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História O mais belo jardim - Veuller vermelho


Escrita por: VickdeNariz

Notas do Autor


Não acredito q consegui atualizar a tempo aaaaah

Vcs já viram Crepúsculo? Então, cof, o universo da fic é bem parecidinho vcs vão ver. Os lobisomens são do tipo daquele filme e eles são grandões mesmo (lembram do Jacob do lado da Bela no Lua Nova né?) E eles são tão rápidos quanto vampiros. Não se surpreendam muito

AGORA SIM, VAMO PRO CAP

Capítulo 7 - Veuller vermelho


Fanfic / Fanfiction O mais belo jardim - Veuller vermelho

Apesar de já estar de tardinha e com uma incômoda dor de cabeça, Sukazu acordou com uma disposição gritante. Saiu da cama acompanhado de um bocejo e se dirigiu até o banheiro do quarto. Não foi surpresa quando viu que a banheira já estava prontamente cheia de água morna e inundada pelo aroma de sais de banho, e o lycan agradeceu por já poder cair direto no banho quente. Despiu-se da roupa abarrotada da festa que permanecera após se deitar e relaxou o corpo na banheira espaçosa, encostando-se na borda fria e levemente incômoda para sua temperatura normalmente elevada.

Sozinho no silencioso banheiro, foi impossível impedir a mente de voar na noite anterior, no baile que havia sido mais divertido do que o esperado – talvez por certo penetra ter marcado presença e o presenteado com uma dança lycan? Havia inesperadamente reencontrado o amor de sua vida agindo outra vez com rebeldia por fugir escondido do castelo, conversou com alguns parentes e convidados espalhados pelo salão, dançou com Nina, com Lelouch...

Só de lembrar da dança... ah, se sentia nas nuvens. 

O cabelo do vampiro balançava de um lado para o outro, sua respiração alta e desregulada batia contra sua própria respiração e seus lábios que se abriam cada vez mais até rir... era lindo. 

Simplesmente não existia nada mais belo do que o sorriso ou o melodioso som da risada de Lelouch. Ele era perfeito até o fio de cabelo mais birrento.

Amava o vampiro e o queria tanto para si que era quase sufocante não poder ficar com ele por ser de uma raça diferente e por serem ambos homens. 

Se fosse o contrário, raças iguais e gêneros diferentes...

— Não. — Balançou a cabeça negativamente, entrando mais na banheira e tapando até a boca com a água. — Não serei idiota por querer tal coisa só para ficarem juntos, como se já não pudéssemos com uma fuga deste país. 

Amava Lelouch pela sua personalidade e não deixaria que nada no mundo o fizesse deixar de ser quem é, aquele vampiro bonito e centrado, ciumento e orgulhoso, com um desejo de liberdade quase tão grande quanto o próprio amor do lycan.


Leck mich im Arsch

Laßt uns froh sein!

Murren ist vergebens!

Knurren, Brummen ist vergebens,

ist das wahre Kreuz des Lebens,


Uma voz feminina cantava abafada, suave e lenta, cheia de sentimento, uma melodia tão agradável que imediatamente fez com que o lycan se erguesse um pouco da água, como se isso fosse ajudar seus ouvidos atentos na letra da música.


Das Brummen ist vergebens,

Knurren, Brummen ist vergebens, vergebens!

Drum laßt uns froh und fröhlich, froh sein!


A porta do banheiro – esquecida aberta – deu passagem para Nina, que caminhava já nua para dentro do cômodo, tão concentrada na música que quase não percebeu alguém já estar na banheira, a olhando com curiosidade e admiração.

— Ma-majestade! Não sabia que estava no banho — disse, envergonhada, tentando cobrir as partes íntimas.

— Sua voz é linda. — Sorriu.

— O-obrigada, eu não costumo cantar para outras pessoas. Achei que você já havia descido para o café. — Se remexeu, incomodada.

— Os sais de banho são realmente fortes — concordou, voltando a encostar-se na borda da banheira. — Não vai entrar?

— En-entrar?

Suzaku afirmou positivamente com a cabeça, fazendo sinal para a água morna.

A garota, mesmo que hesitante e envergonhada, caminhou lentamente até a banheira e se sentou de frente para o rei, cobrindo até os ombros com água.

