Capítulo Um.
- Vamos Haku – murmurava apressada a garota de cabelos rosa – Precisamos ir.
- Será que eles têm vagas hoje? – perguntou o menino de cabelos negros e tão pálido quanto à neve que começava a cair juntamente com a chuva fraca – Estou morrendo de fome!
A impaciência da garota só era ofuscada pelo frio que invadia seu casaco esfarrapado e cheio de furos. Os fios rosa aderiam à sua pele alva destacando os lábios secos e trêmulos do frio congelante que fazia naquela noite. O inverno estava apenas começando.
Haku, com seu corpo pequeno e desnutrido para sua idade, enchia uma mochila que carregava consigo não importando o quê. Ali estavam às únicas coisas que os dois juntaram nos meses de convivência na rua, o que não era muito, mas foi o que conseguiram.
- Vagas não – negou ela as esperanças do menino – Tenho trabalho a fazer. Fazer umas entregas, sabe disso Haku.
O pequeno colocou a mochila nas costas e a encarou com os olhos castanhos escuros. A matava ver o buraco que era aqueles olhos escuros na pele pálida dele. Haku tinha dez anos, uma criança. Não devia ter aquela vida. Não devia passar fome, frio, ficar sujo e estar submetido a tudo o que viviam estando nas ruas de umas das maiores capitais do mundo.
Haku devia estar numa casa quente e aconchegante, com quem sabe uma lareira. Devia estar na escola sendo importunado por ser um nerd e desajeitado. Deveria estar corado e bem alimentado.
Ele não devia estar com ela ali.
- Eu sei, Sakura – ciciou ele acenando com a cabeça de fios lisos. Tristeza marcando a voz.
- Então vamos – a rosada apanhou a mão dele com firmeza. O tinha que tirar do frio. Rezava para o abrigo ainda ter uma cama disponível.
A caminhada deles não era fácil. As ruas estavam vazias, todos os com sorte ou alguma coisa na vida estavam abrigados, longe do frio. A neve começava a cair aos poucos, como pequenas agulhas com suas pontas prontas para ferir qualquer um desabrigado.
Ela o puxava com rapidez pelas calças escorregadias, o mantinha próximo de seu corpo. Na sua mente poderia estar passando algum conforto ou oferecer calor de alguma forma. Pensamento vão admitia em seu interior, mas não podia contê-los.
Haku estava sob seus cuidados faziam meses, desde que o achou no meio da madrugada com um olho roxo e lábios tingidos de sangue. Ele tinha fugido do cafetão de sua mãe.
O abrigo ao qual se dirigiam era pequeno e tão desconfortável quanto à rua, mas eles tinham uma cama e serviam uma sopa de legumes e carnes suspeitas ótimas. E enquanto passavam por grandes prédios de aparência intimidadora, por suas longas vidraçarias e aços intimidadores, ela rezava para eles terem uma cama para Haku.
Ao virar à próxima esquina a rosada já conseguia ver a porta de aço amassada do abrigo. Apertou ainda mais os passos naquela direção. Haku ao seu lado seguia de cabeça baixa e calado. Ele estava triste e zangado, mas não havia nada que pudesse fazer, não quando a comida de amanhã estava em jogo.
Haku não comia desde ontem, já ela fazia dois dias. Seu corpo estava perto de entrar em colapso. Parecia que a qualquer momento iria desmaiar no meio da rua. Tinha que arranjar dinheiro.
Sakura levou suas mãos sem tato pelo frio à barra de metal que servia como maçaneta e empurrou a porta do abrigo. A lufada de ar quente que a atingiu quase levou lágrimas aos seus olhos, mas se conteve. Mais à frente estava um senhor e uma mulher jovem, que levantaram o olhar quando a porta ruidosa se fechou atrás deles.
- Sakura – Haku se desfez do aperto em sua mão – Eu posso ir com você. Te ajudar...
- Não seja idiota, Haku – murmurou grosseira – Vai ficar aqui. Amanhã venho te buscar.
- E se eles não tiverem um lugar para mim? – indagou o menino, olhando de soslaio para o senhor que se levantava os olhando hesitante.
Sakura seguiu o olhar de Haku. Se não houvesse lugar para ele, teriam que voltar para o frio e tentariam outro abrigo, mas ela precisava arranjar alguma grana e não levaria Haku consigo. Isso estava fora de cogitação.
