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História Cinza das Horas - Love story


Escrita por: Pri__

Notas do Autor


Boa noite, galera.

Capítulo 69 - Love story


Fanfic / Fanfiction Cinza das Horas - Love story

 Mills

 

Fiquei alguns segundos analisando a situação. Sidney Glass? O que este homem fazia aqui?

 

Nós passamos anos em lados opostos na política. Trocamos poucas palavras, e tudo foi apenas por educação.

 

— Posso entrar? — Ele interrompeu meus pensamentos.  

 

—  Pode! — Dei passagem a ele — Me desculpe! Aceita uma água? — Tranquei a porta — Um suco? Whisky? — Agi no automático. Indiquei o sofá.

 

Sidney sentou-se.

 

— Não, estou bem. Obrigado! — Ajeitou novamente sua gravata e eu percebia que esse era um tique nervoso — Perdoe-me pelo horário, tentei marcar um encontro com sua secretária, mas não obtive resposta.

 

— A pessoa responsável por isso, está afastada no momento.  — Ele meneou a cabeça em entendimento.

 

Sentei-me na poltrona à frente. Cruzei as pernas.

 

— Senhora Mills, pretendo ser direto. — Escutei atenta — O meu partido ficou realmente satisfeito com o anúncio do cancelamento da sua pré-candidatura ao Senado.

 

Abri mais os olhos. Esse homem não teria a audácia de vir à minha casa, a essa hora da noite, tripudiar sobre o meu fracasso político.  Ajeitei o corpo já incomodada na poltrona. Ia começar a falar, mas ele continuou.

 

— É totalmente natural o nosso contentamento, pois estávamos apoiando o candidato de nossa coligação. Como a senhora sabe, não temos um filiado competitivo para este cargo até o momento.

 

Lembrei-me da coligação pífia, que apoiava um candidato tão insignificante quanto. Quase revirei os olhos.

 

— Estávamos apoiando? Não apoiam mais? — Procurei entender. 

 

— Se tivermos alguém capaz, por que não lançar a nossa própria campanha?

 

Endireitei a postura, totalmente surpresa. O que ele queria dizer com isso? Sidney continuou.

 

— O Maine inteiro sabe que não foi só a pré-candidatura que tiraram de você, não é segredo para ninguém, que foi expulsa do partido no qual esteve por anos. Eles fizeram questão de deixar isso bem claro na mídia.

 

Apertei as unhas discretamente no braço da poltrona. Esse assunto me deixava visivelmente desconfortável. Mexia com meus brios.  Ele percebeu.

 

— Onde quer chegar com isso? — Tentei adiantar o assunto.

 

— Exatamente no ponto que está imaginando, queremos Regina Mills de volta à corrida ao Senado. Queremos você como candidata do nosso partido. — Foi direto novamente e eu senti um frio na barriga.

 

Dei um sorriso nervoso. Coloquei os cabelos para trás da orelha.

 

— Sabe que minha mãe ainda está na disputa?

 

— Sabemos! — Falou com firmeza — E temos conhecimento, também que desde que Cora anunciou a sua própria candidatura o seu ex-partido vem perdendo pontos. Foram muitas baixas.  A saída da Nolan, a tal ideia da cura gay, que mais serviu como um tiro no pé, e agora a prisão de Isaac Hellen. Cora Mills não é uma Regina Mills!

 

Respirei fundo depois de escutar tudo isso.

 

— Mas foi ela quem articulou muita coisa em minha carreira. — Seria hipocrisia negar isso.

 

— Nada que não faria com um outro assessor igualmente eficiente. — Deu de ombros.

 

Dei um longo suspiro, escolhendo as palavras, para começar a dar aquela resposta.

 

— Escute, senhor Glass, eu realmente estou lisonjeada pelo convite. — Falei praticamente pisando em ovos — Estou surpresa que apesar de todo o escândalo recente envolvendo o meu nome, vocês tenham cogitado a possibilidade de me convidar para representá-los. Mas convenhamos. — Levantei as mãos no ar — O senhor fundou um partido que apesar de anos, continua pequeno. E mesmo com a minha popularidade sendo boa no Maine, mais aqui em Storybrooke. Não acredito que uma campanha com a nossa união tenha um alcance significativo para uma briga real com os candidatos que encabeçam essa eleição.

 

— A questão é exatamente essa, você trará visibilidade. — Falou empolgado — Com Regina Mills ao nosso lado, podemos conseguir incentivos financeiros para essa campanha.

 

Apertei os lábios.

 

— Senhor Glass, acredito em suas boas intenções. Compartilho de parte das suas ideologias, uma conversa recente com meu pai aclarou isso. Sinto em ter que recusar.

 

Ele mexeu em sua gravata novamente.

 

— Henry contou sobre o plano de campanha?

 

— Contou. E eu tenho vergonha por ter usado as ideias de vocês e ficado com todo o crédito em meu primeiro mandato. Realmente devo desculpas ao senhor. — Fui sincera, não me orgulhava disso.

 

— E vai deixar uma pessoa que rouba o trabalho do próprio marido, ser eleita senadora? — Perguntou indignado — Isso deixou de ser um desentendimento de família, para virar um assunto de responsabilidade pública.  — Engoli seco.

 

Inclinou-se para frente no sofá.

 

— Por esse plano de campanha que ganhou vida em suas mãos, peço que retribua o favor.  

 

Franzi o cenho. Ele continuou.

 

— Pense melhor a respeito. — Levantou-se — Trabalharíamos muito bem juntos!

 

Acompanhei seus movimentos com o olhar, ainda sem saber o que dizer.

 

Fiz menção em acompanhá-lo.  Sidney ergueu a mão para mim.

 

— Não se preocupe, eu sei o caminho. — Ajeitou o paletó — Obrigada por me ouvir. Caso mude de ideia, sabe onde me encontrar.

 

Saiu a passos rápidos.

 

Bateu a porta.

 

Relaxei o corpo no sofá. Respirei fundo. Mirei um canto qualquer na parede.

 

O que eu faria agora?

 

 

***

 

 

Swan

 

 

—  Assim fica difícil desviar o olhar. — Ruby sussurrou em meu ouvido, sentou-se ao meu lado em um dos bancos do vestiário.

 

Olhei disfarçadamente para o lado em que ela indicava. Picci estava apenas de fio dental passando hidratante em seu corpo. Seus movimentos naturalmente sensuais, acabou chamando a atenção não só de Ruby, como do vestiário inteiro.

 

— Ela tá passando creme pra treinar? — Minha amiga falou ainda mais baixo.

 

Não respondi, apenas voltei a dar atenção a meu celular. Ruby continuou.

 

— Sabe que se eu não tivesse chegado naquele Pub ontem, ela teria agarrado você, não sabe? — Neguei com a cabeça.

 

— Ela não bebeu tanto assim, só estava eufórica por sua volta à Itália agora ser oficial. E sinceramente, acho que tem todo o direito de fazer isso. Picci nunca quis jogar em Storybrooke. Na época, nem fizeram questão de esconder que foi uma imposição dos patrocinadores.

 

Ruby deu um sorriso safado olhando para Kathryn.

 

—  Mais do que comemorar a volta pra a casa, Picci estava comemorando levar você junto com ela.

 

Desviei o olhar para reparar em Picci novamente, e para o meu azar ela percebeu, sorriu.  Virei o rosto totalmente sem jeito. Ruby quase se engasgou segurando a risada pelo meu constrangimento.

 

— Não seja boba! Picci estaria festejando do mesmo jeito se fosse você, ou qualquer uma das meninas.  — Desconversei, e mirei a minha amiga que fez cara de deboche.

 

— Nem você acredita nisso!

 

— A única coisa que consigo pensar agora é em como vai ficar a minha situação com o Liam, caso eu vá mesmo para a Itália.  — Mudei propositalmente de assunto.

 

— Como assim, caso eu vá? Tá pensado em não aceitar?

 

Soltei o ar pesadamente.

 

— Tenho que falar com a Lilith e tirar algumas dúvidas. — Encostei a cabeça na parede e não consegui disfarçar a tristeza — Ficar longe de Storybrooke seria o melhor a fazer agora, mas eu imagino o quanto vai doer.

 

Ruby me puxou para ela, repousei a cabeça em seu ombro fechei os olhos.

 

— É uma grande oportunidade. — Disse em um tom compreensivo — E uma temporada fora, vai te ajudar a esquecer.

 

— Espero que sim! — Falei desanimada.

 

— Já marcou com a Lilith?

 

— Vou jantar com ela hoje no restaurante do porto. — Ruby deu um pulo no banco, afastou para olhar em meu rosto.

