História Coisas que perdemos pelo caminho. - Capítulo dois: o céu de outono.

O céu de outono sempre tinha um aspeto mais bonito do que das outras estações. O tom de cinza das nuvens ficavam lindos com os tons de laranja, lilás e rosa, as folhagens amareladas e marrons, o vento que balançava os seus cabelos. Itachi sempre gostou de ficar olhando o entardecer, e o outono sempre fazia as melhores paisagens. Ficar ali, sozinho com seus pensamentos eram o ápice do seu dia.

Itachi Hoshikagi, vinte e sete anos, era um rapaz bonito e popular, costumava ter muitos amigos até que se casou, para os outros de fora Itachi vivia uma vida perfeita, uma bela casa, um ótimo carro, não precisava trabalhar pois seu marido tinha um ótimo emprego e o sustentava, muito diziam que Itachi tinha tirado a sorte grande ao conhecer Kisame.

Mas seu casamento nada mais é do que uma arma contra si próprio, engatilhada e pronta para atirar.

Tinha se casado por uma obrigação que ele próprio criou em sua mente, queria dar uma boa vida ao seu irmãozinho Sasuke.

Seus pais tinha sido assassinados quando ele tinha apenas treze anos, Sasuke seu irmão tinha apenas oito anos quando isso aconteceu, e como não haviam parentes vivos por perto foram mandados para um orfanato. Itachi fazia de tudo para proteger seu irmãozinho, mas não precisou de muito. Pois foi ali  onde ele conheceu Shisui, alguém que ele amou muito, por um bom tempo e ainda o amava, bem lá no fundo ele sabia que jamais esqueceria do seu amado Sui.

Graças a Shisui ele estudou, passou em uma boa faculdade e conseguiu um estágio remunerado em uma das maiores empresas de comércio do Japão, ele trabalhava no setor de Marketing e foi ali que conheceu Kisame, quando começou um estágio no escritório Akatsuki Int.

Mal sabia Itachi, mas seu inferno começaria ali, depois de perder Shisui e ser atormentado por Kisame, ele se viu trabalhando demais, recebendo menos do que recebia, apesar de saber de todos os desafios que seguiam, Itachi não se abateu. Seguiu em frente, talvez não em frente, mas apenas seguiu, por Sasuke ele faria qualquer coisa, Itachi já não se importava se viveria mais um dia, ele só queria que seu irmãozinho vivesse bem.

- ótimo. Vamos acabar logo com isso... - Itachi falou sozinho.

Ele parou ajeitando o casaco, estava atrasado para outro jantar com seu marido, mas em sua defesa, so soube desse jantar duas horas atrás, com um pouco de dinheiro que tinha foi até uma loja comprar algumas peças de roupa, já que as suas tinham sido destruídas.

Saiu da loja deixando o vento bagunçar seu cabelo, tinha comprado algumas roupas para usar no jantar de hoje, nada muito chique e extravagante, precisou comprar algo para vestir, pois   durante uma briga dos casal, Kisame estragou todas as roupas de Itachi e o jogando para fora de casa com apenas um casaco.

Itachi suspirou estava frustrado, cansado dessa merda de casamento, se ele ao menos pudesse fazer algo sobre...

O carro parou antes de acertá-lo.

Itachi levou a mão ao peito e respirou fundo olhando para o motorista, ele estava tão distraído que nem notou o carro.

O motorista saiu do carro e se aproximou indo socorrê-lo. - eu sinto muito, muito mesmo, você está bem? Voce se machucou? Precisa de cuidados médicos?

- você devia prestar atenção enquanto dirige, sabia que é proibido dirigir ao celular? - o rapaz riu de nervoso. - eu quase morri do coração eu estou bem, foi só um susto. - O rosto assustado se transformou em um sorriso zombeteiro.

- sinto muito. - Madara coçou a nuca envergonhado.

- tudo bem. - ele sorriu respirando fundo. - você parece perdido, precisa de ajuda?

[.....]

Itachi esperou dentro do táxi enquanto Kisame pagava a corrida, nesse intervalo de tempo ele pôde notar que o marido estava de mal humor, perfeito, com toda certeza isso ia sobrar para ele, Itachi suspirou passando a mão no rosto.

- vamos logo. Saia. - Kisame fã irritado observando seu marido sair do táxi, ele o puxou. - eu não acredito que você veio vestido assim...

Kisame queria esganar seu marido assim que o viu sair do carro, Itachi puxou seu braço e o massageou, aquele aperto tinha doído.

- o que você esperava? - Itachi perguntou irritado. - eu não tinha dinheiro e alguém fez o favor de destruir todas as minhas roupas na última discussão, eu só tinha dinheiro para isso... - Itachi sorriu vitorioso.

Kisame apenas suspirou tentando se acalmar, ali não era hora nem lugar para uma discussão. - solte esse cabelo e não me envergonhe, senão...

