Jin
Sabe aquela sensação de estar encolhendo até virar um mísero grão de poeira? Aquela situação me fez sentir totalmente insignificante. Até o ar poderia me levar pra longe e eu apenas teria de ir com ele. Antes eu me sentia extremamente importante e intocável. Do lado desse bando de vigas enferrujadas e procurando por minha jagiya eu via o quão brutal é a vida. Ela não poupa ninguém do sofrimento.
— Nada desse lado! Achou algo, hyung? — gritou Taehyung no final do corredor, seus sapatos espalhando água das poças.
— Não! Nenhum sinal dela! — respondi, o pulmão murcho de tanto esforço.
Corremos até nos encontramos no meio do quarto andar, o último daquele nefasto prédio lateral. Praticamente todos os apartamentos estavam sem portas ou com pedaços faltando delas, sendo por ação da podridão da madeira e cupins, ou por sinais de arrombamento. Minhas narinas ardiam com o cheiro de mofo. Se S/n foi mesmo levada até aqui, nem consigo imaginar o que essa pessoa queria com ela.
Tae chutou uns canos no chão que deveriam fazer parte do projeto daquela construção inacabada. O barulho semelhante a sinos de igreja é extremamente alto, mas não fez muita diferença pra mim que já estava muito perturbado. Ele estava decepcionado e eu nem sabia ao certo como começar a descrever o que sentia. Dei as costas e saí andando.
— Aonde você vai?! — meu amigo recorreu à exasperação.
— Temos que nos encontrar no centro das construções, se lembra? Os outros devem ter a encontrado. Só espero que S/n esteja bem.
— Se tivessem a encontrado, JÁ TERIAM LIGADO!!! — Ele cobriu o rosto com as mãos, encolhendo-se e dando espasmos como se estivesse sendo eletrocutado.
— EI, EI, EI!!! — Seus dedos abriram o suficiente pros seus olhos avermelhados encontrarem os meus. — Chega disso! Ela precisa da gente! S/n precisa que você seja forte! Não podemos desistir! — Apertei sua nuca e encostei a testa na dele, o suor parecendo óleo fervente. — 동생 (dongsaeng=irmão), você está comigo? Irmãozinho, você é mais forte do que imagina. S/n está contando com você! Todos estamos! — Taehyung limpou o rosto com as mangas do casaco. — Você está comigo?!
Suspiros. Consegui acalmar um pouco, não deixando de pensar em todos os meus outros amigos. Será que eles estão bem? No que a gente se meteu? O amor leva mesmo à loucura.
— Sim... E-eu estou. — Soltei sua nuca e retomei meu caminho. Tínhamos que sair daquele universo fúnebre e ter esperança de que nossa vida não é um romance policial com um final triste.
No segundo andar, meu bolso vibrou. Acabei me atrapalhando para atender a ligação, mas quando o fiz, o alívio foi tanto que pensei estar vertiginoso. Tae segurou no meu ombro tentando ouvir o que se passava.
Ligação On
— Venham rápido pra cá! EU ACHEI A S/N!
— Achou ela?! — Taehyung quase subiu em cima de mim ao ouvir a afirmação. — E como ela está, Yoongi? Está ferida?
— Acho que o cara a prendeu atrás dessa porta de ferro sinistra no subsolo! Eu liguei pra ela e o celular tocou em algum lugar lá dentro!
— Tem certeza?! Por que ela não responde, então? Você está vendo ela? — O celular é tomado à patas mansas por Tae.
— Só venham pra cá! Está trancada! Não consigo abrir! Preciso de ajuda imediata!
— Não viu ninguém aí por perto? Pode ser perigoso! É melhor você sair daí!
— Sim, ela está na minha frente e...
CRACK!!!
Algo estava errado. Tomei o aparelho de volta. Uma dor de cabeça insana me atravessou como quando uma pobre tábua é perfurada por uma pistola de pregos.
— Yoongi, está tudo bem por aí? O que foi que aconte...
POW!!!
Piiiii... Piiiiii... Piiiiii...
Ligação Off
Minha mão ficou parada, a saída de som no meu ouvido e a estática rolavam — os sussurros iníquos do inferno. O estalo foi em 8D, vindo de todos os lugares como um eco no desfiladeiro infinito do Grand Canyon. Depois um silêncio. Para piorar ainda mais estava escurecendo. Até a chuva deu uma folga, sentindo que tudo já estava muito além de ser tolerável. Em seguida Tae confirmou minhas suspeitas perguntando:
— Isso... foi... um... tiro?!
