História Clichê - Eleven

“Quando anoitece lá fora

Aqui dentro faz tédio

Mesmo querendo fugir

Quando tento escapar

Chego ainda mais perto

Meu subconsciente

Vai atrás do seu corpo

Tô viajando há horas

Quanto tempo demora

Pra eu poder ficar louco

É só você e mais nada

Aceito esse amor unilateral

Você e mais nada

Sem ele fico mal

Não há razões para não ser feliz

Mas pra ser feliz

Preciso de uma razão

E o motivo é você

Sempre foi você

O fantasma do meu coração”

(Fantasma – Luan Santana feat. Marilia Mendonça)

Stiles jogou as cobertas para o lado, se levantando furioso com as lembranças do sonho que ainda o assombrava toda noite desde aquela maldita noite em que se entregou a Malia. Um mês havia se passado e a mulher parecia cada vez mais próxima do noivo, o que para seu desespero o perturbava todo o misero dia. Se fechasse os olhos por tempo demais, já poderia sentir os lábios fantasmas da mulher passeando por seu corpo e seus gemidos, clamando por ele. Todas as noites eram um martírio com suas orações em busca do perdão de Deus por ter sido o responsável pelo possível sofrimento de um homem através do adultério e somente Deus sabia o quanto ele buscava o controle nos últimos tempos para não perder a cabeça e jogar Malia dentro de qualquer armário naquela escola de noivas, afim de possui-la ali mesmo. Se sentia como um viciado em abstinência e isso era completamente frustrante. O perfume da mulher impregnava toda a sala com apenas segundos de sua presença, o som de sua risada retumbava em seus ouvidos e seus lábios carnudos pintados de vermelho quase o faziam sucumbir ao pecado. Ele já havia perdido as contas de quantas vezes havia fantasiado com aquela mulher. Fantasias essas que envolviam rastros de fogo deixado por seus lábios, ou de suas unhas abrindo pequenos e tortuosos caminhos por sua pele, misturando assim, dor e prazer. Ele nem mesmo se reconhecia diante desses pensamentos tão indecentes, mas não era como se ele pudesse evitar. Ou ela a tinha em seus pensamentos ou concretizaria tudo o que havia pensado até aquele momento e sabia que isso era arriscado demais, sabia que se tivesse Malia novamente em seus braços, correria o grande risco de nunca mais deixa-la sair e isso era perigoso demais para sua sanidade. Malia havia o transformado de forma assustadora e surpreendente e isso era inegável para qualquer um que se permitisse observa-lo por alguns segundos a mais. O homem tão devoto, bondoso e cavalheiro, estava se tornando um homem impulsivo, sedento e que aceitaria ser jogado no inferno com prazer, se antes pudesse ter aquela mulher pela última vez, gritando seu nome. Ele já não sabia onde isso daria, talvez se fugisse para algum convento ou retiro espiritual pudesse clarear sua mente e se livrar desses impulsos tão carnais, mas a adrenalina de vê-la sentada sempre na primeira cadeira da fileira o observando atentamente, como se nada tivesse acontecido, com aquela maldita caneta vermelha entre os lábios, o fazia jogar esse desejo dentro da primeira lata de lixo que encontrava. Ela havia viciado a ele com seus beijos e corpo e sequer sabia de seu grande feito, ela pensava que ele a usara e a dispensara como uma qualquer, mal sabia que ela havia o transformado em um qualquer. Um homem qualquer, aprisionado demais em suas mãos para conseguir reagir a sua presença.

Se antes ele pensava que as coisas não poderiam piorar, agora ele teria que acompanhar ela e as outras noivas para a escolha de seu vestido de noiva no dia seguinte e só de imaginar ela vestida de branco, o ar lhe faltava. Não por um bom motivo, mas por ter que visualizar ela entrando na Igreja para se encontrar com um homem que não era ele. Seu coração pulsava forte dentro de seu peito, como uma contínua lembrança do que o aguardava naquele prédio que antes servia de refúgio.

A noite se arrastou com um Stiles totalmente derrotado, sentado no sofá de sua casa, com sua inseparável xicara de café na mão. Ao ouvir o alarme de seu celular tocar as 6:30 am, se levantou e deixando seu café já frio dentro da pia, se arrastou para debaixo do chuveiro, torcendo para que a água gelada do chuveiro o fizesse recobrar a razão e os sentidos. Se vestindo com um jeans de lavagem escura, uma camisa cinza escura, seus sapatos sociais e sua jaqueta de couro, o homem saiu direto para seu jeep, cumprimentando o porteiro com um bom dia ao sair. O combinado era encontrar as noivas já na loja dos vestidos, o que o deixava aliviado, já que assim não ficaria tentado a desistir ao ver Malia chegar acompanhada de Theo Raeken, como todos os dias no último mês. O relógio já marcava 7:00 am, quando o homem estacionou em frente a seu destino e como não poderia mais adiar, pegou sua pasta e saiu do jeep, encontrando logo a dona da loja o esperando com uma xicara de chá.

