Em algum momento de um sonho regado a doces, experimentos químicos e mais doces, Gumball pode ouvir um "boom dia" muito animado.
- Para uma criatura das trevas, você é muito feliz pela manhã.
- Posso fazer um comentário antes de ser atingido outra vez pelo seu mau humor matinal? - Marshall perguntou sorridente, sem esperar por uma resposta. - Você fica lindo com minha blusa, preto é a sua cor, realmente, mas fica mais lindo ainda pelado.
Dito isso, Marshall afastou um pouco as cobertas de Gumball e levantou sua blusa devagar, como se a lentidão evitasse que o mais novo percebesse os movimentos.
O príncipe cobriu-se de maneira brusca e tentou sentar-se para evitar o contato, mas falhou miseravelmente - e o pior: mostrou isso ao gemer de dor pela ação. Marshall riu da ironia da situação.
- Cale-se - Gumball finalmente sentou-se, fazendo uma careta.
- Quem diria! Como você tinha dito mesmo? "Sorte a sua que sabe voar"? Foi isso mesmo? - Marshall disse baixo, o sarcasmo quase pingava de sua boca.
- Oh Marshall, vou ter que te calar? - Gumball perguntou, fazendo menção de beijar o outro. Mas Marshall distanciou-se, assustando e deixando Gumball envergonhado. Ele não queria mais beijá-lo? Fizera algo de errado na noite passada?
- Nem vem - Marshall se pronunciou. - Você deve estar com bafo!
O príncipe relaxou. O vampiro não mudara nem mudaria tão cedo. Tratava-se, basicamente, de uma antítese encarnada num corpo indefinido. Seu bom humor e seu jeito criança de ver o mundo contrastavam com seu olhar sinistro, com a voz grave e com sua condição invejável de vida eterna. Vida mesmo, os testes indicavam que Marshall não estava totalmente morto. Falando em testes, "Hoje é dia de resultados!", Gumball pensou.
- Disse o cara que nunca trouxe escova de dentes nas vezes que dormiu aqui! Bem, nunca te vi escovando os dentes, pra falar a verdade! Isso é nojento, Marshall Lee! - Gumball divagou enquanto se levantava e se arrumava com certa dificuldade. - Mas isso não vem ao caso, temos trabalho a fazer hoje. Finalmente, resultados!
Marshall decidiu que, para o bem da nação, ele deveria ignorar o que saía da boca do príncipe e se concentrar em não lembrar de Gumball cavalgando vagarosamente em cima de si. "Aquelas pernas... Aquela bunda! Como pude me esquecer da bunda? Melhor eu me distrair com o falatório antes que faça alguma merda", pensou o vampiro, com um ar de determinação.
- Hey, Marshall, venha até aqui, por favor. - Gumball gritou do banheiro e imagens um tanto obscenas para aquela hora da manhã encharcaram a mente eternamente adolescente de Marshall.
O vampiro, voou de mansinho até a suíte, onde sua excitação foi convertida em surpresa e desespero ao ser agarrado pelo pescoço e violentado com uma escova de dentes.
- Eu vou te denunciar para a polícia! - Marshall tentou dizer com a escova enfiada na boca.
- E eu vou te denunciar pra um dentista! - Gumball disse rindo, escovando os dentes do mais velho rapidamente, uma vez que este estava na iminência de soltar-se de seus braços. - E vai me dar outra escova, já que sua negligência quanto à saúde bucal me fez abrir uma novinha.
- Nem. - Marshall cuspiu a pasta de dentes. - Fodendo. - Cuspiu mais uma vez. - Gostoso. - Enxaguou a boca. - Como você fez hoje. - E saiu correndo do banheiro.
Algumas horas de piadinhas e conversas sem noção se passaram até decidirem que deveriam almoçar. Assim, caminharam até o salão principal conversando animadamente, como sempre (Gumball tinha o dom de puxar assunto). Alguns doces sorriam ao vê-los, outros se distanciavam e, por fim, haviam aqueles que nem notavam a presença daqueles seres radiando felicidade e bem estar.
Sentaram-se à mesa, típica de castelo, grande e repleta das mais variadas culinárias.
- Existem 24 lugares nessa mesa e só você e eu estamos comendo. - Gumball começou uma observação, mas foi interrompido.
