História Cliche - Rejeição

-Zayn que bom que você apareceu -eu falei animada, correndo os poucos dois metros e meio que nos separavam. 

Peguei em seu pulso e o puxei para sentar ao lado de Harry na maca. Engoli a minha vontade de revirar os olhos ao ver Harry se espremer na parede e Zayn dar um pulinho para o final da maca, ambos querendo criar distância.

-Então, Zayn -me dirigi ao meu antigo amigo, abrindo um sorriso que sempre me ganhava o que eu queria- eu ouvi dizer que você tem falado coisas sobre mim. É verdade?

-Que coisas? -ele perguntou franzindo o cenho, olhando para Harry rapidamente com, o que eu pensei, medo.

-Não sei também... Você saberia me dizer? -pisquei meu olhos no que julguei ser de forma charmosa e não como se eu tivesse um bicho querendo entrar dentro da minha íris.

-Não...? -ele falou, mas acabou soando como uma pergunta o que fez com que eu voltasse à estaca zero: confusa.

-Tem certeza? -Harry entrou na conversa, sua voz soando ameaçadora com seu tom rouco e baixo.

-Não.

-Não? -eu pressionei.

-É, -Zayn olhou para Harry e depois para mim- não.

-Okay, então o que você disse?

-Coisas desrespeitosas. 

Virei meu olhar para Harry e percebi que ele estava falando, porém sem a sua voz, o que Zayn deveria falar.

-Para com isso! -dei um tapa na cabeça de Harry.

-Para de me bater, mulher! -Harry protestou, colocando a mão aonde eu bati.

-Então, Zayn -enfatizei seu nome, ignorando Harry- o que você disse sobre mim?

Zayn baixou a cabeça para seu colo e respirou fundo.

-O suspense... -a enfermeira comentou à parte.  

Revirei os olhos e levantei minhas mãos em forma de redenção, porque aquele ponto, eu me rendia.

-Quer saber? Foda-se! Foda-se o que você disse, foda-se que vocês se bateram -comecei a falar nervosamente, desabafando o que eu nem sabia estava sufocado dentro de mim- foda-se que eu estou tendo uma manhã de merda, foda-se que o Bernard voltou, foda-se que eu ainda não comi meu lanche, foda-se que essa sala fede a doritos, foda-se vocês! 

Dramaticamente, sai da sala batendo o pé. 

-Vocês vão deixar ela falar assim com vocês?

•••

Eu estava deitada no sofá da biblioteca, ajeitando a almofada embaixo da minha cabeça até encontrar uma posição confortável. Eu tinha desistido de frequentar as últimas aulas, principalmente pelo fato de ter perdido a paciência e o animo de ouvir sobre coisas de 50 anos atrás que eu não vou usar daqui cinco anos. 

Eu estava quase dormindo quando senti alguém cutucar meu ombro, de primeira pensei que estava imaginando coisas, então ignorei e continuei de os olhos fechados, com a imagem de Zac Efron se formando na minha mente, mas a cutucada voltou.

-Pss.

Pensando que era uma mosca, tentei afastar aquele demônio de perto de mim com a minha mão, porém acabei sentindo uma superfície macia que, depois, descobri ser pele. Abri o olho quase imediatamente e desci minha mão até a mandíbula da pessoa, sentindo a forma perfeita. Já tendo um certo palpite de quem era, levei a minha mão até a boca da pessoa e, ao sentir os lábios finos, me surpreendi com a abertura da boca e soltei um palavrão quando os dentes se fecharam em volta do meu dedo indicador e o do meio.

-Filho da puta.

-Vamos deixar a dona Anne fora disso.

Girei meu corpo para o outro lado e encontrei Harry abaixado, as pernas dobradas. 

-Hmm, deixa eu dormir -falei, voltando a fechar os olhos. 

-Nananão -ele me parou, colocando a mão em meu ombro. 

Harry me puxou para cima, me fazendo sentar. Em um movimento rápido, ele sentou-se ao meu lado, impossibilitando a minha ocupação inteira do sofá.

-Você está bem? -ele perguntou depois de um tempo me olhando.

-Estaria melhor dormindo, por que?

-A forma como você saiu da enfermaria me deixou preocupado.

-Você? Preocupado comigo? -apontei para ele e para mim, tentando não deixar meu sorriso rasgar meu rosto.

