Mills
— OS TRÊS JÁ ESTÃO NA CAMA! — escutei o grito de Emma vindo do quarto. Fiquei com as crianças enquanto ela tomava banho. Depois foi a minha vez de vir para o chuveiro.
Henry, Liam e Ava estavam dormindo no mesmo quarto. Havia duas camas de solteiro, e assim, um fazia companhia ao outro. Fora que os dois queriam ficar perto de Ava. Nunca vi cachorrinha mais disputada.
Olhei com calma a lingerie nova que Emma trouxe em sua mala. Gostei do tom vermelho, era diferente daqueles que eu costumava usar. Coloquei apenas o fio dental, peguei uma camiseta preta, vesti, a peça chegava até metade da minha coxa.
Ajeitei os cabelos. Sai do banheiro.
Já no quarto, olhei em direção à cama, Emma estava deitada de barriga para cima. Fitava o teto. Sei que em dias normais ela estaria rindo de algo em seu celular. Conversando com Ruby. Ou vendo postagens sobre vôlei nas redes sociais. Suspirei. Detalhes das nossas rotinas foram simplesmente arrancados de nós.
Cheguei mais perto, Emma virou a cabeça, passou os olhos por meu corpo. Engatinhei até ela.
— Ah, esses cabelos... — começou, mas parou. Sentei sobre o seu quadril com uma perna de cada lado. Ela segurou em minhas coxas. Inclinei o tronco, dei um selinho em seus lábios.
— O que tem? — falei com o rosto perto do seu. Eu já sabia qual seria a resposta, só queria escutar de novo.
— Eu adoro eles assim. — emaranhou a mão direita em meus cabelos, não tive tempo de sorrir, ela me puxou para um beijo.
Senti meu corpo pegar fogo. Emma atiçava meus desejos facilmente. Ela apertou meus cabelos com força. Ditou o ritmo do beijo. Eu só consegui gemer em sua boca. Afastei ofegante.
— Sempre quente, Swan! — elevei o tronco. Passei as mãos por seu corpo. Observei a regata branca que ela usava, seus mamilos enrijecidos me provocaram ainda mais.
Segurei em suas mãos, levei para dentro da camiseta que usava, induzi que me tocasse. Ela apertou meus seios com força. Soltei um gemido e inclinei a cabeça para trás. Como senti falta do seu toque em meu corpo.
Rebolei sobre ela. Ela pressionou meus mamilos. Suspirei.
— Eu quero você! — falei praticamente em um gemido.
— MAMÃE, LIAM TÁ COM MEDO DE FICAR NO OUTRO QUARTO! — Henry chegou falando alto. Emma tirou as mãos de mim. Sai de cima dela o mais rápido que pude.
Virei para a porta, Liam vinha logo atrás, coçando os olhos.
— Henry, você não pode abrir a porta sem bater! — disse brava, ajeitei minha camiseta.
Emma sentou ao meu lado, seu rosto estava vermelho.
— Mas ele ia começar a chorar. — apontou para Liam.
Liam parou na porta em silêncio.
— Ei, Liam... — Emma levantou da cama — Você é um garoto corajoso! — forçou um tom confiante. Parou perto dele — Consegue dormir no outro quarto. — deu um empurrão de leve em seu ombro.
O semblante de Liam piorou, fez carinha de choro. Senti um aperto no peito.
Respirei fundo.
— Vem aqui! — chamei. Abri os braços, esperei por ele. Liam veio correndo. Subiu na cama, me abraçou.
— Mas ... — fiz que não com a cabeça, Emma parou de falar. Olhou para Henry, depois voltou a me observar.
— Tudo bem! — disse ainda contrariada.
Meu filho sorriu, pulou na cama ao lado de Liam.
Emma passou as mãos no rosto. Segurei o riso. A sua cara de frustração era hilária.
Ajeitei os travesseiros, deitei. Liam agarrou-se a mim, Henry deitou ao seu lado. Inclinei o corpo , dei um beijo de boa noite em meu filho. Beijei a cabecinha de Liam. Emma observou a cena.
Ligou o abajur na mesa de canto. Quando ia fechar a porta, Ava entrou correndo.
Também pulou na cama.
