Satoru era a criança prodígio do Clã Gojo e do mundo Jujutsu, o primeiro em 100 anos a nascer com os Seis Olhos e o Ilimitado, simultaneamente. Só isso já o tornava alguém extremamente poderoso e que a mera existência influenciava os espíritos amaldiçoados, tornando-os mais fortes também. Isso era bom para a influência do Clã sobre os outros, mas em contrapartida, era extremamente ruim para o jovem platinado, que no momento em que nasceu já possuía um alvo nas costas e seu destino selado.
Pessoas diferentes tentavam caçá-lo todos os dias, já que nesses sites da camada mais profunda da Internet, sua cabeça valia milhões. Claro que o resto do Clã Gojo o protegia, até demais, ainda que com razão, mas resultando na falta de liberdade para o jovem. Satoru nunca conseguiu, de fato, aproveitar sua infância e brincar com outras crianças, entender como o mundo além dos muros de sua família funcionava. Foi submetido a treinamento rigoroso a partir do momento em que adquiriu discernimento o suficiente, quando já entendia a diferença entre brincar e treinar, e embora nunca tenha brincado com outros da sua idade, por um tempo, o garotinho de olhos azuis sentia vontade de saber como era.
Depois de um tempo, começou a entender o motivo para tanto treino, não podiam deixar de preparar o prodígio para o que estava por vir, não podiam deixar de preparar a “arma” que tinham posse para exercer exatamente sua função e para carregar um enorme fardo, um que ele nunca pediu, e nem pediria, se soubesse o destino que lhe aguardava. De qualquer forma, aconteceu, e o passado não pode ser mudado. Junto a isso, mesmo entre o Clã, Gojo era muito mimado, sempre recebia elogios e via pessoas se curvando para si, o que fez com que crescesse arrogante. Não respeitava os superiores, os mais velhos, achava que era o mínimo ao ser tratado com extrema cortesia, se tinha de carregar o peso de ser o mais forte entre os feiticeiros Jujutsu da atualidade, então que o tratassem como tal. Era o que pensava.
Até que conheceu um sujeito, um jovem da sua idade, mas que parecia ser seu completo oposto. Geto Suguru não vinha de uma família grande de feiticeiros, não cresceu treinando, não era arrogante, muito pelo contrário, era a pessoa mais educada que o platinado já conhecera. Satoru ficou chocado com sua presença, já que Geto também foi o primeiro a tratá-lo como um ser humano comum, sem elogios e bajulações, sem visá-lo por suas habilidades. Na verdade, o moreno nem sequer parecia intimidado ou minimamente afetado por estar na presença do prodígio do Clã Gojo, daquele que poderia destruir um país inteiro sozinho, se quisesse. Suguru o tratava meramente como um colega de classe, era simpático e educado, tratava todos assim, e apesar de diferente, Satoru gostou da sensação de poder agir naturalmente quando estavam juntos.
Quando percebeu, o platinado já havia colocado Geto num pedestal particular, possuía grande admiração e respeito por ele e por suas opiniões e pensamentos. O julgava alguém muito inteligente e admirável, sempre recebia um puxão de orelha ao tratar alguém, principalmente os superiores, com arrogância e insensibilidade. Aos poucos, isso foi mudando dentro dele também, juntamente com a forma como se sentia em relação a Suguru. Não percebeu o momento em que se apaixonou, apenas acordou um dia e ficou extremamente vermelho ao receber uma massagem do amigo. Era tarde demais para qualquer coisa, o sentimento era mútuo e, ao perceberem isso e sentirem a naturalidade com que agiam um com o outro, ambos ficavam juntos sempre que podiam. Abraçados, trocando carícias e toques inocentes aqui e ali, Gojo, por exemplo, adorava brincar com os longos cabelos castanhos de Geto.
Aquela foi a relação mais humana que Satoru já teve, mesmo que tenha durado apenas 3 anos.
Tanto Geto quanto Gojo eram tidos como os mais fortes, uma dupla dinâmica, sempre iam em missões juntos, lutavam juntos, venciam juntos. Viraram, inclusive, professores juntos. Logo após a formatura, eles expressaram o desejo de entrarem para o corpo docente da NGA e, pela habilidade e sucesso de ambos em missões, foram aceitos. Suas aulas eram de combate, enquanto Geto ensinava diversas técnicas de luta corpo a corpo para os alunos, aprimorando suas habilidades em artes marciais, Gojo ensinava o combate mágico. Explicava conceitos e técnicas de lutas usando feitiços, com os Seis Olhos podia identificar e entender completamente a habilidade de algum aluno e, assim, ajudá-lo a atingir seu potencial. Até nisso, conseguiam ser uma dupla dinâmica, vez ou outra fazendo atividades em conjunto para ver como os estudantes se sairiam em cada uma de suas competências.
Então, foram mandados para uma missão juntos uma última vez, uma missão que parecia simples demais e por isso confiaram a dois jovens de 18 e 19 anos. Como eram os mais fortes, não havia motivo para preocupações. O que certamente foi um equívoco dos superiores da NGA e deles próprios, pois tudo que tinha para dar errado, deu.
O objetivo deles era proteger uma de suas próprias alunas, Amanai Riko, que assim como fora com Satoru na infância, tinha uma recompensa valiosa por sua cabeça correndo pelas camadas da deep web. A jovem de 14 anos iria completar seus estudos no exterior de Amestris, e precisava de proteção até o dia de sua viagem exata, quando enfim estaria indo para um lugar onde supostamente estaria segura. O prazo era 2 dias, Geto e Gojo só precisavam cuidar de tudo por 2 dias, acatar os pedidos da jovem como ir em passeios, praias, etc, e conseguiram. Durante essas 48 horas, o platinado não desativou o próprio feitiço em nenhum momento e sequer dormiu, além dos combates desnecessários que tiveram nesse meio tempo com possíveis caçadores de recompensa atrás da jovem. Tudo contribuiu para sua exaustão, e ao final do prazo, já dentro das instalações da NGA, ele finalmente relaxou. Pensaram que estava tudo completo, Amanai iria ser acompanhada por uma equipe especializada da instituição para realizar essa viagem em segurança.