-É.

-O que um beijo não faz, hein -comentei, batendo de leve em seu ombro.

-Eu não estou preocupado com você só porque nos beijamos, Abby -Harry juntou as sobrancelhas, ficando sério.

Olhei para ele por alguns segundos, sem saber ao certo o que dizer depois. Harry percebeu a minha falta de resposta e tirou o celular do bolso traseiro, mexendo em alguma coisa. Eu, curiosa como sempre, esperei um pouco e logo Harry estendeu a mão, me oferecendo o celular para pegar. Pelo que eu vi, era um vídeo e, querendo respostas, abri a boca para começar a minha série de perguntas, mas Harry foi mais rápido que eu.

-Antes da briga com... -ele parou, revirando os olhos e a sua falta de vontade de pronunciar até o nome do Zayn chegou a ser cômica- Eu estava conversando com o Niall pra descobrir o motivo dele e do Louis agirem estranho com você na festa e pá -ele explicou- sem querer, acabei gravando. 

Assenti e abaixei a cabeça para o celular, tocando na tela para dar play. O celular provavelmente estava no bolso de Harry, o que explicava a tela totalmente preta, mas o som estava quase totalmente audível, a voz de Niall e Harry saindo abafada pelas outras vozes dos alunos.

-Ei, Niall -ouvi a voz de Harry primeiro e aproximei o celular do meu ouvido, tentando ouvir melhor.

-Harry! Eai, mano -o loiro soou animado, como sempre, e consegui distinguir a risada dele- Em que posso te ajudar? 

-Lembra da Abigail Patel?

Não consegui entender o Niall respondeu, talvez ele nem tenha, então deduzi que ele tinha concordado com a cabeça.

-O que vocês estava tramando na festa pra fazer com ela? -Harry pareceu ficar bem sério, e como a voz de Niall soou mais alta, ele deve ter se aproximado do outro. 

-C-como assim? Nós não iríamos fazer nada.

-Então por que você sumiu da frente da Abigail quando a viu na mesa de beer bong? 

Eu lembro de ter passado o cotonete nos meus ouvidos anteontem, então tenho quase certeza que tinha ouvido o som de armário batendo. 

-Cara, se acalma -Niall pareceu rir nervosamente- eu te falo.

Seguiu um silêncio, mas não era exatamente um silêncio mesmo porque tinha o som dos outros alunos falando, só não tinha as duas pessoas que realmente importavam se fazendo presentes, sabe.

-Tô esperando -Harry finalmente falou.

-Ah, você quer que eu fale agora? 

-Não, pode deixar pro chá da tarde -o barulho de armário batendo soou de novo e segurei o riso- é claro que eu quero agora.

-Tudo bem, Harry, se acalma, respira fundo -Niall brincou e imaginei ele batendo no peitoral de Harry, tentando amenizar a situação- Okay, parei.

Virei meu rosto para Harry ao meu lado e levantei a sobrancelha, silenciosamente perguntando o que tinha acontecido naquela gravação e, como resposta, ele apenas deu de ombros, fazendo sinal para eu continuar a prestar atenção quando a voz de Niall apareceu.

-Você sabe a relação que Louis tem com a Rosemary, né? -estava prestes a perguntar o que Rosemary tinha haver com o assunto, mas Niall continuou- Ela sempre está tentando fazer ciúmes nele, mas Louis se cansou disso faz um tempo e comentou que queria fazer o mesmo com ela, sabe, devolver na mesma moeda -revirei os olhos com a infantilidade.

Parecia até aquelas situações de desentendimento onde a namorada vê o namorado abraçado ou rindo com outra menina que não seja ela, ou vê os dois em uma posição que dá para entender de outra forma que não seja "amigável" e decidi retalhar da pior forma possível: agarrando o primeiro cara que aparece na sua frente.

-E ele sabia que Rosemary tinha prestado atenção em você -Niall comentou, puxando a minha atenção de volta para a conversa gravada- e todo mundo sabe que a Abby tem uma quedinha por você -eu comecei a ver preto na minha frente, além do preto da tela do celular, porque a única coisa que eu conseguia pensar era "ABORTAR MISSÃO, REPITO ABORTAR MISSÃO", será que era tão óbvio assim os meus sentimentos por Harry? Não qu- Sem falar que você, dentro os quinhentos alunos dessa escola, só conversa com ela -Niall interrompeu meus pensamentos de novo, continuando a tagarelar- Então, Louis fez dois mais dois e sabia que se mexesse com Abby, estaria mexendo com você, e isso afetaria Rosemary.

