História Closer - Capítulo 4

Gaara já estava arrumado, mesmo relutante ele estava arrumado, Shikamaru queria de alguma forma o distrair então pediu a Ino que fosse com eles comprar algumas roupas para o ruivinho.

_Você não vai me abandonar? – Gaara perguntou baixinho pela décima vez e Shikamaru dividia-se em sentir raiva e pena do garoto. Bagunçou os cabelos rubros novamente enquanto respirava fundo e ria para enfim responder mais uma vez a àquela pergunta.

_Eu já falei que não Gaara. – Amarrou o tênis do garoto e enrolou a calça, começava a ficar muito impaciente, Ino havia cismado de fazer um café da manhã reforçado e já tinham perdido mais de duas horas, tirando o fato de que ele que teve que lavar a louça e ele detestava lavar a louça _Ino vamos logo! – A garota aparecia na porta com a bolsa na mão e um pedaço de sanduiche. _Já tá pronta?

_Sim, sim. – ela falava mastigando o pão e enfiando o último pedaço de uma única vez na boca, arrancando uma careta do mais velho.

_Você é um poço sem fundo, só pode... – ele respirava fundo enquanto dava um leve puxão no rapaz ruivinho para que ele andasse junto a si o parando perto de Ino.

_ha. Há. Há há você é tão engraçado - fingia um riso enquanto pegava sua bolsa _Vamos? – ela se aproximava de Gaara e apertava a mão fria do rapaz.

_Shikamaru...? – Era um sussurro quase um pequeno pedido por parte do menino ruivo.

_Ei..., eu estou aqui, não precisa se preocupar ela só vai te guiar até o carro. – ele ia logo atrás verificando-se havia esquecido algo e conferindo a carteira para só então trancar a porta. _Cuidado com a escada Ino, devagar com ele.

_Shikamaru...?! – era um soluço enquanto travava seus pés no chão em meio ao desespero.

_Calma, calma eu estou aqui. – Passou a mão pelos ombros do menino enquanto dava leves apertos e o guiava para o primeiro degrau, Ino já havia o soltado, na verdade estava degraus a frente de ambos. _Devagar, calma.

Quando finalmente chegaram no Shopping Gaara já estava completamente enjoado, as compras não foram nada do que Shikamaru planejou, e não era preciso ser um gênio para prevê que Gaara se agarraria a ele como uma criança com medo de ser abandonada no meio do mundo, acabou achando a ideia de tirar o menino de casa prematura demais, o garoto ainda estava machucado, completamente deprimido, sentindo dores, sensível e de luto, era muito óbvio que aquela ideia não iria acabar bem.

_Shikamaru daqui a pouco meu ônibus sai, vai me levar até o terminal? – Ino falava baixo enquanto Gaara descansava seu corpo no colo de Shikamaru, o garoto tinha chorado mais do que uma criança de dois anos que perdeu seu bichinho.

_Gaara? – ele estava acordado e sabia disso. _Vamos Indo...? – ele falou baixinho vendo o outro assentir e levantar o corpo. _Pronto, me dê a mão aqui – ele segurou a mão do mais novo o vendo ficar vermelho enquanto praticamente se encolhia. _Vamos Ino.

_Vamos – ela falava sorridente passando por Gaara e bagunçando os fios.  

O terminal não ficava muito longe dali, devido o horário estava cheio, lotado, tumultuado, mais uma vez Shikamaru se arrependeu de ter saído de casa naquele dia, as pessoas não tinham a mínima educação.

_Ai que droga! – Ino tinha acabado de ser empurrada, chamando atenção de Shikamaru e de mais algumas pessoas na sua frente. _Não olha pra onde anda não Babaca? – Pronto a confusão estava armada.

_Gaara... Isso aqui esta muito tumultuado pra você, vou te deixar sentadinho aqui no banco enquanto levo a maluca para pegar o ônibus.