O homem de cabelos castanhos e olhos cansados andava na direção deles com cuidado, como se um passo em falso os fosse espantar. E para a rosada isso estava certo, ficar atenta a qualquer movimento brusco era uma de suas regras. Na rua ninguém aliviava. Você tinha que saber sobreviver.
- Posso ajuda-los? – perguntou o homem.
- Precisamos de um lugar para ficar – Haku reagiu primeiro ao sorriso do mais velho.
Sakura observou o crachá colado no peito do homem, Ken era seu nome. Ken sorriu tristemente e os olhou com tanta gentileza que a rosada sentiu seus olhos encherem de água novamente. A pena das pessoas sempre a lembrava o quanto sua vida era uma droga, o quanto estava afundada nas sombras dos prédios da cidade.
- Eu lamento, mas...
- Lá fora está congelando – Sakura suplicou para Ken – Não dá para ficar na rua, não tem onde se abrigar dessa chuva.
- Eu realmente lamento, querida – e era verdade, os olhos castanhos claros do homem brilhavam em tristeza – Mas só temos uma cama disponível.
- E é tudo que precisamos – sorriu para ele. Engoliu em seco virando-se para Haku, que já olhava para baixo mordendo os lábios – Venho te buscar amanhã de manhã, certo? Vou trazer um sanduiche do Toni’s.
- Eu não quero – negou ele levantando seu olhar raivoso para ela – E não vou ficar aqui!
Sakura ferveu de raiva, estava fazendo o que podia por Haku, fazendo o que ninguém jamais fez para ela. Controlando a língua para não xingá-lo na frente do homem, apenas lhe lançou um olhar gélido.
- Você vai – afirmou – E vou trazer o sanduiche do mesmo jeito.
- Para onde você vai, querida? – o homem entrou na conversa.
Sakura lhe lançou um olhar agradecido ao vê-lo agarrar o ombro de Haku, o puxando para seu lado. “Ele vai ficar bem” murmurou em sua mente esperançosa.
- Não se preocupe, eu tenho um lugar para ir – respondeu já se virando para a porta.
- Mentirosa – Haku soprou tão baixo que quase não pôde ouvi-lo.
- Verdade? – Ken voltou a perguntar. Ele ouviu o menino ao lado.
- Sim – não era mentira totalmente.
Ela tinha um lugar para ir, as calçadas esperavam por seus passos inseguros no frio. A rua sempre foi seu lar desde que tinha consciência.
- Fique bem Haku, volto amanhã de manhã – disse antes de abrir porta.
Sakura olhou para seu par de all star tão desgastado que quase não fazia mais sentido usa-los. Ela precisava achar outro sapato nas lixeiras das lojas do lado sul da cidade. Apertando o casaco deu adeus ao ar quente que o aquecedor do abrigo oferecia.
****
Sakura olhou a sua volta com receio. Suas mãos estavam cerradas dentro do bolso de seu casaco, suas pernas tremiam igualmente seus dentes e lábios. Estava parada na entrada de um beco já conhecido por ela.
Com um último olhar para a rua vazia entrou no beco. Diferente de qualquer beco da cidade, esse era limpo, não havia lixo ou mendigos dormindo em um canto qualquer. A chuva, que dava finalmente uma trégua, continuava a escorrer trilhando um caminho prateado até o fim do beco escuro.
Sakura andou lentamente não fazendo questão de esconder que estava ali. Parou apenas quando avistou a única iluminação mais à frente. A lâmpada simples iluminava uma porta de madeira reforçada por grade, existia uma cobertura de plástico vermelho acima da entrada. Um homem fumava um cigarro lentamente, soltava a fumaça e ficava apreciando seu efeito contra a noite.
Os olhos azuis do homem subiram de encontro com o corpo magro da rosada, quando ela estava próxima o suficiente. Os olhos indiferentes viram o quanto a menina parecia necessitada e parcialmente desnutrida, porém, de alguma forma continuava com uma beleza encantadora.
- Está péssima rosada – comentou voltando a tragar seu cigarro.
- Valeu Araya – Sakura agradeceu dando de ombros – Nagato está aí?
- Sim. Precisa de dinheiro? – Araya indagou vendo a ansiedade dela.
- E como – Sakura sorriu nervosamente – Posso entrar?
- Claro, sempre é bem-vinda. Nagato gosta de você – o homem abriu a grade e a porta.
- Valeu – agradeceu ela entrando sem cerimonias no local.