— Não precisa se esconder desse jeito, eu não vou fazer nada com você. — Balançou a mão em descaso. — Se for por vergonha, saiba que vi tudo por um milésimo de segundo.

— Santo Deus... — Se escolheu.

— Não se preocupe, já até esqueci o que vi. — Riu. — Que música estava cantando?

— Leck mich im Arsch, Mozart.

— As músicas dele são excelentes.

— Certamente. Eu sempre quis tocar e compor como ele, viajar pelo mundo e cantar minhas músicas — dizia empolgada, porém logo sua animação se esvaiu, dando lugar a tristeza. — Mas, infelizmente, minha realidade é outra, e eu estou amarrada a um monte de obrigações. Não posso fazer nada sem autorização de um homem da família.

— Deve ser difícil.

— Muito. – Suspirou, apoiando o cotovelo na banheira e a mão no queixo. — O que mais quero é ser livre.

O lycan piscou os olhos, confuso, olhando a expressão triste da noiva que encarava a espuma do sabonete, parecendo pensar.

Aquele vontade de liberdade parecia tão gritante, que por um momento viu Lelouch ali, cabisbaixo e sem esperança de um dia conseguir aquilo que mais queria. Isso dava-lhe vontade de abraçá-la e ajudá-la.

— Às vezes eu queria ter nascido homem para não depender de um.

Não havia a abraçado – jamais permitiria um contato tão íntimo com ambos os corpos nus –, mas com certeza causou um arrepio na garota quando a segurou com firmeza pelos ombros nus e a forçou a olhar para si, tão sério que a deixou assustada.

— P-perdão, Suzaku?

— Não tem como eu saber como vocês mulheres se sentem no nosso tipo de sociedade, mas imagino como é e sei o quanto é ruim você não poder fazer o que quer. Eu conheço alguém que sofre a mesma coisa. — Se lembrou de Lelouch. — Não! Todos nós, herdeiros dos quatro grandes reinos, sofremos isso! Não se sinta mal compreendida, pois você não é a única algemada à responsabilidades. — Parou um minuto, tomando fôlego. — Você é uma garota incrível, tem uma voz linda e é claro que você pode ser quem você quiser! Mas se o motivo para querer mudar seu gênero for por causa desse tipo de coisa, continue sendo você mesma de corpo e alma e prove que ser homem ou mulher não tem nada a ver com seu potencial.

— Suzaku...

Os olhos da garota estavam marejados e por pouco não cedeu ao impulso de abraçar o noivo, mas se conteve e apenas sorriu fraco, seu rosto agora sendo traçado por finais lágrimas.

— Obrigada.




* * *




Kallen arrumava os pratos e talheres em seus devidos lugares no armário, parecendo anormalmente feliz para a segunda ruiva na cozinha, quem tudo observava desconfiada a servente trocar ideias com C.C.

— E acontece que agora não sei o que vestir. Não que eu tenha muitas roupas, mas quero estar bem bonita esta noite. Apesar de que muito provavelmente eu vá me sujar depois.

— Confesso estar pensando no que vestir também — admitiu, surpreendendo Kallen que conhecia a jovem há tempo o suficiente para saber que ela não se importava muito em ser vaidosa. — Agora que estamos em junho, seria tolice desperdiçar este dia.

— Concordo. Ah, será que vai chover hoje? Já estamos no período de chuva, mas até agora nada. — Fez um quase bico, olhando o tempo pela pequena janela dali. — Espero que hoje caía uma chuva daquelas! Traz mais clima para data.

— Fora o som agradável das solas de sapatos batendo pelas ruas molhadas — murmurou C.C, fechando os olhos e inspirando o ar com força. — É bom e relaxante.

Shirley, que até então só olhava e escutava tudo calada, se assustou quando a esverdeada tornou a abrir os olhos, mas desta vez com olhos tão vermelhos quanto sangue.

— E-eu vou dar uma volta — avisou, se levantando da cadeira tão rápido quanto saiu da cozinha, com medo da vampira acabar perdendo o controle e tentar fazer algo com si.

Ela sabia sobre o que as garotas estavam falando, sabia que dia e "data comemorativa" era aquela: Caça às Terras Mortais.