 

— Como assim você tem um encontro? — Perguntou surpresa — E eu pensando que a Picci estava na dianteira.

 

— Cala a boca, loba! — Franzi o cenho — Lilith não tinha horário para me atender hoje. Mas como eu disse que era urgente, ela me convidou para jantar.

 

—  Ah, sim! Aí ela te atende fora do horário de trabalho, com direito a vinho e vista para o mar. Esperta essa Lilith!  —  Revirei os olhos.

 

—  Ruby, eu só quero resolver isso logo. —  Falei séria — E ter certeza que o fato de eu ficar fora do país por alguns meses, não vai afetar a minha relação com Liam.

 

Ruby apertou os lábios.

 

—  Você é muito lerda, Emma Swan! —  Bufei.  Ela acabou rindo.

 

Puxou-me pelo pescoço, deu-me um beijo demorado na bochecha.

 

— Mesmo sendo uma sonsa, eu tô muito orgulhosa de você, patinho! — Olhou-me de perto — Falei isso ontem, mas você tava muito bêbada, não deve lembrar.

 

 —  Obrigada, Ruby! —  Apontei o dedo para ela — E eu nem estava tão bêbada assim. — Acabei rindo.

 

— Ah, claro que não! — Foi irônica. Continuou a falar — Eu tenho certeza que daqui pra frente só receberá boas propostas. Eu vi de perto como foi dolorosa a sua recuperação. E sei o quanto é difícil, ainda hoje, jogar em alto nível e conviver com as dores crônicas. Você, mais do que ninguém, merece esse reconhecimento.

 

Um filme passou em minha cabeça. Senti meus olhos marejados.

 

— Você sempre me deu força. Sou muito grata. De verdade! — Quantas vezes Ruby havia ficado ao meu lado apenas me abraçando enquanto eu chorava com dor no joelho? Muitas! Tantas que havia perdido as contas — Eu não conseguiria sem você!

 

E nessa hora, Ruby também estava visivelmente emocionada.  Voltou a me abraçar apertado.

 

— O próximo grande contrato, será o seu! —  Falei com a boca em seu ouvido. Escutei um riso sair dos seus lábios.

 

— Deus te ouça, patinho! Deus te ouça! — Rimos, mais para controlar a emoção do que qualquer outra coisa.

 

— Emma! — Uma voz feminina me chamou. Saí do abraço de Ruby.

 

Virei e era a assistente de Derek. Franzi o cenho. Eu não tinha fisioterapia hoje.

 

— Sim? — Enxuguei canto dos olhos.

 

— Derek pediu para eu te chamar. Parece que Henry precisa da sua ajuda na sessão de hoje.

 

Minha ajuda? Será que tinha acontecido algo?

 

Levantei-me rapidamente.

 

— Vamos! — Respondi. Joguei meu celular no colo de Ruby — Se Kurt me procurar, avisa que estou com Derek. — Ruby apenas concordou com a cabeça.

 

Saí do vestiário atrás da moça. Picci me acompanhou com o olhar.

 

Apressei o passo. Queria evitar, mas já estava preocupada.

 

 

***

 

 

Mills

 

Apertei o volante já impaciente. Fazia vinte minutos que estava estacionada em frente ao ginásio e nada de Henry sair de sua sessão de fisioterapia.

 

Peguei o celular. Nenhum sinal dele. Apenas uma mensagem de voz do meu pai, confirmando que iria à minha casa mais tarde. Precisava conversar com ele sobre a visita de Sidney Glass.

 

Disquei o número do meu filho. Nada. Bufei. Não acredito nisso!  Travei a tela do celular. Coloquei no bolso do blazer. Saí do carro irritada. Precisaria entrar. Eu avisei a Henry que isso não daria certo! Passei os olhos pelo estacionamento, pelo menos o carro novo de Emma não estava ali.

 

— Boa tarde! — Cumprimentei o segurança — Meu filho... Henry passou por aqui?  — Ele sabia a quem me referia, Henry sempre parava para conversar com este senhor.

 

— Boa tarde, prefeita. — Arqueei uma sobrancelha, mas preferi não dizer nada — O filho da senhora ainda não saiu.

 

— Obrigada. —  Dei um passo para trás e chequei a hora mecanicamente em meu relógio de pulso.  Olhei a entrada do ginásio ainda meio hesitante.

 

— Pode esperar lá dentro. — O segurança percebeu a minha inquietação. Sorri amarelo.

 

Fiquei mais alguns instantes, ponderando se deveria entrar ou não.  Até que respirei fundo e entrei. Essa demora de Henry não era normal, precisava ver o que estava acontecendo.

 

Andei pelos corredores totalmente desconfortável. Mesmo que não encontrasse Emma, poderia encontrar Ruby que estava na defensiva pela amiga. Queria evitar remexer no assunto.  Era doloroso para todas as partes.

 

A passos rápidos, cheguei à sala de fisioterapia. Foi inevitável não me sentir apreensiva. Bati na porta. Abri.  Estava vazia, exceto por uma moça ao fundo, que me olhou com um ar simpático. 

 

— Boa tarde!  Henry Mills não está aqui? — Perguntei achando estranho.

 

— Boa tarde! —  Ela passou a falar educadamente — Derek o levou para a sala do andar de cima.

 

— Entendi. — Sorri — Obrigada. 

 

Caminhei até o andar superior xingando mentalmente por esse ginásio ser tão grande.

 

Assim que subi o último degrau da escada, pude ver a tal sala de fisioterapia. A enorme parede de vidro lateral dava uma visão ampla do ambiente. Henry fazia careta ao executar os movimentos.

 

Fiquei atrás da parede tradicional. Não queria que meu filho perdesse a concentração.

 

Henry estava indo bem, apesar da carinha de leve incômodo.

 

— Os movimentos de hoje o deixaram um pouco apreensivo. — Levei um susto e o meu reflexo no vidro não me deixou disfarçar a completa surpresa.

 

Como assim? O carro dela não está no estacionamento!

 

— Por isso, Derek me chamou. — Ela continuou — Então eu dei a ideia de vir pra cá, é uma sala mais aconchegante.

 

Reparei bem na imagem de Emma pelo vidro. Ela estava próxima. Tão próxima que meu coração bateu acelerado. Apertei os olhos por um instante. Ótimo, esse encontro era tudo o que eu queria evitar.

 

Virei.  E me senti ainda mais insegura.  Por que ela tinha que me olhar assim?

 

— As minhas sessões, também estou fazendo aqui ultimamente.  — Deu um sorriso meio sem jeito. Colocou as mãos nos bolsos do abrigo de treino que usava. Balançou levemente o corpo. E lá estava aquele sinal de nervosismo costumeiro dela.

 

Como eu a achava encantadora quando fazia isso.  Poderia passar o tempo que fosse, esse meu fascínio nunca mudaria.

 

— Preferi ficar até o final para garantir que tudo correria bem. — Ergueu as sobrancelhas esperando que eu dissesse alguma coisa.  E só naquele instante percebi que tinha perdido a fala.

 

Desviei o olhar para o vidro novamente. Eu não conseguia olhar para Emma sem ficar presa na imagem dela.

 

— Agradeço por todo o apoio dado ao Henry. Essa fase não está sendo fácil para ele. — Fixei atenção na imagem do meu filho através do vidro — Você não tem essa obrigação... — Emma me interrompeu.

 

— Eu amo o Henry! — Disse com firmeza, e essa frase me fez virar para ela novamente — Sempre que puder ajudar, vou fazer isso! Bom ... — Fez uma pausa meio hesitante — Enquanto você permitir.

 

— Emm, eu nunca impediria os seus encontros com o Henry.  — Respondi rápido. Ela sorriu. 

 

— Sempre gostei de você me chamando assim. — Falou envergonhada.  E o meu rosto pegou fogo.

 

Deu um passo à frente. Aprofundou o seu olhar no meu.

 

Estremeci.

 

Ficamos presas naquela troca de olhares. Senti um arrepio percorrer o meu corpo inteiro.

 

— Eu... — Não achei as palavras — Ela desviou o olhar para a minha boca. E aquilo foi demais para mim, me desarmou por completo.

 

— Você? — Sussurrou e inclinou. Seus cachos fizeram um movimento para frente. O seu perfume me invadiu.

 

Ela estava me seduzindo e sabia disso. Emma não precisava de muito para ter-me nas mãos.

 

Respirei fundo, aproveitando o seu cheiro e a sua imagem tão de perto.

 

— Emma, o treino com bola vai começar em cinco minutos. — A voz alta de Kurt pode ser ouvida no início do corredor.  Emma pôs uma expressão nada satisfeita no rosto, deu um passo para trás, acabando com aquela proximidade tão perigosa e envolvente entre nós.