-Dona Sueli. –Cumprimentou, aceitando a xicara logo após um abraço carinhoso

-Bom dia, Stiles! Você parece cansado. –Comentou, com um sorriso doce, o observando levar a delicada xicara de porcelana aos lábios

-Não dormi direito a noite. –Respondeu, simplesmente, lhe devolvendo a xicara vazia

-Então eu acho que deveria ter lhe servido um café bem forte em vez de chá de camomila. –Constatou, arrancando uma risada fraca do homem

-Não precisa se preocupar, Sueli. –Garantiu, afagando o ombro da doce senhora que agora o acompanhava para dentro da loja

-Obrigada por pedir as noivas que viessem mais cedo. Eu sei o quanto deve ser difícil para elas acordarem tão cedo. –Agradeceu, acompanhando o homem para o setor dos vestidos

-Eu sei que você não pode manter a loja fechada com exclusividade para elas durante o expediente, já conversei com elas sobre isso, não se preocupe. –Contou, sorrindo gentilmente, parando para observar as mulheres com seus olhos inchados de sono, bocejando, enquanto esperavam por sua chegada

-Professor Stilinski! –Exclamou Érica, se levantando do sofá, animada

-Bom dia, moças! Podemos começar com as escolhas? Logo, a Sueli terá que abrir a loja para o início do expediente e tenho certeza que não vão querer disputar seus vestidos com outras noivas desesperadas. –Afirmou, arrancando risadas de todas as mulheres presentes, exceto de Malia, que o encarava atenta encostada a um provador. Vestida com uma saia de camurça de cintura alta preta, com um cropped de gola alta de mesma cor, sandálias douradas nos pés e o cabelo preso em um coque alto e impecável.

-Mal posso esperar para achar meu vestido de princesa! Quanto mais rodado, melhor. –Comentou Alisson, animada, acariciando a protuberância de sua barriga de quatro meses

-Querida, tenho certeza que até lá, não vai ser adequado usar algo tão rodado. –Comentou Erica, maldosa

-Posso saber o porquê? –Perguntou, irritada

-Simples. Uma barriga enorme de fim de gravidez não é uma boa mistura com algo enorme da cintura para baixo. –Respondeu, dando de ombros, fazendo Alisson fazer menção de ataca-la

-Meninas, não comecem. Hoje é para ser um bom dia, não um dia regado a confusões, ok? –Interferiu Hayden, irritada

-Isso mesmo e Érica, porque não guarda seus comentários ácidos para alguém que pode fazer você engolir um a um? –Perguntou Malia, de forma ameaçadora, antes de se aproximar lentamente

-Comprando a briga da sonsa, Hale? –Indagou a loira, ficando cara a cara com Malia

-Talvez eu esteja. Quer testar? –Perguntou, com sua voz pingando ironia

-Por favor, parem com isso! Estamos perdendo tempo com essas brigas. Por que não vão em busca de algum vestido que lhes agrade? –Perguntou Sueli, tentando apaziguar a situação

-Sueli tem razão. Parem de perder tempo e procurem algo que agrade vocês, antes que nosso tempo aqui acabe e vocês tem que ir embora, fazendo o sacrifício de acordar cedo ter sido em vão. –Completou Stiles, que até o momento apenas observava Malia e toda sensualidade que ela exalava ao ficar nervosa

Malia apenas bufou e revirou os olhos, antes de dar as costas a todos ali e caminhar para a arara mais isolada de vestidos, consequentemente, desaparecendo em meio aquele mar de vestidos e manequins. Depois disso, Stiles viu cada uma das noivas se dispersar naquela enorme loja e a curiosidade sobre que vestido Malia escolheria lhe atormentou, fazendo suas pernas começarem a caminhar na mesma direção da mulher, como se tivessem vontade própria. Desviando com cuidado dos manequins e entrando em um corredor de dois andares de araras, ele avistou a mulher retirar um cabide com um vestido totalmente rendado, de calda sereia, de mangas compridas e uma grande abertura nas costas e entrar com ele em um provador isolado, bem no final daquele corredor. De repente, aquele provador parecia ter ficado interessante demais e seguir até ele foi inevitável. Parado em frente aquela porta, sem saber o que fazer a seguir, era a situação que Stiles se encontrava no momento. Ele poderia ao menos bater naquela porta de madeira que o separava do alvo de seus pensamentos pecaminosos dos últimos dias, mas e em seguida? O que ele falaria? O que ele afirmaria ser o motivo de fazê-lo a seguir até ali?