Gaara se encolheu enquanto assentia mais uma vez, sua mente só conseguia pensar que ele estava prestes a ser abandonado e ficaria sozinho ali no meio de tantas pessoas, logo os soluços se fizeram presente e só estacionaram quando as mãos de Shikamaru bagunçaram seus cabelos e um selar foi deixado ali naqueles fios tão rubros.

_Eu já disse que não vou deixar você sozinho, não saia daí, já volto! – Shikamaru saia correndo vendo a amiga batendo boca com mais algumas pessoas na fila de embarque, Gaara ainda soluçava enquanto mexia de forma impaciente em suas mãos e balançava seus pés, foi nesse momento de distração que uma leve confusão se aproximou de seus ouvidos, alguém estava passando mal e o pediram de maneira nada gentil que levantasse de seu banco para que a pessoa pudesse se sentar.

Claro que ele não disse que era cego, ele mal conseguia falar, foi praticamente intimado a levantar do banco e quando fez isso as pessoas começaram a o empurrar para mais distante, a gritaria, o tumulto, o escuro, ele estava perdido, ele estava desesperado, ele estava chorando compulsivamente enquanto tropeçava nos próprios pés e as pessoas fingiam não o enxergar, se encolheu em um canto qualquer e rezou para que Shikamaru desse por sua falta, pareceu uma eternidade, era desesperador e angustiante em meio a tudo isso ainda tropeçavam em si, como se ele fosse um pedaço de qualquer coisa abandonada no chão.

_Ei... Menino! – Uma das pessoas que tropeçou em si finalmente parou. _Você tá bem? – Ele não respondeu, se encolheu mais ao perceber que o rapaz que falava com si não havia ido embora, tinha ficado ali esperando uma resposta que não iria vir. _Você se perdeu dos seus pais? – Os soluços aumentaram, ele tinha pai mas era como se não tivesse, ele queria ter morrido, queria que Kankuro e Temari estivessem bem, queria não existir.

_Ei, ei, me desculpa! – A voz pareceu meio culpada e pode sentir na hora em que o rapaz se sentou ao seu lado. _Eu vou ficar aqui do seu lado. – o menino se encolheu mais. _Ei! Eu não vou te machucar, relaxa! Só vou esperar minha noiva! Eu tenho um pacote de batatas frita aqui, você quer? – sem nenhuma resposta _Toma! – ele apontou o saquinho ainda fechado para Gaara, mas nenhuma reação. _Vou abrir... – Antes de recomeçar a falar, mais uma confusão ocorria na rodoviária, um cachorro tinha invadido a área e ia na direção de Gaara que não percebeu o que ocorria.

_Garoto! – o cachorro já havia avançado em Gaara que tinha se desesperado sem entender o que acontecia, o rapaz se bateu internamente, tinha entendido que o mais novo era cego. _Droga! – ele segurou o cachorro que parecia querer brincar com Gaara. _Se acalma, ele não vai te morder. Ei amigão solta ele vai – O rapaz fez uns carinhos na cabeça do cachorro que logo foi se deitando nos pés dele.

_Passou, passou, ele só queria brincar. – Gaara estava completamente em crise, chorou compulsivamente até se sentir ser abraçado de lado em uma tentativa de o acalmar. _Era só um cachorrinho, ele só queria brincar, me dê aqui sua mão. - ..._Vamos, eu não vou te machucar. – o rapaz impaciente pega a mão de Gaara e a leva até a cabeça do cachorro que começar a lambe-la. _Viu ele gostou de você.

Mal terminou a frase e viu uma senhora correndo desesperada na sua direção.

_Acho que a dona dele chegou – ouviu a leve risada acompanhado de um latido do cachorro que se levantou.

_Bolinhaaaa!!!! – A moça gritava desesperada enquanto abraçava o cachorro, disparou um olhar de gratidão na direção dos dois, agradeceu verbalmente e partiu.

_Ele também se perdeu. – Gaara voltou a se encolher só que dessa vez ele falou baixinho.

_Ele..., ele...., ele. – Gaara não conseguia falar se engasgava no próprio choro.