 

Ajeitei os cabelos, ainda suando frio.  Graças a Deus, Kurt havia chegado. Se ela se aproximasse um centímetro a mais, eu não responderia por mim.

 

 — Ia esperar a sessão de Henry terminar.  — Apontou para além do vidro. Kurt observou meu filho — Ele está meio apreensivo hoje.

 

— A mãe dele já está aqui. — Olhou momentaneamente para mim — E você não pode perder nenhum detalhe do treino de hoje.  Vamos começar com as jogadas ensaiadas para a próxima partida. Todos já estão reunidos a sua espera.

 

Emma olhou para Henry mais uma vez.

 

— Tudo bem. — Tentei tranquilizá-la — Qualquer coisa eu interfiro. E pelo horário, a sessão já deve estar no fim.

 

Ela sorriu. Como é linda. Deus!

 

— Então eu vou. —  Olhou em meus olhos mais uma vez — Fala que eu deixei um beijo? — Sorri de volta.

 

— Falo sim. — E seu eu olhasse para o meu reflexo naquele vidro, sei que veria a cara de boba que estava fazendo naquele instante.

 

Ela saiu sem me tocar. Mas o seu olhar de despedida, tinha tanto calor, que me senti abraçada.

 

Em silêncio, Kurt e eu a observamos descer as escadas.

 

 — Não deveria fazer isso. — Kurt dirigiu-se a mim. Franzi o cenho.

 

— Desculpe? — O sorriso em meu rosto morreu.

 

— Esse envolvimento entre vocês só colocou Emma em muitas situações desagradáveis. Afetou diretamente a carreira dela. E agora que as coisas finalmente estão entrando nos eixos, começa a rondá-la novamente?

 

— Espera aí! — Ergui a mão para ele — Eu vim aqui para buscar o meu filho. Não planejei encontro nenhum.

 

Kurt deu um sorriso irônico.

 

— Muito conveniente.

 

Fechei a expressão por completo.

 

— O que está insinuando? Fale logo! Não gosto de meias palavras!

 

— Emma não pode mais perder ótimas oportunidades por causa dos escândalos que envolvem você e a sua família. Ela já recusou um grande contrato, mas é claro que sabe disso.

 

— É muita hipocrisia da sua parte defender esse tipo de julgamento. Emma me contou que o grande problema, na verdade é eu ter sido professora dela. Ou seja, quando um envolvimento entre duas pessoas do mesmo sexo pode ser explorado para ganhar visibilidade, tudo bem! Agora se ele não está no molde adequado, é um escândalo? Agora eu digo a você... — Dei um passo à frente — Muito conveniente! — Fiz questão de repetir as palavras dele.

 

Kurt ficou em silêncio.

 

 — Vocês estão brigando? — Escutamos a voz de Henry.

 

Virei para meu filho.

 

— Não, meu amor. Só estava agradecendo por todos os treinos que Kurt deu a você. — Respondi e fiz questão de encarar Kurt novamente. Ele não fez menção de desmentir a minha fala — E vi que foi muito bem na sessão de hoje.  — Mudei de assunto. Dei um beijo em seu rosto.

 

— A Emma me ajudou! — Olhou para os lados — Cadê ela?

 

— Ela foi treinar. — Segurei em seu ombro — Mandou um beijo para você.

 

— Podemos assistir ao treino dela? — Perguntou animado. Apertei os lábios.

 

— Henry, nós já conversamos sobre isso. — Ele murchou na hora.

 

Passei a mão por seus cabelos.

 

— Qualquer dia, peço para o seu pai vir com você.  — Ele concordou com a cabeça, mas continuou cabisbaixo.

 

Nos despedimos de Kurt educadamente, apesar de eu querer mandá-lo à merda.

 

Cheguei em casa, ainda cuspindo fogo. Era muita audácia desse homem! Se não fosse Henry chegar bem na hora, teria falado muito mais.

 

Joguei minha bolsa no sofá. Meu filho subiu para um banho.

 

Chequei meu celular, nada de mensagens da Zelena.  Minha irmã já deveria ter voltado de Augusta. Ela saiu cedo daqui. Mandei uma mensagem a ela.  Travei o aparelho.

 

Por que será que essa maluca estava demorando tanto?

 

 

***

 

 

Zelena

 

 

Fiz a curva na estrada de pedras que dava acesso a minha casa em Augusta. As borboletas fizeram festa em meu estômago. Durante todo o percurso até aqui, a saudade que eu sentia de Victoria só aumentou.

 

O meu coração ansioso parecia que não a encontrava há anos.

 

Parei em frente a guarita, o pessoal da segurança demorou um pouco para liberar a minha passagem.  Instantes que me pareceram séculos. 

 

Quando dei partida no carro novamente, acabei achando graça da minha própria impaciência. A culpa era toda dela. Como Victoria conseguia ser tão especial?

 

Eu já havia me apaixonado. Até por duas mulheres ao mesmo tempo. Fiz muitas idiotices. Especialmente quando mais jovem. Regina sempre me repreendeu, e metade das burradas, precisei esconder dela. Mas com Victoria era diferente, não eram ações vazias e inconsequentes.

 

Eu não precisava me esforçar para impressionar de maneira fútil quem estava ao meu lado. E, com Victoria, aquelas situações que me colocaram em risco tiveram um propósito. Eu nunca a deixaria em perigo se estivesse em meu alcance evitar isso. Por mim, teríamos enfrentado aquele covarde bem antes. Compraria qualquer briga por ela.

 

Às vezes acho que foi esse meu instinto de proteção que me fez aproximar mais e mais. Em outras, penso que aconteceria mesmo se esse problema não existisse. Depois apenas chego à conclusão de que tanto faz! O importante é que tive a oportunidade de conhecê-la. Só torcia agora para ter a honra de tê-la ao meu lado oficialmente nos próximos meses.

 

Parei em frente a fachada da casa. Fitei com calma os detalhes, a construção clássica destacava-se por entre as montanhas.

 

Adorava esta casa. Qualquer historiadora sentiria o mesmo. E meu pai sabia disso. Pensei que Henry Mills ficaria furioso quando disse que trocaria o sobrenome da família pelo nome de solteira da mãe dele. Mas para a minha surpresa, ele não só ficou lisonjeado, como deu-me de presente a mansão de inverno de minha avó.  Henry poderia ter escolhido qualquer propriedade dos Mills, mas optou por esta que tem a história impregnada em cada miudeza.

 

Soltei o ar pesadamente.

 

E saber só agora que eu não tinha nenhuma ligação sanguínea com nada aqui, me fazia sentir no mínimo, estranha.

 

— Nem minha avó ela era de verdade. — Sussurrei apertando o volante do carro.

 

Talvez se eu soubesse da verdade desde criança teria aprendido a lidar com esse sentimento ao longo dos anos. Quem sabe, nada disso seria importante agora. Sorri tristemente. Criar hipóteses, não me levaria a lugar algum.

 

Apertei os olhos. Saí do devaneio de pensamentos. Tirei o cinto de segurança. Abri minha última conversa com Victoria. Ela tinha visualizado quando avisei que chegaria em meia hora, mas não havia respondido. Travei a tela do celular e desci do carro.

 

Respirei fundo o ar das montanhas. Caminhei até a porta. Destranquei e abri.  Olhei a imensa sala de estar, a escada que dava acesso ao andar superior.  Tudo vazio. Não havia empregados. Apenas uma moça que vinha periodicamente deixar as coisas em ordem. Nancy foi a única companhia de Victoria nos últimos dias.

 

— VICTORIA? — Falei alto.  A casa era imensa, demoraria muito procurá-la em cada canto.

 

Fechei a porta. Tirei meu casaco, pendurei-o ao lado. Caminhei lentamente pela sala. Larguei meu celular sobre a lareira.  Observei saudosa algumas fotos minhas com Regina. Na maioria delas, éramos adolescentes. Mas havia uma de nossa infância, e meu pai também aparecia nela.

 

Sentadas no colo dele, o sorriso largo em nossos rostos deixava claro que Cora não estava conosco. De certo, foi em um dos períodos de viagens dela. Ele ainda tinha cabelo. Ri do meu próprio pensamento. Desviei o olhar irritada por me deixar levar por uma lembrança boa. Eu não sabia quanto tempo duraria essa raiva que estava sentindo dele.

 

Virei para ir em direção à escada, e então escutei um som vindo da sala de instrumentos.

 

Fechei os olhos sentindo a melodia. Eram notas no piano. Estaquei tentando identificar a música.