— Ah, claro! — falou irônica. Não aguentei, ri alto. Ela bufou. Apagou as luzes.
Deitou ao lado de Henry. Deu um beijo em cada um dos meninos. Inclinei, cheguei com o rosto, próximo ao seu. Dei um selinho em seus lábios. Desviei a boca para seu ouvido.
— Vou te recompensar. — sussurrei. Ela virou, olhou em meus olhos.
— Quero só ver. — fez uma cara safada. Mordi seu lábio inferior como reposta.
Voltei a me ajeitar na cama, Liam me abraçou ainda com mais força, ele realmente estava assustado, só não sabia dizer o porquê. Fiz um carinho em seus cabelos. Emma nos cobriu, também acomodou-se.
Passou o braço por cima das crianças, segurou minha mão. Sorri já de olhos fechados ao sentir o carinho terno que ela passou a fazer com o dedo em minha pele.
Em poucos minutos, escutava a respiração pesada de todos ali. Eles já dormiam.
Fiquei ainda alguns minutos acordada. Pensei em tudo que havia desmoronado. No entanto, aquela sensação gostosa de aconchego ainda estava em mim.
Peguei no sono em seguida. Dormi bem como não fazia há dias.
***
Senti a claridade em meu rosto. Fiz esforço para abrir os olhos. As janelas do novo quarto de Emma eram enormes, e o fato de ainda não haver cortinas ali, deixava o ambiente ainda mais claro. Olhei ao redor. Franzi o cenho. Onde estavam todos?
Quando fiz o movimento para pegar meu celular na mesa de cabeceira, vi Emma abrir a porta. Ela deu passagem a Liam e Henry que entraram segurando uma bandeja.
O meu sorriso foi largo.
— Onde conseguiram isso? — sentei na cama, ajeitei os cabelos.
— Em uma floricultura aqui perto. Eles também entregam cestas de café da manhã. — Emma respondeu e tirou um buquê de rosas lindas que escondia atrás do corpo. Sorri ainda mais, ela não existia!
— Tem a geleia que você gosta, mamãe! — meu filho falou animado. Ele e Liam colocaram a bandeja sobre a cama.
— Que delícia! — respondi no mesmo tom de animação. Levantei da cama.
— Só preciso ir ao banheiro antes. — fui, fiz minha higiene matinal. Quando voltei, todos esperavam sentados na cama.
— E a Ava? — olhei ao redor.
— Está no banheiro. — Emma respondeu em tom brincalhão, e eu sabia que ela queria dizer que Ava estava no quintal.
Beijei e abracei meu filho, fiz o mesmo com Liam. Suas bochechas ficaram vermelhas. Apesar de ter dormido a noite inteira agarrado a mim, Liam ainda tinha momentos de timidez.
Fui até Emma. Ajoelhei ao seu lado.
— São lindas! — ela me estendeu as rosas vermelhas que havia repousado em suas coxas.
— Não mais que você! — respondeu toda carinhosa. Fixou seus olhos nos meus. Dei um sorriso sem jeito. Ela sempre me deixaria envergonhada ao falar assim. Peguei as rosas. Senti o perfume.
Aproximei meu rosto do seu, dei um selinho demorado.
— Obrigada. — fiz um afago em sua pele.
— Tô com fome, mamãe! — sorri ainda presa no olhar de Emma. É claro que ele estava!
— Vamos comer! — virei. Pus o buquê sobre o colchão.
Em um clima gostoso, passamos a tomar café. Liam contou sobre a peça de teatro que havia participado no abrigo em Nova Iorque.
— Mas se ainda não está alfabetizado, como a professora de teatro fez para que você decorasse as falas? — perguntei interessada. Mordi uma torrada.
Pelo olhar de Emma, ela tinha a mesma curiosidade, mas estava com a boca muito cheia de sanduíche de queijo para falar.
— A gente sempre ensaiava junto, e de tanto minha professora repetir as falas, eu decorei.
Abri mais os olhos.
— Isso é sensacional, Liam. Parabéns! — falei realmente encantada com a dedicação.
E quantos trabalhos fantásticos assim não chegavam ao conhecimento da maior parte da população? Esses meninos tinham talentos, os profissionais que os acompanhavam, também! Mas era mais fácil fingir que nada existia do lado de dentro daqueles portões.
