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História Cinza das Horas - Um retorno triunfante


Escrita por: Pri__

Notas do Autor


Oi amores, prometo responder os comentários que faltaram do capítulo passado. Vocês foram lindas como sempre, obrigada!!

Tenham uma boa leitura...

Capítulo 72 - Um retorno triunfante


Fanfic / Fanfiction Cinza das Horas - Um retorno triunfante

 

 

Mills

 

 

— Pode pegar a avenida principal. — Disse para Zelena assim que passamos pela placa que demarcava a entrada de Storybrooke.

 

— Não vamos para a sua casa? — Procurou entender.

 

— Vá direto para o escritório. — Respondi sem vontade de estender o assunto.

 

— Sis, depois de tudo o que aconteceu, não prefere ir pra casa?  — Olhou-me preocupada. Fiz que não com a cabeça.

 

Estávamos voltando do aeroporto de Portland.

 

E eu me sentia em pedaços.

 

Não podia ir para a minha casa. Não queria chegar em meu quarto e chorar pelo resto do dia.  Porque era isso que iria fazer se fosse para lá.

 

— Preciso terminar de decifrar os anagramas e bater com as informações do relatório do nosso pai.  

 

Minha irmã apertou os lábios.

 

— Está em negação.  — E a minha expressão que estava ruim, piorou.

 

— Que seja, Zelena! — Disse irritada — Tanto faz! — Acabei alterando a voz.

 

A última coisa que precisava agora, era de alguém me analisando.

 

Minha irmã ia falar algo mais, mas Victoria, que estava no banco de trás do carro, tocou em seu ombro.

 

Zelena calou-se.

 

Ajeitei-me no banco do carona, olhei pelo retrovisor. Robin nos seguia, dirigia a minha Mercedes, e meu pai estava com ele.

 

O tempo o frio de Storybrooke nunca esteve tão cortante. Encostei a cabeça no banco. Observei os demais automóveis, mas a minha atenção não estava ali. Emma tinha ido embora. Repetia ainda sem querer acreditar. Enxuguei o canto dos olhos. “Eu não consigo”. E a sua recusa em dar-me uma segunda chance doía como uma ferida aberta.

 

Sempre desejei que ela crescesse como jogadora. Realmente estava orgulhosa. Mas falhei.

 

Não conseguiria viver isso com ela.

 

Quis protegê-la fisicamente e deixei a responsabilidade afetiva em segundo plano. Fui inconsequente. E o destino cobrou.

 

O quanto estava machucada era imensurável. Mas eu não era a vítima aqui.

 

Tive escolha.

 

Escolhi errado.

 

E estava me odiando por isso.

 

O choro voltou de maneira incessante. Era como se faltasse uma parte de mim. Já sentia uma sensação parecida nos últimos dias. No entanto, saber que ela estava a apenas algumas ruas de distância, trazia um consolo ao meu coração.

 

Agora nem isso eu tinha mais.

 

— Vou passar em casa para colocar uma roupa. — Zelena só voltou a falar depois que estacionou em frente ao prédio do escritório.

 

Virei para observá-la, havia me esquecido que ela estava apenas de robe. Concordei com a cabeça.

 

Destravei o cinto. Saí do carro. Observei Victoria dar um selinho em minha irmã e juntar-se a mim.  Zelena deu partida.

 

Atravessamos a rua em silêncio.

 

— Pensei que iria para casa. — Robin falou quando parei em frente a porta de vidro do prédio. Revirei os olhos.

 

— Já tive essa conversa com Zelena. — Respondi sem paciência.

 

Meu pai destrancou a porta, entrei antes que Robin falasse algo mais.

 

No elevador, vi o meu reflexo no espelho. Eu estava péssima. Todos entraram atrás de mim. Meu pai apertou o botão do andar do escritório.

 

— Nós conseguimos decifrar os anagramas. — Robin me olhou pelo espelho.

 

Enxuguei o rosto. Passei o dedo no canto dos olhos para disfarçar o borrado da maquiagem.

 

— Sei que sim. — Disse ainda o encarando pelo reflexo — Mas eu quero fazer isso!

 

Ele percebeu que não adiantaria mais questionar.

 

Virei e fitei a porta do elevador, esperei até que se abrisse. O silêncio foi absoluto.

 

Chegamos no andar do escritório, descemos.  Meu pai acendeu as luzes, fui direto para a minha sala. Eles me seguiram.

 

— Zelena, guardou parte dos documentos no cofre? — Perguntei retirando o blazer.

 

 — Sim. — Victoria respondeu — Todos aqueles que você indicou.

 

— Ótimo! — Então vamos tentar achar anagramas nesses aqui. — Apontei para as caixas sobre a mesa.

 

— Tudo bem. — Victoria concordou. Pegou alguns papéis e foi em direção ao sofá. Robin, meio contrariado, a seguiu.

 

Meu pai parou em frente à minha mesa, me olhou preocupado.

 

— Não começa. — Desviei o olhar, também retirei alguns documentos da caixa.

 

— Nenhum lugar é suficientemente longe, se lá, está quem amamos. — Levantei a cabeça no mesmo instante para olhá-lo.

 

— Sério? — Franzi o cenho indignada.

 

— Você pode ir atrás dela. — Falou como se fosse simples.

 

— Para ela me dizer com todas as letras que não quer mais ficar comigo? — Alterei a voz mais uma vez, senti os olhares de Robin e Victoria também em mim.

 

— Regina... — Ergui a mão para que ele parasse.

 

— Eu não preciso te contar o que aconteceu naquele aeroporto. Você e muitas outras pessoas foram plateia. Agora só me faz um favor... — Estendi os documentos que tinha em mãos — Me deixa tentar pensar em outra coisa pelo menos por alguns minutos.

 

Ele olhou-me em silêncio. Depois desviou o olhar para os papéis. Deu um longo suspiro, pegou-os.

 

Colocou seus óculos e foi sentar-se na poltrona à frente.

 

Sentei. Apoiei os cotovelos na mesa, levei as mãos ao rosto.  Claro que pegar um avião e ir até à Itália seria fácil. Não era a distância física o grande problema. E se eu chegasse lá e Emma me repelisse? Precisaria reconquistá-la, mas ela deixou bem claro que não estava aberta para isso. Apertei os olhos. Precisava focar em outra coisa.  Engoli o choro.  Endireitei a postura na cadeira. Retirei outros documentos da caixa, passei a lê-los.

 

Perdi um bom tempo nisso. Mergulhei de cabeça. E por algum tempo, consegui manter o foco.

 

Zelena chegou. Acomodou-se ao lado de Victoria. Trabalhamos sem muita interação. O clima permaneceu pesado.

 

Não quis almoçar quando minha irmã fez o convite. A essa altura já tínhamos desfeito mais três anagramas.

 

Zelena e Victoria saíram para comer primeiro, Robin e meu pai foram em seguida.

 

E quando me vi sozinha, me permiti voltar a chorar.

 

Em minha sala, vendo Storybrooke pela janela, meus pensamentos voaram para longe.

 

Eles foram até ela.

 

Desviei o olhar para o meu celular, Emma estava no meio de sua viagem. Fazendo os cálculos por cima, chegaria em Milão por volta das vinte e três.

 

Dei um suspiro longo, nunca quis tanto voltar no tempo.

 

Lembrei da primeira vez em que a ideia de vê-la partir de Storybrooke me doeu. Foi quando ela estava com dores no joelho depois de ter faltado à fisioterapia. A noite em que adormeceu em meus braços. Naquela época, ainda estávamos ganhando intimidade. Para mim era novo qualquer demonstração de afeto.

 

Foi com Emma todos os momentos íntimos de carinho que tive na vida.

 

Fiquei perdida em pensamentos até que reparei no relógio de parede.  Eles já deveriam estar voltando.  Fui rapidamente ao banheiro e lavei o rosto. Respirei fundo algumas vezes até conseguir parar de chorar.

 

Passei um batom vermelho, voltei para a minha sala.

