História Circo Borboleta - Namjoon e Seokjin

Jin estava na rua quando Mendez o encontrou.

Namjoon também.

Jin havia acabado de sair da faculdade.

Namjoon não sabia se já havia passado por uma dessas.

Jin estava desolado.

Namjoon também.

Tão diferentes e tão iguais que Mendez não hesitou em juntá-los.

“Conheço alguém de quem você pode gostar muito”, disse ele, a ambos.

Jin era um exemplo clássico de um diplomado desempregado - havia um papel bonito, em algum lugar de sua mala, que dizia que o garoto era administrador. Ele estava esperando por uma oportunidade de administrar algo e acabou por administrar temperos em uma cozinha improvisada dentro de um trailer velho.

Namjoon, viciado em qualquer coisa que o deixasse mais viciado, só podia fumar maconha - regras de Mendez, por razões até hoje um tanto obscuras - e, com isso, vinha a fome. Muita fome. Fome por um batalhão.

Jin teve de aprender a cozinhar na marra para o colega de trailer.

No início, sentiu-se ainda mais derrotado: era formado em administração, mas estava preso em um trailer velho cozinhando para um drogado. Por qual motivo havia se esforçado tanto? Preocupando-se com notas e trabalhos? Para acabar administrando comida?

“Eu não sei mais o que fazer, ele não para de comer!”, reclamava, vermelho de nervoso, com qualquer pessoa que atravessasse seu caminho em um supermercado ou feira. E, por mais surpreendente que fosse, as respostas raramente eram ofensivas ou mal educadas.

“Você pode fazer, de entrada, pães e massas, porque assim ele ficará cheio rápido” e “Aposte nas fibras! Ele ficará satisfeito por mais tempo!” eram algumas das respostas que Jin recebia e que fizeram de sua obrigação uma verdadeira fixação.

Era desafiador ter de pensar e organizar tudo para fazer “render mais com menos”, ainda mais porque o circo começou a se apresentar fora da Ásia. Cozinhar era divertido e o resultado, prazeroso. E vale lembrar que Namjoon também amava isso.

Não só a comida de Jin simplesmente divina, as histórias que ele contava durante as refeições eram sensacionais. Por vezes, Namjoon até mesmo duvidava que era possível alguém falar tanto de sua própria vida para um desconhecido - Jin devia ter algum poder, só pode.

Jin conseguira um emprego, novos hobbies, novos amigos e um melhor amigo.

Namjoon fora salvo.

Depois que a maconha também fora proibida - qual era o problema de Mendez, afinal? - Namjoon ficou mais absorto com suas histórias, procurando-as ferrenhamente em qualquer lugar e, não poderia negar, bares temáticos se tornaram um ponto fraco. Seu interesse excêntrico levou-o então a pesquisar mais sobre coisas diferentes e até úteis, de certa forma: bebidas.

“Hoje teremos horchata, uma bebida que povos antigos que habitavam a região do atual México chamavam de ‘bebida dos deuses’ e vou colocar melaço porque, como era de se esperar, não tem rum aqui”. Namjoon disse ao soltar o livro sobre astecas e retomar uma cartilha de drinks que havia conseguido em um bar temático crente.

“Eu lembro de ter tomado um desses semana passada, em Orlando… Temos extrato de baunilha aqui?”, completou, pegando seu copo de drinks na geladeira e rumando para os armários.

Jin estava mantendo a “dispensa” do circo inteiro no trailer. Estavam tão cheios de coisas que sabia que precisaria sair dali alguma hora para liberar espaço. Namjoon, por sua vez, não estava ajudando ao manter o estoque de frutas e xaropes no teto. Contudo, não reclamava, pois simplesmente amava o novo vício do amigo: era ainda mais divertido ter de conciliar seus pratos aos drinks de Namjoon.

“Aposto que ficaria uma delícia com totopos e salsa mexicana!”, completou o mestre-cuca do Circo Borboleta.

Namjoon soube, depois de observar um pouco, que os tais ‘totopos com salsa mexicana’ eram Doritos com salsa comum. Não comentou porque se divertia com tudo aquilo, estava feliz, afinal: sabia que passariam a noite comendo salgadinhos, tomando uma bebida mexicana sem alcool e conversando sobre trivialidades. Uma noite memorável cujo maior arrependimento poderia ser, talvez, não ter feito mais horchata.