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História City Of Roses - Capítulo 10


Escrita por: stilinskidrauhl

Capítulo 11 - Capítulo 10


Roseli Honorem

O pequeno tinir do fragmento prateado foi o único som projetado no cômodo pequeno, logo depois de um grito seco que mais parecia ter rasgado a minha garganta. Mesmo depois de todos os ocorridos estranhos que vem acontecendo só nessa primeira semana em Portland, o fato de que a maldita bala me deu a sensação de estar queimando por dentro e do meu corpo não ter simplesmente rejeitado-a é o que mais me atormenta. Como isso aconteceu?

Não que eu seja burra. Eu sei o que aconteceu. Mas como eles sabiam? 

A ardência continuava mas parecia estar diminuído. Eu não estava reclamando de dor ou chorando, Justin poderia olhar para meu rosto agora e encontrar uma grande interrogação estampada no mesmo. Então logo me obriguei a fingir uma cara de dor e soltar alguns resmungos pela boca. Isso poderia dar certo.

De relance, meus olhos foram para Justin que analisava a bala concentrado e soltava um pequeno suspiro frustrado. O que ele estaria pensando? Será que ele desconfia de alguma coisa? Isso seria chato no momento, já que teria que inventar alguma mentira de merda. E seria doloroso para ele, por que provavelmente eu o levaria para um passeio não muito agradável perto de algum penhasco ou alguma coisa parecida. Adolescentes da idade do Justin cometem suicídios diariamente jogando seus corpos com algum tipo de "problema", de penhascos ou precipícios muito parecidos com o que eu levaria Justin se ele estivesse descobrindo algo que não o cabe saber. Apareceria nos pequenos noticiários como "suicídio" se acharem o corpo. SE acharem. 

Mas talvez ele não esteja pensando em nada disso.

— Nós vamos simplesmente deixar "isso" aberto? - Justin olhou na direção do meu braço, onde havia um pequeno buraco e algumas gotas de sangue brilhavam escorrendo pelo resto do braço.

Levantei me curvando um pouco pela breve sensação de queimação, fui até a beirada da cama e apoiei um dos pés na ponta do velho lençol áspero e com o braço que felizmente funcionava, puxei o tecido para cima. Sem muito esforço, as linhas foram se soltando e logo me rendendo um bom pedaço de pano, que logo tratei de entregar a Justin para que ele terminasse o "curativo".

— Eu não vou pagar a mais por isso. - a voz de Justin soou despreocupada.

— Nossa, quanto cavalheirismos. - ele enrolava o pano em volta do ferimento. — Eles têm reformas demais a se fazer por aqui, não vão ligar para a roupa de cama.

— A roupa de cama era a melhor parte do quarto. E eu sou um cavalheiro. - uma puxada forte para fixar o nó do "curativo" me fez olhar para seus olhos castanhos com ódio e talvez uma leve expressão de dor mas logo a disfarçando com um pequeno sorriso e um breve "obrigada".

— Você mora com alguém. - acabei de perceber que ele não parecia se importar com quem o esperava em casa. Talvez não tenha alguém.

— Bem, depende do ponto de vista. - ele pareceu ficar tenso e levou sua mão até os fios de cabelo, os puxando fracamente. — Meu pai morreu a alguns anos e... minha mãe não fica muito em casa. Trabalho. - completou segundos depois. — E Logan? Ele parece ser um irmão bem protetor. - desviou a conversa para mim. Será que falar sobre sua família o incomoda? 

— Digamos que ele se preocupa o suficiente. Ele só quer me proteger. Eu não conheci meus pais e foi ele quem lidou com a perda deles e me criou, ele só está tentando me dar o amor de família que ele não teve. 

Justin ouvia atentamente mas ao mesmo tempo parecia estar pensando em outra coisa. O que seria? 

— Pelo menos temos alguma coisa em comum. - ele disse enquanto tirava os sapatos e sentava na cama.

— O que? A falta de pais. - eu disse rindo e o vi concordar meio risonho.

— Isso te faz falta? - e olhei querendo entender melhor a sua pergunta. — Ter um pai? - eu sentia o cheiro da raiva que ele exalava e isso me deixava intrigada, embora sua expressão calma não demonstrasse nada além de um rosto serene e tranquilo. Ele é sem duvida um bom ator. 