 

Conversei com Henry por mensagem, geralmente ligaria, mas não queria que ele percebesse a minha voz de choro.  Meu filho não falou nada sobre a partida de Emma, então deduzi que ainda não sabia. Preferi deixar como estava.

 

Também falei com Milah, avisei que chegaria tarde.

 

Quando retomei a leitura, escutei o som do elevador.  Olhei para a porta, esperei.

 

— Trouxe a salada de palmito do Granny’s pra você.  — Zelena colocou o embrulho sobre a mesa — Sua preferida! —  Sorriu, mas não conseguiu disfarçar o quanto estava preocupada.

 

— Estou sem fome. — Senti meu estômago embrulhar só de ver a embalagem.

 

— Sis, você precisa comer. — Disse insatisfeita — Faz tempo que não vejo você fazendo uma refeição completa.

 

Respirei fundo.

 

— Vou guardar na geladeira, ok? — Levantei — Daqui a pouco eu como. — Menti apenas para encerrar a conversa.

 

Ela me olhou desconfiada, mas não questionou. Acomodou-se com Victoria no sofá. Fui até a cozinha.

 

Depois de meia hora, meu pai e Robin voltaram.

 

A tarde foi longa e trabalhosa.

 

— Achei outro! — Victoria quebrou o silêncio, veio em minha direção. Mostrou o papel no qual tinha escrito.

 

— The light head — Li baixo — Na verdade é The Headlight — Desviei o olhar para a minha irmã. — O Farol, a empresa de Gold em Augusta.

 

Na verdade, aquele era o anagrama mais obvio entre todos os outros. Só não o havíamos decifrado ainda, porque estava entre os últimos documentos da caixa.

 

Zelena passou a mão pelos cabelos visivelmente incomodada.

 

— Já sabíamos que algo assim iria aparecer. — Falei preocupada com ela.

 

— Tudo bem. — Fez esforço para mostrar indiferença.

 

Olhei para meu pai, que também percebeu a reação dela.

 

Gastamos mais algumas horas nisso. Depois de decifrar todos os anagramas, fizemos a ligação com os contratos que cada empresa de exportação tinha fechado nos últimos anos.  Tudo passou a se encaixar perfeitamente. Meu pai realmente fez um ótimo trabalho coletando dados.

 

Quando terminamos de cruzar os dados da última empresa, o relógio apontava mais de dez horas da noite.

 

Respirei fundo.

 

Que dia duro!

 

— Bom agora você tem tudo o que precisa para colocar cada uma dessas pessoas na cadeia. — Robin falou ao me entregar o último calhamaço que coloquei no cofre.

 

Virei, todos eles estavam próximos à minha mesa.

 

— Agradeço a ajuda. Não conseguiria sem vocês. — Forcei um sorriso que não saiu.

 

— Faríamos tudo de novo, sis. — Zelena abraçou Victoria pelo ombro e olhou com orgulho para a namorada. Não sei se já eram isso, mas pareciam. Victoria deu um sorriso envergonhado.

 

Realmente ela foi a chave para toda a descoberta. Se não fosse por Victoria, estaria procurando no lugar errado até hoje.

 

— Sou grata também por terem ido a Portland na tentativa de ajudar em algo. — Fixei o olhar em Robin — Obrigada por ter me avisado.

 

Ele apertou meu braço de leve como resposta.

 

— Só quero pedir mais um favor. — Falei agora para meu pai — Preciso que reforce a segurança do prédio enquanto essa documentação estiver aqui. — Ele franziu o cenho.

 

— Pensei que fosse à delegacia amanhã mesmo.  — Zelena falou antes dele.

 

— Eu vou! Mas só levarei parte desses documentos. — Desviei o olhar para Victoria — Apenas os papéis que incriminam Isaac.  

 

— Como assim, sis? — Zelena perguntou inquieta — E a Cora? — Aproximou-se de mim.

 

— A denúncia contra Isaac cairá como um aviso para ela. Cora não é burra! Ela não vai mais intrometer-se em minha vida. 

 

Zelena me olhou desacreditada.

 

— Regina, você está pensando em não denunciá-la? — Robin perguntou já que Zelena tinha perdido a fala.

 

— Regina... — Meu pai também começou, mas ergui as mãos pedindo silêncio.

 

— Isso é temporário! Depois que tiver feito tudo o que tenho em mente, entrego esse material à polícia.

 

— Então está pensando em aceitar a proposta de Sidney! — E não era uma pergunta, meu pai leu em meu rosto as minhas intenções.

 

— Se mantivermos Isaac na cadeia, Cora terá que encarar uma disputa leal comigo. — Arqueei uma sobrancelha — E eu sou muito melhor que ela!

 

E não era exagero dizer que os quatro me olhavam em choque. Continuei.

 

— Vou conseguir quem financie a minha campanha. — Coloquei as mãos na cintura — Cora tirou de mim algo muito importante. Então, faço questão de arrancar o Senado das mãos dela!

 

 

***

 

 

Depois de escutar alertas, conselhos ou apenas aguentar algumas caretas contrariadas de Zelena, saímos todos do prédio. Os apelos não tiveram efeito algum, eu não voltaria atrás em minha decisão.

 

Em poucos minutos, estacionava em frente à minha casa.  Zelena e Victoria não vieram hoje.

 

Olhei em meu celular, quase meia noite. Disquei o número de Emma. Estava tentando ligar desde as onze, apenas chamava. Então dessa vez, recusou a ligação.

 

Ela não queria falar comigo.

 

Perdi a noção de quantos minutos fiquei no carro, apenas olhando a fachada de casa, com o celular na mão.  As lágrimas vieram e eu deixei que elas escorressem livremente.

 

Fiquei ali, até perceber que a luz do quarto de Henry estava acesa. A essa hora? Sequei o rosto.

 

Coloquei o celular no bolso. Saí do carro.

 

Entrei em casa e encontrei Milah cochilando sentada no sofá. Estava com um livro no colo.

 

Acordei-a e disse que ela poderia dormir em um dos quartos de hospedes, mas ela optou por não ficar. Observei pela janela, ela entrar em seu carro e dar partida. Subi para ver meu filho.

 

— Henry? — Chamei do início do corredor. Vi a porta do seu quarto entreaberta, mas ele não respondeu. De certo, estava jogando videogame escondido de Milah.

 

Dei mais alguns passos.

 

— É a minha mãe. — Escutei a sua voz, quando estava me aproximando. Franzi o cenho.  — Não, não precisa! — Disse mais alto.

 

Abri a porta devagar, coloquei a cabeça para dentro me certificando do que acontecia ali.

 

Henry estava sentado em sua cama. E ao contrário do que imaginei, ele não jogava videogame.  A tv estava desligada e ele conversava com alguém pelo celular. A posição de sua mão ao segurar o aparelho indicava uma chamada de vídeo.  No mesmo instante entrei no quarto.  Com quem ele poderia estar ao telefone se Robin e Zelena estavam comigo a pouco?

 

— Com quem está falando? — Perguntei séria achando aquilo muito estranho.

 

— Não desliga! — Falou afobado. Ignorou a minha fala — Você nem me passou o nome do canal para eu assistir a liga italiana.

 

E eu não precisava mais de explicação alguma.

 

O frio na barriga foi instantâneo. Desviei o olhar. Passei as mãos pelos cabelos, colocando-os atrás da orelha.

 

“Eu tenho que ir, garoto.  Mando o link por mensagem. Tchau, beijo!”

 

E a voz dela mexia comigo até assim.

 

— Espera, Emma!  — Meu filho falou rápido, mas ela já havia desligado.  Voltei a olhá-lo, sua expressão era de decepção agora.

 

— Desculpe, Henry. — Toquei em sua perna — Não sabia que estava com Emma ao telefone. Não queria que ela desligasse por minha causa.

 

— Por que deixou que Emma fosse embora? — Jogou o celular de lado na cama.

 

Senti um aperto no peito.

 

— Tentei impedir, mas não adiantou. — Respondi e lembrar do momento no qual ela me deixou no aeroporto doeu em minha alma.