Liam deu um sorriso envergonhado. Mas logo mudou de expressão, pareceu lembrar de algo.
— Vocês vão tomar banho de piscina com a gente? — franzi o cenho.
Olhei para Emma surpresa. Ela não havia dito nada sobre piscina, mas sabia que não tinha visto toda a parte externa da casa, apenas o jardim.
— Vão? — ela perguntou em um tom apreensivo — Ruby e Belle também vêm.
Respirei fundo, já sentindo por ter que recusar.
— Emm, nós não podemos. — ela fez uma carinha triste — Robin vai passar em casa para buscar Henry. — apertei sua mão — Esse final de semana era dele na verdade, só fiquei com Henry por causa da peneira. E também... — hesitei em falar, ela me olhou mais atenta — Não acho viável estar no mesmo ambiente que Belle, ela ainda é menor de idade. Se o pai maluco dela fica sabendo que estou aqui, é capaz de vir, fazer um escândalo, e ainda trazer a imprensa.
Ela forçou um sorriso.
— Eu entendo. — apertou minha mão que estava na sua.
— No próximo final de semana em que você estiver aqui, nós viremos. — falei para Liam.
— Promete de dedinho? — franzi o cenho.
— Assim. — Emma percebeu que eu não havia entendido, estendeu o seu dedo mínimo e apertou o meu.
Sorri ao constatar que o gesto era óbvio.
— Prometo de dedinho! — repeti com Liam o movimento.
Henry também precisou prometer de dedinho. Apesar da diferença de idade, a afinidade entre eles era grande.
Terminamos de comer em meio a conversas. Liam contou mais sobre alguns trabalhos que realizou na escola.
Descemos em seguida, Emma nos mostrou as piscinas na parte posterior na casa. Uma coberta e aquecida, a outra maior, na área externa, e um gramado mais adiante. Sorri ao imaginar claramente ela jogando bola com Ava e as crianças ali.
— Dirija com cuidado. — falou e abraçou minha cintura. Observamos Henry entrar no carro.
— Pode deixar. — abracei seu pescoço — Espero não encontrar repórteres no caminho.
— Ainda é cedo, acho que não. — deu-me um selinho rápido, nos separamos. A rua não tinha ninguém, mas era o mais prudente a fazer.
— Vai demorar? — Liam perguntou assim que me virei para ele.
— Passará rápido! — fiz um carinho em seus cabelos — Logo estaremos todos juntos novamente.
Abaixei. Ele me abraçou apertado. Retribui. Dei um beijo em seu rosto.
Entrei no carro.
Henry e eu ainda acenamos de lá.
Passei a percorrer as ruas de Storybrooke com a imagem de Emma e Liam em minha cabeça. Os dois de mãos dadas em frente ao jardim.
E eu só queria voltar para eles.
***
Cheguei em casa com Henry, mas não sem antes me estressar por ter que pegar ruas com as quais não estava acostumada. O empenho da imprensa para chegar até mim, aumentava a cada dia. E tudo iria piorar quando o anúncio da minha desistência fosse oficial.
Meu filho subiu para um banho, e eu arrumei a sua mochila. Não precisava de muita coisa, Henry tinha roupas no apartamento do pai.
— Como você está? — Robin perguntou assim que abri a porta. Deu-me um abraço apertado.
Suspirei.
— Vou indo. — nos separamos — Tenho muita coisa para resolver ainda. — fechei a porta — Henry está no banho, já vai descer. Vem tomar um suco. — chamei.
— Conversei com Zelena ontem. — caminhamos até à cozinha — Ela cedeu o backup de todas as conversas do grupo da escola, não será difícil provar a culpa de Will Scarlet. Também tenho os nomes de todos os presentes, começarei a selecionar algumas testemunhas.
Soltei o ar desanimada.
— Se isso for adiante, terei que comparecer às audiências? — abri a geladeira. Robin sentou em um dos bancos do balcão.
— Seria o ideal, ainda mais se pretende denunciá-lo por homofobia.
Coloquei o copo e a jarra sobre o balcão. Pus as mãos na cintura. Desviei o olhar.
— O que foi?
— Eu não sei se quero. — disse baixo, voltei a olhá-lo.
— Regina é preciso! — usou um tom sério.