A cada lua cheia acontecia dos vampiros e lycans invadirem reinos humanos, fosse para matar a sede ou apenas destroçar um corpo – já que essa era a verdadeira natureza dos lobisomens, contida dentro de suas consciências meio-humanas –. Uma comemoração assustadora quando se leva em conta o grande número de corpos jogados pelas ruas, com sangues drenados, corpos estraçalhados e olhos revirados.

Shirley havia ido para o jardim, lugar que já fora recebida logo de cara por uma brisa fria que a arrepiou da cabeça aos pés, fazendo com que instintivamente abraçasse o próprio corpo e esfregasse os braços como forma de se aquecer.

Mesmo que a ruiva soubesse que as duas amigas eram vampiras, doía vê-las falando tão abertamente da alegria que sentiam por poderem cravar os dentes em um pescoço humano, sem se preocuparem com a dor e morte do indivíduo, porque era sempre assim afinal. Não matar a pessoa mordida faria com que ela virasse um monstro, porém mais descontrolado e selvagem em sua aparência nem mais tão humana quanto antes. Por isso existia uma regra para todos os vampiros e lobisomens em troca da "diversão": toda vítima atacada e mordida deve ser morta o mais rápido possível.

Humanos eram fracos e não tinham chances de se protegerem com suas armas, por isso só restava a tarefa para os sobrenaturais, enquanto os humanos somente podiam rezar e serem espertos para evitarem serem mortos naquela noite específica.

Shirley pensava ser muito sortuda por ter nascido em berço de ouro, já que a família real não podia ser tocada por aqueles monstros, mas era inevitável a culpa e vergonha por deixar seu povo morrer em troca de sua vida que nem valorizava tanto depois de descobrir que seria mandada como "oferta de paz" para Orientis Sanguis, porém logo voltava a pensar na sua sorte por não ser mandada para nenhum outro reino – principalmente ao dos lycans, que era considerado bem mais assustador se considerado oferenda por lá.

A ruiva caminhava distraída pelo jardim do castelo,até ouvir a voz melodiosa e suave que tanto fazia seu coração bater mais forte. Se aproximou mais um pouco de onde vinha a voz e viu Lelouch sentado em um banco de concreto do jardim, entretido na conversa com Rollo.

— Por favor, nunca caçamos juntos e eu queria muito aproveitar este dia antes de você sabe o quê — choramingou. — Por favor! Por favor! Por favor!

— Não sei se estou com ânimo para caçar — foi sincero, coçando a nuca. — Mas vou tentar pegar alguma presa.

Shirley suspirou, decepcionada ao ouvir aquela fala, e imediatamente deu as costas aos vampiros, caminhando desta vez para dentro da cozinha novamente.

Poderia ser que as garotas havim entendido o porquê de ter saído rápido da cozinha, e não queria parecer alguém ruim e egoísta para elas, afinal, elas precisavam daquele tipo de sangue para se sentirem vivas com aquele sentimento de excitação raro para vampiros.

— Deixa aí no chão enquanto vou pegar o dinheiro.

A ruiva parou na porta dos fundos da cozinha, vendo que além de Kallen e C.C, também havia um homem aparentemente camponês ali, curvando-se para colocar duas caixas grandes no chão.

— Pode levar essas caixas para o armazém, C.C?

— Está bem. — Deu de ombros, pegando com facilidade as caixas que pareciam pesadas. — Achamos que não voltaria tão cedo, Shirley.

— Desculpem por ser tão infantil — se desculpou, envergonhada.

— Tudo bem, não devíamos ter falado daquele jeito sobre hoje. Não na sua frente, pelo menos — disse Kallen, compreensiva, fazendo carinho no cabelo da humana. — Faça companhia para esse idiota que logo voltaremos para conversarmos.

Shirley concordou com a cabeça e viu a servente sair da cozinha enquanto a esverdeada entrava em uma porta do cômodo e descia escadas que davam em algum lugar que ela não sabia qual era.

— Ei, ruivinha, você é humana não é? — perguntou o homem, puxando uma cadeira para se sentar.

— Sim.

— Hm... — A examinou de cima a baixo, coisa que fez a garota ficar envergonhada e desconfortável. — Você é bem bonita, e o corpo também é muito bonito. Lelouch tem sorte de ter uma bolsa de sangue como você.

— Obrigada... eu acho.