 

— Vocês não se falam mais? — Fiz esforço para disfarçar o quanto aquelas perguntas me machucavam.

 

— Emma não atende as minhas ligações. — Sentei ao seu lado na cama.

 

— Tentou mesmo falar com ela? — Peguei o seu braço engessado, coloquei sobre meu colo. Toquei carinhosamente a ponta dos seus dedos.

 

— Algumas vezes.  — Fui sincera. Olhei em seus olhos, mas desviei logo em seguida, não queria que ele me visse chorar.

 

— Emma falou que lá é oito horas da manhã agora.  — Dei um sorriso triste.

 

— É sim, meu amor. — Respondi baixo, minha voz falhou.  Reparei no autógrafo de Emma no gesso de Henry.

 

 — Não fica assim, mamãe.  — Agarrou-se ao meu pescoço — Emma vai atender você.

 

Encostei o nariz em sua bochecha. Duas lágrimas escorreram em meu rosto. Não consegui contê-las.

 

— Quero muito acreditar que sim, Henry. — Falei em um sussurro.  Ele me apertou mais.

 

— Será que Ava vai lembrar de mim quando voltar?  — Afastei para olhar em seu rosto.

 

— É claro que vai! — Fiz um carinho nele — Ela adora brincar com você. — Falei mesmo sem ter certeza. Emma finalmente teria a chance de jogar em um time grande. Por que ela voltaria para Storybrooke?

 

Henry sorriu, apesar de estar visivelmente triste.

 

Conversamos durante mais algum tempo. Precisei me segurar para não chorar copiosamente em sua frente.

 

Coloquei-o para dormir. Liguei o abajur e apaguei as luzes.

 

Tomei um banho rápido.

 

Quando deitei, me entreguei ao choro novamente. E a única imagem que vinha à minha mente, era de Emma indo embora sem olhar para trás.

 

Eu a perdi.

 

 

***

 

 

Swan

 

 

Desliguei o mais rápido que pude. Coloquei o celular sobre o peito. Olhei para o teto do quarto. Bufei!

 

Droga!

 

Foi muita burrice minha achar que Regina não iria ver eu ligando para o Henry a essa hora da noite.

 

Senti meus olhos se encherem de lágrimas. Era normal me sentir assim? Doía demais vê-la do jeito que ficou no aeroporto. Mas ao mesmo tempo, eu tinha uma mágoa tão grande dentro de mim, que não consegui agir diferente.  Respirei fundo, tentei não começar a chorar de novo. Fiz isso durante a maior parte da viagem, e meus olhos ainda estavam inchados.

 

Levantei. Deixei as malas por ali mesmo, depois arrumaria algo no closet. Observei Ava, ela inspecionava todo o quarto.  Cheirava tudo o que via pela frente.

 

Olhei pela imensa porta de vidro da varanda. A vista da mansão de Picci dava direto para o famoso lago do Como. Depois de ver a casa, entendi perfeitamente porque ela fez questão vir para cá e voltar para Milão só quando começassem os treinos. Foi uma hora do aeroporto até aqui, mas chegamos em um paraíso.

 

As águas límpidas do lago ficavam praticamente embaixo da sacada.  Dali dava para ver as balsas em seus percursos tranquilos.  As mansões vizinhas, com suas estruturas tradicionais, denotavam a história do lugar. Pelo que entendi da conversa de Picci com o seu motorista, ela era uma das poucas pessoas que ainda mantinham propriedades privadas ali, a maioria eram hotéis de luxo ou museus.

 

Mais ao fundo, via-se imensos paredões de pedra. As montanhas pareciam que iriam engolir o pequeno povoado. Simplesmente uma imagem espetacular.

 

Sai daquele momento de completo deslumbramento. Virei e guardei o meu celular na gaveta da mesa de cabeceira.  Já tinha avisado a Ruby e tia Ingrid que havia chegado bem. Não queria correr o risco de por impulso atender as ligações de Regina. Estava sendo difícil evitar falar com ela.

 

Era melhor assim. Tentei me convencer.

 

Sai do quarto, assoviei para Ava que me seguiu saltitando. Minha cachorrinha estava eufórica por estar livre depois de tantas horas dentro da caixa de transporte no avião.

 

Andamos pelo longo corredor. Em muito lembrava a minha casa em Nova Iorque, cheia de quadros e esculturas. Mas as obras ali pendiam mais para o Renascimento. Já minha mãe era amante da arte contemporânea.

 

Escutei a voz alta de Picci ainda do corredor. Cheguei à sala de estar e ela falava em italiano com uma mulher que imaginei trabalhar ali. Picci me viu chegar.

 

— Estava falando para Marlena que você vai adorar as massas que ela prepara. — Usou a minha língua. Sorriu.

 

— Preciso mesmo ganhar uns músculos pra deixar o meu ataque mais pesado. — Brinquei.

 

— Quer ficar mais forte que isso? — Picci apertou meu bíceps direito.

 

— Seja bem-vinda! — A senhora se aproximou e também usou o meu idioma. Abraçou-me como se já me conhecesse.  Fiquei vermelha.  Picci se divertiu com o meu constrangimento.

 

— Marlena está com a minha família há anos. —  Picci começou, mas foi interrompida.

 

— Eu criei essa menina... — Falou alto, levantou a mão — Apesar de às vezes ela esquecer de toda a educação que dei. Desmiolada! — Acertou um tapa estalado no braço de Picci que tentou se esquivar, mas falhou.  Ambas gargalharam.

 

— Estou faminta, Marlena! — Picci a abraçou pelo ombro — Melhor irmos comer antes que eu apanhe mais.  — Sussurrou a última parte para mim.  Induziu Marlena em direção à área externa da sala.

 

Ri e meneei a cabeça.

 

Ela estava radiante.

 

Tomamos um café da manhã digno de filme. Com as montanhas praticamente sentadas à mesa. Ava deitou folgada perto de nossas cadeiras e aproveitou tudo o que jogamos para que comesse. Marlena contou histórias da época da infância de Picci. E pela primeira vez, vi Kathryn envergonhada. Mas em nenhum momento pediu para que a senhora parasse. Suas bochechas coravam, ela dava um sorriso largo e apenas se divertia por estar ali.  Não perguntei por pais ou irmãos. De certo, Picci morava sozinha, pois pouco antes de ir para Storybrooke, havia se divorciado do marido.

 

Terminamos de comer, Picci me apresentou às outras moças que também trabalhavam na casa.  Ava fez festa entre elas.

 

Enquanto Marlena coordenava a retirada da mesa. Subimos para descansar.

 

— Você tem exatamente oito horas de sono. — Disse olhando para a tela de seu celular.

 

Parei em frente ao quarto no qual estava hospedada. Abri a porta para Ava, ela correu e subiu na cama.

 

— Como? — Franzi o cenho.

 

— Isso que você escutou! Nós vamos sair à noite.

 

Fiz careta.

 

— Picci, não estou no clima. — Respondi desanimada.

 

Ela se aproximou.

 

— Eu sei que não.  — Falou olhando em meus olhos — Mas ficar trancada no quarto, remoendo o que aconteceu, não vai fazer você se sentir melhor. Deixa-me mostrar os segredos do Lago de Como?

 

Fiquei alguns segundos em silêncio.

 

— Não vou colocar meu celular para despertar. — Não neguei e ela sorriu.

 

— Eu derrubo essa porta! — Disse animada. Bateu uma mão na outra.

 

Entrei no quarto.

 

— Bom descanso, Picci.  — Dei um sorriso contido. Virei.

 

— Bom descanso, Emma. — Respondeu e eu fechei a porta.

 

Ela não me chamou de bela? Pensei ainda próxima à porta.

 

Estranho.

 

 

***

 

 

Mills

 

 

Sentei em minha mesa. Apoiei os cotovelos, passei as mãos no rosto.