Que tipo de pessoa pensa assim? 

-Abby e Harry? -uma voz entrou no meio da conversa e franzi o cenho, ao reconhecer Zayn falando- Como se ele fosse capaz de sentir alguma coisa.

Imediatamente, Harry avançou para cima de mim com a mão indo direto na direção do seu celular, entretanto, com meus reflexos de ninja, dei um pulo do sofá bem a tempo de escapar, vendo Harry cair de lado. 

-Cala a boca, nerd -a voz de Harry soou neutra, como se ele estivesse irritado com a presença de Zayn- O que você está fazendo aqui? Não tem algum projeto de física pra fazer? 

Harry levantou do sofá e engoli a minha vontade de mostrar o dedo do meio para ele com a sua fala, sendo que se não fosse por Zayn, a nota de física -tanto minha como a dele- estaria menor do que a atual.

-Infelizmente para você, eu não fiquei ofendido, afinal, pra quem a Abby vem correndo quando precisa de ajuda? -Zayn perguntou ironicamente, rindo no final.

Franzi o cenho ao ouvir a sua fala, não entendendo o porquê dele estar agindo assim. Não tive muito tempo, mentira, eu não tive tempo para pensar direito sobre isso porque Harry estava se aproximando de mim enquanto eu dava passos incertos para trás, uma mão estendida com a intenção de afastá-lo, mas que na verdade não estava tendo efeito nenhum. Harry pareceu perder a paciência e deu uma corridinha até mim e, quando eu vi isso, soltei um grito, que pensando agora, foi totalmente desnecessário, e virei para o lado de uma estante, começando a correr. 

Há, perdeu babaca, pensei, quando não vi Harry aparecer atras de mim.

-Zayn, cai fora -Niall mandou.

-Mas é a verdade -a voz do meu amigo soou de novo- Harry sabe que a Abby me prefere, tanto para favores escolares como para fav-

Senti duas mãos segurarem a minha cintura e me puxarem para trás, não antes de arrancar o celular da minha mão e cortando a fala de Zayn; aí sim, olhando agora, o grito agudo que eu dei foi totalmente preciso, vai que era um sequestrador? 

Felizmente para mim, era apenas Harry. 

Eu queria poder dizer que aconteceu alguma coisa diferente do que houve, mas a verdade era que duas alunas do primeiro ano e a bibliotecária apareceram em questão de dois segundos, quebrando a ideia de que você podia fazer tudo na biblioteca (inclui sexo para os pervertidos) que ninguém iria ouvir. 

-O que está acontecendo aqui? 

-Está tudo bem?

-Acho que engoli uma uva inteira.

Harry me soltou e olhamos confusos para uma das garotas do primeiro. Ela estava com a mão ao redor da garganta e começou a tossir, se abaixando. Soltei um "eita porra" e corri para o lado dela, batendo na sua coluna para ajudá-la de alguma forma.

-Você está querendo matar ela? -a sua amiga falou raivosa, me empurrando para longe. 

-Ei, não precisa ser mau educada -Harry entrou no meio, segurando no meu braço quando tropecei para trás, surpresa com a grosseira da menina.

-Ca... Lem... A... Bo... Ca -a outra garota falou brava entre tossidas.

-Eu estou rodeada de burros -ouvi a bibliotecária murmurar e todo mundo olhou para ela.

Sem se importar, ela abraçou a garota que estava começando a ficar roxa, e apertou seu tronco algumas vezes até que eu vi uma uva voar para fora da boca dela.

-Obrigada -a menina agradeceu depois de mais algumas tossidas.

-Só tenta mastigar da próxima vez -disse docilmente- agora vocês dois -sua voz drenou a doçura e foi substituída por seriedade- o que foi esses berros? 

Sinceramente, eu não tinha ideia do nome dessa bibliotecária, só vinha para cá por uma razão: dormir no sofazinho, então a minha falta de conhecimento que até então não tinha me incomodado, estava começando a inferir na hora em que eu me referia à ela.