-Perdido, professor? –Questionou Malia, sarcástica, saindo do provador com o vestido de noiva, fazendo Stiles perder a fala

-Você está linda. –Afirmou, a admirando dos pés à cabeça

-Concordo com você. Acha que meu noivo vai gostar? –Perguntou, com um falso tom inocente, fazendo Stiles voltar a realidade

-Tenho certeza que sim. –Garantiu, sem graça, passando a encarar o chão

-Ótimo. Isso que importa. Disse, com um tom de voz determinado, fazendo Stiles se encolher minimamente diante a imagem de Malia se casando com Theo

-Imagino que sim. Eu vou ver como estão as outras noivas. –Comunicou, querendo fugir

-Antes pode me ajudar com o vestido? Não sei como conseguir abotoar tudo isso, mas tenho certeza que não vou ter a mesma sorte em tira-lo. –Pediu, se virando de costas para o homem, o fazendo engolir em seco

-Eu vou chamar a Sueli para te ajudar com isso. –Disse, se virando para sair

-Sabe, você não precisa fugir de mim cada vez que me olha. Além de não ter nada aqui que você já não tenha visto ou tocado, eu não vou atacar você. –Garantiu, e quem a visse no momento poderia até mesmo dizer que veneno escorria de sua boca, tamanha intensidade usada em seu tom de voz

Algo em sua fala havia despertado em Stiles algo que ele escondia com maestria no último mês. O desejo que o atingiu naquela noite em que ele a possuiu pela primeira vez em seu apartamento e junto disso, as lembranças que insistiam em lhe perseguir. Se virando lentamente em direção a mulher, com os olhos mais escuros que o normal e as pupilas dilatadas, ele se aproximou a passos calculados, e a virou de costas para ele de forma brusca, abrindo cada um dos botões do vestido, com rapidez. A ultima afirmação da mulher martelando em sua mente.

Maroon 5 – Animals

Baby, serei seu predador essa noite

Te caçarei, te comerei viva

Assim como animais, animais

Como animais-mais

Talvez você ache que pode se esconder

Posso sentir seu cheiro a milhas

Assim como animais, animais

Como animais-mais

Querida, eu sou

“Nada que você não tenha visto ou tocado”. Como se ele não se lembrasse! Todos os últimos dias do mês tem servido apenas para lembrar a ele que naquele corpo não havia nada que ele já não havia visto ou tocado. Cada milímetro do corpo daquela mulher já fora dele, mesmo que por uma noite e ele não precisava que ela o lembrasse disso.

Você pode recomeçar, você pode correr livremente

Pode encontrar outros peixes no mar

Você pode fingir que era para ser

Mas não consegue ficar longe de mim

Após abrir o ultimo botão, o homem desistiu de todo o seu auto controle e decidiu fazê-la pagar pela pequena provocação. Empurrando Malia para dentro do provador e fechando a porta em seguida, o homem a viu sorrir da forma mais maldosa que ele já havia visto. Ela o estava testando e ele estava falhando miseravelmente nesse teste, mas se naquele momento ele pudesse tê-la, ele não se importava em perder aquele jogo.

Ainda posso te ouvir fazendo aquele som

Acabando comigo, rolando no chão

Pode fingir que era eu, mas, não

A puxando pelas mangas do vestido, ele a viu se libertar da peça com facilidade, revelando assim a lingerie preta que a mulher usava, o fazendo arrebentar o ultimo fio de razão que ainda possuía. A mulher levou a mão ao coque em seu cabelo e o soltou, passando a mão por eles, enquanto encarava Stiles com um pequeno sorriso vencedor nos lábios

Se eu correr, não será suficiente

Você continua na minha cabeça

Presa para sempre

Então pode fazer o que quiser, sim

Amo suas mentiras, vou engolir tudo

Mas não negue o animal

Que ganha vida quando estou dentro de você

-Você planejou isso, não é mesmo? –Perguntou, ofegante, antes de voltar seus lábios para o pescoço da mulher

-Nenhum plano seria tão bom quanto isso, professor! –Afirmou, após dar uma sonora gargalhada, tombando a cabeça para o lado, concedendo mais acesso ao homem