 

Foi uma manhã agitada.                                         

 

— Ainda bem que você pediu reforço na equipe de segurança. — Zelena entrou em minha sala segurando a mão de Victoria. Levantei a cabeça para olhá-las — Eles não vão conseguir abafar o escândalo por muito tempo. Daqui a pouco o país inteiro vai saber das provas que vocês entregaram contra o corno.

 

Endireitei a postura na cadeira.

 

— E então a entrada desse prédio vai ficar intransitável de novo. — Victoria falou e sentou no sofá. Zelena pegou uma garrafa de água no frigobar para ela.

 

Victoria estava nervosa. Era natural que tudo que envolvesse Isaac de alguma forma a deixasse insegura. Afinal, foram anos de sofrimento ao lado dele.

 

— Dessa vez, quanto mais repórteres, melhor! — Respondi séria.

 

Eu queria fazer barulho e acabar de uma vez com Isaac! Victoria merecia isso. Storybrooke merecia isso. E acima de tudo, Cora precisava entender o meu recado.

 

Hoje começaria oficialmente a minha vingança.

 

— Victoria, consegue me colocar em contato com Sidney Glass? — Perguntei decidida.

 

— Rápido assim? — Zelena respondeu antes dela.

 

— É o melhor momento!  — Minha irmã fez uma cara de deboche, adorando a situação.

 

— Oportunista você, irmãzinha. — Cruzou os braços.

 

— Eu ainda nem comecei!

 

— Preciso de três minutos. — Victoria levantou, ajeitou o vestido que usava — Vou ligar da recepção. — E saiu como se aquele ainda fosse o seu local de trabalho. Minha irmã e eu a observamos ir em direção ao Hall. Zelena sorriu, pois sabia o que eu estava pensado.  Não disse nada, apenas foi atrás da namorada.

 

Assim que me vi sozinha, soltei o peso do corpo na cadeira.  Recostei a cabeça.  Respirei fundo.

 

Era difícil comprar uma briga desse tamanho, quando a única coisa que eu queria era deitar em minha cama e chorar o dia inteiro. Retirei meu celular do bolso.  Olhei para ver se Emma havia respondido as minhas mensagens. Nada.

 

Nem sequer havia visualizado.

 

Travei o aparelho. Coloquei-o sobre a mesa. Eu nunca imaginei que ela poderia ser tão indiferente.

 

Apertei os olhos. Eles estavam ardendo. Não havia dormido a noite. Depois de ligar, e não ser atendida.  Mandei algumas mensagens. O dia raiou. E como foi difícil disfarçar a expressão de choro com a maquiagem.  Fiz o que pude, não ficou bom. Minha cara estava péssima! Mas não conseguiria fugir muito disso.  Não com o dia que eu estava vivendo.

 

Antes de sair de casa, preparei o café de Henry. Dei duas mordidas forçadas em uma torrada.  Entornei uma xícara de café amargo. Esperei Milah chegar.

 

Encontrei Victoria e Zelena no escritório. Elas me ajudaram a digitalizar toda a documentação. Precisava de cópias de tudo o que havia nas caixas. Principalmente dos papéis que seriam entregues à polícia. Isaac tinha aliados por todo Maine. E eu já sabia que qualquer denúncia que o envolvia, só seria levada adiante se a mídia estivesse em cima. Então era isso o que teriam. Um espetáculo!

 

E com Victoria ao meu lado, a visibilidade seria maior.

                                                                                                                                       

O telefone da minha mesa tocou, sai dos devaneios.

 

Atendi.

 

— Sabia que iria ligar. — Falou um Sidney Glass satisfeito do outro lado da linha.

 

— O que te fez ter tanta certeza? — Ergui uma sobrancelha.

 

— Uma fera, mesmo ferida, não foge à luta! —  Escutei sua risada alta.

 

— Não disse que aceito.  — Fingi indiferença, ele riu mais. Continuei — Pode vir até meu escritório?

 

— Você dá as ordens! — Respondeu voltando à seriedade.

 

— Preciso que esteja aqui em uma hora.

 

— Tem algo acontecendo? — É claro que ele perceberia. Apesar de estar em um partido pequeno, Sidney não era um amador. Anos na política tinham aguçado o seu faro.

 

— Não terá um cidadão do Maine que não falará o nome de Regina Mills hoje! E não será em decorrência de fofocas. — Ele ficou em silêncio por alguns instantes. E mesmo distante, percebi o seu espanto.

 

— Senhora Mills... — Retomou a fala, mas o interrompi.

 

— No meu escritório em uma hora! — E não esperei por resposta. Desliguei.

 

Respirei fundo.

 

A estrutura política do Maine nunca mais seria a mesma.

 

 

***

 

 

Swan

 

 

— São cisnes? — Perguntei observando as margens do lago assim que saímos da mansão de Picci.

 

— São cisnes, Emma SWAN! — Usando um tom brincalhão, Kathryn deu ênfase ao meu sobrenome.

 

Parei por um instante para observá-los. Eram lindos! Suas penas de um branco gelo. Com olhos travessos, eles aproveitavam as migalhas que os turistas ofereciam.

 

Picci parou ao meu lado, colocou as mãos nos bolsos do sobretudo preto que usava.

 

— Estão acostumados com as pessoas.  — Falei achando graça.

 

— Totalmente domesticados. — Sorriu presa à cena a nossa frente — Parecem cachorrinhos.

 

Concordei com a cabeça.

 

Escutamos um rapaz falar alto atrás de nós.  Não entendi o que dizia, vi apenas que balançava algo, pareciam bilhetes.

 

Picci puxou meu braço apressada.

 

— Vem! Vamos perder o barco!

 

— Você não falou que iríamos pegar um barco. — Relutei, ela continuou a me puxar.

 

— E você achou que os segredos do Lago de Como estariam em terra firme? — Respondeu divertida.  Retirou uma nota alta do bolso e estendeu ao rapaz. Pegou dois bilhetes e não esperou pelo troco. Entramos na pequena e charmosa embarcação.

 

Sentamos ao fundo. Esperamos até que os demais passageiros se acomodassem. O barco zarpou.  Ganhamos as águas de um azul cristalino.

 

O sol estava se pondo e isso deixava a paisagem ainda mais espetacular. Aquela mistura de tons no céu, junto às montanhas no horizonte, tiravam o fôlego.

 

— São nove montanhas. — Picci falou ao ver o meu completo deslumbramento. Eu já conhecia a Itália, mas não essa região — Monte Grona, Valchiavenna, San Primo, Bisbino, Poncione di Laglio, Crocione, Legnoncino — Apontou cada uma delas, algumas víamos bem distantes — Ao Sul, Parco Valle Albano e Galbiga. Todas com pequenos povoados históricos a seus pés. Pararemos em Urio, um desses vilarejos. —  Virei para olhar em seu rosto.

 

— Por que em Urio? —  Ela deu um sorriso travesso — O que tem lá?

 

— Vai descobrir quando chegarmos. — Mordeu o lábio inferior segurando o riso.  Apertei um pouco os olhos tentando decifrar o que ela pensava. O que essa maluca planejava?

 

O percurso foi encantador, na precisão integral do termo. Não sei dizer quantas vezes me peguei de boca aberta com aquela exuberante beleza natural. A minha sorte era que Picci estava tão vidrada na paisagem quanto eu, mas era um olhar diferente. Enquanto eu estava abismada com o que via pela primeira vez. Ela tinha em seu olhar a personificação da saudade.  Seus olhos ficaram marejados durante quase todo o trajeto. Ela parecia alguém que vai buscar um ente querido no aeroporto, e o cinge apertado em seus braços.

 

Kathryn estava abraçando a Itália naquele momento. E fazia isso com o olhar.

 

Paramos em um pequeno porto. Pude ver as placas indicando o povoado de Urio.

 

Picci voltou à realidade. Um dos rapazes responsáveis pelo barco nos ajudou a descer.

 

Logo ganhamos um caminho de pedras.  Percebi que essa era uma marca registrada do vilarejo.  A maioria das construções eram feitas de pedras de granito.