 

Ela era familiar.

 

A passos rápidos cheguei segui o som.

 

Parei e sorri vendo a cena.

 

Victoria estava sentada ao piano. Usava um roupão de seda branco que contrastava com o negro do instrumento. De costas para mim, o loiro dos seus cabelos em um coque frouxo reluzia, mesmo com a luz baixa do ambiente.

 

Com a postura ereta, e excessivamente sexy, ela tocava com facilidade uma das sinfonias mais brilhantes da música clássica.

 

Aproximei-me ainda maravilhada com a imagem dela assim. Pude ver que seus olhos estavam fechados, mas sei que ela sentia a minha presença ali.

 

A vontade que eu tinha de tocá-la misturou-se com o completo deslumbramento de apenas admirá-la.

 

E foi o que eu fiz. Acompanhei completamente fascinada a imagem à minha frente.

 

“Por onde eu começo a contar a história de como um grande amor pode ser?”. Lembrei-me da letra que adicionaram à melodia séculos depois, e ela nunca fez tanto sentido.

 

“Ela preenche o meu coração com canções de anjo e com pensamentos selvagens.”

 

Mergulhei de cabeça na sonata. E em Victoria. E quando ela tocou delicadamente a última nota, eu me peguei pensando se era amor o que sentia por ela.

 

“O amor pode ser medido pelas horas em um dia? Não tenho respostas agora.”

 

Victoria abaixou a cabeça, ainda sem abrir os olhos e tirou a força das teclas.

 

Aproximei-me.

 

Inclinei, passei devagar o nariz em seu pescoço. Fechei os olhos e respirei o seu cheiro. Ela se encolheu. Deu um suspiro, mas não se afastou do meu toque.

 

— Love story? — Sussurrei com a boca em seu ouvido.

 

Escutei um riso tímido sair dos seus lábios.

 

— Me faz lembrar de você. — Disse baixinho.  E eu senti meu coração acelerar.

 

— Não sabia que tocava. — Continuei no mesmo tom. Levei as mãos a seus braços.  Deslizei os dedos por sua pele, fazendo um carinho suave. Ela se arrepiou.

 

— Ficaria surpresa com o que uma mulher criada no interior sabe fazer. — Usou um tom malicioso dessa vez.

 

Ri com a boca em seu pescoço. Adorava o quanto Victoria conseguia ser fofa e safada ao mesmo tempo.

 

— Então me mostra. — Mordi o lóbulo de sua orelha. Victoria gemeu, e impulsionou o corpo para levantar-se no mesmo instante.   Precisei dar um passo para trás.

 

Virou e me olhou nos olhos pela primeira vez depois de tanto tempo. Senti minhas pernas vacilarem.

 

— Será que aguenta assistir? — Dei um sorriso nervoso. O que ela pretendia?

 

Não esperou por reposta.

 

Fez o contorno do piano, abaixou a tampa com os olhos fixos em mim.

 

Apoiou os pés descalços no banco onde estava sentada há segundos.  Fez força e sentou-se sobre o instrumento. Com o movimento, seus cabelos se soltaram e caíram lindamente sobre os ombros. Levou as mãos ao laço do roupão.

 

Prendi a respiração.

 

Ela aprofundou o seu olhar no meu e pude perceber os movimentos de suas mãos abrindo o robe. Abaixei o olhar.

 

Fiquei sem ar.

 

Victoria era maravilhosa! Seu corpo sem os hematomas que aquele monstro deixava nela, era ainda mais perfeito.

 

Apenas com uma delicada calcinha preta.  O rosado dos seus seios bem desenhados me fez salivar.

 

Ela desceu as mãos com toques vagarosos pelo próprio corpo, abriu mais o robe, deixou bem à mostra as suas coxas. Abriu parcialmente as pernas.  Voltei a olhar em seu rosto, e o seu sorriso safado me desconcertou.

 

Poucas mulheres fizeram isso comigo.  Do jeito que Victoria fazia, nenhuma!

 

Em um movimento rápido, tirou o robe e jogou-o no chão. Sorri, adorando aquilo. Ela analisava em silêncio as minhas reações.

 

Dei um passo à frente, na intenção de tocá-la. Com uma das mãos estendidas, ela conteve o meu ato.

 

— Você só vai assistir! — Abri mais os olhos contrariada, mas não ousei questionar.

 

Voltei um passo para trás.

 

Victoria jogou os cabelos de lado, inclinou levemente o corpo e apoiou a mão esquerda sobre o piano.  A mão direita, levou ao vale dos seus seios. Subiu e desceu, deslizando os dedos em sua pele. E prendeu completamente a minha atenção com isso. Fez o contorno do seu seio direito.

 

Apertou.

 

Soltei uma lufada de o ar.  E quando ela relaxou a força do toque, pude ver as marcas das unhas em sua pele alva.

 

Victoria levou o dedo indicador à boca, lambeu maliciosamente. E então passou a brincar com seus mamilos. A rigidez por ali aumentou. E eu senti a temperatura do meu corpo aumentar a cada toque travesso que ela dava em si mesma.

 

— Sabia que em todas as noites que passei sozinha aqui, eu pensei em você? — Usou um tom tão sexy que me arrepiei na hora.

 

Perdi a fala momentaneamente. Ainda estava presa à imagem de seus dedos ágeis maltratando despudoradamente seus mamilos rosados.

 

— E pensava o que sobre mim, Victoria? — Consegui responder só depois de alguns segundos.

 

Ela tirou a mão do seio, deslizou por sua barriga. Parou fazendo um carinho na própria virilha.

 

— Eu pensava em como você poderia ter sido uma ótima companhia. Imaginava... — E fez uma pausa.

 

Brincou com a borda da calcinha. Passei a língua pelos lábios, minha boca já estava completamente seca. Abriu mais as pernas. E eu precisei fazer um esforço imenso para controlar o meu impulso de agarrá-la.

 

A calcinha era minúscula, tampava parcialmente o seu sexo.  E de onde eu estava, dava para perceber que a sua lubrificação natural tinha marcado bastante o tecido.

 

Victoria já estava molhada e comigo não era diferente.

 

— Imaginava que nos divertiríamos muito juntas. — Continuou a falar, e nesse mesmo momento, adentrou a calcinha com a mão. Fez um carinho, e logo em seguida apertou o próprio sexo. Senti minha respiração ficar descompassada.

 

— Posso compensar você agora. — Falei rápido. Fiz menção de avançar.

 

— Não! — Respondeu firme — Quero que veja o que eu fazia toda noite pensando em você. — Sorriu feito o diabo. E ficou ainda mais sexy. Apertei os olhos momentaneamente. Se o objetivo era me enlouquecer, ela estava no caminho certo.

 

— Victoria... — Ia começar a questionar, ela apenas fez que não com a cabeça. Parei.

 

Ela fechou as pernas. Levou as mãos às laterais da calcinha.  Deslizou a peça pelas pernas. Retirou-a por completo e jogou em minha direção.

 

Segurei rápido.  Senti a renda molhada. A vontade que eu estava de chupá-la aumentou.

 

Ela lançou-me um olhar satisfeito. Estava adorando provocar.

 

Victoria voltou a apoiar a mão esquerda no piano.  Inclinou levemente o tronco e abriu agora totalmente as pernas.

 

E nessa hora eu esqueci como respirava.

 

Completamente nua.

Encima daquele piano.

Linda e despudorada.

Devassa e apaixonante.

 

Victoria olhou-me com um ar depravado. Subiu a mão por sua coxa, até chegar a seu sexo. Passou a ponta dos dedos de debaixo acima. Passou a entrar lentamente, foi fechando os olhos. Penetrou mais. Mais. Seu rosto foi se contraindo.  Os lábios, abrindo. Deu um gemido manhoso. Engoli seco.

 

— Na minha imaginação, você me comia toda noite, Zelena. — E gemeu de olhos fechados. Senti a umidade fazer um estrago em minha calcinha.

 

Ela queria acabar comigo!

 

Dei um passo à frente, para ver mais de perto. Aquele tom de voz me hipnotizava.

 

— E o que me imaginava fazendo com você? — Minha voz quase não saiu. Fiz um esforço enorme para não tocá-la.

 

Ela retirou o dedo de dentro de si, e circulou seu clitóris. A sua lubrificação natural se espalhou ainda mais.

 

— Você me chupava tão gostoso que eu não conseguia para de gemer na sua boca. — Respondeu com a voz manhosa, continuou a brincar com aquele ponto tão delicado, contorceu levemente o tronco no piano.

 

— Eu posso fazer isso! — Falei quase em desespero. Victoria estava me torturando demais com esse jogo.  — É só me pedir!

