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História Clichê - Capítulo 1


Escrita por: fuckjergui

Notas do Autor


Hey! Espero que gostem...

Capítulo 1 - Capítulo 1


“Mais dois dias, só mais dois dias.”

 Era tudo que eu pensava enquanto criava coragem de abrir os olhos nessa manhã de quinta-feira, era somente mais um dia antes do merecido descanso do final de semana que eu poderia me afundar em meu sofá, e com muita comida passar horas atualizando minhas séries que estavam atrasadas, diga-se de passagem. Com muita força de vontade me levantei da cama já esticando os braços em cima da cabeça alongando-os, e assim que levantei da cama fui pegando meu celular no criado-mudo constatando que o que eu já esperava, estava atrasada para o trabalho mais uma vez.

O guarda-roupa estava como sempre muito bem arrumado, impecável, o que não era muito bem um TOC mas para as minhas coisas funcionarem eu precisava que tudo estivesse em seu devido lugar, para que no final um atraso como o de agora não vire muito maior por eu não encontrar minha roupa. Acabei escolhendo o terninho que era um dos meus favoritos para ir para meu escritório, seu tom claro de cinza com a blusa social branca destacava com a minha pele morena. Minha pasta, com diversos processos que acabei trazendo para casa durante a semana, estava na bancada e assim que terminei de fazer meu café Luna pulou em minha perna pedindo carinho e comida.

Luna era minha cadelinha que havia ganhado dos meus pais por eles acharem que eu passava tempo demais sozinha, já que eu não tinha nenhuma namorada ou algo do tipo e vivia apenas para o trabalho. Minha bolinha de pelo que trazia toda a alegria para aquele apartamento.

“Ah, mas Camila por que você não tem nenhuma namorada?”

Essa era com toda certeza a pergunta que eu mais ouvia desde o meio da faculdade de Direito, e a resposta era simples, eu não acredito nessa bobagem romântica dos filmes que todos esperam, a vida real é diferente, não vai ter uma pessoa que vai te dar buquê de flores sem motivo, ou que vai se esforçar para cantar aquela sua música favorita só porque é a música de vocês, e muito menos vai ser fiel a você incondicionalmente como todas as comédias românticas que existem no mundo cinematográfico. O mundo já possui problemas demais para acreditar em filme para público de meninas adolescentes de 12 anos que tem a vida toda para ter o coração partido por algum idiota no meio do caminho.

Sair de casa e enfrentar uma Nova York caótica não era um de meus passatempos preferidos, mas assim que sai a pé o clima do outono já estava no ar, um clima que não era tão quente como o verão, porém não tinha o frio de bater queixo e sentir os ossos congelando do inverno, e essa era para ela a melhor época do ano com o pôr do sol mais bonito de todos que podia ser apreciado no Central Park. Meu escritório ficava a 4 quadras de distância da onde eu morava então todo dia era uma caminhada rápida até o local, mas como o relógio não estava ao meu favor dessa vez eu tive que ir correndo ou eu iria ser morta pela minha melhor amiga que sempre pegava no meu pé com os atrasos.

Com uma mão no coração e outra no joelho parei no elevador tentando buscar todo o fôlego que havia perdido no momento final de corrida até o prédio, a vida sedentária já batia na porta dos meus 25 anos de idade e eu não tomava vergonha na cara para mudar isso. O elevador se abriu no 17° andar e eu saí encontrando uma Dinah Jane bufando extremamente impaciente na porta de nosso escritório de Advocacia em que ela fazia parte junto comigo. Cabello & Hansen Advogados Associados era um dos escritórios com um dos maiores nomes de toda Nova York no ramo do direito empresarial e tributário, aquilo era nossa vida e nosso mundo, mas nem por isso me deixava de ser menos estressante, ou entediante e maçante como tem sido para mim nos últimos meses.

--- Até que enfim apareceu, Karla! Você tá tão atrasada que se eu pudesse te jogava um relógio na sua testa pra nunca mais perder a hora! – Dinah reclamou enquanto eu tirava as chaves e abria a porta para entrarmos.