- eu já sei. - Itachi suspirou passando a mão no cabelo e o soltou.

O casal passou pela porta de entrada e os olhos se voltaram para os dois, Itachi tinha um péssimo pressentimento.

Kisame fazia o favor de fazê-lo cumprimentar a todos os seus conhecidos, Itachi não sabia metade do nome daquela gente, mas mesmo assim os cumprimentava como se fossem grandes amigos, porém, alguns ali Itachi teve a infelicidade de conhecer.

Itachi foi puxado para perto de um casal, ele a olhou e reconheceu a esposa de um sócio do marido, o casal Yahiko e Konan. Konan era um mulher lindíssima e Yahiko não a merecia, se Itachi pudesse contar tudo que sabia sobre o maldito marido dela, Konan não estaria tão deslumbrante.

Konan sorriu para Itachi, como seus maridos foram conversar algo em particular deixaram os dois juntos. - eu amei sua roupa. - a mulher o olhou de cima a baixo, ela usava um vestido preto justo e salto alto, seu cabelo roxo-azulado estava preso em um coque chique.- é alguma tendência?

Itachi teve que se controlar para não revirar os olhos, ele usava roupas bem casuais, mas foram as únicas que ele conseguiu comprar com o dinheiro que tinha, Kisame tinha bloqueado seus cartãos de crédito e sua conta bancária pessoal, teve que pedir dinheiro emprestado à Sasuke, além de ter sido a primeira porta que Itachi bateu ao ser expulso de casa e seu irmãozinho não ficou nada feliz ao vê-lo apenas de cueca e um casaco. Para Konan e as outras mulheres, Itachi ser gay era algo fashion, todos queriam a atenção dele

- claro que sim, a última de Nova York. Movimento hipster, você nao ouviu falar? - Itachi sorriu conseguindo pegar uma taça de vinho branco que um garçom servia.

Konan sorriu maravilhada, Itachi virou olhando ao redor, seus olhos se cruzaram, Itachi não pode deixar de se sentir surpreso. Madara sorriu acenando para ele, Itachi sorriu acenando de volta.

- o que está fazendo? - Kisame apareceu ao seu lado segurando seu braço.

- nada.

Kisame olhou na mesma direção que seu marido e sorriu. - ótimo, achei meu novo chefe. Vamos lá cumprimentá-lo.

Itachi concordou se aproximando de Madara, era assim que funcionava desde a primeira vez que participou de um evento dessa magnitude, Kisame mostrava Itachi, exibindo seu marido e falando de todas suas qualidades, era como se o vendesse, fazia com que seus chefes ficassem fascinado por ele. Então Itachi se ofereceria, afinal, se Kisame tivesse mais dinheiro, isso significava que Sasuke teria uma condição de vida melhor. Era uma espécie de troca e demanda ou uma troca de favores, Kisame queria algo e Itachi também. Isso aconteceu com Zetsu, o chefe de recursos humanos da Akatsuki, com Kakuzu o gerente financeiro da empresa e claro, com Yahiko e Nagato, os donos.

E pelo visto, aconteceria com Madara também.

- Izuna, belíssima festa. - o homem alto de olhos azuis comentou. 

Izuna sorriu. - muito obrigado, já conhecem o meu irmão? - Izuna puxou Madara. - Madara, esse é Kisame Hoshikagi e seu marido Itachi Hoshikagi.

- é um prazer conhecê-lo senhor Uchiha. - Kisame apertou sua mão.

Madara olhou de Kisame para Itachi fazendo o mesmo com ele. - igualmente.

Itachi não conseguiria fazer se fosse com esse homem. - eu vou pegar uma bebida. - se afastou o mais rápido possível, Kisame olhou seu marido ir até o bar.

- eu também vou. - Madara olhou para Izuna e Tobirama. - gim com tônica e veneno certo?

Tobirama apenas revirou os olhos. - uísque, duplo e sem gelo.

- ótimo. - Madara olhou para Izuna. - eu já volto.

- não demore. - Izuna pediu.

Itachi olhou para o bar pensando no que ia beber, não podia ser nada forte, andava entre os convidados pensando ko que pediria e se assustou com a aproximação de Madara.

- parece que eu sempre te assusto, devo me preocupar? - Madara perguntou sorridente.

- desculpa, parece que eu sempre estou de guarda baixa. Mas, nossa, você está lindo, quem diria que eu iria te reencontrar aqui. - Itachi comentou casualmente.

- pois é, que mundo pequeno...

Itachi sorriu. - eu não sabia que você era o novo sócio de Kisame.

- bom, um café não dá para conhecer completamente um pessoa...

Itachi sorriu. - então que tal outro café?

- eu adoraria. - Madara  sorriu.

Ambos andaram juntos do lado oposto do salão estava o bar, um balcão largo com três barmen e com dezenas de garrafas expostas para que os clientes pudessem escolher seus drinks, Madara levantou a mão chamando a atenção de um barmen. - dois uísques duplos um com gelo e outro sem, e uma gim com tônica.