Apertei os lábios.
— Nós sabemos que Scarlet não receberá uma grande punição. E ter que me expor ainda mais... — fiz uma pausa, escolhendo as palavras — Expor a Emma... Ela está enfrentando problemas com o time. Eu sei disso. Só evita tocar no assunto.
Robin ficou em silêncio, pareceu procurar por uma solução.
— Posso representar você.
Abri um sorriso agradecido. Abracei seu pescoço na mesma hora.
— Não é o ideal. — continuou a falar, segurou em meu braço — Mas diante das circunstâncias, entendo o receio.
— Obrigada! — falei realmente agradecida.
— Uma lasanha para viagem resolve tudo da próxima vez que vier pegar o Henry. — sorri. Ele adorava a minha lasanha.
— Combinado! — dei uma passo para trás — Por enquanto fique com o suco de caju, que é o seu favorito. — enchi o copo.
— Papai! — Henry chegou já de mochila nas costas. Correu e abraçou o pai.
— Oi garotão, parabéns por ontem! — Robin o levantou.
— O novo ginásio que eu vou treinar é lindo! — disse animado, Robin o colocou de volta no chão — Vou mostrar as fotos.
— Quero muito ver! — respondeu sorridente. — Mas lá em casa... — virou o seu copo de suco. Retomou o fôlego — Comprei um jogo que você vai adorar!
— Yes! — Henry pulou.
— Nada de só comer besteiras! — falei séria, mas eles já estavam indo em direção à sala.
Neguei com a cabeça. Esses dois quando paravam para jogar videogame, não se alimentavam nada bem.
Nos despedimos. Henry prometeu fazer a lição de casa. Robin, que dormiriam cedo. E eu fingi acreditar em tudo. Como se não os conhecesse.
Subi.
Passei a encher a banheira.
***
Acordei cedo como de costume, era tão estranho não ter que ir à escola. Fiquei deitada olhando o teto.
Doía.
Lecionar era algo que fazia parte de mim.
Meu celular despertou no horário costumeiro. Bufei. Sentei na cama. Desliguei. Aquele alarme tocando parecia zombar da minha cara, assim como o próprio destino. Descuido meu em esquecer de desligá-lo. Proeza minha, acordar cinco minutos antes do seu toque. Só tornou a manhã mais frustrante.
Passei as mãos pelo rosto ainda despertando por completo. As minhas olheiras deveriam estar piores, passei a madrugada lendo os arquivos físicos que havia deixado em cima da minha escrivaninha.
Assustei com o meu celular voltando a tocar, olhei em sua tela.
— Zelena? — franzi o cenho.
Atendi já com receio do que viria a seguir. Não era normal minha irmã me ligar a essa hora.
— Você precisa vir à escola agora! — falou séria.
— Como assim vir à escola? — afastei o celular para me certificar do horário — Você já está na escola? — Zelena não chegava uma hora mais cedo no serviço.
— Foi necessário. — continuou usando mesmo tom — Precisamos conversar.
O frio na minha barriga foi inevitável.
— Estou indo! — me apressei em responder.
Levantei da cama, tomei banho, me arrumei o mais rápido possível.
Em menos de uma hora passava pelos portões da escola.
***
—Já tem data para a reunião de decisão do Conselho? Emma e eu teremos que comparecer no mesmo horário? — entrei sem bater na sala de Zelena. Perguntei sem nem mesmo respirar.
Se tinha receio de estar diante do juiz ao lado de Emma, na reunião de Conselho não era diferente. Eu queria preservar ao máximo a imagem dela. A minha carreira já estava arruinada, a dela não.
— NÃO! — Zelena levantou da cadeira.
— Não? — achei estranho.
— O Conselho não será convocado. — abriu os braços no ar — Todos os seus integrantes voltaram atrás, acham desnecessário reuni-lo. — arregalei os olhos.
— Como? — procurei entender.
— Sim! — deu alguns passos em minha direção — Até a transferência compulsória de Emma também foi deixada de lado, já que não acontecerá reunião alguma.
— Isso não faz sentido. — desviei o olhar assimilando a informação.
— Tem certeza que não faz sentindo? — voltei a olhá-la rapidamente, entendi o que ela queria dizer.
