História Clube do Benefício - Baekhyun

Eu não sou uma pessoa ruim.

Muito pelo contrário, eu sou um cara muito legal. Todo mundo gosta de mim. Tudo bem que eu sou um tanto egocêntrico e isso pode irritar certas pessoas – cof Kyungsoo cof – mas até ele gosta de mim. Por mais que passemos boa parte do tempo nos alfinetando, ele me acha um bom partido.

Então aquilo que eu estava fazendo era uma exceção. Isso precisava ficar claro na minha mente para que eu não me sentisse culpado depois.

Porque porra... chegava a ser doloroso ser grosso com quem não merece. E aquele garoto não merecia minha grossura, de forma alguma. Ele com certeza era tão legal quanto eu e não tenho dúvidas de que nos daríamos muito bem se...

Se ele não fosse um gostoso do caralho e não estivesse fazendo meu estômago revirar e o omelete virar ainda mais omelete dentro de mim. Se ele não tivesse confessado que era gay na nossa frente e eu não tivesse visto todas as minhas esperanças de um heterossexual muito distante da minha realidade escaparem pelo ralo. Se ele não fizesse eu suar frio toda vez que colocava meus olhos em tudo aquilo, se meu coração imbecil não acelerasse feito um panaca... se tudo isso não estivesse acontecendo, provavelmente poderíamos até ser melhores amigos.

Mas, como esse bando de coisas horrendas e abomináveis estava acontecendo dentro de mim – e não acontecia há um bom tempo – eu precisei tomar medidas drásticas. Meu plano era ser grosso com ele até ele desistir de interagir e criar algum vínculo. Pronto, iria funcionar direitinho. Assim, ele iria se afastar e essa merda toda dentro de mim iria parar de me infernizar. Adeus sentimentos estranhos que me atrapalham e me desconcentram e me deixam vulnerável e patético.

- Por que está sendo frio com o calouro?

A voz de Sehun, pra variar, me fez dar um pulo no lugar. Me encontrava encarando meu reflexo impecável, cheiroso e harmonioso no banheiro do prédio C, onde aconteciam as aulas de dança. Havia pedido licença no meio da aula daquela manhã para lavar o rosto por um instante.

Se estudasse no Conservatório Kum MinKi, você me veria naquele prédio três vezes por semana, tentando me tornar um artista decente que um dia irá ser o maior ator de musicais que o mundo já viu.

- Não estou – resmunguei de volta, empurrando para trás a mecha da franja que insistia em cair do penteado. Se bem que aquela mecha me deixava bem bonito.

- Está sim – Ele se aproximou da pia do banheiro e se encostou, bem ao meu lado, de frente para mim. – E ele foi perguntar pro Kyungsoo se você costumava ser distante com o resto do pessoal.

- Como sabe o que ele foi perguntar pro Kyungsoo? – Talvez, apenas talvez, eu estivesse um tanto intrigado com a intimidade rápida entre o calouro e Kyungsoo. Rangi meus dentes, mas Sehun não percebeu.

- Kyungsoo ficou preocupado e contou pro Junmyeon que contou pra mim. E como ele sabe que somos próximos, deve ter imaginado que eu iria te contar e assim você iria parar com isso. Pare com isso.

Suspirei, impaciente. Porra, não dá nem pra colocar um plano em prática naquele alojamento dos infernos.

- Não vou parar. Não gostei dele, ponto final. Não quero ser forçado.

Sehun riu, pegando meu pulso e me puxando contra seu tronco. Levei meu olhar mau humorado até seu rosto malicioso que me fazia amolecer só um pouquinho.

- Para de manha, Baekhyun. Seja legal com o menino, ele é todo nervoso. Bem inocente, típico calouro impressionado. – Ele me puxou o suficiente para que eu tivesse que me apoiar em sua cintura, agora uma das mãos acariciava minha nuca. Fechei os olhos, tentando me focar na carícia e ignorar suas palavras inúteis. – Vamos, diga que vai ser legal com ele – Sehun pediu no pé do meu ouvido, não percebi que ele havia se abaixado. Beijou a região abaixo da minha orelha e eu me encolhi um pouco, sorrindo de canto.