O ambiente se abriu diante dos olhos verdes de Sakura. Sempre era surpreendente. A música pulsava como marretas batendo nas paredes, às vezes parecia que o local iria a baixo a qualquer minuto. O som da banda Nine Inch Nails enchia o ambiente com suas letras intensas.
Sakura tentava se focar perante as luzes que piscava, rodava e reluziam nos espelhos espalhados pelos cantos da boate. Sabendo o caminho, ela seguia em frente contra os corpos dançantes e bêbados de mulheres e homens que se esfregavam uns nos outros como se suas vidas dependessem disso. Algumas pessoas quando a percebiam perto ou acabavam por esbarrar lhe davam um olhar de nojo e se afastavam.
Não demorou muito para ela encontrar o corredor complemente iluminado por uma luz azul escura, dando um ar sombrio às paredes cobertas por algum revestimento de aparência macia. Outro homem guardava a porta mais a frente, Sakura assentiu para ele e ele a fez parar com uma olhada desconfiada.
- Tá armada? – questionou grossamente.
- Tenho uma faca – confessou abaixando-se e retirando a faca presa na perna, dentro de suas meias.
- Me dê – homem pegou – Só?
- Sim.
Sakura anuiu e logo ele, ainda a olhando, bateu na porta num ritmo claramente combinado. A porta se abriu segundos depois por um homem alto e esguio, seus cabelos ruivos caindo até depois da nuca.
- O que foi? – perguntou olhando para o homem indiferente, porém quando viu a garota ao lado dele, seus lábios abriram um pequeno sorriso – Sakura! Entre.
Sakura esfregou as mãos geladas infiltrando-se no improvisado escritório de Nagato. Ele deu a volta na mesa no centro do cômodo e aconchegou-se na cadeira.
- Do que precisa? – Nagato sorriu cordial.
- Preciso de dinheiro – a rosada suspirou firme – Me dê alguma coisa para vender – pediu.
Nagato a olhou por um momento. A garota à sua frente estava magra demais, os ossos do rosto se sobressaiam na pele pálida, os olhos verdes claríssimos pareciam grandes demais para ela. Os cabelos rosa chamavam a atenção debaixo do capuz preto do casaco leve demais para o frio que sabia que fazia naquela noite.
Sakura precisava realmente do dinheiro.
- Tenho alguns saquinhos de cocaína, mas não são para a rua – explicou abrindo umas das gavetas da mesa – São para uma dessas festas de arruaceiros. Pago 70 dólares se entregar para mim.
- Feito – Sakura se aproximou dele e pegou o pacote fino – Qual o endereço?
Nagato indicou o endereço. Sakura sentiu um arrepio, não era tão longe, mas era um bairro barra pesada. Quando estava prestes a sair da sala, a voz de Nagato se fez presente:
- Você é muito linda, Sakura. Trabalhar aqui na boate não seria tão ruim para você. Eu trato muito bem as meninas aqui – murmurou até de certa forma carinhoso – Aqui elas tem comida, abrigo. Tudo o que precisam.
Sakura assentiu e sorriu de canto. Agradecia a oferta, Nagato realmente tratava bem suas garotas, mas aquilo não era para ela.
Sabia que o que fazia para conseguir dinheiro era errado, mas era um jeito de conseguir sobreviver. Não era sempre que vendia, mas desde a chegada de Haku, ela não conseguia ver a fome retorcer o rosto bonito do menino. Ela já estava acostumada a viver na rua, mas ele não conseguiria sem ela.
Se prostituir estava muito longe do que já questionou em fazer para poder comer, afinal conseguia achar muitas coisas na rua e quando precisava fazia esses bicos para Nagato. Mas não podia dizer que nunca pensou nisso nas noites mais frias do inverno ou quando sentia seu estômago grudar pela fome ou quando fugia de algum estuprador.
- Estou bem assim, Nagato – o olhou e assentiu em agradecimento. Nagato apenas ofereceu isso pelo seu estado talvez, já que nunca o tinha feito – Agora vou indo.
- Tome cuidado, sim? E se eles fizerem alguma coisa, venha até mim – Nagato sorriu, sua voz baixa e calma mostrava o quanto poderia ser mortal para seus inimigos.
- Pode deixar.
A rosada decidiu sair antes que ouvisse mais uma proposta.
O homem ainda estava lá fora quando saiu, sua faca estava nas mãos dele, apenas esperando para voltar a sua dona.