— Cora!
***
Fiquei na sala de minha irmã por mais algum tempo, quis evitar circular pela escola na hora na entrada dos alunos. Aproveitei para responder a mensagem de bom dia de Emma. Ela teria um jogo importante em uma cidade vizinha, desejei boa sorte.
Passado alguns minutos, fomos para o estacionamento. Zelena me acompanhou, pois queria falar com Victoria, não me opus. Já estava mais do que na hora de acertarem à ida a Augusta. Victoria não podia ficar mais tempo vivendo sob o mesmo teto que aquele doente do Isaac.
— Difícil entrar aqui. — Zelena reclamou sobre os repórteres que insistiam em ficar na frente do prédio.
— Está assim desde ontem. — disse conformada. — chamei o elevador.
Entramos.
— É melhor você e Victoria conversarem na cozinha do escritório. — mudei de assunto — Assim Cora não percebe que está ali.
Minha irmã concordou.
Chegamos no hall e Victoria não escondeu o sorriso feliz ao ver minha irmã.
Desviei o olhar para Zelena, e a feição de minha irmã não era diferente.
— Bom dia, Victoria! Cora já chegou? — precisei interromper aquele momento.
— Si... Sim! — gaguejou — Bom dia. — continuou sem graça.
Se eu não estivesse tão tensa com toda a situação, acharia graça desse momento fofo delas.
— Victoria, sirva um café para a minha irmã na cozinha. Minha conversa com Cora pode demorar. — Victoria entendeu que eu a induzi a conversar em um lugar mais reservado com Zelena. Levantou no mesmo instante.
— Por aqui, senhorita West. — indicou com a mão.
Zelena a seguiu em silêncio. E eu apenas observei seus movimentos. Nunca acostumaria com a expressão de deslumbramento que minha irmã fazia quando estava perto de Victoria. Em pensar que eu acompanhei essa história desde a primeira troca de olhares. Quem diria? A vida realmente era cheia de surpresas.
Respirei fundo. Conversar com minha minha mãe sempre exigia um equilíbrio emocional elevado. Abri a porta de sua sala.
— Agora é assim? — ergueu o olhar, ela arrumava alguns papéis em uma maleta — Desaprendeu a bater? — perguntou irônica.
Dei um sorriso debochado. Isso vindo de Cora soava como a maior das piadas, quem nunca teve o hábito de bater sempre foi ela.
— Aprendi com minha mãe. — respondi já irritada. Ela fechou a maleta.
— O que quer, Regina? — seu tom foi ainda menos simpático.
— Você sabe o que vim fazer aqui! — cruzei os braços — O que fez em relação aos membros do Conselho de escola?
Ela me olhou fixamente.
— Comprei todos eles, é óbvio! — respondeu sem rodeios, com a naturalidade e o cinismo que só ela tinha.
Senti meu sangue ferver. É claro que eu já imaginava isso, mas a confirmação só fez minha revolta aumentar. Dei alguns passos em sua direção, parei rente à sua mesa.
— Precisa parar de interferir no que não lhe diz respeito. — falei entredentes.
— A sua imagem pública me diz respeito. — inclinou o corpo sobre a mesa, aproximou o rosto do meu — Eu a criei! — cuspiu a última frase. Falou como se eu devesse tudo a ela.
— Mesmo que o Conselho não me afaste da escola, ainda tem a parte mais difícil que é a posição do partido. — ela pegou a maleta, foi em direção à porta, a segui com o olhar — Você não vai conseguir evitar que cancelem a campanha. Que coloquem outro em meu lugar.
— Vou a Portland agora mesmo resolver isso. — respondeu segura de si.
— Cora, já disse que estou fora! — falei séria.
— Isso é o que nós vamos ver! — usou um tom ameaçador. Deu-me as costas, saiu pisando duro.
— Não admito que mexa mais nessa história! — segui seus passos até o hall — VOCÊ NÃO FALA MAIS EM MEU NOME! — gritei.
Mas apenas vi a porta do elevador fechar diante do sorriso irônico que ela tinha nos lábios.
***
Victoria
— Pra um escritório tão chique, essa cozinha é péssima. — vi Zelena jogar-se na cadeira que ficava na pequena mesa de canto, sentou de qualquer jeito. O que Regina tinha de elegante, essa ruiva abusada tinha de despojada.
