Lucy Heartphilia
Anos atrás, ainda na época do colégio, havia um garoto.
Lindo. Loiro. Alto. Corpo esportivo. Sorriso cativante. Olhos azul cobalto.
Era um jovem excêntrico e meio arrogante. Sempre foi muito cheio de si, talvez por isso as pessoas gostassem tanto dele, sua convicção e segurança eram inspiradoras. Uma pessoa espirituosa, aos dizeres de alguns. Vivia como se o mundo não fosse existir mais no próximo dia. Era tudo ou nada, oito ou oitenta, sem meios termos. Uma pessoa intensa, muito intensa. Completamente desinibida.
E em razão disso, por vezes se tornava um completo babaca.
Era tão entregue a certas situações que se metia em enrascadas, fazia coisas que não devia, fazia coisas como as que partiram meu coração e quase acabaram com a minha vida.
Ele fazia coisas erradas.
A meu ver, muito erradas.
Ele era Sting Eucliffe, o aluno popular; a luz daquele lugar.
Eu era Lucy Heartphilia, a cdf ingênua e sonhadora; a piada.
E então havia ela, Yukino Agria, ela era um doce, quando não estava dominada por aquele espírito mordaz insuportável –que era o que acontecia quase noventa por cento do tempo. Também era uma jovem excêntrica e um tanto arrogante, com certeza até mais que Sting, afinal sua intensidade estava no caráter depreciativo.
Eles dois eram a sensação do colégio, e claro, havia aquela informação importante: formavam um par romântico. Sting sempre deixou escancarado para todos, já chegou até a berrar a plenos pulmões o quanto era louco por aquela garota. Diferente do que se espera ao saber disso, o sentimento dele era genuíno, totalmente sincero; a evidência estava em seus olhos, estava nos gestos acompanhados de tanto esmero em relação a ela; ninguém podia contestar aquilo.
Todos sabiam disso. Eu sabia...
Com Yukino a situação não era muito diferente, ela defendia o relacionamento deles com unhas e dentes; adorava desfilar com ele para todos os lados, estava feliz desde que estivessem chamando atenção juntos. Acho que as pessoas gostavam do modo como ela era ousada e se colocava tão acima de tudo, se mostrando vigorosa e inabalável. Tanto que nem chegavam a realmente se incomodar com o modo como ela podia ser rude.
Ela não gostava muito de mim, existia uma certa antipatia em relação a minha personalidade, era algo que ela julgava como simplório.
Enfim...
Nossas vidas não se relacionavam além do fato de frequentarmos a mesma escola e sermos figuras parcialmente públicas. Eles os populares que todos admiravam, eu a filhinha de papai que pagava de nerd e só sabia sonhar.
A situação continuou assim por um bom tempo, isso até chegarmos ao último ano. Às vezes eu ainda sinto as memórias daquele tempo bem vívidas, foi de longe o pior ano da minha vida.
Eu era uma menina reservada, todos sabiam disso. Mas, apesar de tudo, eu era feliz, estava sempre sorrindo e era gentil com qualquer um que se aproximasse. É claro que eu sabia o quanto quase todos desdenhavam meu jeito, eu era claramente definida como uma menina tola, porém nunca tive problemas sérios com isso. Eu lidava bem com aquilo, e no geral ninguém mexia comigo.
Lembro-me de quando as coisas começaram a desandar.
Minha mãe foi diagnosticada com câncer, minha irmã mais velha tinha sumido no mundo, meu pai estava estressado, agressivo e se afundando na bebida, meus tios foram dominados pela ganância e ficavam se bicando por uma empresa que em nada pertencia a eles. A família inteira estava na merda, tudo estava ruindo, e eu enfiada no meio de tudo aquilo.
Eu podia lidar bem com pessoas me julgando e fazendo críticas más pelas minhas costas, enquanto vinham até mim quando precisavam de ajuda. Sim, eu podia lidar bem com a falsidade, podia lidar bem com a falta de compreensão que recebia deles. No entanto, eu não conseguia lidar bem com minha família inteira indo abaixo, simplesmente desmoronando.
E em algum momento eu devo ter deixado transparecer isso.
Meu humor mudou e isso era evidente, eu estava completamente perdida e não dava mais brecha para que qualquer um se aproximasse, eu não precisava de ninguém se metendo nos meus problemas, só queria afundar naquela depressão sozinha fingindo que no final tudo ia dar certo. Eu sabia que não ia dar.
Essa mudança acabou chamando a atenção das pessoas, afinal eu era a menina tola e ingênua que só sabia sonhar e sorrir para todos, e eu estava até mesmo começando a agir meio grosseiramente.
Numa dessas, porque de um esbarrão e uma mancha, acabei me metendo numa briga com Yukino, nós passamos do limite, ela mais que eu, tanto que Sting até mesmo chegou a repreendê-la por ser tão publicamente depreciativa. Obviamente ela ficou de cara emburrada por isso.
Na semana seguinte chegou a notícia do término.
O tempo foi passando: minha mãe morreu, meu pai virou um alcoólatra agressor, meus tios aproveitaram a chance e tomaram a empresa, sobre minha irmã sequer havia notícias. Eu estava oficialmente depressiva.
Na escola, tinha que aturar a implicância de Yukino e a estranha aproximação de Sting. Era como se eu estivesse num buraco negro, tudo era uma mistura de dor, desespero e vazio, eu estava perdida como nunca antes na vida, sentia como se fosse o fim, não conseguia processar nada.
De algum modo, (não me pergunte como ou quando aconteceu, falo sério ao dizer que tudo era uma imensidão negra e ofuscada onde eu não conseguia processar nada), Sting havia se tornado um porto seguro, de repente ele era a razão pela qual eu estava existindo e tentando passar através da dor, de repente ele se tornou tudo, os dias eram melhores quando ele estava por perto, a vida era suportável se ele estava ali para compartilhar o mundo comigo.
Eu me apaixonei.
Céus, eu me entreguei de corpo e alma para aquele garoto, dei a ele meu coração para nunca mais tomar de volta, dei a ele minha vida. Eu tinha consciência de que se fosse necessário eu tomaria um tiro, entraria na frente de um caminhão para que nada de ruim acontecesse a ele.
Essa era a intensidade do amor que eu nutria por Sting.
Infelizmente, o amor dele não pertencia a mim, e ele provou a todos naquela noite quem era a dona do coração dele. Provou mesmo, e passou no teste!
Veja bem, não foi exagero quando eu afirmei que ele era um garoto que fazia besteiras porque se entregava demais a certas situações. Sting e Yukino haviam brigado porque de mim, ela ficou tão fula da vida que quis acabar comigo e usou Sting pra isso, terminou com ele e deu o ultimato: precisava provar o amor dele a ela destruindo minha vida.
Cego de amor como todos sabiam que era, é claro que o babaca aceitou.
Nós estávamos em um relacionamento. Eu apaixonada, ele fingindo.
E então na noite de formatura ele trouxe tudo aquilo a tona. Me humilhou da pior forma possível. Eles acabaram comigo.
Eu chorei de forma tola, pranteei aos soluços na frente deles. Foi uma noite horrível.
Está aí a razão de eu ter ficado tão irada quando ouvi a proposta de Sting, sugerindo que eu fosse morar temporariamente na casa dele. Ele já brincou feio comigo uma vez, já se aproveitou de mim num momento de fragilidade semelhante a esse, e eu não vou dar brechas para que aconteça de novo.
Não posso deixá-lo criar oportunidades de tomar meu coração de novo, não vai acontecer.
Porra. Eu ‘tô muito puta da vida com ele.
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