— Logan nunca menciona nosso pai. Bem, teve uma noite em que eu perguntei sobre ele, tudo parecia um grande filme de drama. Mas em um pequeno resumo, meu pai era um fanático pelo trabalho que quando soube que minha mãe tinha uma doença, à abandonou. Pouco tempo depois ele voltou. Disse que poderia lidar com a tal doença e a ajudaria a achar uma saída. Só que um dia minha mãe descobriu que estava gravida de mim, e meu pai pareceu surtar com o fato de ter outro filho, algo que envolvia o trabalho, eu não sei direito. Ele não queria o filho. Então minha mãe fugiu. Ele provavelmente nem sabe que eu existo, minha mãe estava fraca demais para ter um bebe. - suspiro. — Ele provavelmente acha que eu morri junto com ela... - Justin parecia confuso e tinha uma expressão de pena no rosto. Isso já não estava triste o bastante? 

Essa é a única e legitima história de infância que eu tenho. Omitindo a parte em que isso aconteceu a mais de um século. De acordo com Logan, foi tudo o que aconteceu. Se eu me sinto culpada por ser o motivo de Logan não ter tido um pai ou uma infância digna? Ele me faz acreditar o bastante que a culpa não é minha. Qual foi! Nós dois sabemos que isso não é verdade. Se eu não tivesse nascido as coisas poderiam ter sido "normais" para ele. 

Justin mantinha sua expressão enigmática que eu daria milhões para descobrir o que se passava em seus malditos pensamentos. Nessas horas, ler mentes me parecia muito mais interessante do que se transformar em uma grande bola de pelos. 

— Depois de contar a trágica história da minha vida para você, eu esperava no mínimo alguma reação. - digo tentando amenizar o momento silencioso.

—  É só que... nada, eu só estava pensando. - ele passava uma das mãos sobre sua cocha e olhava para o nada. — Então você não sente falta. 

— Como posso sentir falta de uma coisa que eu nunca tive? - Inclinei o corpo até minhas mãos tocarem as botas e as arranquei, logo as arremessando em algum canto do quarto. — Não que eu nunca queira ter conhecido meu pai, isso já ficou na minha cabeça por um tempo, eu só não acho que preciso de um no momento.

— Já pensou na possibilidade de ele estar procurando você? - Ele apoiou os cotovelos nas pernas enquanto me encarava.

— Ele provavelmente está morto. - desviei meus olhos dos seus me levantando e indo em direção a cama, Justin faz o mesmo me seguindo com os olhos — E eu não penso sobre meu pai. Nem sei por que estou falando sobre ele.

— Mas talvez ele...

— Podemos por favor, não falar dele. - eu puxava os lençóis com certa raiva e acho que Justin notou porque o assunto acabou por ali. 

Eu não estava com raiva por não ter um pai, só que toda vez que eu penso que ele teve a coragem de abondar minha mãe, quando ela mas precisou dele ao seu lado, pelo simples fato de não querer outro filho, isso me deixa frustrada. 

— Olha. Isso não tem nada a ver com você, ok? - ele assentiu me olhando de um jeito reconfortante. — Eu só...

— Está tudo bem. - ele preparava uma espécie de cama improvisada no chão. — Eu sei mas do que ninguém como é não ter um pai. Não sei porque insisti no assunto.

Lancei um breve sorrindo e me deitei na cama passando as cobertas sobre meu corpo, Justin foi até o interruptor acabando com a pouca iluminação do ambiente deixando somente a luz da lua que entrava pela fresta da janela. Ouvi seus passos até seu "cantinho" e me remexi na cama incomodada. 

Eu estava parecendo uma morta deitada de barriga para cima e as mãos do lado do corpo enquanto encarava o teto. Estou com insônia ou é só a minha consciência pesada que não me deixava dormir? O barulho de Justin se revirando no chão estava arranhando as paredes do meu cérebro como se alguém lá dentro estivesse gritando "VOCÊ VAI REALMENTE FAZE-LO DORMIR NO CHÃO?". Uma cena que passava pela minha cabeça era a da manhã seguinte, quando Justin acordar reclamando de dores na coluna por conta do chão duro e eu levantar da fofa e macia cama e encarar o espelho do banheiro lendo a palavra "culpada" caligrafada com letras garrafais e maiúsculas na minha testa.

Bufei revirando os olhos e batendo os braços na cama engatinhando até a beirada da mesma onde Justin, ainda acordado, encarava o teto.

— Você pode dormir na cama, se quiser. - ele encarava meus olhos e a luz da lua fazia suas iris caramelo terem um brilho especial. 

Me afastei voltando para o meu lado da cama e virei para o lado contrário de Justin, pude sentir o colchão afundando e ouvir sua respiração pesada seguida de uma risada fraca.

— A culpa te atacou cinco minutos depois do que eu tinha previsto, eu quase acreditei que fosse um monstro. - segurei uma breve risada e senti meus olhos pesarem.

— Boa noite, Justin.

...

