era linda.

 

— Eu sei como é você brava. — usou um tom brincalhão  — Não quero  mesmo!

 

Segurei o riso.  Era  difícil ficar brava com ela. Emma continuou a falar.

 

— Tenho uma sessão de fisioterapia agora. Depois treino com  Henry. — explicou.

 

— Ah, então por isso não foi com sua amiga italiana? — perguntei ainda nada satisfeita com aquele encontro.

 

— Foi sim.  — apertei os olhos — E também porque quero evitar que ela interprete as coisas de maneira errada.

 

— Sei. — continuei irônica.

 

— Regina,  Kathryn é  minha colega de equipe. É  uma pessoa com a qual eu tenho uma convivência diária. Eu não quero um clima ruim entre a gente. Mas se eu posso evitar algumas situações, farei isso.  — falou com segurança na voz.

 

— Me diz uma coisa, Swan... — ela me olhou atenta  — Nessa concentração de vários dias, você dividiu o quarto com quem?

 

O sorriso nos lábios dela foi largo. Fechei ainda mais o cenho.

 

— Com a Picci.  — arregalei  os olhos.

 

— E você me fala isso nessa naturalidade toda? — elevei a voz.

 

Emma riu alto. Seu rosto ficou totalmente vermelho.

 

— Foi com a Ruby! — falou no meio da gargalhada, colocou a mão na barriga — Dividi o quarto com a Ruby! — repetiu.

 

— Não teve graça! — falei brava.  Tentou segurar em meu braço, me afastei.

 

Ela parou de rir. Mas ainda continuou com o ar travesso.

 

— Pare de me olhar assim.  — passou o dedo indicador  de maneira carinhosa pelo meu antebraço.

 

— Assim como? — tentei parecer indiferente. Ela aprofundou o seu olhar no meu. Senti um frio na barriga. Que raiva de mim mesma, por não conseguir controlar as reações de meu corpo.

 

— Assim, me fuzilando com o olhar. — mordeu o próprio lábio inferior, reparei no movimento. Senti uma vontade enorme de beijá-la. Me controlei — Se eu pudesse, ia desfazer  esse bico aí com um beijo.

 

— Que bico, Swan? — falei séria — Não tem bico nenhum!

 

Ela voltou a rir. Revirei os olhos.

 

— Sabe que essa conversa  sobre  piscina me deu uma ideia. — arqueei a sobrancelha novamente. Esperei que ela continuasse. Emma diminuiu a distância entre nós — Pensei que poderíamos aproveitar a piscina lá de casa juntas.  — sorriu maliciosa, me arrepiei — Seu corpo todo molhado é  uma delícia. — sussurrou — Eu ia adorar  aproveitar ele todinho. — senti uma pontada em meu sexo.

 

— Emma! — minha voz quase não saiu. — Pare com isso. — repreendi.

 

— Por que? Você não  quer? — e aquelas orbes verdes me invadiram ainda mais. Sorri sem graça. Emma me ganhava fácil.

 

— Porque eu tenho  que ir para o escritório agora,  preciso me concentrar. Não quero passar vontade  o dia todo. — ela fixou o olhar em minha boca. Deus! Respirei fundo.

 

— Ok! Eu vou me comportar! — passeou o olhar pelo meu corpo — Eu só vou imaginar tudo o que eu faria com você dentro da piscina. — apertei os lábios — Mas não vou falar.

 

Sorri de nervoso, ela queria acabar comigo.

 

— SIS, O HENRY! — Zelena gritou da janela do carro.  Endireitei a postura. Emma achou graça.

 

— Eu preciso ir. — falei me recompondo.

 

— Eu sei. Eu também preciso.  — se aproximou  de mim. Segurou em minha cintura. Beijou meu rosto, fechei os olhos aproveitando o contato. Repousei as mãos  em seu  ombro. Ela se demorou ali. Em seguida, afastou-se.

 

— Bom trabalho. — sorriu e foi saindo, ainda segurando  em minha mão .

 

— Obrigada! — nossos dedos se separaram —  Tenha um bom treino.  Sorri.

 

Entrei no carro pensado em tudo o que tinha acontecido naquela manhã. Respirei fundo. Dei partida.  Eu gostava demais de Emma.  O caminho não seria fácil! Mas se neste percurso, eu estava com ela, valeria a pena passar por  todas as adversidades.

 

 

 


Notas Finais


Spoiler do próximo capítulo no Instagram cinza_das_horas


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