--- Desculpa Cheechee, eu perdi a hora real... – Bufei tentando tirar o cabelo que estava caindo enquanto eu colocava a chave na porta – E você não está com sua chave por causa de que? – Perguntei já imaginando na resposta que ela me daria e sorrindo para ela.

--- Eu dormi na Mani essa noite, minha chave ficou em casa. E para de me olhar com esse cara, eu hein.

Não pude deixar de rir enquanto já colocava minha pasta em cima da mesa e tirava os papéis do último trabalho que eu havia pegado e levei para casa analisar.

--- Eu não falei nada... – DJ olhou com certo deboche e antes de revidar eu já estava completando – Mas se fosse falar, diria que alguém não transou essa noite!

Foi tempo de eu abaixar e ver nosso calendário passar em cima da minha cabeça me fazendo cair na gargalhada. Eu sabia deixar minha amiga transtornada e qualquer implicância já era motivo de algo voar para cima de mim.

--- Cala a boca, Camila! – Ela riu junto comigo – Vai fazer nosso café que logo chegam os clientes.

--- Mas eu já fiz café ontem, DJ – bufei largada na cadeira como uma adolescente.

--- O meu café não chega aos pés do seu café cubano, Camilinha. Anda para de preguiça.

Não tive outra escolha a não ser fazer o café que no final das contas já era a tradição do nosso escritório que veio de minha família cubana. Aos poucos o escritório foi se enchendo, nossos estagiários haviam chegado e cada um já tinha tomado seu lugar assim como nós que íamos atendendo cliente por cliente e felizmente hoje era um dia calmo o suficiente para não precisarmos de ir até o tribunal participar de alguma audiência.

O expediente ia passando rápido, no meio de um cliente ou outro Dinah fazia uma piada ou uma de nós parávamos e ajudávamos nossos estagiários que ainda estavam um pouco perdidos no meio de tantos termos e de papéis. No final do dia assim que todos se foram restando novamente eu e Dinah resolvemos ficar mais um pouco para terminar o último acerto de um problema que havia dado na tributação da nossa cliente mais antiga que também já havia virado nossa amiga, Allysson Brooke, dona da maior franquia de bolos e doces de todo o Estado. Ally havia estudado comigo e com Dinah no ensino médio, mas enquanto eu e DJ íamos para Yale fazer Direito, nossa baixinha ia para Harvard cursar Administração e um curso de doces e confeitaria concomitantemente, que no final foi só para complementar o que sabia já que desde criança seus pais tinham uma pequena padaria.

--- Já acabei por aqui, Chancho. Precisa de alguma ajuda? – Dinah disse chamando minha atenção, mas assim como ela eu já tinha terminado.

--- Precisa não, DJ. Terminei tudo por aqui também, agora Ally pode ficar tranquila em abrir a nova filial dela em New Jersey.

--- E não é que aquela baixinha está fazendo sucesso, Mila? Fico tão feliz que ela está realizando o sonho dela e dos pais ao mesmo tempo.

--- Nem fala, ela é muito nosso orgulho. Ela ainda vai abrir franquia no Estados Unidos inteiro, escreve o que eu tô te falando.

Dinah riu e desligou seu computador se levantando, esticando toda para alongar os músculos que passaram horas na mesma posição.

--- Mani e eu vamos fazer sessão cinema amanhã, topa?

--- Quais filmes?

--- Não sei, ela pensou em comédia romântica, saiu uns novos na Netflix e ela está doida pra assistir.

Minha amiga mal terminou de falar e eu já revirava meus olhos, eu fugia de qualquer filme de comédia romântica.

--- Ai não DJ, valeu mas acho que vou ficar com Luna comendo pizza e vendo minhas séries policiais mesmo. Mil vezes melhor. – E foi a vez dela revirar os olhos para mim.