Seu olhar estava vidrado na varanda compartilhada e aberta que rodeava o estabelecimento e dava a visão de onde nosso amigo disse que estava. O silêncio após o disparo, só quem já escutou sabe a intensidade do pavor que se segue. O barulho engoliu a chuva, o nevoeiro, os sem-teto e o brilho dos seus olhos. Imagino que eu não estava diferente, um boneco de silicone sem alma que não via a luz a séculos e não seria hoje que a encontraria.
Namjoon Pov
POW!!!
Paramos de andar no instante que o estalo ocorreu. Estamos todos acostumados a ouvir tal som como efeito sonoro. Yoongi inclusive teve a brilhante ideia de colocar em UGH!, deixando nosso rap com aquela vibe de botar pra quebrar. Confesso que nunca mais irei escutar essa música depois de hoje.
Não precisei falar nada. Jungkook e eu entramos numa correria para descer todos aqueles andares de escada. Ele, atleta, tomou a frente, pulando os buracos e desviando das montanhas de lixo que estreitavam cada passagem.
— De onde você acha que veio? — perguntei no seu encalce.
— Meio! Veio do meio! De onde Yoongi hyung está!
De volta ao espaço aberto lá embaixo, encontramos Seokjin e Taehyung, também saindo de um dos prédios e correndo em direção ao centro. Fizemos a formação, decididos a encarar de frente nosso medo e salvar S/n.
Logo na entrada, outro disparo. Nos escondemos atrás das muretas feitas de tijolos laranjas. Vendo a expressão de horror nos meus amigos, aquilo devia ter me assustado ainda mais, contudo brotou um sentimento bem diferente no meu interior: a raiva. E eu senti que era tanta, mais tanta! Tive pensamentos de gente que já foi condenada à prisão perpétua na Coreia. Tive vontade de matar quem quer que tivesse disparado os tiros, vontade de acabar com a raça do filho da puta que está brincando com nossas vidas. Ninguém tem o direito de espalhar esse medo generalizado que vejo nesses rostos! Nada justifica essa coação!
Arrisquei e levantei a cabeça. A entrada contava de que se tratava de ruínas de algo que um dia foi um puta de um hotel. A visão de dentro do lugar era escurecida demais, praticamente inútil tentar enxergar qualquer coisa lá dentro. Se eu fosse o vilão, não teria escolhido lugar melhor.
— Saiam daqui enquanto ainda podem! — vociferou uma voz desconhecida em um inglês péssimo. — Eu só quero a garota!
— This is never gonna happen! (Isso nunca vai acontecer!) — gritei de volta.
— Estou avisando! Isso não é uma negociação!
— Não vamos embora sem a S/n! Você está cercado! Não tem como escapar! A polícia já está a caminho! — preguei uma mentira que logo se tornaria verdade... Era o que esperava.
— Garotos tolos!!! Não veem que estou armado?!
Outro tiro.
Não fui atingido por pouco. O ar sendo cortado em algum lugar zunindo minha orelha me convenceu de que deveria ficar escondido. A minha respiração pesava no meu peito. Estava apavorado, não podia negar, porém percebi algo que pode ser usado a nosso favor: o cara está descontrolado.
Jin estava no telefone, tapando uma das orelhas para escutar melhor quem quer que estivesse do outro lado da linha. Assobiei pra ele e o que recebi foi um sinal de cruz com os dedos de Tae, que estava ao seu lado — ele está chamando uma ambulância, só podia ser isso. — Virei e dei uma cotovelada em Jungkook, que respondeu com um grunhido.
— Liga pro Bakho e explica tudo! Fala onde estamos! Vai, Jungkook, agora! — deu uma chacoalhada no ombro do menino assustado.
— T-tá bem...
Ele seguiu minhas instruções e analisei a situação. Meu coração acelerava igual a um motor V8 e eu temia a arrancada. Só há uma abertura para nos aproximarmos. Ele disparou três vezes… Como sair dessa?
— Jungkook, quantas balas tem uma arma geralmente?
— O-o quê?!