- Não. E não podemos fazer isso em público, quer fazer eu ser expulso do Clube?

- Não estamos em público. É um banheiro vazio. – Sehun murmurou, traçando uma linha de beijos irresistíveis pelo meu maxilar até chegar no canto da minha boca. Antes de me beijar para valer, segurou meu rosto com as duas mãos e pediu mais uma vez. – Seja legal com Park Chanyeol. Ele não merece o que está fazendo com ele. É um bom garoto, os pais não o apoiam. Deve ser meio fodido da cabeça e tudo. Vai querer deixá-lo mais nervoso ainda?

- Não me interessa, Sehun. Não quero saber da vida dele e nem dele. Problema dele se não tem apoio em casa. Eu tive que me virar em trinta para convencer minha família.

É claro que eu estava mentindo e que aquela informação me deixou mais culpado ainda e morrendo de vontade de atravessar o campus, ir até ele e me ajoelhar pedindo desculpas, mas mantive minha postura, é claro. Afinal, eu era um exímio ator.

- Sua mãe é sua fã número um, Baekhyun. – Ele me cortou, rolando os olhos.

- Estou falando dos meus avós – Falei, nada convincente. Minha família me apoiava, sim, e inclusive era bem exigente. Sehun riu e se inclinou, diminuindo a distância e me dando um selinho demorado. Envolvi seu lábio inferior em uma mordidinha provocante e ele se viu encorajado, transformando o que era pra ser uma tentativa de me convencer a ser legal com o calouro em um beijo quente.

Quase me envolvi demais, já puxando sua camisa do uniforme para fora da calça quando me lembrei de onde estávamos.

- Pare com isso – interrompi o beijo, me afastando de seu corpo magro e longo, o corpo mais bonito do campus e, naquele momento do ano letivo, só meu. Que corpo, meus caros... era um corpo. – Vamos voltar.

- Ainda não prometeu que vai ser legal com o garoto – Sehun colocou a barra da camisa de volta para dentro das calças e passou a mão no lábio inferior, limpando a saliva do beijo.

- Não vou, já disse. Seja legal por nós dois. E pelo jeito ele já tem o Kyungsoo pra desabafar, se ficar tão tristinho assim e só chorar no colo dele. Tem mais do que o suficiente para se sentir acolhido dentro da família feliz do alojamento 35.

Ajeitei mais uma maldita vez minha franja para trás enquanto Sehun me lançava um sorriso malicioso. Ele era cheio daqueles sorrisos que dizem tudo o que você não quer ouvir.

- Uau, Regina George. Isso tudo está tão estranho, Baekhyun. Eu vou descobrir o porquê de você estar fazendo isso. – Sehun cruzou os braços ao me ver bufar e revirar meus olhinhos mentirosos. - Você não é assim, eu te conheço. Gosta de babar ovo de gente nova pra elas te acharem incrível e pagarem pau pra você pelo resto da vida universitária.

Desviei o olhar do meu reflexo e o encarei para responder uma última vez.

- Resolvi ser diferente dessa vez. Ser mais sincero comigo mesmo. Não vou mais ser legal com todo mundo, só com quem eu quiser. Ponto final. Já sou amado o suficiente aqui dentro, não preciso de mais ninguém pagando pau pra mim.

Soei como um mauricinho arrogante, é claro, e eu precisava soar assim para que Sehun não inventasse de suspeitar que eu estava interessado no calouro. Porque eu estava, mas ninguém podia saber disso.

O deixei sozinho no banheiro e voltei para a sala de dança, dando graças à Deus que já estávamos próximos do almoço. Naquela maldita manhã eu não estava conseguindo me concentrar e estava errando a maioria dos passos, parecendo um pateta na frente dos meus colegas.

No quarto tropeço antes do sinal para o almoço, considerei inventar uma doença e não ir nas aulas à tarde. Mas daí me lembrei que eu era Byun Baekhyun e não matava aula por nenhum motivo. E me impressionei por, pela primeira vez dentro do Conservatório Kum MinKi, sentir vontade de faltar aulas por questões envolvendo meu emocional afetado.

Eu definitivamente precisava me manter distante daquele barítono maldito. Ele já estava me fodendo sem nem ao menos me beijar antes. Porra, que merda.