--- Você tem que parar com essa aversão a romance Camila, não é porque a... – Ela sabia que se mencionasse o nome da minha ex-namorada as coisas ficariam feias e que a conversa não ia terminar nada bem. – Esquece, mas você precisa superar isso amiga, de coração. Nem todas as pessoas do mundo querem foder a vida dos outros por diversão.

Eu soltei uma risada sem humor nenhum e que pingava sarcasmo.

--- Eu estou melhor sozinha, de verdade DJ.

Ouvi minha amiga bufar e seguir em direção a porta seguida por mim.

--- Quer uma carona para casa? Vim de carro hoje e já está tarde pra você voltar andando. – Ela disse toda preocupada e com a cara transparecendo arrependimento de quase ter tocado no nome proibido desde que havia terminado o segundo ano do ensino médio.

Dei um sorriso a tranquilizando e segurando em seu braço como fazíamos desde crianças para sair pelos lugares, ela sorriu aliviada de volta vendo que eu não tinha ficado chateada com ela, o que era verdade, mas esse assunto ainda mexia com uma parte de mim que eu não sabia lidar então para não ter que fazer, eu só a enterrei bem fundo no meu peito e segui minha vida como se nada tivesse acontecido.

-- Vamos? – Disse animada após trancar a porta – Não esquece sua chave de novo, que eu não vou aturar seu mau humor por falta de transa hoje de novo não.

Dinah me deu uma bundada que eu acabei indo parar longe, a bunda e a força daquela menina era surreal e eu magra e desajeitada do jeito que era faltou muito pouco para eu não cair.

--- Você que precisa transar, Camilinha. Seu mau humor já tomou conta do escritório inteiro, mês que vem a gente precisa acender umas velas, uns incensos pra ver se esse teu humor muda.

Dei língua para ela enquanto a mandava para um lugar não muito bonito.

No carro de Dinah foi virar a chave que começou a tocar as músicas da Beyoncé no maior volume que ela tratou de abaixar para podermos ir conversando enquanto ela dirigia pelas ruas, dessa vez, nem tanto caóticas da nossa cidade. No outro dia eu teria que ir no tribunal cuidar um caso importante de processo que envolvia a uma ação movida pela empresa de meu cliente contra seu ex sócio que ao sair estava sendo investigado por desvio de dinheiro da empresa. Todas as provas estavam a nosso favor, mas mesmo assim eu iria ler página por página para poder fazer uma boa defesa ao senhor Evans que era muito legal com todos lá no escritório.

Em casa estava tranquilo, Luna veio ao meu encontro pulando e fazendo uma festa como sempre que chegava em casa. Sua alegria em me ver era contagiante e deixava a casa com um clima muito mais leve, fazendo com que toda a bagagem que eu trazia do trabalho ficasse da porta para fora. Me sentei no chão após tirar o blazer brincando com minha cadelinha que estava mais animada ainda, ela pulava em cima de mim e alternava entre tentar me lamber ou latir de animação, ela tremia o que me fazia rir ainda mais. É por isso que os animais são melhores que os humanos, eles ficam felizes com atenção e vão sempre estar ali para você independente da fase que você está passando.

Levantei colocando Luna no chão e indo buscar um biscoitinho que sabia que ela gostava, joguei e ela pegou no ar indo diretamente para sua cama comer. Seu pelo preto se destacava na cama de cor vermelha e amarela, cores da Grifinória, minha casa de Hogwarts. Havia a chamado de Luna pelo simples motivo que em sua orelha esquerda havia o desenho parecido com uma lua crescente e por só essa parte ser branca com toda a pelagem preta ela parecia a noite, com sua lua sozinha na vastidão do céu, além de homenagear uma das minhas personagens favoritas de Harry Potter.

--- Fica aí, mamãe vai só tomar um banho. Nada de ficar arranhando a porta do banheiro, hein? – Ela baixou as orelhinhas entendendo meu tom mandão.