 

Ela abriu os olhos e sorriu maliciosa. Será que todas as mulheres do interior tinham essa ardileza no olhar quando estavam em momentos íntimos? Acho que não. Isso era coisa dela. Victoria tinha esse encanto. E exercia um poder sobre mim que eu não tinha conhecimento. Estava totalmente submissa a ela.

 

— Quer me chupar? — Perguntou ainda tocando a si mesma.

 

Não consegui responder. Apenas balancei a cabeça. Tentei controlar o meu desespero.

 

Ela achou graça, e até o seu riso debochado saiu sexy. Precisei respirar fundo para me manter onde estava.

 

Ainda sorrido, Victoria me puxou com os pés para mais perto. Minhas pernas bateram no banco, que fez barulho ao deslizar pelo piso.  Acabei ficando entre os seus joelhos. Segurei em sua coxa com uma das mãos, mas ela se desfez do contato rapidamente.

 

Franzi o cenho irritada.

 

— Victoria! — Reclamei, mas ela me calou com o seu movimento seguinte.

 

Deitou-se por inteiro no piano.

 

Apoiou os pés descalços nas teclas. O som desconexo do instrumento pôde ser ouvido.

 

Penetrou o dedo médio em si mais uma vez. Fez um vai e vem provocante, e gemeu tão gostoso, que eu quase gemi junto.

 

— Enfia mais um. — Praticamente implorei. Ela ergueu a cabeça para me olhar. Não respondeu, mas fez o que pedi.

 

Juntou o dedo indicador ao médio e entrou devagar. Desviei o olhar para seu rosto, Victoria apertou os olhos. E um gemido mais alto saiu dos seus lábios. Ela tombou a cabeça no piano. E o som da estocada molhada dentro dela agora me fez gemer também. A sua lubrificação natural reluzia em seu esmalte preto. Seus dedos deslizavam com facilidade.  Mais um pouco e a sua excitação escorreria no piano.

 

O meu transe com a cena só parou quando ela voltou a sentar.

 

 — Você tá muito molhada. — Falei com a respiração descompassada.

 

— Quer sentir? — E seu olhar parecia queimar de tanta luxúria.

 

 Abri e fechei a boca algumas vezes.

 

— Cla... Claro! — Ela voltou a achar graça do meu sofrimento. Ignorei. Nem nervosa eu conseguia ficar mais. Retirou os dedos de si.

 

Encharcados.

 

Levou em direção à minha boca.  Fez o contorno dos meus lábios. Fechei os olhos. Senti a umidade em minha pele. Apertei minhas pernas uma na outra. Meu nível de excitação aumentou desmesuradamente. Abri os lábios já totalmente seduzida com aquela aproximação. Quando fiz menção de chupar seus dedos, Victoria afastou a mão.

 

— Isso é muita maldade! — Reclamei mais uma vez. Passei a língua pelos lábios na esperança de sentir o seu gosto.

 

Ela segurou com força em meus cabelos com a outra mão. Aproximou o seu rosto do meu.

 

— Preciso que faça uma coisa, ruiva. — Falou com aquela voz de puta com a boca em minha bochecha. Deus! Eu não aguentava mais. Soltei a calcinha no chão, nem forças para segurá-la tinha mais.

 

— Faço o que você quiser! — Ela apertou meus cabelos com mais força. Fiz careta. Tente mexer a cabeça, mas ela não deixou. Aproximou a sua boca de meu ouvido.

 

— Quero que me foda com a sua língua agora! — E não foi um pedido.

 

Ela ordenou.

 

Soltou-me em seguida.

 

Era o consentimento que eu precisava.

 

Avancei sobre ela.

 

Tomei os seus lábios em um beijo aflito.  Passei a as mãos com força por seu corpo. Nunca desejei tanto uma mulher como desejava Victoria naquele momento. Intensifiquei os movimentos. Que saudade eu estava de beijá-la. Victoria segurou em meu rosto. E pareceu ainda mais entregue.  Ela estava mais livre. Mais confiante. Dona de si. Até o jeito como me tocava era diferente.

 

Interrompi o beijo.

 

— Você gosta de provocar, não é? —  Disse séria.

 

Ela apenas deu aquele sorriso diabólico e satisfeito.

 

Apertei mais os olhos vendo aquela descarada ainda debochar de mim.

 

Empurrei seu ombro, ela me olhou surpresa, e não conseguiu continuar sentada. Caiu deitada sobre o piano. Seus pés tocaram uma nota desconexa. Automaticamente suas pernas ficaram abertas diante de mim. Victoria mordeu o lábio inferior, encarou-me ainda com mais tesão.

 

— Tá esperando o quê? —  Ah, isso não ia ficar assim!

 

Empurrei aquele banco para longe. Dessa vez, o barulho dele deslizando pelo piso de madeira foi mais alto. Posicionei-me melhor por entre a pernas dela. Inclinei. Apertei a sua silhueta. Lembrei-me como tinha receio de tocá-la antes. As marcas arroxeadas reprimiam alguns dos meus atos.

 

Mas agora era diferente.

 

Beijei sua barriga. Passei a língua. Ela arqueou o corpo e deu um suspiro manhoso. Fui fazendo um caminho de beijos, passei por seu umbigo. Cheguei à sua virilha. Procurei por seu olhar. Victoria me observava. Sorriu maliciosa. Devolvi o sorriso. Desviei o olhar para o seu sexo.

 

Ela era perfeita de qualquer ângulo.

 

Abocanhei o seu clitóris logo de cara, chupei sem dó. Foi fácil brincar comigo? Agora eu queria ver!

 

Ela gemeu alto. Impulsionou o corpo para trás. O piano voltou a fazer barulho. Sorri com a boca nela. Chupei novamente, e passei a fazer movimentos circulares. Eu queria aproveitar cada gemido manhoso que saia da sua boca. Ela segurou em meus cabelos e rebolou em minha boca.

 

Uma safada!

 

Desci com os movimentos.  Lambi o seu sexo inteiro. Aproveitei ainda mais o gosto que ela tinha me negado tanto.

 

Fui fundo com língua dentro dela. Victoria praticamente gritou. Puxou meus cabelos. Apertei suas coxas, fiz força para manter suas pernas bem abertas. Deliciei-me com o gosto de sua boceta.

 

— Eu fazia assim em seus pensamentos? — Era a minha vez de atiçar. Levantei um pouco a cabeça para olhá-la.

 

Victoria abriu os olhos. Com a respiração descompassada, tentou responder, mas só escutei um gemido.

 

— Ficou sem palavras? — Dei um sorriso satisfeito. E não dei tempo para que ela recuperasse a fala. Segurei em sua cintura, puxei o seu corpo para mim.

 

Ela deu um gritinho de susto. Apoiou em meus braços.

 

Coloquei-a sentada sobre as teclas do piano. O eco pela sala foi diferente agora.

 

Victoria agarrar-se a mim em um beijo sôfrego.  Passou as mãos pelo meu corpo. Puxou o vestido que eu usava para cima. Ajudei em seus movimentos. Só nos separamos para passar a peça pelo meu pescoço.

 

Mordi seu lábio. Victoria abriu os olhos. Aprofundei meu olhar naquele verde lindo.

 

—  Eu ia tão gostoso assim dentro de você? —  E penetrei dois dedos nela sem prévio aviso. Ela fechou os olhos com força e abriu a boca. Suspirou profundamente.

 

— Você é bem mais atrevida pessoalmente! — Respondeu ofegante. — Nunca ninguém foi tão gostoso assim dentro de mim. Só você! — Sorri adorando a resposta. Meus dedos deslizaram sem dificuldade alguma. Ela contraiu mais o rosto. Passou a língua pelos lábios, ainda de olhos fechados.

 

Quente.

Apertada.

Deliciosa.

Eu nunca teria palavras para descrever a sensação de tê-la assim.

 

Segurei em seus cabelos. Trouxe o seu rosto para mais perto, Victoria abriu os olhos devagar.

 

— Quero você de olhos abertos enquanto te fodo. — Dei a ordem e estoquei com força pela primeira vez. Ela gemeu, seu corpo tremeu.   

 

Retirei os dedos devagar. Victoria apertou os lábios esperando o meu próximo movimento. Voltei a penetrá-la. Passei a entrar e sair. Ritmado. Quente. Profundo. Os gemidos agora eram incessantes.  Instintivamente ela fechou os olhos.

 

— Olha pra mim! — Exigi.

 

Aproveitei para dar uma estocada brusca. Victoria gemeu mais alto. Abriu os olhos no mesmo instante e cravou as unhas em meus ombros. Continuei. E como era quente dentro dela.