O estrondo vindo da porta fez com que eu e Justin levantássemos num pulo. O velho fumante da noite passada estava vermelho e ofegante, o mesmo carregava uma espingarda nas mãos e por sorte não mirava em nós. Eu olhei para Justin, que tinha os cabelos bagunçados e o rosto inchado. Ele parecia tão atordoado quanto eu.

— SAIAM! VOCÊS PRECISAM IR EMBORA AGORA! - o velho gritava vindo na minha direção, colocando suas mãos enrugadas nos meus ombros e me chacoalhando. Mas que merda ele estava fazendo, eu já estava acordada.

— O que houve? - Justin perguntou exasperado. — Sei que falamos que iríamos sair cedo, mas não achei que fosse vir aqui nos expulsar. 

— Vocês não estão entendendo. - a intensidade com que o velho me olhava me passava seu desespero. — Eles estão aqui. - sussurrou como um verdadeiro psicótico e com as mãos tremendo apontou para a janela que tinha as cortinas meio abertas, deixando a pouca claridade entrar.        

Levantei cautelosa ainda desconfiada do senhor com espingarda a minha frente. Andei até a janela em passos lentos e com os dedos, afastei a cortina que cobria uma pequena parte do vidro, tendo a visão de dois carros pretos como os que nos seguiam na estrada no dia anterior, em seguida, a porta de um dos veículos é aberta e eu posso enxergar atentamente o ser careca gigante coberto por tatuagens saltar para fora da lataria.

Eu me afasto rapidamente da janela com medo de ser vista, volto meu olhar para o velho que continuava a tremer e olho  para Justin apenas assentindo, ele pareceu entender. Calço minhas botas o mais rápido possível, pego minha jaqueta e Justin está fazendo as mesmas coisas. Meu olhar vai até o pequeno criado mudo ao lado da cama e observa as chaves da caminhonete. Mas que merda!

— Meu carro! - exclamei olhando para Justin que já estava de pé, pronto a minha frente. — Não temos gasolina.

— Não podemos ficar aqui! Eles podem entrar a qualquer momento. - ele bufa de raiva e passa as mãos pelos fios loiros.

— Pegue. - uma chave é arremessada em minha direção fazendo com que eu a agarrasse. — Saiam pelos fundo e usem essa chave para abrir as correntes dos galões de gasolina na parte de trás do hotel. - o velho fala e nos dá passagem para sair do quarto. 

Eu encaro Justin e nós saímos, não antes de agradecer o senhor, que resmungar algo como "andem logo". Nós descíamos as escadas rapidamente pulando um degrau ou dois, assim que chegamos na recepção, a silhueta de caras armados na porta principal nos fez parar. Justin puxou meu copo de volta e pôs seu corpo rapidamente sobre o meu nos prensando na parede, ele colocou seu dedo indicador sobre seus lábios indicando que fizesse silêncio - como se eu fosse falar - o som do pequeno sino sobre o porta de entrada anunciou a chegada dos homens, o barulho de botas batendo no chão de madeira e alguns cochichos abafavam nossas respirações entrecortadas.

Silêncio.

Passos em nossa direção. 

Uma sombra chega bem perto.

— Eu não gosto de marmanjos armados entrando pela porta da frente do meu estabelecimento. - suspiro aliviada. A voz do velho, ainda sem nome, fez com que a pessoa perto de nos pegar não desse nem mais um passo. — Não traz boa visibilidade para os negócios.

— Velho Abraham, não são nossas armas que afastam pessoas desse lugar. - o homem caçoa. E eu tinha certeza que essa voz vinha do ser careca. — Indo caçar?

Nós tínhamos uma visão boa de Abraham de onde estávamos. Ele ainda segurava sua espingarda e tinha uma expressão severa no rosto, demonstrando total segurança do que fazia, nada parecido com o velho assustado de minutos atrás.

— Apenas limpando minha arma para a próxima temporada de veados. Um velho precisa estar preparado para surpresas desagradáveis.

— Isso foi uma ameaça? - o homem perguntou com desdém.

— Não será uma, se colocar seus homens armados para fora daqui. 

Precisávamos de um distração. De acordo com Abraham nós teríamos que ir pelos fundos e isso inclui passar pela recepção e chegar até a porta atrás do balcão. Eles eram muitos, com certeza nos veriam. 

— Certo velho, como quiser. - uma movimentação se fez presente e novamente o barulho da porta pode ser ouvido junto com o sininho irritante. Justin me olhou sorrindo esperançoso e eu retribui. Talvez haja alguma chance de sair daqui. Encostei minha cabeça no peito de Justin e abafei uma risada, mas logo me recompus.

— Você ainda não me disse o motivo de sua agradável visita. - Abraham conseguia ser um cara bem audacioso quando queria. Pude ouvir uma leve risada de Justin e rapidamente levei minha mão para seus lábios, ele se assustou com meu gesto e arregalou os olhos rapidamente.

