História Coisa de família - O dia em que Froy tentou se declarar

Lee encheu a caneca com café antes de Froylan entrar na cozinha. Era a primeira vez que o rapaz acordava cedo desde que tinha terminado o ensino médio. Ele odiava tanto levantar antes das onze que abriu mão do curso que queria fazer na faculdade por ser diurno.

— Caiu da cama? — O homem perguntou antes de dar uma golada no café.

— Na verdade nem dormi. Quero me declarar para Momo, deve ter um motivo, além da Selena, pra ela gostar tanto dessa casa e ficar naquela janela olhando pra cá! — Froy falou fazendo Lee engasgar. — Aposto que eu sou esse motivo.

— Eu não estaria tão certo disso… — O homem murmurou falando tão rápido que Froy nem sequer percebeu que ele disse algo.

— Tipo, o senhor é velho… — Lee o encarou indignado, tinha quarenta e três anos, não sessenta. — O Finn e a Savannah são crianças. E a Selena é… — Ele tentou pensar em algo que não fosse ofensivo. — Comprometida!

— Se eu fosse você deixava isso pra lá!

— Porque, se eu sou lindo, rico e dos olhos azuis? — Froy riu sem entender o conselho do pai.

— Primeiro, eu sou rico, você só é meu filho. E segundo, esses não são motivos plausíveis para alguém gostar de outra pessoa. — Lee bufou indignado deixando seu café de lado. — Agora se me der licença, senhor lindão dos olhos azuis, eu vou alimentar a Galinhossaura.

O homem deixou a cozinha enquanto Froy tentava entender o porquê do pai ser contra ele se declarar para Momo. Estava na cara que ela gostava de alguém daquela casa, e com certeza esse alguém era ele.

Selena bufou. Ela estava suada e descabelada de tanto correr atrás daquela criança infernal de seis anos de idade, e muita energia para extravasar. A garota se encolheu em um canto e começou a chorar de desespero, ela não sabia o que fazer e por isso ligou para o namorado esquecendo-se que ele estava na aula.

— Oi? — O garoto murmurou do outro lado da linha. Sua voz estava abafada, provavelmente ele estava escondendo a cabeça dentro da mochila.

— Socorro! — Ela gritou chorando fazendo com que o rapaz se afastasse do telefone com um susto.

— Amor… — Blake parou de falar e Selena pode ouvir a voz de alguém chamando a atenção dele antes do celular ser recolhido.

— Eu sinto muito! — A garota falou ainda chorando enquanto olhava para o celular.

O garotinho ainda estava correndo espalhando amoeba por todos os cantos da casa. Selena não se lembrava de seus irmãos serem daquele jeito. Na verdade, ela nunca havia visto uma criança tão desesperada e incansável como aquela.

— Cabelo verde! — O garotinho falou rindo antes de jogar amoeba no cabelo de Selena.

Ela se encolheu ainda mais vendo a geleia escorrendo antes de cair em seu colo, aquilo nem sequer era verde e sim alaranjado. Selena olhou para o sorriso da criança, queria esfregar a cara dele no chão. Como ela iria ao aniversário do Blake se aquela peste não parava de tentar destruir seu cabelo?

"Crianças são verdadeiros monstros demoníacos!" Momo leu a postagem de Selena antes de fazer uma careta de preocupação. Com certeza a amiga não estava se saindo muito bem como babá. A garota olhou para mãe, era a primeira vez que a mulher iria realmente relaxar em seu dia de folga.

— Pronta para um dia de beleza? — Momo perguntou para Nana.

— Sim! — A mulher sorriu amarrando seu roupão.

Elas começaram pelas máscaras faciais, Nana usaria uma de pepino e Momo uma de lama negra. As duas já estavam com os rostos cobertos pelos produtos quando escutaram o som da campainha.

Nana estava prestes a se levantar quando a filha a impediu fazendo-a continuar sobre a cama.

— Deixa que eu vou. — A garota falou com dificuldade devido ao produto que já estava secando em sua pele.

Froy gritou ao ver o rosto da jovem, ele não esperava vê-la daquele jeito, assim como ela não esperava vê-lo na porta de sua casa às nove e meia da manhã.

— Desculpa pelo susto. — Ele falou se recompondo. — Você tá diferente.