E ela era perfeita assim.
Sorri, a observei em silêncio por alguns segundos.
— Disse algo errado? — perguntou, balançou mão, fez-me sair do devaneio no qual eu havia entrado.
— Não! — disfarcei, virei rápido para pegar uma xícara no armário — Cora nunca importou-se em melhorar este espaço, afinal, ninguém o usa. Eu só venho aqui preparar o café da recepção.
Fui até a garrafa térmica que estava ao lado da cafeteira.
— E seu café é bom? — usou um tom zombeteiro. Mordi o lábio, segurando o riso. Eu não precisava olhar, sabia a expressão debochada que ela tinha no rosto.
Fiz esforço para permanecer séria, virei já com a xícara cheia. Dei alguns passos em sua direção.
Zelena desviou o olhar para meu corpo. Se alguma vez ela tentou disfarçar o olhar safado que fazia nesses momentos, fracassou feio. Senti minha pele queimar. E como era bom me sentir desejada assim. Parei à sua frente.
— Tudo o que eu faço é bom, senhorita West. — inclinei de maneira sugestiva à sua frente. Estendi a xícara a ela. A fumaça exalou entre nós — Pensei que já soubesse disso. — ela desviou o olhar para meu decote. Respirou fundo. Sorri internamente. Provocá-la tornou-se uma das coisas que eu mais gostava de fazer nos últimos meses.
Passei a língua pelos lábios, Zelena também acompanhou o movimento. Não resisti, fixei o olhar em sua boca.
Não havia um dia, desde nosso primeiro beijo, que não tinha vontade dos seus lábios. Sentir alguém de maneira carinhosa e ao mesmo tempo quente, era algo que tinha me esquecido como era.
Então Zelena chegou.
Apareceu falando alto. Rindo escandalosa. Entrou em meus pensamentos. Fixou o seu cheiro em minha memória. Mesmo longe, eu conseguia sentir a sensação dos seus cachos desgrenhados enrolados em meus dedos. Seus lábios me tiravam o fôlego. O seu abraço, confortava. Ela era o único refúgio no buraco em que a minha vida havia se transformado.
Endireitei a postura. Desviei o olhar. Afastei. Odiava quando as minhas provocações surtiam o efeito contrário e me atingiam em cheio. Com Zelena, isso acontecia com frequência, e eu não conseguia disfarçar. Ela mexia demais comigo. Mais do que qualquer outra pessoa. Mais do que Isaac no início, quando ele ainda era gentil, e eu pensava que o amava.
— Está ótimo! — falou depois de tomar um gole. Encostei no armário, apoiei as mãos ali.
— Eu falei. — sorri amarelo, tentei responder como se a minha frase anterior não tivesse duplo sentido.
Acho que ela também fez um esforço para fingir que não havia entendido.
Zelena tomou mais um gole de café, depois deixou a xícara sobre a mesa. Olhou-me com um semblante sério.
— Você deve imaginar porque estou aqui. — abaixei a cabeça, eu sabia o porquê. Ela continuou — Esse escritório em poucos dias será desativado. Nós temos que aproveitar enquanto ainda tem a liberdade de sair para vir trabalhar, depois a situação ficará mais complicada. — escutei seus passos em minha direção — Victoria eu preciso levar você para Augusta. — ela parou diante de mim, permanecia de cabeça baixa.
É claro que eu queria me livrar de Isaac, viver com ele era um pesadelo.
— Victoria olha pra mim. — escutei a sua voz, mas permaneci como estava — Victoria? — tocou em meu queixo delicadamente. E o cuidado com o qual ela me tocava era diferente. Eu quis negar isso no início, hoje já não conseguia mais. Ela induziu que eu olhasse para ela. — Por favor, não diga que mudou de ideia. — usou um tom receoso. Segurei em sua mão.
— Ele vai me encontrar. — respondi já sentindo meus olhos encherem de lágrimas.
— A casa que você vai ficar é totalmente segura. Eu mesma mandei reforçar a equipe na última semana. Está tudo pronto à sua espera. — segurou em meu rosto com ambas as mãos. Fez um carinho. Fechei os olhos, senti uma lágrima escorrer em meu rosto.