 

Sem fechar os olhos, Victoria assistiu cada movimento meu em seu corpo. Transpirando sensualidade, seus olhos ficaram mais escuros por causa do desejo. O rosto levemente vermelho. Totalmente entregue. Sem reservas. Sem pudor. E eu só pensava em tê-la assim para sempre.

 

Voltei a beijá-la.

Um beijo cheio de paixão.

 

Victoria desceu as mãos pelas minhas costas, arranhou tudo o que podia. Gemi.

 

Então fodi com mais vigor. Com vontade. O som do piano obedecia a força que eu colocava nela.

 

Eu regia a sinfonia agora.

 

Victoria ora se contorcia, ora cravava as unhas em minha pele. Tentava controlar os gemidos que saíam cada vez mais altos. Insisti. Entrei e saí de sua boceta da maneira que eu queria, e adicionei o terceiro dedo. Ela gritou e mordeu o meu ombro com força. Com certeza ficaria marca. O som das teclas ecoava pelo ambiente e se misturava aos gemidos gostosos que saíam dos seus lábios. E eu juro que era a melodia mais sensual que já havia escutado em toda a minha vida.  Ela tremeu e me apertou por entre as suas pernas.

 

Desmanchou-se em meus dedos.

Escorreu também pelas teclas.

 

Deu um gemido satisfeito, junto a última nota que tocamos juntas. Sorri reparando em cada detalhe do seu rosto corado e cheio de luxúria.

 

Perfeita!

 

— Melhor do que sonhar acordada? — Retirei os dedos de dentro dela devagar.

 

 Ajeitei alguns fios de cabelo para trás de sua orelha com a outra mão.

 

Ela deu uma risada gostosa. Tentou normalizar a respiração. Passou o dedo indicador pelo contorno do meu rosto.

 

— Muito melhor. — Respondeu ofegante. Seu sorriso aumentou. E eu fiquei presa ali.

 

Como ela conseguia fazer isso comigo? Será que é normal?

 

Puxou-me para um beijo lento. Acompanhei o ritmo. Passeei com as mãos por suas coxas.

 

Ficamos um bom tempo nisso.

 

Afastamo-nos ofegantes.  Victoria me olhou com aquela cara de pervertida. Deslizou as mãos, apertou meus seios por cima do sutiã preto que eu usava.

 

— Quero comer você!

 

— Só depois que eu foder você de quatro. — Segurei em sua cintura, fiz menção puxá-la para mais perto. Mas ela me afastou. Franzi o cenho.

 

Levantou-se do piano deu alguns passos pela sala. Acompanhei seus movimentos.

 

— E quem disse que eu vou deixar? — Usou um tom desafiador. Parou diante de mim.

 

— Vai implorar por isso! — Falei e ganhei um sorriso debochado como resposta.

 

Ela abaixou, pegou sua calcinha no chão. Voltou a me olhar. Cheguei a pensar que ela fosse vestir a peça, mas a filha da puta jogou em meu rosto com toda a força que podia.

 

— Implorar? Isso é o que nós vamos ver! — E eu só tive tempo de vê-la correr completamente nua em direção a escada que dava acesso aos quartos. Ainda escutei a sua risada alta pelo corredor. Neguei com a cabeça.

 

Eu estava perdida com essa mulher!

 

Só de raiva, iria fodê-la em cada cômodo dessa casa.

 

Fui atrás dela.

 

 

***

 

 

Mills

 

Observei pela janela da cozinha o sol ir embora.

 

Programei o forno na temperatura ideal. Senti um enjoo só de olhar para a carne que havia preparado. É difícil cozinhar quando você está sem apetite algum. E esse era o meu normal agora. Eu não sentia fome. A tristeza que existia em mim era tão grande, que parecia afetar todos os meus sentidos.  Peguei a taça que havia deixado sob o balcão. Tomei um gole, pensei que fosse amenizar o enjoo, mas não adiantou.

 

Só fiz o esforço de cozinhar hoje por causa de Henry, meu filho não podia viver de comidas de restaurante até eu me sentir melhor.

 

Peguei a garrafa de vinho.  A taça.  Fui em direção à sala. Ainda no corredor, escutei a campainha. Olhei o relógio de parede. Pelo horário combinado, deveria ser meu pai.

 

— Pontual como sempre, senhor Mills. — Fiz esforço, mas o meu sorriso não saiu nada espontâneo.

 

— Boa noite, Regina. — Meu pai também sorriu, mas não disfarçou o seu olhar de análise. Com certeza ele sabia sobre o meu término com Emma.

 

Ele deu um passo à frente, me abraçou.  Retribuí.

 

— Como você está? — Falou ainda agarrado a mim.

 

Soltei um suspiro longo.

 

— Vou indo. — Disse em um tom conformado.  Saí do seu abraço.  Dei passagem para que entrasse.  Ele o fez, mas alternou o olhar entre meu rosto e a taça de vinho — Não começa! — Deduzi o seu pensamento, então ele entrou em silêncio.

 

Tranquei a porta.  Andamos até a sala.  Meu pai acomodou-se no sofá. Fui até o bar, peguei uma segunda taça. Coloquei na mesa de centro e a enchi diante dele. Ele apenas observou os meus movimentos.  Completei o líquido em minha própria taça. 

 

— Posso dizer para ir com calma no vinho? — Arqueei uma sobrancelha.

 

— Não! — Larguei a garrafa sobre a mesa. Peguei a minha taça.  Sentei-me na poltrona à sua frente, cruzei as pernas. Tomei um longo gole — Não pode!

 

Ele fez um ar contrariado.  Passou as mãos nas pernas. Inclinou e pegou a taça que enchi para ele.  Fez um aceno, tomou um pouco.

 

— Sidney Glass esteve aqui. — Fui direto ao assunto e meu pai não me pareceu surpreso.

 

— E então, vai voltar com a sua campanha ao Senado?

 

— Você já sabia! — Meneei a cabeça.

 

— Sidney é um amigo de longa data. — Gesticulou — É claro que ele iria me consultar antes de falar com você.

 

— E o que disse a ele?

 

— A verdade! Que mesmo sendo minha filha, você é imprevisível até pra mim.  — Sorri sem mostrar os dentes.

 

Meu pai deixou sua taça sobre a mesa, esperou ansioso pela resposta.

 

— Não vou aceitar. — Falei e voltei a ficar séria.                

 

Ele franziu o cenho.

 

— Por quê? É a sua chance de mostrar para Cora o lugar dela. E publicamente!

 

Fiz uma expressão contrariada.

 

— Acha que um partido tão pequeno teria chances? ­— Perguntei, mas eu já tinha a minha opinião sobre isso.

                                                                                                                

— Regina... — E pareceu escolher as palavras — Partidos crescem, criam tradições. É questão de encontrar a pessoa certa para financiar a campanha.

 

— Sidney Glass já está neste meio há anos, e não obteve avanço nenhum.  — Meu pai endireitou a postura, olhou fixamente em meus olhos.

 

— Talvez ele precisasse de você ao lado dele.

 

Sorri de nervoso.

 

— Em meio a tantos escândalos, ninguém colocaria dinheiro nisso.  — Ajeitei-me inquieta na poltrona. Não é possível que meu pai acreditasse nessa possibilidade.

 

— Duvida que metade do Maine pagaria para ver você e Cora trocando farpas em um debate oficial?

 

Fiquei em silêncio analisando a situação. Nesse ponto, Henry Mills estava certo. Caso acontecesse, o Maine inteiro pararia para ver.

 

— Fora que se você não estivesse nenhum pouco tentada a aceitar, não teria me chamado aqui para conversar sobre o assunto. — Revirei os olhos.

 

— Tá! — Ergui a mão para ele — Digamos que eu aceite o convite. Todos os grandes empresários que costumam fazer doações já estão envolvidos com os candidatos anunciados.

 

— Você pode encontrar alguém. Não é o sobrenome Mills que fez um bom trabalho na política local. Foi você! — Falou orgulhoso, e eu acabei desviando o olhar envergonhada. Meu pai sabia como me deixar desconcertada.

 

— Trouxe isto. ­— Voltei a olhá-lo, ele tirou um molho de chaves do bolso, me estendeu.

 

 Achei estranho, mas peguei de sua mão.

 

— São as chaves do prédio do seu antigo escritório de campanha. Cora está usando um escritório em Portland agora, acho que preferiu ficar mais perto da sede do partido.

 

Balancei a cabeça, fazia sentido.