— Dando em cima de outra mulher de novo, Kaname? — questionou C.C quando subiu as escadas, de mãos agora vazias.

— Claro que não, só estou a elogiando. Não posso?

— Ninguém toca na bolsa de sangue do rei — disse Kallen ao aparecer na cozinha. — Vê se desta vez guarda o dinheiro, ao invés de gastar com outro encontro que vai ser chutado.

— Isso magoa, irmã — choramingou, ofendido, aceitando o pagamento. — Mas tudo bem, acho que vou mesmo dar um tempo dessas mulheres exigentes que não querem viver casadas com um feirante.

— Faça-me o favor, vá chorar longe daqui — reclamou C.C.

— Você ainda está brava por causa daquilo? Me desculpa, sério. Você sabe que eu não tive culpa — disse, seu semblante triste.

— Vá embora, Kaname. — Cruzou os braços, desviando o olhar.

— Tudo bem. — Suspirou, derrotado. — Tchau irmã, tchau senhorita...?

— Shirley.

— Shirley. Foi um prazer conhecer vossa bolsa de sangue — brincou, piscando um olho galante para a ruiva, coisa que a fez rir, sem graça.

Assim que o homem saiu da cozinha pela porta dos fundos, a ruiva se voltou para as garotas com uma grande interrogação na cabeça.

— Por que foram tão más com ele?

— Meu irmão não se toca que as mulheres com que sai só querem um jantar de graça. Ele é idiota e gasta dinheiro com jantares caros.

— Mas precisava falar daquele jeito com ele?

— Meu dever como irmã é avisar, ora. Se eu não abrir os olhos dele, quem vai? Nossos pais não são muito presentes.

— E você? — Olhou para a esverdeada, quem ainda tinha os braços cruzados. — Você parece ter raiva dele.

— E tenho, porque meu encontro com ele foi um desastre — respondeu, com as sobrancelhas franzidas só de lembrar.

— Você sabe como ele é desastrado, não foi por intenção que ele derrubou comida quente em você — explicou Kallen, tapando a boca para esconder o riso.

Se lembrava da garota ter ido diretamente até a sua casa depois daquilo, completamente suja, falando que só uma doida aceitaria ficar com um homem daquele, que suja a roupa da pretendente logo no primeiro encontro. 

Se C.C já não se importava com roupa e cabelo, quem dirá a moça fina que ele sonhava em ter como esposa?

— Até imagino. — Riu Shirley, mesmo que tentando segurar a risada com a mão na boca.

— Está bem, agora se apresse em fazer o almoço. Não irá demorar para dar a hora de sairmos — avisou a Kallen, quem imediatamente concordou com a cabeça e continuou rindo enquanto preparava a comida.



[...]




* * *




A tarde havia passado terrivelmente rápida, a noite caiu fortemente chuvosa depois de vários dias apenas com ameaças de chuva, e todos os vampiros se reuniram em um local específico antes de começarem a correr com sua velocidade sobrehumana em direção à Veuller, o país humano mais próximo.

Lelouch estava em um canto separado dos demais vampiros, junto de Euphemia, quem tagarelava há quase meia hora sobre o quão entusiasmada estava, já que aquela seria a primeira vez que caçaria.

— Será que vou encontrar Suzaku? Queria tanto vê-lo em sua forma lupina — dizia, sonhadora e sussurrado, para somente o noivo ouvir.

O vampiro apenas revirava os olhos, não gostando nem um pouco da fala da rosada. Queria esganá-la, mas não podia.

Todos os relógios programados para aquela hora tocaram alto e quase no mesmo segundo que a futura-rainha terminou a frase, dando alívio ao rei que imediatamente se levantou e preparou-se para correr junto com os outros vampiros que já haviam avançado, porém ele havia sido segurado antes disso.

— Espere, Lelouch! Quero ir com você.

— Nenhum lycan vai tentar te atacar, Euphemia, fique tranquila. — Revirou os olhos, soltando-se da garota. — Este é um dos únicos dias em que podemos estar no mesmo lugar que os lycans sem que eles possam nos atacar.

— Mas...

— Até depois — despediu-se com um aceno de mão e então avançou rapidamente em direção ao vilarejo humano.