 

Depois de subir imensas escadarias, passar por charmosos becos e de reparar em cada uma das construções com imensas janelas, chegamos ao ponto mais alto do povoado.  Olhei a vista do lago lá de cima. Esplendida! A noite já se fazia presente. E a lua, ainda tímida, era refletida nas águas escuras.

 

Vários restaurantes intimistas se perfilavam pelas ruas de pedra. Nas mesas ao lado de fora, casais de namorados tomavam vinho.

 

Estaquei. Picci parou em minha frente. Virou-se.

 

— Viemos a um restaurante romântico, tomar vinho à beira do rio?  —  Ela gargalhou.

 

Franzi o cenho sem entender nada.

 

Picci diminuiu a distância entre nós. Segurou em meus braços.

 

— Não trouxe você para beber. — Negou também com a cabeça — Você não está bem emocionalmente e o álcool não é um bom conselheiro.

 

A minha expressão de dúvida aumentou.

 

— Viemos aqui fazer outra coisa. — Ia questionar, mas ela me puxou pelo braço novamente.

 

Descemos uma longa escada de pedras na lateral de onde estávamos.  Atravessamos uma viela com iluminação de postes coloniais.

 

Avistei água mais adiante.

 

— Como você viu nos folhetos no barco, o Lago do Como tem o formato da letra Y. — Picci virou o rosto para me olhar enquanto caminhávamos — E aqui... — Apontou para mais adiante — Seria uma das pontas da letra. Ou seja, é o início do lago no norte da Lombardia.

 

Ergui as sobrancelhas, tentando entender aonde ela queria chegar com aquela explicação.

 

Demos mais alguns passos.

 

— E o que faz dessa ponta da letra mais especial do que as demais? — Picci parou de caminhar, fiquei logo atrás.  Virou rapidamente e liberou todo o meu campo de visão.

 

— Os pedalinhos! — Apontou.

 

Desviei o olhar para os tais pedalinhos, depois para ela novamente. A gargalhada que soltei foi altamente sonora. Não aguentei. Foi espontâneo. Perdi o ar. Senti minhas bochechas queimarem. E pela primeira vez em semanas, pelo menos nesses instantes de riso, eu esqueci da imensa dor que me acompanhava.

 

— Com esse cenário maravilhoso. — Abri os braços no ar — Essa margem do lago é especial por que tem pedalinhos?  — E uma nova gargalhada veio. E o pior, Picci apenas tinha um sorriso singelo no rosto.

 

Ela falava sério, o melhor para ela ali, eram os pedalinhos.

 

Respirei fundo, tentando parar de rir.

 

— Sério? — Ela apenas fez que sim com a cabeça.  Passei as mãos no rosto, voltando à seriedade.

 

Olhei agora com mais calma, naquele ponto as margens do lago estavam vazias.

 

— Acho que está fechado, Picci. Não tem movimento nenhum.

 

— Kathryn! — Escutamos uma voz masculina.

 

Um rapaz alto e bonito saiu de uma das embarcações à frente.

 

— Marlena avisou que viria.  — Picci sorriu. Eles se abraçaram. Ficaram alguns segundos nisso. — É bom ter você de volta.

 

— Não sabe o quanto eu desejei isso! — Picci respondeu em um tom emocionado. Ele deu um beijo demorado em seu rosto.  Afastaram-se.

 

— Você deve ser a americana. — Estendeu a mão para mim. Sorri, e o cumprimentei brevemente.

 

— Emma Swan.

 

— Emma Swan! —  Repetiu — Prazer, Vincenzo.

 

— O prazer é meu!

 

— Chefe, está tudo certo!  — Soltou a minha mão e andou até o pequeno portão que dava acesso aos pedalinhos — Eu preparei os dois amarelos. Indicou com um gesto.

 

— Obrigada, Vince. —  Picci caminhou em direção aos pedalinhos, a segui.  O rapaz se distanciou.  Voltou à embarcação em que estava antes.

 

— Chefe? — Parei ao seu lado, ela já abria a trava de segurança.

 

Endireitou a postura e me olhou.

 

— É uma grande brincadeira.  — Olhou para o barco onde o rapaz havia entrado — Nos conhecemos aqui, quando ainda éramos crianças. Vince trabalhava ajudando na limpeza dos pedalinhos. Fazia isso para ajudar a mãe a criar os irmãos.  — Voltou a me olhar — Nessa época, ele havia acabado de perder o pai, um pescador das águas doces da Lombardia. Como Marlena costumava me trazer aqui com frequência, foi um lugar que marcou a minha infância. Fui muito feliz em cada uma das tardes que passei aqui. — Observou ao redor, e a saudade fez-se presente em seus olhos mais uma vez — Então com o dinheiro do meu primeiro contrato, comprei os pedalinhos e convidei Vince para cuidar de tudo.

 

— Ainda é aberto ao público?  — Procurei entender.

 

— Gratuitamente durante seis dias na semana. Nas segundas é a manutenção. Não seria justo privar os moradores de Urio e os turistas de algo tão simbólico. Esses pedalinhos fazem parte da história de Como.  — Sorriu — E da minha também!

 

— É bem legal da sua parte. — E pela segunda vez no dia, vi Kathryn envergonhada. Ela desviou o olhar.

 

— Vamos apostar uma corrida! —  Mudou de tom.  Abaixou e se ajeitou no pequeno barco.

 

Aceitei o desafio.

 

— Quero ver ganhar de mim! —  Ela riu alto.

 

Pedalamos forte no início, mas o lago era imenso, mesmo com a delimitação de espaço.

 

— ISSO! — Picci comemorou ao chegar à margem oposta antes de mim. Ergueu os braços no ar.

 

— Eu não posso forçar o joelho sem alongar. — Cheguei logo atrás, passei a mão na perna esquerda.

 

— Chora, Emma! — Debochou. Fui obrigada a jogar água nela. Desaforada!

 

A veia competitiva era algo natural em Kathryn.  Nem mesmo em um pedalinho com a luz natural rarefeita, ela renunciou ao seu objetivo. Picci não desistia fácil, e essa era uma das qualidades que mais admirava nela. Quantas vezes em uma partida quase perdida, conseguimos reverter o placar por resistência dela? Por muito, beirava à teimosia, pois não ouvia Kurt.

 

Permaneci parada, apenas a observando. Sentia as águas mansas balançar suavemente o pedalinho.

 

— VEM COMIGO! — Gritou de onde estava.

 

Sai do meu devaneio de pensamentos, voltei a pedalar.

 

As risadas de Picci eram altas em meio ao silêncio do lago.

 

Só quando a noite se fez completamente presente, é que decidimos sair da água.

 

Foi revigorante.

 

Despedimo-nos de Vincenzo. Fizemos o caminho de volta, dessa vez, subindo a imensa escadaria de pedra na lateral.

 

A lua estava alta agora.

 

Os casais enamorados ainda bebiam e apreciavam a vista de Como.

 

 

***

 

 

Mills

 

 

— Então isso são registros que provam um cartel envolvendo as empresas de exportação nos portos do Maine? O cartel que Henry sempre insistiu que existia?  — Sidney, sentado no sofá à minha frente, passou a folhear todas as cópias da documentação. Claro que sendo amigo de longa data de meu pai, ele saberia das suspeitas — Tradeways, empresa da família de Isaac Heller, foi beneficiada por esses contratos?

 

— Durante anos a Tradeways recebeu um valor superior ao que seus serviços de exportação valiam. Esses papéis explicam cada detalhe das transações feitas em Portland.

 

Ele olhou para mim estarrecido.

 

— Sabe a bomba que é isso, não sabe? — Colocou uma das mãos sobre o peito.

 

— Sei! — Cruzei as pernas.

 

— Uma investigação pode atingir não apenas Isaac ou o seu ex-partido, essas provas podem ir muito além.

 

— É exatamente isso que eu quero!  — Fui firme.

 

— E a sua mãe?  — Analisou a minha expressão.

 

— Não a incriminei ainda, mas vou adorar vê-la pisando em ovos para não ser pega.

