História Clockwise - I - Prólogo

Ser relojoeiro não era mais uma profissão comum, muito menos necessária. Haviam relógios digitais, celulares, tablets, e outros dispositivos eletrónicos que podiam mostrar as horas e as pessoas já não ligavam tanto para a delicadeza dos mecanismos analógicos. No entanto, para Rohan Kishibe, um exímio e jovem relojoeiro, nada do que lhe fora ensinado por seu falecido avô fora em vão. 

Desde pequeno que o jovem, agora com vinte e oito anos; sempre se entusiasmara com o mover dos mecanismos de relógios e quisera aprender mais sobre. Nos dias que corriam, era um dos poucos especialistas na arte de reparar aquelas pequenas maravilhas que existiam, sua clientela sendo extremamente específica, principalmente surgindo com velhos e elaborados relógios de bolso, que sempre conquistavam sua atenção - eram seus favoritos acima de qualquer coisa. A delicadeza e construção dos mecanismos o fascinavam, a felicidade que banhava seu rosto era mais que evidente cada vez que dava por si ouvindo as histórias das mais diversas pessoas que ali cruzavam as portas do seu pequeno escritório no meio de tantas lojas na cidade de Tóquio.

Mais um dia havia passado, seu nariz enfiado nos livros e anotações velhas do seu falecido avô, que volta e meia gostava de reler nas horas mortas do expediente. Fazia-o para não pensar nas contas ao fim do mês. Ainda que renda não fosse uma preocupação, a conta da luz, da água e da internet o eram, e o lucro que ali tinha não era suficiente para manter o espaço funcionando, pelo que fora dali, fazia conservação e restauro de algumas peças no Museu de Arte de Tóquio, já que essa era sua formação universitária, e sua segunda paixão. Com tanto trabalho e preocupações, o menor sequer aproveitara sua vida, nunca havendo tido uma namorada ou namorado, não sabia o que era o amor por uma pessoa, apenas por artefactos antigos. 

E agora aos vinte e oito anos, sentia que nunca iria aproveitar a sua vida em pleno. Sua vida eram os relógios. Em seus pensamentos, não se arrependia, nem voltaria atrás no tempo, mas seu subconsciente ditava um pouco desse arrependimento que escondia, bem lá no fundinho da sua caixinha emocional.