— Você não deveria rir quando tem alguém tentando te matar. - eu sussurro e ele revira os olhos arqueando as sobrancelhas. 

— Soube que recebeu hóspedes inusitados ontem a noite. - o som da bota pesada passeando pelo ambiente era nítido.

— Digamos que receber hóspedes seja o meu trabalho. 

— Eu acho que você não está colaborando. - silêncio.

Abraham finalmente saiu da posição em que estava e começou a andar pelo cômodo. Ele dava voltas e falava sobre as pessoas que passaram por aqui ontem, o homem careca parecia não dar a miníma para o senhor e continuava a andar pelo local até estar mais perto do balcão de atendimento. Um barulho vindo de onde não tínhamos visão fez com que o cara se afastasse e resmungasse algo raivoso. Era a nossa chance. 

Puxei a mão de Justin e em silêncio fomos para o balcão passando por ele indo em direção a porta, pronta para girar a maçaneta quando...

— Eu quero as chaves dos quartos. - me abaixei atrás do balcão puxando Justin desengonçadamente.

— Elas estão todas ali. 

— Está faltando uma. - seus passos estavam mais próximos.

— O quarto está em manutenção. 

— Então vamos ver oque você anda concertando por lá. -  sua voz era firme e seus passos pesados se afastaram levando Abraham junto. 

Justin se levantou e correu até a porta girando a maçaneta. Era um pequeno escritório com um computador velho, papéis espalhados por toda parte e duas portas, me apressei até a porta mais próxima e a puxei com força dando em uma espécie de estacionamento. Eu olhei para os lados em busca da gasolina.

— Estão ali! - ouvi Justin gritar ao meu lado e correr até alguns galões de gasolina que estavam acorrentados.    

Retirei as chaves do bolso da jaqueta e me abaixei, logo destrancando o cadeado. Nós pegamos dois galões, o suficiente para voltar para casa, fomos andando até onde tínhamos deixado o carro. Justin fez questão de encher o tanque enquanto eu esperava dentro do veículo pronta para dar partida assim que ele entrasse. 

 O caminho até em casa foi tranquilo dessa vez, sem perseguições. Eu ainda penso sobre quando Justin vai começar a fazer perguntas como "porque aqueles homens estavam nos perseguindo" e eu teria de inventar alguma coisa nada relacionada a lobos. Porque esse só podia ser o único motivo pelo qual eles estavam me procurando, eu já vi caçadores antes, obvio, mas Logan sempre me ensinou a camuflar 'isso". Por falar em Logan, eu ainda não tinha esquecido do sermão que levaria quando chegasse em casa, ele provavelmente vai me trancar em algum calabouço e não me deixar sair nunca mais. 

— Finalmente chegamos. - Justin diz assim que estaciono a caminhonete em frente a minha casa. — Você dirigi sempre tão devagar assim? - o olhei incrédula.

— O meu carro está todo detonado! Demos sorte de ele chegar aqui. - meu bebê estava realmente muito arranhado e amassado. Outro tópico para Logan citar durante o discurso de motivos para eu nunca mais sair de casa.

— Talvez eu seja legal e te ajude no concerto. - ele disse me seguindo até a entrada de casa. 

— Então eu espero que você seja bem legal. - eu parei de andar fazendo com que Justin trombasse em minhas costas.  — Duas perguntas. Porque está me seguindo ao invés de ir para sua casa? E porque a moto do Logan não está na garagem?

— Deixei minhas chaves de casa em cima da sua mesinha de centro. - ele espera alguns segundo, pensa um pouco e inclina a cabeça para ter a visão da garagem.  — E eu não tenho ideia do porque a moto não está lá. Talvez ele tenha saído para te procurar, eu não sei. 

— É, pode ser. - continuei caminhando até a porta de casa.  — Você vai pegar as chaves e sair. ok? - ele colocou as mãos para cima como estivesse se rendendo e assentiu.

— Péssimo jeito de agradecer quem salvou a sua vida. 

Nós entramos em casa e eu até poderia dizer que estava tudo normal, mas simplesmente não estava. Todas as coisas estavam reviradas e quebradas, havia pedaços de vidro no chão e vazava água da cozinha, alguém tinha quebrado a torneira. Eu subi as escadas correndo em busca de Logan em algum cômodo da casa, mas nada. 

Voltei ao andar de baixo e vi Justin voltando da cozinha, ele me olhou balançando a cabeça como quem dizia que Logan também não estava lá. A casa foi invadida e destruída e ele não estava aqui nem em lugar nenhum, tinha sumido, tinha desaparecido, ou então...

— Justin, eu acho que Logan foi levado. 


Notas Finais




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