Assim que Lelouch chegou no comércio, viu casas sendo invadidas e pessoas sendo arrastadas aos gritos de suas residências. Lycans e vampiros estavam em todo canto que olhava, judiando dos humanos desesperados para se soltarem e correrem o mais rápido que pudessem para longe dali. 

Pobres coitados. O rei acabou por decidir sair dali. 

Estava barulhento, cheio e intenso demais para o seu gosto. Gostava de sossego, privacidade de preferência e menos agressividade. 

Passou pelas ruas tomadas de terror e dicidiu tomar caminho por um beco ali perto. Enquanto andava, pensava se veria Suzaku em sua forma de lobo andando por ali. Achava estranho nunca tê-lo visto naquela comemoração em todos o anos que se passaram sem se verem, mas rapidamente se lembrou que antes ele vivia em constante observação sob as ordens de Charles.

Talvez eu o encontre desta vez, pensou, sorrindo instintivamente.

De súbito, um barulho soou do beco onde estava, seguido logo depois de vozes apressadas e medrosas:

— Levanta, por favor, Rivalz! Eles estão vindo!

— Isso dói... — resmungou de dor, alisando o tornozelo em volta do corte fundo que havia sido causado por um caco de garrafa do chão.

— Vamos antes que... — Paralisou, encarando o rapaz de cabelos negros e olhos entre o roxo e o vermelho que a encarava. — Ri-Rivalz...

O azulado olhou para trás e arregalou os olhos quando viu o vampiro com as presas de fora quando abriu a boca para falar:

— Não deveriam estar trancados em casa? É perigoso ficar aqui à essa hora.

— Vampiro... — Engoliu em seco, apavorado demais para se dar conta que havia ignorado a pergunta.

Lelouch olhou para a garotinha e depois para o rapaz machucado, analisando a situação antes de suspirar e tomar uma decisão.

— Mande-a embora.

— Não vou sair daqui sem meu primo! — gritou, exaltada, abraçando o corpo do azulado mesmo que seu corpo trêmulo deixasse o medo óbvio.

O rapaz engoliu em seco, e foi olhando para a perna e o sangue que escorria em abundância que chegou a conclusão que não conseguiria correr. E mesmo se conseguisse, não era idiota de começar uma corrida contra o vampiro.

— Você irá poupá-la se ela for embora?

— Rivalz!

— Não garanto que outro vampiro ou lycan não a encontre e mate-a — disse, sincero.

Queria pedir que pegasse sua vida em troca da segurança da garota, mas enquanto se encontrava caído e perdendo sangue, ao se afogar nos olhos vazios do desconhecido, percebeu que não estava em condição de exigir nada, porque não era somente por olhá-lo de cima que ele era superior. Ele era um vampiro, e Rivalz um humano; a diferença era clara.

— Jiang, procure um lugar seguro para passar o resto da madrugada — disse para a garota, ainda com os olhos no estranho.

— Ma-mas e você?

— Não vou a lugar nenhum com a perna desse jeito, fora o cheiro do meu sangue que pode atrair qualquer um — explicou, escondendo da garotinha os olhos marejados. — Eu prometi aos seus pais que cuidaria de você, e para você continuar viva, é preciso que me deixe aqui.

— E-eu não posso fazer isso — discordou, chorosa, abraçando fortemente o azulado.

— VÁ!

No susto, a pequena estremeceu e lágrimas escorreram por seu rosto quando o primo gritou com si pela primeira vez.

Queria gritar um "não" de volta, mas magoada do jeito que havia ficado, se levantou e saiu correndo dali, sem em momento nenhum olhar para o rosto triste e molhado por lágrimas do rapaz que encarou suas costas pela última vez, se distanciando cada vez mais, para as ruas perigosas em dia de lua cheia.

— Tudo bem deixar as coisas assim? — perguntou, pouco temeroso quando a garota sumiu de suas vistas. Agora observava o azulado usar a manga da camisa para limpar as lágrimas. — Ela parecia chateada.

— Um dia ela vai entender que o que fiz foi apenas o que eu mais desejava na vida: a segurança dela. Só espero que ela possa entender e lidar bem com isso. Ugh! — gemeu de dor, arrastando-se para apoiar as costas na parede do beco. — Vai beber meu sangue agora? Pode ir em frente. — Deu de ombros, não querendo transparecer o medo.