- Perspicaz, você! Vejo que matemática é seu forte!
- Quero dizer, é realmente necessário sentar-se tão próximo a mim? Com tantos lugares?
- Sim. - Marshall respondeu simples, depois de pensar um pouco. - E se reclamar mais, sento no seu colo.
Gumball riu de lado, bobo pelo pensamento. Ele estava de excelente humor, apesar de apresentar um comportamento um tanto estranho, na opinião de alguns serviçais mais observadores. Os doces que conheciam Gumball desde pequeno sabiam que receptividade era uma qualidade marcante do príncipe, mas ficar de risinhos e cochichos pelos cantos com um vampiro problemático era algo a ser estranhado.
O castelo inteiro já estava dividido entre os que acham que está rolando alguma coisa e os que acham que é só uma amizade incomum. Inclusive, existe um subgrupo dentre os que torcem pelo relacionamento e, por diversas vezes, quando o Mordomo Menta entrava na cozinha, podia ouvir coisas como "Você acha que o Marshall é ativo? Sério?" e "Quando será que vão oficializar?" e até "Ouvi dizer que vão morar na praia e adotar um cachorro".
A verdade é que ninguém sabia de nada, com exceção do Mordomo. Esse ser parecia onipresente e onisciente e jurava que a mania de discutir a posição dos meninos numa relação sexual fora implantada por Fionna e Cake, aquelas pervertidas.
Apesar do sorrisinho de quem não quer nada, o Mordomo Menta sabia de coisa até demais.
- Bom dia, garotos! - O Mordomo Menta desejou enquanto servia suco de laranja.
- Bom dia. - Marshall e Gumball responderam quase juntos, mas Marshall acrescentou um "docinho" ao final e Gumball fez uma careta por isso.
- A noite foi boa?
A pergunta veio como uma bomba e ambos ruborizaram. A garganta de Gumball secou drasticamente e ele sentiu em sua barriga milhares de formigas comendo sua pele doce. Marshall não estava imune àquela tensão, sabia que ninguém poderia descobrir sobre eles. Sentiu seus músculos tensionarem e uma vontade enorme de abraçar o príncipe e levá-lo para longe dali. Ambos, atônitos, formulavam respostas em suas mentes desesperadas, as quais não foram necessárias.
- Digo, dormiram bem? Sem problemas? É a primeira vez que Gumball dorme fora de casa sem avisar. Se eu soubesse, teria arrumado sacos de dormir.
- Oh, não, - Gumball, inconscientemente, desviou os olhos para a esquerda. - lá tem duas camas!
- E você sentiu frio? - A essa altura, o Mordomo já sabia que aquilo era mentira e tinha uma leve (e certa) noção do que havia acontecido.
- Oh, não. - Marshall imitou, também inconscientemente, a maneira do príncipe de falar, já que o próprio parecia incapaz de pronunciar sequer o nome depois daquela mentira ridícula. - Pode ter certeza de que ele ficou bem aquecido.
Nervosos, ambos comeram um pedaço da torta salgada que havia sido servida e tomaram um grande gole de suco em seguida.
- Já agem como espelhos! - O Mordomo Menta sussurrou surpreso.
- O que disse? - Gumball indagou.
- Bom apetite.
Então o doce se afastou a passinhos curtos e rápidos. Simultaneamente, Marshall se inclinou para a direita, a fim de falar no ouvido de Gumball, como se fosse um segredo:
- Ele não disse aquilo.
- Eu sei, e temo dizer que acho que ele já sabe de tudo. - Gumball constatou, também inclinado. - Deve ser esse seu sorriso sacana! Tira ele da cara antes que mais alguém perceba que... Você sabe.
- Estou rindo porque estamos cochichando em um salão que só conta com a nossa presença e a de um leitão assado.
- As paredes ouvem até o menor sussurro, Lee. - Gumball disse retomando a pose e usando um guardanapo de pano para limpar os lábios sujos.
- Imagino então o que elas ouviram essa noite.
- Marshall Lee! - Gumball repreendeu o mais velho, envergonhado.
- Nossa, princesa, todo mundo já sabe que você me ama, tá na cara! - Marshall descontraiu. - Mais especificamente, na sua cara, que está sempre rosa quando eu estou por perto.