Contudo, foram atacados por um sujeito chamado Fushiguro Toji, um caçador de recompensa, assassino de feiticeiros. Era um homem extremamente habilidoso, não possuía energia amaldiçoada, logo, não usava feitiços. Por esse motivo, e pelo fato de estar extremamente cansado, Satoru não o viu chegando, permitindo que fossem atacados. Ele descobriu que Toji era cuidadoso, ele sozinho foi pago para matar a jovem, mas como também sabia quem estaria a protegendo, tomou a decisão de colocar a recompensa pela cabeça de Amanai, atraindo vários amadores para cima da dupla de feiticeiros. O que era proposital, seu objetivo era cansar o jovem do Clã Gojo para que pudesse chegar sorrateiramente e matá-lo também.
Essa parte quase deu certo, Satoru realmente levou golpes fatais em sua cabeça e garganta com uma faca que anula qualquer feitiço, teria morrido se, no último segundo, não tivesse focado toda sua energia amaldiçoada em se curar. Finalmente entendendo o que a amiga curandeira havia lhe ensinado. Quando voltou para a realidade, Amanai já estava morta e Suguru ferido, basicamente, voltou para encarar seu fracasso com olhos sem vida.
A luta entre Gojo e Toji teve um segundo round, que foi infinitamente mais fácil que o primeiro, o platinado matou o homem com apenas um golpe, uma técnica secreta de seu Clã, que nem mesmo todos os membros conheciam. O professor havia renascido, figurativamente, desbloqueou o ápice de suas habilidades e expandiu sua mente, agora tinha plena consciência do que mais podia fazer com seus poderes, bastava treinar para isso. Bom, ele treinou, até demais.
Chegou num ponto em que era mandado para missões sozinho, às vezes tendo de ser substituído em algumas aulas. O nível de força entre ele e Geto estava absurdamente grande, ambos perceberam isso, que não mais carregavam juntos o título de “Mais Fortes”. A relação entre eles foi deteriorando, Suguru entrava cada vez mais fundo num abismo mental do qual o platinado jamais seria capaz de tirá-lo, mas Gojo só foi perceber quando era tarde demais. Quando viu seu amigo assassinar dezenas de pessoas de um vilarejo e lhe lançar pensamentos e declarações tão confusas que nem sequer podia imaginar como estava a mente alheia. Satoru ignorou a ordem que recebera de matar Suguru, apenas assistiu enquanto ele ia embora, sem nem olhar para trás, e o próprio coração caía num vazio imensurável.
Satoru nunca mais foi o mesmo após perder aquele que mais amou em toda sua vida, que de fato lhe ensinara como era se sentir humano. Teve vontade diversas vezes de abandonar seu sonho de transformar e ajudar a geração futura, tinha dia que apenas queria correr até o moreno e matar a saudade de anos, uma década, que ficaram separados. Nunca ficava mais fácil, já que cada canto da NGA lhe lembrava de momentos que viveram juntos, foi seu primeiro amigo e primeiro amor, e a culpa não tê-lo ajudado e estado lá quando precisava o consumia por dentro.
O platinado apenas não sabia, porém, que iria rever Geto Suguru num fim de tarde qualquer, descobrindo mais sobre sua vida, que agora tinha filhas, que estava bem, vivo. Foram aos poucos deixando a saudade e paixão falarem mais alto, e desde o segundo primeiro beijo deles, a luz do luar enquanto sobrevoavam uma praia, a vida de Gojo mudara completamente, outra vez. Os meses que se seguiram foram, novamente, os melhores de sua vida, apenas por ter Geto ao seu lado. Brigaram? Sim, ficaram semanas sem se ver por um ciúmes infundado de Satoru? Sim também, mas eles se enchiam de promessas, que iriam conversar mais, entender melhor como o outro se sentia para justamente evitar que se repita o mesmo de anos atrás, o portador dos Seis Olhos até prometeu que protegeria seu amado a todo custo. E nenhuma dessas promessas foi cumprida.
Como se achasse muita ousadia da parte de Gojo estar se relacionando com um criminoso abertamente contra a NGA, a instituição arquitetou um plano para acabar com a gracinha. Um plano covarde, baixo e cruel, mas que no fim, alcançou o resultado que eles desejavam. Gojo e Geto brigaram como nunca, quase mataram um ao outro por um mal entendido e emoções a flor da pele, os resultados disso teriam impactos eternos em ambos. Isso incluía, talvez, no pensamento do platinado, a loucura que Suguru havia feito no dia 24 de dezembro de 2063. Uma missão suicida que ele mesmo havia criado e que a culpa era, por incrível que pareça, de Gojo.
Após quase 11 anos, Satoru teve de cumprir a ordem que lhe foi dada, de assassinar seu melhor amigo, seu primeiro e único amor e a pessoa mais importante para si. Teve de vê-lo à beira da morte após um golpe sujo da NGA, sua única função ali era de executar o criminoso. Inicialmente não faria, poderia ter dado um jeito com a ajuda de algum Bea, mas não, não conseguiu e não tinha tempo. Se obrigou a interromper os batimentos cardíacos de Geto com as próprias mãos, encerrando o sofrimento alheio mas agravando o seu. O luto dos meses seguintes, a dor… era indescritível.
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