- e o senhor? - o barmen olhou para Itachi.

- um dry martini com vodka. - Itachi sorriu. 

- volto em instantes com os pedidos.

- sobre o café... - Itachi voltou a olhar para Madara. - que tal amanhã as 15h?

- combinado. - Madara tirou um cartão de papel do bolso. - meu celular está aí. Sinta-se à vontade para me ligar.

O barmen voltou com os pedidos dos dois, Madara pegou o seu e se afastou. Itachi pegou o seu e bebeu as pressas antes que Kisame aparecesse, Deidara se aproximou tocando o ombro do amigo.

- por acaso você estava falando com Madara Uchiha?

- estava... - Itachi o olhou e sorriu. - Por que?

- eu sempre soube que você é audacioso. Mas não a esse ponto...

- por que diz isso?

- bom, todos tentam se aproximar dele desde o incidente, você deveria se considerar com muita sorte.

- incidente? - Itachi o olhou.

- sim, Madara é viúvo. - Deidara comentou casualmente.

Itachi se surpreendeu com essa informação, sentiu seu coração apertar. Olhou para o Uchiha que parecia provocar Tobirama fazendo o mesmo apenas revirar os olhos e se segurar para não dar um murro na cara dele. Itachi sabia como Madara se sentia, ele também amou alguém e ele o perdeu de forma trágica, perdeu Shisui e o bebê.

[....]

- você se divertiu? - Kisame perguntou assim que entraram no carro. 

- uhum... - Itachi se limitou a só responder isso, não estava com humor.

O jantar foi tranquilo, Itachi se sentou longe do marido e consequentemente de Madara também, preferiu assim ficando ao lado de Deidara e de outras "esposas", claro que elas gostavam de ficar perto deles, quem no mundo não gostaria de ter um amigo gay? 

Além de pessoas homofobicas, claro...

Algumas comentavam de seus maridos e da falta de amor que era compensada com presentes caros, outras comentavam sobre seus casos extra conjugais com homens mais jovens e tinham as que diziam que Itachi e Deidara tinham tirado a sorte grande pois com toda certeza eram amados para serem assumidos por seus maridos diante da sociedade.

Itachi nessas horas apenas sorria e concordava. Afinal ele fazia papel de esposa perfeita...

Por alguma razão Itachi não conseguiu tirar Madara de sua mente, ele ficou imaginando se ele tinha chegado bem em casa, se realmente estava tudo bem em ligar para ele, queria conversar, conhecer ele, e talvez...

- Itachi. 

- o que? - Itachi o olhou.

- vamos entrar, já chegamos. - Kisame avisou.

Itachi apenas saiu do carro e entrou em casa sendo seguido por Kisame, entrou no quarto tirando seu quimono, passou a mão no cabelo, estava com dor de cabeça e no corpo.

Kisame o empurrou na cama assustando Itachi ficando em cima dele . - como foi seu dia? - perguntou olhando Itachi com malícia.

- você quer mesmo saber? - Itachi perguntou em um tom monótono.

- não. - Kisame o beijou e se levantou  tirando um envelope do bolso e jogou em  seu marido.

Itachi sentiu um pouco de dor quando foi acertado, se sentou pegando o envelope vendo o quanto era pesado. - para que isso? - Itachi o olhou.

- compre roupas bonitas como as de hoje, ele gostou de como voce estava vestido, e não precisa voltar para aquele apartamento... - Kisame desfazia o nó da gravata borboleta. - seu lugar é ao lado do seu marido.

- foi você quem me bateu e me jogou para fora de casa...

- você mereceu. - Kisame se afastou.

- eu... mereci? - Itachi perguntou incrédulo. - você me obrigou a dormir com seu chefe, de novo! Você sabe como o Yahiko...

Kisame o segurou rosto dele antes que dissesse algo que fosse se arrepender. - você sabe o porquê ele faz aquilo, não é?

- sim... - Itachi falou engolindo todo o ódio e desprezo que sentia, era demais para ele suportar, as lágrimas saíram sem que percebesse.

- então você se lembra do que me disse? - Kisame riu. - você é inacreditável, amanhã você vai comprar algo bonito e ele vai te esperar no lugar de sempre. Não se atrase...

Itachi o empurrou e levantou se afastando até o banheiro. - sim senhor, como quiser... imbecil.

Kisame segurou seu rosto apertando suas bochechas, se aproximou beijando o marido de forma possessiva, Itachi permaneceu parado sem corresponder ao beijo. Kisame se irritou profundamente empurrando o marido.

- suma da minha frente.

Itachi se afastou o mais rápido possível, era nessas horas que o maior ficava agressivo e bem, ele não queria ter nenhuma marca em seu corpo.

Ele definitivamente ligaria para Madara...