Era a mesma coisa toda vez desde quando Luna se mudou para meu apartamento, quando tinha nem dois meses direito, era eu encostar a porta do banheiro que conseguia escutar suas patinhas arranhando a porta, além de seu choro constante até eu surgir. Agora que ela já é maior tem um pouco mais de um ano, suas patas além de maiores tem unhas que já estragaram minha porta uma vez, me obrigando a trocar porque a qualquer minuto ela iria furar a madeira de tanta força e desespero.

Assim que entrei no banho quente relaxei todo os músculos tensos pelo dia exaustivo, não tão estressante, mas ainda assim maçante. Lavei meus cabelos não me demorando tanto, somente o suficiente, e depois de acabado o banho saí do banheiro que estava puro vapor que nem conseguia me enxergar no espelho. Saí secando meus cabelos e logo abaixando a cabeça para prender eles junto com a toalha.

Peguei meu celular em cima de minha cama e sai respondendo algumas mensagens não tão importantes, indo em direção à cozinha com meu estômago já se revirando em fome. Como não havia muitas opções dentro da geladeira optei pelo simples e rápido omelete de queijo, presunto e tomate, me fazendo lembrar um pouco de minha infância, onde minha mãe nos dias de maior pressa para o trabalho fazia isso para meu almoço e de minha irmã Sofia.

Me larguei no sofá com meu prato ligando a televisão e colocando na Netflix, onde poderia finalmente assistir minha terceira temporada de Blindspot que havia lançado poucos dias atrás, mas que até o momento não tinha dado tempo de começar. Luna deitou-se no chão como sempre me acompanhando na empreitada de apenas um episódio, afinal eu não poderia me dar o luxo de me estender a maratona, mesmo com meu corpo clamando por um longo descanso, ainda tinha uma pilha de papéis para a audiência de amanhã que eu gostaria de revisar.

Assim que toquei na papelada o sono bateu e o jeito foi fazer um pouco do café que restava no armário para organizar toda a defesa de forma bem específica e objetiva. Ler tudo, anotar as coisas mais importantes acabou sendo mais rápido do que eu imaginei, podendo assim ir dormir mais cedo do que o esperado, e dessa vez, coloquei alarme a cada cinco minutos para que não perdesse a hora, e como sempre vem acontecido, e não levou nem 5 minutos para que eu dormisse pesadamente.

***

No tribunal eu juntava alguns papéis de anotação após a audiência do Senhor Evans, mesmo com a boa retórica do outro advogado a juíza deu causa ganha para meu cliente. Dra. Raíssa era uma das melhores juízas do estado de Nova York, sendo considerada por sua fama de honesta e humana, já que muitos nessa profissão perdem isso com o tempo por diversos meios sendo eles suborno, ou sufocados pelo próprio ego, e mesmo já a conhecendo do período de faculdade ela não deixava isso afetar em seus julgamentos. Sr. Evans não perdeu tempos me chamando para almoçar com ele em “comemoração” a vitória de sua causa, mas como sempre, me esquivei de suas cantadas e dei a mesma desculpa de sempre, que precisa voltar para meu escritório trabalhar, o que não era de tudo errado.

Fui andando lentamente pelas ruas que eu já era tão familiarizada em direção a meu carro que por conta da cidade lotada acabei estacionando mais longe do que eu estava acostumada. Era gostosa toda a sensação de reconhecimento daquele trajeto, mas algo me incomodava profundamente, os cabelos em minha nuca se arrepiavam e eu tinha a impressão de estar sendo seguida, decidi então olhar para trás constatando que não havia ninguém, só que aquela sensação não passava, eu sentia o vento como se alguém respirasse perto de meu pescoço, mas nada, todas as vezes olhando para trás não me fez achar ninguém.

Decidi dar uma volta a mais para não arriscar de assaltarem meu carro então fui andando em direção da loja aberta mais perto, de comida típica brasileira, porém a sensação de que estavam me seguindo não desaparecia, e assim que olhei para trás mais uma vez eu continuei andando rápido sem me atentar para frente, tanto que nem vi o que havia me atingido, só senti uma forte dor na cabeça e enquanto eu caía minha consciência ia embora junto, como se eu estivesse pegando no sono.



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