Com seus cabelos pretos puxados para trás em um coque forte, ela usava uma saia lápis preta, uma blusa solta estampada de oncinha e uma sapatilha preta aos pés. Dando uma rápida olhada nela, decidi que a chamaria de November, igual ao mês -estávamos em novembro. Tem pessoa que se chamava "April" e "June", que também são meses, então não vejo nenhum problema em chamar a bibliotecária de "November", afinal, em inglês tudo fica mais bonito.

-Eu tinha caído -falei rápido, indo com a primeira coisa que minha cabeça tinha conseguido pensar.

-Em que? -November cruzou os braços, claramente duvidando de mim.

-Em um livro -ri, como se fosse óbvio.

-Que livro? 

Só então lembrei que não tinha nenhum livro no chão. 

-Esse -catei um livro da prateleira ao meu lado e mostrei. 

-Eu vi você pegando o livro. 

-Hã... Não viu não -neguei, balançando a cabeça.

-Meninas, ela não acabou de tirar o livro dali? -November se virou para as meninas do primeiro ano em busca de ajuda.

-Sim -as duas confirmaram. 

-Eu tenho que discordar -Harry falou, pegando o livro da minha mão e guardando no lugar que estava antes- eu não vi nada.

-Você está protegendo ela, -November alfinetou- sua opinião é inválida. 

Eu abri a boca para me defender, mas o sinal tocou e sorri, dizendo:

-Mas olha, a aula vai começar, acho melhor eu ir antes que me atrase -peguei a gola da blusa de Harry e comecei a andar para trás, me afastando lentamente, mas certamente, daquela cena- tchaaaau! 

-Mas-

Ignorando a fala de November, corri para fora da biblioteca com Harry no meu encalço. Só quando me encontrei em frente à sala de aula que eu soltei ele e tentei respirar fundo, sendo lembrada que era uma sedentária assumida com a minha falta de fôlego. 

-Essa foi por pouco -falei, as mãos apoiadas no meu joelho enquanto respirava fundo.

-Nem me fala -Harry riu, totalmente inabalado pela mini corrida que tivemos. 

Ao contrário de mim, ele estava encostado na parede ao seu lado, respirando como uma pessoa normal. A inveja bateu de leve, mas eu dei um chute nela.

-Então... -falei lentamente, deixando a minha coluna reta e agora com a minha respiração quase normal- Eu só queria deixar claro que eu não tenho uma queda por você, tipo, isso é ridículo, né? -ri sem graça, revirando os olhos.

Eu não tinha uma queda por Harry, eu tinha mais um penhasco mesmo, mas eu ainda não estava pronta para deixá-lo saber dos meus sentimentos e me sentir vulnerável e de portas abertas para a rejeição. 

Eu estava ciente que deixava pistas e, às vezes, bem óbvio que eu gostava de Harry, mas dizer as palavras e saber que todos ao nosso redor pensavam que eu tinha sentimentos por ele além de amizade, não era confortante. 

-É? -Harry perguntou, arqueando a sobrancelha e sorriu de lado- Você não gosta de mim? -balancei a cabeça negativamente, pressionando meus lábios- Nem um pouquinho?

Continuei balançando a cabeça e tentei continuar com a minha fachada calma ao ver Harry desencostar da parede e se aproximar de mim. Ele deitou a cabeça para o lado e notei o brilho de divertimento em seus olhos.  

A mesma pergunta voltou a aparecer: Será que era tão óbvio assim? 

-Tem certeza? -ele perguntou de novo, sua voz muito mais baixa e próxima, a rouquidão fazendo meus pelos do braço se arrepiarem.

Bastou em falar do meu braço que Harry levou sua mão até a minha, subindo lentamente e acariciando meu braço, ombro e parando no pescoço. Conseguia sentir o metal dos seus anéis contra a minha pele, a maciez dos seus dedos e me segurei para não perguntar qual creme de mão ele passava. 

Harry deu mais um passo para perto de mim e seu nariz encostou no meu. Decidi fechar meus olhos, pronta para ser beijada por ele e sem nenhuma objeção sobre o assunto. 

-Não sei porque, mas eu não acredito -Harry disse e, com isso, deu a volta por mim e entrou na sala de aula, me deixando sozinha no corredor de olhos fechados e a boca em forma de biquinho.

Até agora não superei o vácuo em que fui deixada.