- Mas é claro! - Gumball riu baixinho. - Quando você sai de perto, então, eu fico de outra cor?
- Deve ficar. - Marshall respondeu, dando de ombros.
- Você deveria saber, já que tem o costume de me espionar à noite pela janela do meu quarto desde os meus 15 anos. - Mentalmente, Gumball disse "cheque mate". Nada como um acontecimento antigo para sustentar um contra argumento.
-x-
Gumball passou o resto do dia analisando os resultados coletados por Marshall. Os testes físicos, pelo menos, haviam dado certo, mas faltava entender como Marshall nasceu, como se desenvolveu, se ainda vai envelhecer, quem são seus pais... Tantas questões para prestar atenção e o cérebro não colaborava!
Ao colocar uma amostra de sangue de Marshall na centrífuga, Gumball escorou-se na mesa para esperar e pôde ver Marshall flutuando acima da poltrona do outro lado do quarto, olhando para o teto. Já era tarde da noite e ele não havia saído daquela posição, sem interromper ou fazer qualquer piada. Por vezes, olhava na direção de Gumball, mas tornava a fixar-se no teto rosa após alguns segundos.
Aquele mistério todo, além de não combinar com a personalidade de Marshall, deixava o príncipe aflito e temeroso, com mais dúvidas além do trabalho.
E Gumball estava certo em ter medo. Certíssimo. Um plano estava tramitando nos neurônios de Marshall desde que Gumball começara a trabalhar e, bem, ele ia adiar o que estava pensando em fazer o máximo possível, mas havia concluído que todos os males vêm para o bem.
Marshall resolveu parar de pensar naquelas coisas quando percebeu Gumball observá-lo atentamente .
- Se deu conta da minha beleza só agora, princesa?
Gumball travou, abriu a boca, fechou a boca, apontou um dedo, desistiu de falar, se deu por vencido e olhou para baixo. Marshall era mesmo muito bonito.
- Eu gostaria de agradecer pela ajuda prestada, você realmente fez um excelente trabalho. Gumball começou a falar e Marshall revirou os olhos em sinal de tédio. - Agora eu só preciso gravar tudo e estaremos com 70% do trabalho concluído.
Setenta por cento. Marshall podia odiar matemática, mas era bom com lógica e sabia que tinha poucos dias para aproveitar o restante daquele pequeno e bobo conto de fadas que estava vivendo com um príncipe de roupas rosadas.
Marshall tinha 3 dias, aproximadamente, para que Gumball percebesse o que era óbvio e, consequentemente, tinha 3 dias para dar o seu melhor.
Apesar de Marshall sempre dar o melhor de si, Gumball nunca parecia corresponder aos seus sentimentos da mesma maneira. Mas nenhum deles é culpado pela complicação desse relacionamento enevoado. Ambos são cobaias um do outro.
Como ratos que se acham mais espertos, os dois são pegos em armadilhas sem perceberem. Enquanto Gumball tenta esconder que não para de pensar em Marshall atrás dos óculos e da câmera, Marshall tenta não pensar na imagem de Gumball.
- Existe um jeito melhor de usar essa câmera, sabia? - Marshall pegou a câmera, interrompendo a gravação.
- Marshall, estou tentando trabalhar, coloque isso de volta no lugar! - Gumball disse impaciente, como sempre ficava depois de horas trabalhando.
O vampiro obedeceu e andou até a cadeira onde Gumball estava sentado. Posicionou-se atrás dela e levou ambas as mãos às costas do príncipe, que relaxou ao sentir a pressão dos dedos de Marshall massageando-o.
- Você está tão tenso, meu docinho... - Marshall sussurrou ao ver Gumball fechar os olhos. - Tão cansado... Vamos, tire esse jaleco para... relaxar.
Marshall aproximou-se mais da cadeira e começou a desabotoar o jaleco branco de Gumball. Fez questão de abaixar-se de modo que sua boca ficasse próxima à orelha do outro.
A câmera pegava a imagem que ninguém daquele reino podia sequer imaginar. Marshall lambia o pescoço do Príncipe do Reino de Aaa, um príncipe totalmente entregue, sem o menor sinal de realeza em seus lábios semi abertos.
- Onde está quele príncipe exibicionista que tomou banho lá em casa, hun?
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