- Sabe usar isso? – o desdém dele era bem visível.
Sakura encarou a faca de lâmina negra e cabo num vermelho desgastado. A tinha roubado de um militar dando bobeira no parque enquanto brincava com seus filhos.
- Sim – sorriu de canto – Já me livrei de alguns incômodos por aí.
O homem a frente dela concordou com a cabeça careca e nada mais falou. Ela saiu do corredor sentindo a faca bem guardada junto de sua panturrilha.
- Até a volta Araya – despediu-se já do lado de fora.
- Quanto vai ele vai te pagar? – perguntou o homem, que já tinha um cigarro novo nos lábios.
- 70 – disse ela com um sorriso grande.
- Te dou mais dez se trazer um maço de cigarros na volta – sorriu Araya.
- Certo, mas me dá um aí – a rosada pediu indicando com a cabeça o cigarro pendurado entre os dedos de Araya – O frio está matando hoje.
Araya a entregou e ofereceu o isqueiro. Sakura sentiu seu corpo esquentar momentaneamente com a fumaça tóxica entrando em seu corpo. Sorriu em agradecimento para o homem e se foi de volta à escuridão do beco e da noite.
****
Nagato nunca estaria completamente certo quanto no momento em que a rosada chegou há poucos metros do destino. A casa onde teria que fazer a entrega era sim um lugar onde provavelmente se arrependeria de entrar. Mas eram 70 dólares. Poderia comprar um par de meias novas para Haku e um combo com direito à batatas fritas e molho especial no Toni’s.
O bairro onde estava era muito perigoso, ela fazia questão de manter o seu corpo longe dele, mas eram esses bairros que movimentavam a máfia para qual Nagato trabalhava.
A máfia não tinha um nome e nem um rosto, porém, a capital era sua. Já viu muita propina rolando para ter certeza que até a policia está no meio de toda a merda que acontece dentro da selva de concreto em que vivia. As pessoas a respeitavam e temiam no mesmo nível, o que obviamente era uma coisa sensata a se fazer.
- Ok – ciciou recuando seus fios rosa mais para dentro do capuz – Vamos lá, quero comer minhas batatas...
Sakura olhou por sobre o ombro apenas por verificar se algo estava à espreita, não podia ficar esperando problemas chegarem. Sempre estar de olhos abertos era outra regra que aprendeu cedo. Vendo que tudo estava normal, fora a festa que acontecia do outro lado da calçada, atravessou à rua com passos rápidos.
A casa de dois andares era amarelada, ela pensava e supôs que antes seria branca a cor que coloria as paredes de madeira. Alguns homens e mulheres estavam atracados nos cantos escuros da rua, mais ainda sim continuavam frente ao lar que não deveria ser nada familiar.
Desviando de olhares e sem chamar atenção, Sakura entrou na casa. Devia procurar por Seiji, um cara de prováveis vinte anos e com uma tatuagem na cara e olhos negros. A casa estava abarrotada de gente, todas se esfregando umas nas outras ao passo que um rap pesado, que falava que a vida não tinha sentido e que cheirar seria uma maneira bem mais fácil de viver, tocava alto.
A rosada continuava sua busca, não devia ser difícil achar Seiji e de fato não era. Ela o achou no lado de trás da casa, no quintal pequeno e sujo. Estava em uma rodinha com alguns caras tatuados, que dividiam com ele um enorme cigarro, que se não fosse pelo formato, o cheiro claramente deixava óbvio o que era.
- Quem é você? – disse um deles olhando-a de cima a baixo.
- Nagato me mandou – Sakura assumiu uma postura gélida. Nunca se deve mostrar sentimentos para estranhos, principalmente os que têm armas – Procuro por Seiji.
- Então achou gatinha – ele sorriu lascivo – Trouxe?
Sakura assentiu o vendo estirar a língua para fora da boca e lamber os lábios escuros pelo que fumava. Seiji retirou um pacote envelopado de dentro do casaco verde com iniciais insignificantes. A rosada desceu alguns degraus que levavam a ele, das costas retirou o pacote destinado ao homem que vinha em sua direção.
- Me entregue – Seiji esticou a mão, um sorriso desenhava-se em seus lábios.
- O dinheiro primeiro – Sakura o olhou indiferente, mas com firmeza – Não sou idiota, Seiji. Não tente bancar o engraçadinho.