 

— Ainda?  Há algo mais que eu precise saber? — Desviei o olhar para Victoria que estava sentada à minha mesa, arrumava alguns papéis que usaríamos em seguida.  Ela parou o que estava fazendo e me observou.

 

Voltei a encarar Sidney.

 

— Não! Apenas que a versão original desses documentos, já foi entregue à polícia. E que mesmo com os ótimos advogados que Isaac tem, não saíra da cadeia tão cedo. 

 

— Então a denúncia já foi feita? — Perguntou surpreso.

 

— Foi, e por isso mesmo não posso perder tempo. Quero acordar neste instante a minha candidatura ao Senado representando o seu partido. — O sorriso em seu rosto foi largo — E o anúncio oficial da minha pré‐candidatura para o ano que vem, será em uma hora no auditório no centro da cidade.

 

O sorriso se desfez.

 

— Mas nenhum membro foi avisado. — Começou a falar rápido, ajeitou a sua gravata no seu tique costumeiro — Por que a pressa?

 

— Porque não é apenas um anúncio de pré-candidatura, é uma denúncia contra uma organização criminosa envolvendo políticos tradicionais de todo o estado.  E eu quero que a população saiba por mim.

 

— Não vai esperar uma declaração oficial da polícia?

 

— Eu mesma vou divulgar parte dos documentos à imprensa. — Falei decidida. Sidney não segurou um riso debochado agora.

 

— Bem que seu pai disse que você tinha colhões. — Neguei com a cabeça. Era a cara dele falar isso — Mas vai anunciar a sua entrada para o partido e sua pré‐candidatura sem nem ao menos ter um assessor? Quem vai ficar no lugar de Cora em sua campanha?

 

Descruzei as pernas. Apoiei as mãos nos braços da poltrona, levantei e caminhei até a minha mesa.  Os dois acompanharam os meus passos com o olhar.

 

Parei ao lado de Victoria, segurei em seu ombro.

 

— Victoria Smurfit, minha nova assessora política. — Ela arregalou os olhos, deixou cair os papéis que segurava sobre a mesa.

 

Sidney não disfarçou a expressão satisfeita.

 

— A ex-mulher de Isaac Heller, isso é uma jogada de mestre! — Alternou o olhar entre mim e Victoria ainda de queixo caído.

 

— Victoria também participará de entrevistas com foco na denúncia do cartel e nas acusações que envolvem exclusivamente Isaac. — Virei para olhá-la — Em meu plano de campanha faço questão de incluir políticas públicas que tenham como objetivo dar apoio às mulheres vítimas de violência física e psicológica, assim como, campanhas de conscientização para que as pessoas não se calem diante desse tipo de crime.  — Seus olhos marejaram — Victoria não será apenas minha assessora, ela será a voz que falará por milhares de mulheres.  — Apertei meus dedos em seu ombro — Isso se me der a honra de aceitar o convite.

 

Duas lágrimas escorreram em seu rosto, ela as enxugou rapidamente.

 

Levantou da cadeira ainda com os olhos fixos nos meus.

 

— Eu não sei se dou conta, nem tenho formação para isso. — Respondeu insegura.

 

— Não tem a formação, mas tem a prática. — Segurei em suas mãos — Acha mesmo que eu não sabia que Cora deixava a parte mais trabalhosa dos seus afazeres sobre a sua responsabilidade? — Ela ficou sem jeito. Continuei — Você conhece praticamente todos os políticos do estado, todas as coligações. Fora que conseguiu organizar um evento no auditório principal da cidade, convocar representantes dos principais veículos de comunicação da região. Tudo isso em menos de uma hora. — Apertei seus dedos nos meus — E olha que não estou em alta com a impressa do Maine há um tempo.  — Victoria acabou rindo — Não tem ninguém mais apta para essa função do que você.  Por favor, aceite!

 

Ela me olhou em silêncio por alguns instantes.

 

— Agradeço a oportunidade. — Foi a sua vez de apertar as minhas mãos — Prometo me esforçar ao máximo. — Sorri e a abracei.

 

— Eu sei que será perfeita em tudo. — Respondi confiante.

 

— Ok! Equipe completa! — Falei para Sidney assim que sai do abraço de Victoria — Agora vamos para o auditório.

 

Ele levantou animado do sofá.

 

— A Evil Queen está de volta! — Fechei o cenho por completo.

 

— Não me chame assim! — Há quanto tempo eu não escutava esse apelido infeliz?

 

— As pessoas vão falar. — Ele pegou o seu casaco que estava no braço do sofá. Peguei o meu blazer.

 

— Eu não quero saber. — Disse irritada, ajudei Victoria com os documentos.

 

— É inevitável. — Respondeu cheio de escárnio. Victoria segurou o riso.

 

Revirei os olhos.

 

— Vamos trabalhar! — Apressei o passo até o elevador.

 

Eles me seguiram.

 

 

***

 

 

— Então a senhora veio à público para denunciar a família Heller? — Uma das jornalistas que estava na coletiva de impressa, ergueu a mão e perguntou.

 

— Não! — Passei os olhos pelo auditório. O lugar estava cheio, e pessoas ainda chegavam. Para uma coletiva marcada às pressas, foi uma surpresa a imprensa aparecer em peso — O documento que acabaram de receber mostra contratos superfaturados que a exportadora Tradeways fechou nos últimos anos. Podem analisar com calma datas e valores. Quais são os membros da família Heller envolvidos nesse crime de desvio de dinheiro, as investigações da polícia vão dizer.

 

— Wetd Days que aparece neste documento... — Um outro jornalista interrompeu, olhou mais de perto para ver melhor o papel que havia recebido — Era o nome usado para registrar as transações em nome da Tradeways?

 

— Exatamente!  — Segurei no microfone e me ajeitei melhor na cadeira para responder — Depois de muito analisar a documentação a que tive acesso, descobri que esse codinome, na verdade é um anagrama.

 

Outro jornalista levantou a mão, fiz sinal para que perguntasse.

 

— E como teve acesso a essa documentação? — Procurei pelo olhar de Victoria, ela estava sentada ao meu lado na bancada.

 

— Victoria Smurfit. — Apontei para ela — Ex-esposa de Isaac Heller, desconfiou de algumas atitudes dele quando ainda estavam juntos. Depois de muito procurar, encontramos esses documentos escritos a mão.

 

— Quais hábitos a levaram a desconfiar que seu marido estava envolvido em desvio de dinheiro público? — Um outro repórter levantou de seu lugar e perguntou um pouco exaltado. Talvez nesse instante a maioria ali havia percebido que a história era grande.

 

— Isaac chegava com maletas e se trancava em um cômodo específico da casa. — Victoria apertou as mãos uma na outra, claro que falar de Isaac em uma coletiva de imprensa que provavelmente correria o país inteiro a deixaria nervosa — Passava horas lá. Fora as ligações que ele não atendia perto de mim. Às vezes, o escutava citar esse anagrama que está no documento que vocês receberam. Foi uma junção de fatores que me fizeram desconfiar. Mas nunca tinha lido registro algum.

 

— Então só conseguiu ter acesso a esses documentos agora que ele está preso acusado de violência doméstica?  — O mesmo jornalista continuou.

 

Victoria me olhou e respondeu o óbvio.

 

— Sim. — Voltou a observar aquele mar de jornalistas a nossa frente — Isaac cometia agressões regulares. — Falou e sua voz tremeu um pouco — Isso me intimidava, não tinha coragem de mexer na maioria das coisas dele.

 

— O que a fez mudar?  — Uma voz veio do fundo do auditório, não consegui distinguir quem havia perguntado, acho que Victoria também não.

 

Ela me olhou novamente.

 

— A convivência com mulheres que me deram apoio. — Sorri orgulhosa — Pessoas que me ajudaram a ter coragem de denunciá-lo.

 

— Então a sua denúncia é contra Isaac Heller, senhora Mills?  — Uma moça na primeira fileira, questionou.

