As aulas haviam passado rapidamente naquele dia. O tempo pareceu voar após McGonagall comunicar que, no horário de aula, as crianças ficariam sob a responsabilidade de um elfo, esvaindo a preocupação dos pais.
Era a última aula do dia e Hermione estava determinada. Poções, com a sonserina, e consequentemente, com Draco Malfoy. A castanha avistou os inconfundíveis cabelos loiros e caminhou até lá, não se importando com os sussurros acusadores, nem com o olhar alarmado do garoto quando ela se sentou ao seu lado.
- O que pensa que está fazendo?
- Você vai falar com Isaac. - Ordenou, inexpressiva. - Vai se desculpar com ele.
Draco apoiou a cabeça sobre as mãos, sorrindo debochado. - E quem vai me obrigar a fazer isso?
- O seu bom senso, se é que você tem. Foi cruel demais, até mesmo para você.
O olhar debochado se transformou em uma instantânea expressão tristonha, que passaria despercebida se Hermione não estivesse olhando tão compenetradamente para o sonserino.
- Já ouvi coisas piores. - Deu de ombros, fazendo pouco caso. - Ele supera.
Hermione olhava-o, impassível.
- Pode dizer isso agora Malfoy. Mas aposto que doeu quando ouviu, não engana ninguém além de si mesmo.
O menino se irritou. Ela tinha razão, para piorar tudo.
- Saia daqui sangue ruim, não vê que estão comentando?
- Pro inferno com os comentários, seu idiota. Não saio daqui até ter certeza que vai se desculpar com Isaac!
- Então fique aí, eu saio, sua insolente.
E levantou-se, se sentando com Pansy Parkinson. Hermione o seguiu com o olhar, distraída demais para notar Rony ao seu lado.
- O que há com você, está ficando louca? - Hermione deu um pulo ao ouvir a voz do ruivo, que olhava pra mesma direção que ela, recentemente.
- E o que há com você? Está tentando me matar de susto? - Irritou-se, tentando ganhar tempo. Pensou se Harry ou Gina tinham contado para o amigo sobre os últimos acontecimentos, mas a julgar pela surpresa dele, teve certeza que não.
- Por que estava falando com Malfoy?
- Apenas algumas amenidades sobre a aula.
- Amenidades sobre a aula, por quê? - Indagou, exasperado, Hermione tentou formular uma resposta, mas foi interrompida por Snape.
- Página 167, Weasley, Granger, queiram calar a boca.
A grifana deixou escapar um suspiro de alívio, deixando Rony ainda mais intrigado.
• • •
- Não vai mesmo falar com ele?
Draco revirou os olhos, não precisava levantar o olhar para saber de quem se tratava.
Olhou em volta, notando a sala vazia, estava tão absorto em seus pensamentos que sequer notou quando a aula chegou ao fim.
Sabia que estava errado, não que não dissesse coisas infinitamente piores do que o menino ouvira, mas o fato dele ser uma uma criança e seu futuro filho, pesava bastante.
Decidiu contra-argumentar com sarcasmo, o que melhor sabia fazer.
- O que há Granger? Quer passar um tempo sozinha comigo? Sinto muito, você não faz meu tipo.
- O que quero, Malfoy, é que tenha responsabilidade emocional pelo menos com seu... - Hermione hesitou, olhou em volta para se certificar que ninguém estivesse lá para ouvir. - Filho!
- Você não...
- Eu não dou a mínima se é um mimado orgulhoso, ou se é um imaturo, ou se já ouviu coisas piores, como você mesmo disse... - Desatou a falar, interrompendo o sonserino.
- Cale a boca!
- Sabe, acho que isso explica muito coisa na verdade. O fato de você ser uma pessoa horrível, por exemplo.
- Uma pessoa horrível? - Ficou em pé, cruzando os braços, próximo a grifana. - Rico, bonito, sangue puro, sonserino, um excelente jogador de quadribol... Isso é horrível para você?
- E do que adianta a pureza do sangue, a riqueza, sua qualificação em quadribol ou sua beleza...
- Então me acha bonito! - Pontuou O loiro, com diversão.
Hermione ignorou, retomando sua análise.
- Do que adianta isso tudo Malfoy, se você desconhece o amor. Pode rir, eu sei o quanto é clichê, mas é a verdade. Sua família é do mal, e para compensar a falta de carinho, te encheram de mimos. Sua superficialidade é patética, você é patético.
Draco sorriu, dando um passo a frente. Segurou o queixo da castanha, delicadamente, fazendo com seus olhos se encontrassem.
- Pro inferno, com seus comentários, Granger. - Repetiu a frase que ela usara no início da aula.
Naquele momento, olho no olho, Hermione notou a mágoa disfarçada por um sorriso irônico. Talvez tenha sido dura demais. A culpa se apossou da garota.
Era do conhecimento de todos a frieza dos Malfoy, a forma como Lucius Malfoy era rígido e arrogante, e como Narcisa era submissa. Devia ser difícil para Draco a situação familiar. A grifana foi baixa ao jogar tudo aquilo na cara dele.
Quando o sonserino deu as costas, movida pela coragem tão característica de sua casa, Hermione sussurrou.
- Desculpe. - O loiro parou, conseguiu ouvir a menina, por mais baixo que tenha dito. Sentiu ela se aproximando, mas em nenhum momento virou-se para a olhar. - Não quis ser maldosa. E agora, não estou querendo ser inconveniente, nem evasiva, mas é por Isaac que peço: Não seja o que fizeram com você, Malfoy.
E então, ela se foi.
Draco a acompanhou com o olhar, até que desaparecesse de seu campo de visão.
Ela não estava errada, em nenhuma de suas colocações.
E o encontro que ele teria com o pai daqui a poucos minutos, reforçaria ainda mais o que Hermione Granger falou.
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