- Calma lá garota – Seiji riu levando as mãos para o alto, como quem se rende – Gostei de você – continuou entregando o envelope para ela de uma vez.
Sakura entregou o pacote e escondeu o envelope em seu corpo. Voltou a subir os degraus atrás de si ainda de costas. Nunca fique de costas para pessoas suspeitas. Seiji continuava sorrindo, seus olhos negros brilhantes.
- Pode ficar se quiser – sugeriu ele a encarando – Podemos nos divertir um pouco.
- Não, obrigada.
- Não estou dando uma escolha rosadinha – Seiji aumentou o sorriso.
Vendo os olhos negros brilharem com promessas mortais, Sakura lançou um olhar por cima do ombro. Um careca de pele morena estava no portal segurando o riso, em suas mãos um taco de beisebol de alumínio reluzia contra a luz que vinha de dentro da casa.
- Nagato não vai gostar disso – Sakura voltou seu olhar para Seiji – Vai se meter em problemas.
- Nagato é muito do idiota por mandar uma garota tão frágil fazer uma entrega. Quero meu dinheiro de volta.
Seiji acenou para o homem atrás da rosada. O careca a empurrou com força para frente, Sakura se desequilibrou nos degraus e arranhando a mãos no processo acabou de joelhos na frente do homem de olhos negros. A rosada agora percebia a tatuagem acima de sua sobrancelha, estava escrito pecado em japonês.
- Gostei dessa posição – Seiji falou e os outros atrás dele gargalharam – Me dê meu dinheiro.
Sakura sentia suas mãos trêmulas, seu coração batia tão forte que quase não podia ouvir as palavras dele. O medo do que iria acontecer fazia com que seu interior se revirasse causando enjoo.
Ela via nos olhos de Seiji o que aconteceria. Seus pensamentos sujos eram tão explícitos quanto à tatuagem na testa dele. Ela seria abusada e deixada para morrer em qualquer lugar, até mesmo ali no quintal sujo e de grama alta.
Antes mesmo que Sakura pudesse obedecer a suas ordens, Seiji a esmurrou no rosto. A rosada caiu para o lado sentindo o gosto metálico, tinha cortado sua bochecha. Ofegou quando um chute roubou seu fôlego quando atingiu sua barriga.
- Vamos lá vadia! – exclamou Seiji a colando de joelho novamente pelos cabelos - Estou muito a fim de brincar com você.
O ar frio apenas dificultava com que voltasse a recuperar o ar. Sabendo que não tinha outra escolha, ela levou sua mão trêmula para pegar o pacote de dinheiro. Contudo, ao sentir a cabo de sua faca mudou de ideia. Aquela entrega era garantia de dinheiro para Haku e ela. Garantia de comida por uns dois dias, até três.
E mesmo paralisada pela dor que sentia a dominar aos poucos, ela estava disposta a lutar.
- Se eu aceitar foder, você não me bate mais? – perguntou ela abrindo um sorriso lascivo – Sabe, eu sei chupar um pau muito bem.
Seiji tinha o rosto contorcido pela surpresa, mas sorriu aproximando-se dela. Aquela garota devia ser apenas mais uma das vadias que Nagato tinha naquela boate dele, pensava o homem que já abria o cinto.
Sakura se mantinha firme no sorriso mais malicioso que tinha, não era tão difícil quando pensava no que estava prestes a fazer. Aos poucos ia subindo a barra de sua calça, apenas esperava que o homem atrás dela não percebesse nada.
E ele não percebeu. Sakura apertou o cabo da faca com toda a firmeza que podia e não esperando mais nenhum segundo, ela sacou a arma fincando na barriga de Seiji. E quando saltou para cima pronta para correr levou a faca junto, abrindo então um corte do umbigo ao peito de Seiji.
Sakura puxou a faca ouvindo as exclamações e gritos, e correu como há meses não fazia. Seu corpo enfraquecido não ajudava, mas continuou não importando o gosto de sangue que sentia, não importando o som de disparos sendo feitos em sua direção. Com a imagem de Haku na cabeça ela continuou sua corrida.
Nunca teve um motivo para seguir em frente, nunca um motivo para viver mais um dia na merda de sua vida. Mas agora tinha. Haku precisava dela e era pensando nele que corria. O tinha prometido busca-lo pela manhã, que já não estava muito longe, e um sanduiche do Toni’s e iria cumprir com sua palavra.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.