 

— Então a veremos menos em Storybrooke. — Concluí irônica. Só de pensar em minha mãe, sentia o meu sangue ferver. Tudo o que Emma e eu estávamos passando era consequência das atitudes dela.

 

— Menos do que você imagina! — Falou com muita certeza, e eu estranhei o seu tom de voz.

 

— Como? — Procurei entender.

 

— Entrei com o pedido de divórcio. ­— Abri a boca em um espanto. Larguei minha taça sobre a mesa de centro, e olhei para o meu pai, incrédula.

 

— O quê? Co... Como?  — Gaguejei — Por que só agora?  Cora não aceitou isso passivamente. — Concluí antes da resposta.

 

Conhecendo minha mãe, ela começaria uma guerra.

 

— Ela fez um escândalo.  Tentou o de sempre, as chantagens. Mas ela não tem mais nada que possa usar contra mim. Zelena já sabe da verdade, Gold também.  E até mesmo se quisesse usar a sua felicidade para inibir as minhas decisões, não conseguiria. Pois você e Emma não estão mais juntas. — Desviei o olhar, ele tocou em um ponto delicado — Pela primeira vez em anos, Cora não tem nada para me chantagear.

 

­ — Isso é bom. — Forcei um sorriso — Vai arrancar um pedaço dela não poder usar o sobrenome Mills. — Meu pai concordou com a cabeça. Continuei — Ela vai brigar até o último dia de vida pela mansão.

 

— Para ter paz, eu não faço questão de estar lá. A casa foi dos meus pais, mas há muito tempo perdeu os seus traços originais. Aquele lugar tem a Cora impregnada em cada detalhe agora.

 

E o meu silêncio concordou por mim. Cora tinha transformado a mansão da família Mills, na sua fortaleza pessoal.

 

— Já estou instalado em um apartamento na cidade. — E o meu queixo quase caiu. Uma surpresa atrás da outra.

 

— Henry Mills saindo das montanhas e vindo morar no centro de Storybrooke? Por essa eu não esperava. — Fui sincera, meu pai riu — A imprensa ainda não sabe. Está preparado?

 

Ele voltou a ficar sério.

 

— O que mais me conforta é saber que Cora fará de tudo para esconder isso, mas não vai adiantar. Quero ver a justificativa para os eleitores. A mentira que ela vai inventar a meu respeito. E como vai ser quando for obrigada a trocar de nome no meio da campanha.

 

Nesse momento, ri com gosto. Meu pai me acompanhou na risada.

 

Menos um ponto, Cora.

 

— Eles estão juntos para derrubar uma candidata do bem! A candidata que representa a família! — Imitei a voz dela. Ri ainda mais imaginado a cara da minha mãe nessa situação.  

 

Meu pai gargalhou.

 

— Fico feliz que tenha tomado essa decisão, pessoa nenhuma merece viver sob o mesmo teto que aquela mulher. — Voltei à seriedade — Mas acho que não vou usar isto. — Falei sobre as chaves.

 

Ele inclinou o corpo e segurou em minhas mãos.

 

— Não facilite as coisas para ela. ­— Disse olhando fixo em meus olhos — Se Cora realmente ganhar essa eleição, que seja por mérito próprio, não em cima do trabalho que você fez.

 

Olhei para ele agora pensativa. Não era justo Cora ganhar essa eleição. E havia muita coisa que estava entalada em minha garganta.

 

— Vovô! — Henry chegou e agarrou-se ao pescoço do meu pai. — Escutei você rir lá do meu quarto.

 

Sorri vendo a cena. O carinho que Cora nunca deu a meu filho, era dado pelo meu pai sem reservas. Henry não era tratado com indiferença por ser adotado. Fico imaginado como seria se meu pai não tivesse cedido às chantagens de Cora e conseguido acompanhar de perto a infância dele. Tenho certeza de que seriam ainda mais unidos. A ligação natural entre eles ficou clara quando meu pai foi visitar Henry enquanto ele estava no hospital. E o mais especial em tudo isso, era Henry não ter ressentimento nenhum pelo avô ser tão ausente durante anos. Para meu filho, a única coisa que parecia importar era que o avô estava agora ali.

 

— Está cuidando desse braço, marujo? — Esse costume de chamar jovens e crianças de marujo vinha de anos atrás. Quando meu pai ainda tinha o seu navio. Embarcação que agora pertencia a Gold.

 

— Tô fazendo fisioterapia, vovô. — E o meu filho não falava de outra coisa — Com a Emma! — Meu pai olhou para mim no mesmo instante.  Fingi não me importar. Soltei as chaves do escritório sobre a mesa. Voltei a dar atenção para à minha taça de vinho, enquanto Henry contava sobre as suas sessões de fisioterapia que eu já sabia de cor.

 

Ficamos na sala por mais um tempo, até que o apito do forno pôde ser ouvido.

 

Colocamos à mesa. Fui à adega, abri mais uma garrafa, um rosé seco desta vez, para acompanhar o assado.

 

Passamos a comer. Henry estava adorando presença ilustre do avô.  E eu sentia um conforto com isso.  Fiz um esforço, e comi parte de minha salada. Mas a carne, realmente não desceu.  Enchi mais uma taça e escutei o barulho da porta sendo aberta. A voz escandalosa de minha irmã ecoou pela casa.  Meu pai fez uma expressão surpresa.

 

Sorri sem mostrar os dentes. Ótimo, essa desmiolada não viu a minha mensagem. Ajeitei os cabelos, apoiei os cotovelos na mesa.

 

Esperei o furacão Zelena.

 

— ESTAMOS MORRENDO DE FOME, IRMÃZINHA! —  Disse alto entrando na sala de jantar, mas estacou assim que viu o nosso pai à mesa. Victoria parou ao seu lado. Franziu o cenho sem entender o porquê da estagnada brusca — VOCÊ SÓ PODE ESTAR DE BRINCADEIRA! — Falou para mim.

 

— Deveria ter olhado as mensagens em seu celular. — Respondi séria. Ela bufou.

 

— Vamos para a minha casa, Victoria. — Deu-nos as costas — Henry, a tia ama você! — Falou já no corredor. Revirei os olhos. Joguei meu guardanapo de lado. Tudo o que eu precisava agora era Zelena fazendo birra!

 

Levantei-me para ir atrás dela, meu pai ficou completamente desconcertado. Henry percebeu o clima tenso, apesar de não saber sobre o desentendimento do avô com a tia. Já Victoria fez uma cara de completa dúvida.

 

— É muito bom ver você, Victoria. — Fui sincera. Ela sorriu. Dei-lhe um abraço apertado. Que foi retribuído na mesma intensidade.  Victoria era uma das pessoas que mais tinha criado apresso nos últimos meses. Era reconfortante saber que apesar de tudo, ela estava segura.

 

— Obrigada! — Respondeu ainda abraçada a mim — É bom estar de volta, Regina. — Separamo-nos e reparei em suas feições.  Estar longe daquele monstro fez bem a ela. Victoria parecia ter recuperado as energias. Estava ainda mais bonita.

 

Desviei o olhar para meu pai, depois para ela novamente.

 

— É o meu pai. — E apenas essa frase respondeu todas as perguntas que Victoria tinha em mente. Agora a reação de Zelena tinha uma explicação.

 

Ela deu alguns passos em sua direção. Meu pai se levantou.

 

— É um prazer, senhor Mills! — Apertaram as mãos brevemente — Vi fotos suas, mas eram antigas, por isso não reconheci.

 

Ele deu uma risada alta. E pelo olhar, deu para perceber que simpatizou com Victoria logo de cara.

 

— Faz tempo que não faço uma aparição oficial em público. — Tentou justificar — E você é a... — É claro que meu pai sabia quem era ela, talvez só quisesse a confirmação.

 

— Victoria Hell... — Hesitou em dizer o sobrenome — Só Victoria está bom.

 

— Eu vi as denúncias pela televisão, espero que ele seja punido por tudo o que fez.

 

Victoria sorriu, mas pareceu um pouco desconfortável. Interferi.

 

— Victoria, pode acomodar-se para jantar, vou trazer Zelena de volta.  —  Apontei um lugar na mesa.

 

— Tem certeza? — Perguntou insegura.

 

— Nem que ela venha amarrada! — Disse já saindo da cozinha. Ainda escutei meu filho cumprimentar Victoria animado.

 

Pelo visto, Victoria tinha caído nas graças da família Mills.

 

Quando cheguei à sala, Zelena estava com a porta aberta, encostada no batente.

 

— Onde está Victoria? — Perguntou com enfado na voz.

 

— Está jantando. E vim aqui buscar você para fazer o mesmo. — Falei com firmeza.