_Tudo bem, tudo bem. Você se lembra o telefone? – Recebeu um aceno negativo. _Unh... Calma, vamos dar um jeito. – alguns instantes depois que essa frase foi pronunciada  o telefone do mais velho tocava.

_É minha namorada, ela deve tá me procurando, quem saiba como nos ajuda a te ajudar – ele riu bagunçando os fios rubros e atendeu o telefone.

_Oi amor! ... Ah, não vai dar para vir me buscar, tudo bem! – desligou o telefone vendo o menino o olhar em completa confusão e desespero. _Acho que estamos nós dois perdidos, minha namorada não vem me buscar.

_Será que o Shikamaru tá preocupado? – mais uma vez aquela voz tão tímida saia de maneira tão abafada.

_Eu tenho certeza que sim, ele deve estar muito preocupado com você. – ele deu uma pausa percebendo só agora que ele não tinha se apresentado ao menino. _Sabe eu acabei me esquecendo de me apresentar, prazer me chamo Naruto Uzumaki.

Gaara parou durante alguns instantes até finalmente ter coragem de se pronunciar. _Gaara... Eu estou cego.

Naruto deu uma leve risadinha _Eu percebi, sou professor. Que tal irmos no balcão de informações, talvez possamos pedir ajuda de alguém. – Se levantou segurando a mão de Gaara para que ele fizesse o mesmo, e o levou até a tal balcão, mas antes deles falarem qualquer coisa com a atendente a voz de Shikamaru se fazia presente nos auto-falantes da rodoviária, ele estava desesperado procurando seu otouto.

_A senhora poderia comunicar que esse é o menino que o rapaz do autofalante está procurando. – Naruto falava entre risos enquanto via Gaara dar um leve sorriso, Shikamaru não o tinha abandonado, ele realmente estava o procurando.

_Gaaaraaaaa!!!! – Mal teve tempo de reagir, o garoto foi envolvido em um abraço protetor e desesperado que chamou atenção de boa parte das pessoas em volta. _Garoto, eu falei para não sair do lugar! – ele soltava um pouco o abraço vendo os olhos vermelhos. _Eu não devia ter te trago, desculpa. Deve ter sido assustador!

Shikamaru mal acabou de falar e foi envolvido por um abraço ainda mais apertado. _Calma, calma, passou. Eu estou aqui agora.

_Pensei que você fosse me deixar! – Shikamaru fechou os olhos com força enquanto deixava suas lágrimas descerem e acarinhava os fios de Gaara o empurrando contra seu corpo, ele realmente pensou em o deixar ali, mas desistiu, claro que desistiu, só de pensar no olhar desesperado do menino, seu peito doeu e ele procurou em cada canto, perguntando a cada pessoa, até encontrar uma guarda que lhe mostrou onde deveria ir para usar o autofalante.

_Eu falei que eu voltava rápido! – Shikamaru o repreendeu e só então percebeu o olhar curioso do rapaz que possivelmente tinha encontrado Gaara. _AH! Você o encontrou? Obrigado!

_Não há de que. Ele estava meio desesperado e eu percebi que ele precisava de ajuda. – Naruto sorriu largamente enquanto coçava a cabeça, se lembrando que ainda não sabia como chegar no apartamento novo. _Você poderia me explicar como chego nesse endereço, minha noiva tevê um contratempo e não pode vir me buscar.

_Claro! Cadê o endereço! – Shikamaru se soltou um pouco de Gaara mas não soltou sua mão o mantendo colado a si, enquanto Naruto revirava sua bolsa! _Achou!?

_Não, acho que eu perdi! -  Naruto coçou a cabeça e olhou desesperado para Shikamaru. _Estou literalmente perdido !

_Liga para sua noiva! – Shikamaru o olhou de forma óbvia.

_Peraí, boa ideia, você fala com ela tá! – ele discou o número e deu a Shikamaru antes que ela proferisse meia dúzia de palavrões por sua demora. _Hina amor, tem alguém querendo falar com você!