— Jungkook!!! — apertei seu ombro e ele me encarou desnorteado. — Quantas?!?!
— Não é assim que funciona! Existem modelos q-que vão até 15 cartuchos mais um na culatra! Se t-tivermos s-sorte será uma nove milímetros comum!
— Que são...?
— Oito d-disparos sem recarga... Mas a gente não pode contar com m-meu conhecimento via v-vídeo games, Namjoon! Isso é loucura!!!
Responderia a ele que, naquela situação, tudo estava valendo, só que preferi ficar quieto. Minha mente bolava vários caminhos, descartando todas as possibilidades que pudessem resultar em alguém sendo ferido gravemente, estilo efeito borboleta. Cada passo que tomarmos nesse momento afetará tudo daqui pra frente. A prioridade é a segurança da S/n e, além disso, não tínhamos certeza de onde estava Yoongi, o que era no mínimo preocupante.
— O Bakho não atende! O que a gente f-faz?
— Vai tentando até conseguir!
O sotaque de Busan de Jungkook tornava-se bem mais evidente quando estava nervoso e ele estava bastante. A gagueira era outro acusatório disso.
— A ambulância está a caminho! — anunciou Jin. Finalmente uma notícia boa.
— A ambulância é o de menos! — gritei de volta e depois comecei a sussurrar pra todos. — Estamos sozinhos!
— Devíamos deixar isso nas mãos das autoridades! Não somos da polícia! Não temos preparo algum para isso! Não podemos fazer nada! — Taehyung estava em prantos, os olhos esbugalhados e avermelhados.
— E se ele machucou a S/n ou o Yon?! Vamos ficar quietos aqui do lado de fora e deixar algo ruim acontecer?! — Jungkook, mesmo sob pressão, soube ser valente.
— Então qual é o plano?! O sujeito está armado!!!
— Precisamos o manter lá dentro e ao mesmo tempo garantir a segurança dos nossos até que essas duas forças cheguem. Vamos ter que improvisar — argui sem muito esforço. O cara, apesar de armado, estava encurralado.
— Pra isso temos que entrar lá — observou Jin, arriscando uma espiada por cima da barricada de concreto.
— O YOONGI FOI BALEADO!!!
Esperei escutar a sua voz doce todo aquele tempo, todavia não foram essas as palavras que gostaria de ter ouvido. S/n foi direto ao ponto, chocando a nós todos.
— Está bem, está bem... Vocês me pegaram, crianças. Afinal eu terei de lhes dar uma escolha se eu quiser sair daqui, não é mesmo? — O homem de repente propôs em tom furioso. — Seu amigo intrometido está lá embaixo. Se vocês chegarem nele a tempo, talvez ele sobreviva! — Sua risada no final foi enigmática.
A preocupação atingiu seu auge. Yoongi estava nas mãos dele, já não bastasse nossa namorada. O que faremos? Que porra vamos fazer para salvar os dois das garras do diabo?
Yoongi Pov
O sangue é mais grosso que a água, mas a gente se afoga nos dois. A pequena circulação, pulmão-coração, estava sendo trabalhosa pra mim. Virei pro lado e vomitei tanto sangue que comecei a acreditar que os filmes de terror são mais realistas do que imaginava. Era um líquido vermelho quase preto e pegajoso, rico em CO2. O ferimento no meu ombro não era tão grande, mas era o suficiente pra me deixar fora de jogo. Não sentia nada além de pura dor. Lutava para me manter acordado e não perder a consciência. As aleluias batiam na barra de luz bem acima da minha cabeça, me dando a dica de que eu precisava encontrar a minha própria.
Afinal, quem era aquele homem que mirou a arma pra mim? O que ele fez com a S/n durante todo esse tempo que esteve com ela aqui embaixo? É tão louco estar preocupado com ela sendo que sou eu que estou sangrando no chão... Eu a amo demais. Amo mais do que amo a mim mesmo. Se morrer aqui e agora nessa garagem subterrânea for salvar minha mocinha, morrerei sem arrependimentos. É claro que não quero isso, e por essa razão eu apertei o paninho ensanguentado contra meu machucado e me forcei a levantar.