Lelouch deu uma última olhada naquele homem que respirava fraco e que já se mostrava pálido pela perda de sangue, e então, cravou as presas no pescoço alheio.

O rapaz abriu a boca em um grito mudo pela dor do veneno, com medo da garotinha ouvir seu sofrimento, e agarrou-se fortemente as vestes do vampiro enquanto sentia o sangue sendo sugado de sua veia. Era doloroso e torturante, por isso fechou os olhos com força ao mesmo tempo que se lembrava do rosto feliz da prima, algum tempo depois de já ter se acostumado com a morte dos pais. Ele havia se esforçado muito para fazer aparecer um sorriso naquela criança recém-orfã.

Enquanto bebia o sangue do humano, Lelouch não pôde deixar de comparar o gosto com o sangue do lycan: o do azulado era excitante e parecia encher seu coração de pedra com vida, porém não sabia como explicar o sangue de Suzaku – talvez pela circunstância em que estava quando cravou suas presas no pescoço amorenado fizesse parecer que o sangue do lycan era mais gostoso.

Droga! Estava pensando em Suzaku e inevitavelmente uma grande saudade dele apareceu. 

Quero vê-lo...

— Ugh!

O gemido agonizante de Rivalz imediatamente chamou a atenção do vampiro, fazendo com que se afastasse rapidamente do corpo ainda mais fraco e pálido do que antes.

— De-desculpa, me deixei levar e esqueci do veneno.

O rapaz pareceu surpreso pelo pedido de desculpas, mas achou que aquilo havia saído da boca para fora, então apenas deu um mínimo sorriso e voltou a falar, fraco:

— Apenas peço que mate-me logo, por favor...

— Sinto muito — pediu, novamente surpreendendo o humano que, naquele momento, entendeu que realmente não era da boca para fora o pedido de desculpas. Havia algo no olhar abatido dele.

Antes que Lelouch quebrasse seu pescoço, porém, o vampiro foi surpreendido por mais uma fala que saiu despedaçada da boca alheia:

— Assim como deixou que minha prima saísse daqui, espero que seja lá qual for seu desejo, ele se realize também. Obrigado.

E então o pescoço humano foi quebrado, e seu dono morreu instantaneamente, com os olhos semiabertos e um pequeno sorriso.

O rei fraquejou por um momento, se sentiu fraco e incapaz de continuar em pé, então se deixou cair de joelhos em frente o falecido, abraçou o próprio corpo e se sentiu imensamente impotente e vazio; um monstro com uma grande dor na alma.

Era doloroso demais ver como os dois humanos se separaram, como ficaram unidos na frente da morte e como um dos lados se sacrificou pelo outro, se sentiu mal.

Sempre soube que por ser da família Britannia, deveria ser frio e cruel, e depois de tantos anos se sentindo frio por dentro, ao cometer tal maldade, se lembrou de outros humanos que matou, das famílias que despedaçou e do sofrimento que causou.

— Até onde eu cheguei, sendo levado pelos padrões do meu pai e de todos os vampiros preconceituosos? — se perguntou, olhando para o chão enquanto sentia a necessidade de chorar, mas sem realmente ver lágrimas se formarem. — Esse não sou eu, eu não sou como eles...

Vampiros e humanos eram definitivamente diferentes, e não era somente em questão de força e poder, como de coração também.

Lelouch sentiu algo quente encostar no seu corpo, e não faria nenhum esforço para ignorar se não reconhecesse aquele familiar cheiro "fedido".

— Queria vê-lo, Suzaku. Senti saudade — admitiu, com a voz tão fraca que doeu no lobo grande e marrom, de intensos e compreensivos olhos verdes.

"Tudo bem, eu estou aqui" disse o lycan, sua voz ecoando dentro da sua cabeça, mas por não serem da mesma espécie, Lelouch não ouviu o tom calmo e reconfortante que ele usou para falar com si.

O corpo quente e peludo de Suzaku se deitou ao lado de Lelouch e descansou a cabeça em seu colo, onde foi prontamente acariciado pelas mãos suaves e trêmulas do vampiro que abaixou levemente o rosto e inspirou profundamente o ar, sentindo mais intensamente o odor do rei lycan. 