 

— O que é isso? — Abriu os braços no ar — Um complô contra mim? Só porque aguentei a presença dele no hospital, não quer dizer que vou aturar passivamente as suas aparições.

 

— Pare de infantilidade, Zelena! — Aproximei-me mais dela — Ninguém está pedindo para você se reconciliar com ele agora. O que eu particularmente acho que já passou da hora de acontecer. — Disse sem paciência — A questão aqui é que vocês viajaram durante horas, estão cansadas e com fome. Jantem conosco e depois se for o caso, vá para a sua casa.

 

Zelena passou a mão pela testa.

 

— Fala isso porque não foi você que ele enganou a vida inteira.

 

— Ele escondeu coisas de mim também e você sabe disso. 

 

— E você quer comparar... — Interrompi.

 

— Não estou tentando comparar nada! Mas já faz um tempo que ele vem tentando conversar sobre tudo o que aconteceu, e você simplesmente o ignora.

 

Ela balançou a cabeça encostada no batente da porta.

 

— Está do lado dele. — Deu um sorriso irônico.

 

— Estou do seu lado, Zelena. Sei o quanto te faz mal carregar essa mágoa. Então por mais que ele tenha errado, acho que deve perdoá-lo.

 

Zelena ficou em silêncio. E desviou o olhar no mesmo instante em que escutei passos atrás de mim.

 

— Podem comer sossegadas. — Virei, meu pai estava com meu filho — Henry e eu já terminamos e ele vai me ensinar a jogar videogame.

 

— Vamos jogar lá no meu quarto, tia.  — Meu filho falou para Zelena, e minha irmã abaixou para beijar o seu rosto.  

 

— Meu amor, Victoria e eu vamos embora mesmo assim. — Zelena insistiu na teimosia. E eu tive vontade de puxá-la pelos cabelos.

 

— Victoria é uma bela mulher. — Meu pai dirigiu-se diretamente à Zelena — Tem um ótimo gosto. — E pela primeira vez, depois de toda a descoberta, minha irmã o encarou de frente.

 

— Tenho um bom gosto para mulheres, diferente de você! — E a sua ironia era palpável.

 

— Tem razão. Fiz muitas bobagens na vida. Mas jamais cometeria o erro de deixar uma mulher como Victoria à minha espera na mesa de jantar.

 

Zelena abriu mais os olhos. Segurei o riso. A cara contrariada dela foi hilária. Meu pai continuou.

 

— Não vai deixar uma mulher dessas jantar sozinha, vai?

 

Zelena bufou.

 

Saiu pisando duro, foi em direção à sala de jantar no mesmo instante.

 

Observamos minha irmã sair em silêncio.

 

— Ela está apaixonada. — Meu pai falou baixo ainda com os olhos na direção por onde ela havia ido.

 

— Muito apaixonada! — Concordei. — E previsível!

 

Nos entreolhamos. Soltei o riso que segurava. Ele também.

 

Até meu filho riu.

 

Tranquei a porta. Henry subiu com o avô. Fui em direção à cozinha.

 

Encontrei Zelena sentada, abraçada à Victoria. Era impossível não achar a cena uma graça.

 

— Está se apegando a uma adolescente birrenta, Victoria. — Fiz questão de provocar. Zelena falou algo com o rosto enterrado no pescoço de Victoria. Não entendi o que disse, mas pelo tom foi um xingamento. Acabei rindo.

 

Victoria deu um beijo demorado em sua bochecha. Ajeitaram-se em suas cadeiras.

 

— Vamos comer! — Falei agora um pouco mais animada. Decidi pegar alguns legumes dessa vez, meu estomago estava bem sensível.

 

Zelena não disse nada, mas passou o jantar inteiro, certificando-se de que eu realmente estava comendo.  

 

A refeição foi regada a conversas sobre Augusta. Era uma cidade histórica e muito bonita. Foi uma pena Victoria passar por lá sem poder conhecê-la efetivamente.

 

— Mas eu tenho boas lembranças de Augusta. — Victoria falou e levou sua taça à boca. Desviei o olhar para minha irmã que tinha um sorriso malicioso nos lábios agora.

 

Ri ao entender a insinuação. Zelena tinha achado uma mulher tão safada quanto ela. Não é à toa que se davam tão bem.

 

— Ah, sim! — Tomei mais um gole de vinho — Eu não vou nem perguntar o porquê, já entendi o sumiço de Zelena o dia todo.

 

Minha irmã riu alto.

 

— Digamos que temos boas lembranças da maioria dos cômodos da minha casa em Augusta. — Victoria erguei o dedo para ela.

 

— Faltou a sacada! — Falou naturalmente. Zelena concordou com a cabeça.

 

— Estava muito frio pra isso. — Senti meu rosto queimar.

 

— Deus! — Levei à mão ao rosto — Eu não quero saber dos detalhes.

 

Rimos.

 

Minha irmã segurou a mão de Victoria sobre a mesa.

 

Elas trocaram um olhar cumplice e ficaram sérias no momento seguinte. Franzi o cenho sem entender a mudança repentina.

 

— Irmãzinha... — Zelena começou com um tom sério agora — Precisamos ir à casa onde Victoria morava.

 

Ajeitei o corpo na cadeira.

 

— Lembro que disse que Victoria precisava pegar algo lá. — Desviei o olhar para Victoria. Fiz uma expressão de dúvida esperando que ela dissesse algo.

 

Victoria soltou o ar pesadamente.

 

— Isaac e Cora escondem alguma coisa. — E com essa frase, ela prendeu toda a minha atenção — Não sei exatamente o que é, mas escutei muitas conversas da Cora, li trechos de e-mails, presenciei Isaac falar em códigos ao telefone durante anos. Então sinto que estão juntos em algo. — Zelena observava a minha reação — Tem nomes... — Victoria gesticulou incerta — Na verdade, acho a que são apelidos, que tanto Isaac como Cora usam. Suspeito que seja para encobrir pessoas, ou empresas. Só não tenho certeza.

 

Levantei-me da cadeira. Andei de um lado para o outro, assimilando as informações.

 

— Podem ser pessoas ligadas ao cartel que nosso pai falou. — Olhei para Zelena — E o que precisa pegar em sua casa? — Esperei ansiosa pela resposta.

 

— Isaac esconde algo no porão. — Meu coração bateu mais rápido — Nesses cinco anos, ele nunca me deixou descer até essa parte da casa. Sempre foi um lugar proibido para mim. Ele mesmo fazia a limpeza, quando era necessário. Entrava lá sempre com alguma maleta ou pacote.

 

No mesmo instante a cena de Cora com uma maleta suspeita na entrada do quarto de Gold, na noite em que estávamos no navio, me veio à mente. Não poderia ser coincidência.  Comecei a suar frio. Ajeitei os cabelos para trás da orelha. Era bem a cara de Cora não ter registros eletrônicos de todas as suas tramoias. Isso seria facilmente detectado em qualquer investigação. Por isso eu nunca achei nada em seus arquivos de computador. Ela estava fazendo tudo à moda antiga. Os registros eram físicos. E não poderia deixar isso na mansão, meu pai acharia qualquer indício. Guardou com o seu cão de estimação, louco para mais destaque na política e por esse motivo, fácil de ser manipulado. De certo, prometeu a prefeitura a Isaac. Agora o plano de campanha que encontrei enquanto analisava os arquivos dele fazia sentido. E fizeram tudo isso sob as vistas de uma mulher que era controlada com violência física e psicológica. Por isso também colocaram Victoria para trabalhar no escritório, enquanto eu estava afastada, assim não poderia interferir em sua contratação. Um plano perfeito! Eles só não contavam com a possibilidade de Victoria se apaixonar perdidamente por Zelena e consequentemente passar para o meu lado.

 

— Não seria o primeiro buncker usado para guardar dinheiro e documentos que comprovam crimes políticos.

 

— Fazer um buncker na casa do corno não levantaria suspeita, poderia ser visto como uma movimentação natural do partido. — Zelena completou o meu pensamento.

 

— E seria fácil para Cora se fosse descoberta, colocar toda a culpa em Isaac, que é peixe pequeno. Ela está usando-o também. — Liguei mais um ponto.

 

— Eu conheço Isaac, ele deve ter trocado todas as fechaduras.  — Victoria retomou a fala — E o meu maior receio é que mande alguém esvaziar o porão. Precisamos ser rápidas!

 

Apertei os lábios. Ela estava certa.

 

— Só nos resta uma opção. — Falei decidida — Temos uma casa para arrombar esta noite!

 

 


Notas Finais


Depois desse capítulo, eu só queria um piano.

Gatas, o spoiler não sai hoje.

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