 

— O fato de toda a documentação estar em seu poder. Haver esse testemunho de Victoria sobre as ligações.  E a maior beneficiada ser a empresa de sua família. Sim! Há uma grande chance de Isaac Heller estar envolvido nesse cartel. Por isso mesmo a permanência preventiva dele na prisão já foi decretada.

 

— Cartel? — O jornalista mexeu-se inquieto na cadeira — Então há mais empresas envolvidas nisso?

 

Segurei o sorriso no canto dos lábios. Olhei para meu pai que estava sentado ao lado de Sidney mais ao fundo do auditório.  Chegamos aonde eu queria.

 

— A investigação oficial está a cargo da polícia agora.  — Encarei diretamente a câmera de um dos jornalistas à minha frente — Mas pelo que tive acesso nesses registros, analisando a ordem cronológica dos acordos, tudo dá a entender que existem mais empresas assinando contratos ilícitos de exportação.  — Arqueei uma sobrancelha — E eu prometo a cada cidadão do Maine que não vou descansar até que todos os envolvidos nesse desvio de dinheiro público, estejam atrás das grades. — Queria que Cora entendesse a mensagem.

 

Sim!  Eu usaria essa situação como palanque.

 

— E o que você, Regina Mills, ganharia pessoalmente com isso?  A volta da empresa da sua família ao topo da lista de principais empresas de exportação dos portos do Maine? Todos no estado sabem que a Mills Company perdeu espaço no mercado.

 

Desviei olhar para o meu pai novamente.

 

— Não.  — Fui sincera — Apenas quero que a justiça seja feita. Mesmo porque, se esse cartel realmente existe, parte da verba do meu mandato também foi desviada, e isso é uma coisa que não aceito!  — Falei com ódio.  Outro recado para Cora.

 

Nada como um escândalo fresco para o outro cair no esquecimento. O entusiasmo dos jornalistas era tão grande que nenhum deles fez sequer menção de citar o meu envolvimento com Emma. Confesso que comecei a coletiva esperando por isso logo de cara.

 

— Agora que está sem partido acha que será mais fácil fazer as denúncias? — Ao escutar essa pergunta, fiz um gesto para que Sidney viesse até mim. Ele ajeitou sua gravata, levantou. Todos no auditório o observaram.

 

Ele subiu os degraus do palco. Juntou-se a nós na bancada.

 

— Na verdade, faria essas denúncias independente de qual partido estivesse. E em qualquer momento da minha carreira. — Tentei ser o mais transparente possível — Não mediria esforços, nem acobertaria ninguém, independente de quem fosse. Sou a favor da justiça imparcial.  Todos que cometem crimes devem pagar por seus erros.  — E nessa hora eu já estava com a mão espalmada sobre a mesa, elevei o tom de voz. Por um instante, me esqueci de que não estava em uma tribuna.  Recuei — É apenas uma coincidência eu ter saído do meu antigo partido recentemente.  — Voltei a um tom ameno, mas ainda firme — Se as investigações da polícia levarão a outros nomes do meu antigo partido, isso só o tempo irá dizer.

 

— Sidney Glass está aqui por que apoia as suas denúncias?  —  Uma voz mais ao fundo perguntou. Procurei com o olhar e, pude ver nessa hora, alguns membros do partido de Sidney entrar no auditório. Acomodaram-se nas últimas fileiras. Usavam camisas e portavam faixas do partido.  De certo, Sidney os avisara por telefone.

 

Respirei fundo. Essa era a hora.

 

— Sidney Glass está aqui porque apoia a minha denúncia. — Ele me sorriu, voltei a encarar as câmeras e os olhares curiosos dos repórteres — Mas também porque hoje estamos anunciando uma parceria. — A expressão de assombro foi geral. No máximo eles estavam deduzindo que Sidney havia me ajudado a elaborar o relatório que incriminava Isaac.  O Burburinho começou. Continuei a falar — Para vocês da imprensa e para os eleitores do Maine, eu anúncio a minha pré-candidatura agora com Sidney Glass ao meu lado! — Falei mais alto.  — Estiquei o braço, Sidney entendeu e fez o mesmo, segurou em minha mão sobre a bancada. A euforia dos membros do partido foi enorme.  Alguns repórteres, que não haviam notado a presença deles, viraram curiosos.

 

Sidney ergueu minha mão no ar. Uma chuva de flashes atrapalhou momentaneamente a minha visão.  Sorri para as fotos.

 

A essa hora já não conseguia distinguir as vozes dos repórteres, elas se misturavam.  Frases desconexas não se completavam.

 

Já esperava por isso.

 

Soltei a mão de Sidney, gesticulei pedindo silêncio.

 

— Um de cada vez! — Falei mais alto. Esperei alguns segundos, a agitação foi diminuindo. Retomei a fala. Vi todas as mãos dos repórteres levantadas diante de mim — Farei questão de responder todas a perguntas — Senti ainda alguns flashes em minha direção — Mas antes disso quero dizer que Victoria Smurfit também faz parte desse time.  — Sorri para Victoria, ela retribuiu — Victoria será minha assessora nessa nova jornada. E o rosto de nossa luta contra a violência doméstica. — Mais fotos. Mais excitação. Mais perguntas que se misturaram.

 

Olhei para meu pai que nos observava com júbilo.

  

Vi Zelena no fundo do auditório. Pelo horário, tinha vindo direto da escola. Juntou-se aos membros entusiasmados do partido nas últimas fileiras. Eles agitavam bandeiras, e ela, sem conhecer nenhum deles, passou a ajudá-los. Pela maneira como gesticulava, dava para perceber que falava alto.  Neguei com a cabeça. Minha irmã, independente do lugar, não conseguia ser discreta.

 

Esperei até que o silêncio se fizesse presente novamente, então continuei.

 

Foi uma coletiva longa. Uma das maiores da minha carreira.

 

Cora foi assunto para indagações. Tentei contornar e falar o menos possível sobre ela.

 

Também fomos questionados sobre o partido ser pequeno e ter pouca verba para uma campanha desse porte. Demonstrei a minha confiança em mudar isso até o início do próximo ano. Eu precisava de parceiros que investissem em minha candidatura. E iria conseguir isso!

 

Victoria com o seu carisma e beleza natural cativou a maioria dos jornalistas. Chegou uma hora da entrevista que todas as perguntas foram direcionadas a ela.

 

Sidney também participou efetivamente. Ouso dizer que nunca esteve em tamanha evidência.

 

Fomos aplaudidos no final e tivemos dificuldade para sair. A maioria dos repórteres queriam uma declaração exclusiva.

 

Da escada do auditório, já do lado de fora, pude ver que a rua estava lotada.  A transmissão ao vivo que Victoria fez durante toda a coletiva em minhas redes sociais surtiu efeito. Os meus eleitores vieram em peso, só não conseguiram entrar no auditório, porque a capacidade máxima já havia sido atingida.

 

Gritaram meu nome algumas vezes em coro. Acenei e sorri.

 

Era bom sentir esse carinho. Depois de tudo o que aconteceu, ainda tinha muita gente que confiava em meu trabalho.

 

Os seguranças do auditório ajudaram Victoria e eu a chegarmos até o carro. Zelena foi pelo lado oposto. Não conseguimos nos aproximar dela. Se eu soubesse que seria assim, tinha levado a minha própria equipe de segurança.

 

Já dentro do carro, ainda escutamos alguns repórteres batendo nos vidros.

 

Revirei os olhos. Victoria achou graça da situação.

 

Coloquei o cinto e dei partida.  Com muita dificuldade, consegui abrir caminho. Eram muitas pessoas.

 

Ganhei a rua seguinte. Vi a multidão sumir pelo retrovisor.

 

Soltei o ar aliviada.  Senti um conforto em minha alma.

 

Regina Mills estava de volta!

 

E foi um retorno triunfante.

 

 

***

 

 

— Vocês foram perfeitas!  — Robin veio sorridente em minha direção — Abraçou-me — Vi tudo pela live.

 

— Poucas vezes eu vi aquele auditório tão lotado. — Falei ainda abraçada a ele — Foi positivo! — Separamo-nos.