— Eu sei. Quer entrar? — Ela perguntou por educação torcendo para que ele falasse não.

— Não, eu… — Momo sentiu uma vontade terrível de comemorar. — Eu só queria conversar algo sério com você, mas acho melhor fazer isso outra hora.

A garota engoliu em seco. Será que ele havia descoberto sobre o que ela sentia por Lee?

— Sério tipo o quê? — Ela perguntou preocupada.

— Pode deixar! Falo com você mais tarde. — Froy sorriu. — Sua cara tá craquelando, melhor limpar isso!

O rapaz voltou para casa deixando Momo bastante ansiosa e sem saber o que fazer. Se ele falasse algo para Selena, ela perderia a melhor amiga.

A oriental correu para o banheiro e após limpar o rosto de qualquer jeito correu para casa do vizinho tocando a campainha. Lee abriu a porta estranhando o fato de ela estar de roupão, pantufas e o cabelo enrolado em uma toalha.

— Algo me diz que veio pra cá às pressas. — Ele falou dando passagem para garota. — Aconteceu alguma coisa?

— Cadê o Froylan? — Momo perguntou agitada olhando ao redor.

— Ele voltou a dormir.

— O que ele queria falar comigo? — Ela agarrou Lee pela camisa o encarando, se ele não a conhecesse bem, diria que estava sobre efeito de substâncias ilícitas.

— Eu não sei. — O homem mentiu. Mesmo sendo óbvio os sentimentos do filho por ela, ele queria que o garoto pudesse ao menos dizer isso a vizinha sem ser atrapalhado por alguém. — Mas não deve ser nada de demais.

Momo respirou fundo antes de encostar a testa contra o peito de Lee. Ela podia pressentir que Froy faria alguma besteira, afinal, isso era o que ele mais fazia. A oriental choramingou antes de encarar Lee.

— Acho que ele descobriu que eu gosto… — Momo parou de falar ao lembrar que o homem estava interessado em outra pessoa.

Lee percebeu a expressão de tristeza tomar o rosto da garota, e por mais que quisesse abraçá-la, como em todos os dias dos pais em que ela chorava por não ter um pai presente, ele se conteve. Não queria que Momo confundisse o que ele sentia por ela com o que ela sentia por ele.

— Você está bem? — Lee perguntou visivelmente preocupado, mas ainda mantendo-se distante. — Momo… — Ele segurou o rosto da garota ao perceber que ela estava prestes a chorar. — Não chora. O que tá acontecendo?

A jovem deu um passo para trás enxugando as lágrimas, ela queria ter o abraçando, mas saber que havia outra pessoa no coração dele a deixava completamente incapaz de querer continuar gostando dele.

— Nada, eu só tô emotiva hoje.

— Certeza? — Lee se aproximou preocupado, e incomodado com um resto de máscara facial que estava próximo a orelha dela. — Um segundo… — Ele limpou os vestígios. — Pronto!

Momo sorriu ao ver Lee tocar seu rosto, mesmo que fosse apenas para aliviar seu toc.

— Eu queria que você sentisse por mim o mesmo que sinto por você. — Ela falou tentando manter o rosto alegre. — Mas acho que isso nunca vai acontecer. Não é?

Lee ficou em silêncio, um nó havia se formado em sua garganta, pois já havia escutado isso anteriormente vindo de Hayley. O homem engoliu em seco antes de ver Froy descendo as escadas.

— Momo! — O rapaz sorriu a abraçando e Lee se afastou. — Você veio aqui só pra saber o que eu queria te dizer?

— Claro que sim! Sou uma pessoa extremamente curiosa e ansiosa.

— Bem, é que eu… — Froylan foi interrompido por Selena que abriu a porta com brutalidade.

Ela caminhou furiosa até o banheiro sendo seguida pela amiga e pelo irmão. Selena estava coberta de amoeba, cereal, leite e tinta, além dos cabelos desgrenhados como uma juba de leão.

— O que aconteceu? — Froylan perguntou surpreso. — Era uma criança ou…

— Uma Peste infernal. Um ser maligno que só possui um propósito na vida: me destruir! — Selena esbravejou antes de ir até Lee. — E quanto a você. Eu nunca mais volto naquele lugar, então espere sentado pelo seu dinheiro.

— Ok!