Zelena chegou bem perto. Senti seu nariz roçar de leve em minha bochecha. Segurei em sua cintura meio vacilante.
— Por favor, diz que vai comigo. — sussurrou com a boca em minha bochecha.
Meu coração bateu forte. Tê-la assim tão perto. Carinhosa e fazendo de tudo para me ajudar me trazia uma sensação tão boa de proteção.
Zelena me fazia acreditar que a vida não era tão ruim assim.
— Amanhã todos do partido se reunirão em Portland... — minha voz saiu trêmula — As três da tarde, vá à minha casa. — respondi ainda de olhos fechados usando a coragem que só ela me fazia ter.
Sua boca encostou na minha em seguida. Não demonstrei resistência. Eu queria muito. No meio do beijo, senti o salgado de uma lágrima em seus lábios. Zelena também chorava e eu não sabia dizer porque ela se importava tanto. Fantasiava, mas não acreditava ser possível. Não comigo. Não com uma mulher com tantos problemas como eu.
Mordi seu lábio inferior. Acompanhei o ritmo lento e gostoso que ela deu ao beijo. Ela sabia exatamente como me tocar.
Tão diferente da maneira bruta de Isaac. Ela queria me agradar, ele, apenas satisfazer-se. Isso no começo doía mais do que qualquer agressão física. Na minha cabeça aquilo era amor, e eu não entendia porque alguém que supostamente ama, sujeita a outra pessoa à humilhação, a fazer coisas que não quer.
Com o tempo percebi que para ele era apenas sexo. Sexo e possessão. Isaac pensava ser meu dono. E tudo que na cabeça dele ameaçava o seu poder sobre mim, era motivo de violência.
Em pensar que minha mãe tentou me alertar ainda na época de namoro. Ela percebeu que o ciúmes de Isaac ultrapassava os limites da normalidade. Tentou me mostrar o quanto ele era abusivo. Eu negava. Mas não era mentira. Realmente não via. Se ao menos a tivesse escutado. Fiz um carinho no rosto de Zelena. Enxuguei por onde a lágrima havia passado.
— As três da tarde. — falou com o olhar no meu — Está combinado! — sorriu, seus olhos estavam vermelhos.
— VOCÊ NÃO FALA MAIS EM MEU NOME! — escutamos a voz alta de Regina. Nos afastamos rapidamente. Sequei o rosto e puxei Zelena pelo braço. Ela já fazia menção de correr até o hall.
— Você tem que manter a calma. — disse séria. Eu sabia que Zelena não havia encontrado Cora desde que descobrira sobre Gold. E mesmo sendo filha dela, Cora não seria amena caso se irritasse.
— Estão discutindo. — respondeu agitada.
— Elas fazem isso o tempo todo! — não menti — Zelena, você não pode resolver as coisas pela Regina.
— Mas posso ajudar. — falou quase alterada.
— Eu sei. — mantive o tom firme — Também quero ajudar, mas agir de maneira impulsiva só tende a piorar tudo.
Ela bufou.
— Ok. — respirou fundo. Passou a mão pelos cabelos. Soltei o seu braço.
— Vamos ver o que aconteceu. — ela concordou com a cabeça já mais calma.
Seguimos pelo corredor.
***
Mills
Respirei fundo. Coloquei as mãos na cintura. Tentei me tranquilizar.
— O que foi dessa vez? — escutei a voz de Zelena atrás de mim.
Virei. Victoria parou ao seu lado.
— Cora comprou os membros do Conselho. — Zelena arregalou os olhos.
— Até a Ariel?
— Todos! — ela me olhou desacreditada.
Andei de um lado para o outro pensando no que fazer.
— E ainda disse que foi resolver as coisas no partido... — apontei para o elevador por onde minha mãe havia saído — Deu a entender que a campanha não acabou.
Zelena aproximou-se.
— Você tem que tomar cuidado. — usou um tom preocupado — Essa mulher é capaz de tudo.
Soltei o ar pesadamente.
— O que vai fazer? — perguntou analisando a minha expressão.
— Todo o esforço dela será em vão. — falei decidida, encarei minha irmã de frente.
Zelena franziu o cenho. Continuei.
— Vou cortar o mal pela raiz!
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