 

— Olha se não é a assessora que roubou a cena! — Brincou e abraçou Victoria — Parabéns, Cora nunca conseguiu isso. — Acabei rindo. Cora deveria estar se corroendo. Minha mãe como assessora, conseguia no máximo sorrir amarelo para os repórteres.

 

— Mamãe! — Henry desceu as escadas com os cabelos molhados — Eu vi você no YouTube! — Sorri e o abracei.

 

— E eu estava bonita? — Dei um beijo em seus cabelos.

 

— Linda! — Falou mais alto.

 

— Acho bom. — Toquei com o dedo indicador de leve em seu nariz.

 

— Dispensou a Milah? — Perguntei para Robin.

— Sim. — Afirmou também com a cabeça — Ela saiu tem uma hora. — Ia responder, mas a campainha tocou.  Virei-me para abrir a porta. Henry foi em direção à Victoria.

 

— Tia Vic, também vi você!  — Parei por um instante. Olhei instantaneamente para Victoria que pareceu tão surpresa quanto eu. Mas pelo sorriso largo que deu em seguida, percebi que tinha adorado a maneira como Henry a havia chamado.

 

Abraçaram-se. Abri a porta.

 

— Pensei que não conseguiríamos chegar aqui. — Sidney falou, parecia casando. Meu pai riu. Dei passagem para que entrassem.

 

Robin cumprimentou a ambos.  Henry agarrou-se ao avô. Caminhamos até o sofá e nos acomodamos ali.

 

— Agora é esperar o contra-ataque. — Meu pai começou a falar — Cora não vai deixar barato.

 

Virei para Victoria.

 

— Ela já deu alguma declaração falando sobre o meu retorno à disputa ao Senado?

 

Victoria pegou o tablet aonde minhas redes sociais estavam conectadas.

 

— Não! Nada ainda!

 

— Cora pode ser tudo, menos burra. —  Cruzei as pernas — Com certeza ela entendeu as minhas indiretas durante a entrevista. Ou ela joga limpo, pela primeira vez nessa campanha, ou eu entrego o que tenho sobre ela.

 

— Então você realmente tem algo? —  Sidney bateu na perna.  Apertei os lábios por ter falado demais.

 

Robin percebeu que aquele momento não era para ser discutido na frente de Henry.

 

— Ei, campeão, vamos no balanço dos Handisons? — Os vizinhos haviam feito um balanço em uma árvore que ficava na entrada do parque, próximo de onde morávamos. Muitas crianças costumavam ir até lá. Principalmente aos domingos.

 

Meu filho sorriu largamente.

 

— Vamos! — Falou animado. Desde que havia feito a cirurgia, Henry não fazia muita coisa além de jogar videogame.

 

— Espera na varanda. — Robin levantou e foi em direção à cozinha — Vou pegar um refrigerante. — Quase dei um sorriso debochado. O máximo que ele iria encontrar na geladeira seria um suco de laranja natural.

 

Henry beijou meu rosto e foi em direção à saída.

 

— Hey, bebê da titia. — Zelena abriu a porta antes dele.  Apertou-o com força.

 

— Vou no balanço com o papai. — Ela bagunçou os seus cabelos.

 

— Daqui a pouco, vou lá também. —  Meu filho sorriu mais.

 

— Legal! — Saiu do abraço de Zelena.

 

 Minha irmã esperou que ele saísse e fechasse a porta.

 

Zelena deu alguns passos pela sala. Ergueu a garrafa de Champanhe que trazia consigo.

 

— Vamos comemorar! — Disse escandalosa. Victoria levantou, foi em sua direção. Segurou em seu rosto, deu-lhe um beijo apaixonado. Elas não estavam escondendo de ninguém que estavam juntas — Estou muito orgulhosa de você! — Zelena falou olhando em seus olhos assim que cessaram o beijo. Victoria ficou levemente corada — De vocês duas, na verdade! —  Olhou-me.  Sorri para ela.

 

— Regina, vou ficar um tempinho com Henry lá. — Robin voltou da cozinha — Assim vocês podem conversar à vontade. — Parou e olhou para Zelena — Guarda Champanhe pra mim. — Brincou.

 

— Só se me ensinar a abrir fechaduras. — Ela entrou na brincadeira.

 

— Mamãe, olha quem eu encontrei na varanda. — A voz de Henry interrompeu aquele momento. Viramos para olhá-lo. E se eu já estivesse com a taça de Champanhe nas mãos, teria derrubado.

 

Pisquei algumas vezes. Parecia que meu inconsciente queria se certificar de que era real.

 

David Nolan estava parado na porta da sala da minha casa e segurava a mão do meu filho.

 

— Ele disse que é o pai da Emma. — Falou sorridente, deu mais alguns passos trazendo David para dentro de casa.

 

Não esbocei reação, apenas observei aquilo tentando entender a lógica.

 

Desviei o olhar, e todos na sala tinham a expressão tão perplexa quanto a minha.

 

— O senhor sabe quando a Emma vai voltar? — Henry virou de frente para David e não escondeu a esperança de escutar que seria em breve.

 

David me olhou, depois desviou para observar Henry.  Soltou um longo suspiro. Ajoelhou-se à sua frente.

 

— Eu não tenho a resposta para essa pergunta, Henry. — Chamou-o pelo nome e eu deduzi que eles haviam se apresentado enquanto estavam na varanda — Mas quero muito que seja logo. — Meu filho fez uma carinha de frustração — Pode me chamar de David. — Deu um sorriso simpático que jamais pensei que veria no rosto de David Nolan. Franzi o cenho estudando aquela interação.

 

— Emma nunca falou de você. Tem certeza que é o pai dela? — Henry usou toda a inconveniência que aprendeu com Zelena.

 

— Henry! — Recuperei a fala em um impulso, dei um passo à frente.

 

— Não! — David levantou a mão em minha direção — Tudo bem.  — Virou para meu filho novamente — Emma está magoada comigo.

 

— Ela está chateada com a mamãe também. — Os dois me observaram e eu desviei o olhar momentaneamente.

 

— Às vezes com atitudes erradas, machucamos as pessoas que amamos.  — Escutei David falar, então ergui a cabeça — Mas agora estou tentando fazer o certo.

 

Henry ia dizer algo mais, mas Zelena deu alguns passos rápidos pela sala, aproximou-se deles.

 

— Amor da tia, vamos no balanço agora? — Entregou a garrafa de Champanhe para Victoria. David levantou reparando em minha irmã.   Zelena segurou a mão de Henry.

 

— O papai não vai com a gente? —  Henry perguntou, mas Robin pareceu não escutar. Ele analisava David nesse instante.

 

Zelena puxou meu filho em direção à varanda.

 

David ainda fazia esforço para ver o seu rosto. De certo, tentava lembrar de onde a conhecia. Não tinha feito a ligação com a imagem da mulher que me ajudou a impedi-lo de fazer um escândalo no navio de Gold por causa do vestido curto que Emma usava na ocasião.

 

Minha irmã fechou a porta.

 

David voltou a me olhar.                                        

 

— O que faz aqui? — Fiz a pergunta óbvia.

 

Ele retomou a feição séria que havia se desfeito ao falar com meu filho.

 

Deu alguns passos, acompanhei com o olhar.

 

Sentou-se no sofá que estava vazio, como se eu o tivesse convidado.  Olhou momentaneamente para meu pai, depois para Sidney. Então fixou atenção em mim.

 

— Vi a sua coletiva.  — Olhou-me nos olhos.

 

— O Maine inteiro viu! — Dei de ombros, tentei encurtar logo aquilo.

 

Ele ergueu as sobrancelhas. Talvez não esperasse a rispidez. Eu não estava para meios sorrisos.

 

— Então vamos direto ao assunto. — Desabotoou o paletó, cruzou as pernas — Cora sabotou o carro da minha filha. Por isso quero saber de quanto você precisa para pisar no pescoço dela nessas eleições?

 

 

 

 

 


Notas Finais




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