_AH! OI! .... Prazer meu nome é Shikamaru, seu noivo ajudou meu irmão, gostaria de o levar em casa qual o endereço. – Shikamaru riu um pouco dos adjetivos usados pela moça para definir o noivo e do pedido de desculpas enquanto ela falava o endereço. _Obrigado, o levarei em segurança!

Shikamaru sorriu ao desligar e entregar o telefone para Naruto.

_Entendi o motivo de eu ter que falar com ela

_Ela é só um pouquinho enérgica, mas no geral é um amor! – Naruto fez bico. _Mas sabe onde é o endereço?

_Claro que sei, você é meu mais novo vizinho. – Shikamaru riu.

_Que legal!!! Viu Gaara-chan vou poder te visitar!!!

No carro...

_vocês dois não são parecidos, ele não é seu irmão de verdade né? – Naruto falava olhando o menino dormindo enrolado em um dos seus casacos.

_Não, ele é irmão da minha noiva que está em coma, o pai dele tem sérios problemas e o irmão morreu. – Shikamaru apertou o volante e Naruto mordeu os lábios, entendia agora o medo do menino ruivinho.

_Me desculpe!

_Tudo bem! Obrigado por cuidar do Gaara.

_Não tem problema, sério, eu percebi que tinha alguma coisa de errado com ele, eu geralmente sou muito sensível a crianças, eu cresci em um orfanato, trabalhei com crianças em situação de risco, me formei professor do primário. Eu definitivamente não aguento vê criança sofrendo.

Shikamaru deu uma leve risada ao perceber que não era só ele que comparava Gaara com uma criança.

_Ele ficou cego faz pouco tempo, eu realmente não deveria ter o levado, mas eu queria tanto o tirar um pouco de casa que...

_Que você agiu desesperadamente e não pensou – Naruto riu da cara de Shikamaru. _Eu sou professor cara! O que eu mais vejo são pais agindo de forma desesperada, é tudo muito novo, você deveria procurar ajudar, ou melhor Hinata deveria te ajudar!

_Sua noiva?

_Ela é psicóloga infantil, ela sabe das coisas – Naruto riu travesso. _Não foi me buscar porque estava arrumando o novo consultório.

_Nossa que legal!

_É eu sei o que você está pensando, ela ganha mais do que eu! – Naruto riu de novo e Shikamaru o acompanhou. _Mas eu me estresso menos e as vezes a ajudo no consultório com alguma coisa relacionado a psicopedagogia, não preciso dizer que ela não me paga né?

_Claro – Shikamaru continuou rindo quando anunciou que já estavam chegando e só faltava uma rua.

_Eu posso ensinar Braile para vocês, eu já tive alguns alunos cegos na outra cidade e esse ano eu só trabalho meio período.

_Isso realmente vai ser de grande ajuda! Qual escola você vai trabalhar?

_Então, eu fiz um concurso para uma escola Federal, fiz as provas passei, mas não sei onde raios a escola fica, eu nem sabia onde eu estava morando! – Naruto ria vendo a cara de Shikamaru ao estacionar na garagem do prédio.

_Vamos ter que pedir ao vigia para abrir o elevador de carga pra subir suas malas e minhas compras, aliás esse é o único elevador do prédio inteiro.

_Uauuuuuuuu. Ainda bem que são só quatro andares? Qual o meu andar mesmo?

_O último! – Shikamaru riu da cara que Naruto fez ao constatar que moraria no último andar.

_AH! Cara, quatro andares, tinha que ser logo o último! – Naruto dramatizou enquanto Shikamaru tirava o cinto de Gaara e o puxava para seu colo.

_Naruto pare de drama e vá chamar o vigia pede também o carrinho de carga para colocar as malas e as compras.

Quando já estavam no andar dos apartamentos Naruto chegou a perguntar se Shikamaru não queria entrar mas ele preferiu ir direto para seu apartamento e deixar o casal se acertar em paz.

_Muito bem Gaara, hora de comermos algo quentinho. – Colocou o ruivinho no sofá, ainda estava coberto pelo casaco de Naruto, e foi para o fogão arrumar alguma coisa para comerem.