Podia não ser agradável ao seu olfato, mas nunca deixaria de se sentir calmo e aquecido com aquele cheiro por perto.



[...]



Quando o sol saiu por completo e cobriu as casas ainda sendo molhadas constantemente pela chuva, os seres sobrenaturais recuaram do vilarejo vermelho e ocupado em sua maioria por corpos pálidos e estraçalhados pelas ruas. A Noite de Caça às Terras Mortais havia acabado, e isso significava que já era hora de todos voltarem cada qual para o próprio reino.

Em um lugar escondido em um pequeno conjunto de árvores, ambos os novos reis estavam se preparando para, provavelmente, a despedida definitiva. Nenhum dos dois queria aquilo, mas nada podiam fazer quanto aquele último dia antes da guerra começar. Tinham que voltar para seus reinos e se prepararem para o pior.

— Obrigado, Suzaku, de verdade, por ter ficado comigo neste dia.

O lycan concordou com a cabeça e se aproximou do vampiro que ainda era um pouco mais baixo que si, mesmo que ainda estivesse em sua forma lupina.

Novamente, verdes nos roxos e roxos nos verdes. 

Lelouch não tinha o que falar, e Suzaku não poderia ser entendido enquanto se comunicasse telepaticamente como sua raça se comunicava entre si, mas ambos entendiam apenas com o olhar o quanto seus sentimentos eram grandes e inexplicáveis em forma de palavras. Eles só podiam sentir.

Um uivo alto ecoou ao longe e os reis sabiam que aquele era o chamado para o acastanhado voltar para junto de sua raça. 

Lelouch continuava sem saber o que dizer, então optou por abraçar carinhosamente o pescoço do lobo, este que esfregou levemente a cabeça em suas costas. Para finalizar a despedida, o vampiro colou sua testa na de Suzaku e a beijou ao se separarem, antes de enfim cada um ir para perto de seu povo.

O rei vampiro usou sua velocidade e não demorou para chegar onde sua raça estava, porém ao invés de ser ignorado como de costume pelo pai, este se voltou com olhos arregalados para si, assim como todos os vampiros.

— Mas que diabo é esse cheiro em você?! — perguntou Charles, ao se aproximar irritado do filho.

— Que cheiro? — perguntou, confuso.

— Esse cheiro de cachorro!

Droga! Me esqueci que estava abraçado com Suzaku!

— Acabei entrando em uma briga com um lycan — mentiu, engolindo em seco.

O rei mais velho, claramente não convencido, segurou o braço de Lelouch com firmeza e aproximou seus rostos de uma forma ameaçadora, fazendo os olhos do filho se arregalarem no mesmo instante.

— Sabe o quanto odeio que mintam para mim, garoto. Acha que tenho cara de idiota para não saber uma regra tão clara como "proibido atacar a raça sobrenatural oposta"? Moleque estúpido!

— Eu posso expli...

— CALADO! — ordenou, tão alto que todos os vampiros próximos conseguiram ouvir e se arrepiar. — A guerra está se aproximando, e você acha que isso é brincadeira? Quando chegarmos em casa, você vai ganhar uma lição — avisou em sussurro, assustador.

Charles soltou o aperto firme do braço alheio e deu as costas para o filho, este que estava com os olhos tão arregalados e assustados que Rollo imediatamente havia se dado conta do que iria acontecer em breve com seu irmão: ele seria punido.


Notas Finais


Sobre a parte q Suzaku disse q Nina é uma garota logo depois dela dizer querer ser homem, ñ quero reclamações de leitor dizendo q sou contra trans. É chato ficar discutindo com leitor e vcs viram q Suzaku incentivou Nina a ser qm ela é, mostrando doq é capaz mesmo q se veja no corpo errado
EU NÃO SOU CONTRA TRANS TÁ? Só quero esclarecer q na fic Nina quer mudar o sexo pq ela quer ter o direito de se decidir por si mesma
Sexualidade dos outros não me importa

A passagem de tempo passou bem rápida até, foi algo q não deu pra segurar mas espero q não tenha atrapalhado muito na história
Nosso Lelouchzinho vai ser punido iiiih, q tipo de punição vcs acham q ele vai ganhar? Com certeza não vai ser nada legal, mas enfim, cof, faltam 3caps pra fic acabar


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