-Você sabia que eu viria. Sabe tudo que estava causando em mim durante todo esse mês. –Afirmou, tirando sua jaqueta e a jogando em um canto qualquer

-Você pode fingir bem para eles, mas seu olhar sobre mim é como de um predador sobre sua caça. E você não sabe o quanto era divertido causar isso em você todas as manhãs. Sussurrou, puxando os cabelos de Stiles com força, o fazendo arfar com o contato

Não diga mentiras, você não pode negar

A besta que vive aí dentro, sim, sim, sim

Não, garota, não minta, você não pode negar

A besta que vive aí dentro, sim, sim, sim

Woah, woah, woah

como animals

-Eu deveria odiar você por me fazer agir assim. É como um fogo que me consome e isso me faz pensar que talvez que já tenho sido jogado no inferno. –Afirmou, olhando dentro dos olhos da mulher, após tirar sua camisa e também joga-la em qualquer canto daquele provador

-Se isso é o inferno, eu sou o seu castigo, professor? Perguntou, sorrindo irônica, o empurrando com a mão em seu abdômen até que o mesmo caísse sentado sobre a poltrona do provador

-Talvez seja, mas eu não poderia me importar menos com isso. –Garantiu, a fazendo soltar um pequeno suspiro surpreso ao ser puxada diretamente para o colo do homem

-Cuidado com o que deseja, Stiles. Não se sabe quantas vezes você ainda vai poder fugir, quando isso acabar. Sussurrou, antes de puxa-lo para mais beijo ardente

-Eu não quero mais fugir. Eu não me importo mais. –Afirmou, com os dedos escondidos entre os cabelos da mulher

Baby, serei seu predador essa noite

Te caçarei, te comerei viva

Assim como animais, animais

Como animais-mais

Talvez você ache que pode se esconder

Posso sentir seu cheiro a milhas

Assim como animais, animais

Como animais-mais

Querida, eu sou

E naquele provador, no meio da prova do vestido de noiva, em meio a suspiros e gemidos abafados por beijos sedentos, Stiles quebrou novamente sua promessa de se manter longe da mulher que o atormentava, ganhando assim mais dezenas de lembranças para tortura-lo pelos próximos dias. E o sorriso satisfeito nos lábios de Malia que ainda ofegante, se mantinha deitada no chão, sem se preocupar em cobrir sua nudez, denunciava que aquela tortura nunca chegaria ao fim. Ela agora sabia exatamente o poder que exercia sobre ele, sabia que ele estava a sua mercê e que qualquer coisa que lhe pedisse, ele faria.

A mulher soltou uma deliciosa risada, antes de se levantar do chão e voltar a se vestir com rapidez, deixando Stiles quieto apenas a admirando. Fechando o zíper de sua saia para finalizar a arrumação, a morena olhou para Stiles ainda nu no chão a encarando sem palavras e elas sabia o que aquilo significava. A culpa do homem já estava voltando com força total, e o homem impulsivo que há pouco assumira Stiles, já havia sido guardado novamente no fundo da mente do homem, fazendo com que apenas os fantasmas e a culpa o tomasse por completo.

-Nos vemos na segunda? Ou vai fugir para um monastério depois de hoje? –Perguntou, risonha, o fazendo a encarar com pesar antes de pegar suas roupas espalhadas pelo chão para começar a se vestir

-Não vai mais escolher seu vestido? –Perguntou, desconversando, enquanto vestia seu jeans

-Ah, mas eu já escolhi, querido professor. –Afirmou, com um sussurrou próximo a orelha do homem, o fazendo fechar os olhos se arrepiando

-Por que esse? –Questionou, abrindo os olhos lentamente, observando um sorriso malicioso começar a brotar em seus lábios

-Porque você vai estar naquele teatro que será meu casamento e eu quero quando me ver entrando nesse vestido, se lembre detalhadamente desse dia e que mantenha em mente, que o noivo poderia ser você se quisesse, bastaria apenas não fugir de mim cada vez que se entrega. –Explicou, o deixando perplexo com o plano da mulher

-Teatro? –Questionou, tentando entender

-Agora deixa eu ir. Não quero ser expulsa da sua presença novamente, não é mesmo? –Perguntou, irônica –Espero sinceramente que sonhe com o que fizemos hoje pelos próximos cinco meses, Stilinski. –Sussurrou, mordendo o lóbulo da orelha do homem, antes de deixa-lo paralisado no meio do provador sozinho com seus próprios pensamentos e novas lembranças.