Senti tanta dor só para me colocar sentado que sofri pequenos apagões, chegando a ter a visão completamente nula. Respirei e tomei impulso com o lado não atingido, a aflição ultrapassando os limites da resistência de um homem comum. Comecei a andar feito um zumbi, arrastando-me com preguiça e grunhindo a cada metro. Fui até onde consegui, jogando meu corpo sem vida contra uma coluna próxima às escadas que davam para o andar térreo. O rastro que deixei apenas fazia todo aquele lugar ser ainda mais macabro. Alguém deve me achar nesse vão escuro, só espero não ser tarde demais.
— PUTA MERDA!!! TAEHYUNG, ME AJUDA AQUI!!! ELE ESTÁ MUITO FERIDO!!! TEM SANGUE POR TODA PARTE!!! PUTA MERDA!!!
Conseguia malmente ouvir vozes familiares que pareciam estar a quilômetros luz de distância. Senti algo segurar minhas pernas e outra coisa levantar e puxar meus braços abruptamente, o que me fez gritar e falar coisas das quais não me lembro, provavelmente nem fariam sentido se lembrasse.
— Você vai ficar bem, hyung! Vai ficar tudo bem! Nós estamos aqui com você! Nós estamos aqui! Fica com a gente! Fica acordado! Estamos quase lá fora! A ambulância já está a caminho! Hyung! Fique acordado! O JIN FALOU QUANTO TEMPO, JUNGKOOK?! — Com o grito de Taehyung eu abri os olhos como se estivesse renascendo das cinzas e vi os mais novos me carregando.
Jungkook cuidava de minhas pernas e Taehyung segurava meus braços hiperventilando mais depressa que eu. Eles estavam olhando pro horizonte enquanto corriam comigo. O balanço dos degraus me causou enjoos. Era quase um sonho, estava ali sem estar realmente, e não tinha controle algum da situação. A diferença era que aquele sonho podia ser meu último.
— Olha lá as luzes vermelhas, hyung! — exaltado, Jungkook deu um gás e se adiantou juntamente com Taehyung.
— É a sirene da ambulância! Hyung, eu disse que você ficaria bem!
Consegui dar um sorriso fraco aos dois e me deixei desfalecer nos seus braços. Tinha sorte de tê-los ali, não sei se já agradeci o suficiente por ter tido a oportunidade de ter conhecido pessoas leais como eles. Estava a salvo, estava seguro... Mas e você, S/n? O que tinha acontecido com você? Não irei jamais me recuperar desse ferimento a bala se não souber que você está bem.
Namjoon Pov
Dissemos que iríamos embora se o homem nos deixasse resgatar nosso amigo, o que não era de tudo falso. Tínhamos que ajudar Yon e dar um jeito de tirar S/n das mãos daquele maluco. A pergunta é: como? Mandei os mais traumatizados, Jungkook e Taehyung, em busca de Yon e eu e Jin nos escondemos após entrarmos no prédio e ficamos observando o homem das sombras. Seu cabelo parecia ser pastoso e sujo como petróleo e eu não consegui identificar se ele era gordo ou somente flácido. Andava, parava, mexia na arma, coçava a cabeça sem saber o que fazer. Estava definitivamente confuso e fora de si, o que podia ser perigoso. Mantinha S/n cativa pela cintura, puxando-a junto aonde quer que fosse. Com aquela arma, seria impossível nos aproximarmos.
Ouvimos uma sirene. O homem, assustado, correu pro interior das ruínas e subiu as escadas. O braço de S/n estava avermelhado do aperto que ele fazia. Minha vontade era de correr pra cima naquele instante e socar a cara do imbecil. O pensamento foi cortado ao lembrar da arma engatilhada nas mãos dele. A maldita arma!
— Temos que ir atrás deles. Não podemos perder ela de vista — usei a voz bem baixa. Jin confirmou com a cabeça.
— ME SOLTA!!! ME LARGA!!! — S/n exigia.
A gritaria deu espaço para um estalo surdo, não do tipo que se ouve ao disparar com um projétil, do tipo que fazemos ao bater em algo sólido com a mão espalmada. A voz de S/n não mais era ouvida e aquilo me enlouqueceu. Pela primeira vez de quando chegamos ali eu comecei a me achar imortal, deixando de lado o temor pela minha própria vida. Jin tentou me parar e lhe lancei um olhar furioso, recebendo um de compreensão. Fomos atrás dela, subindo as escadas em ritmo constante.
No primeiro andar estava tudo quieto, quieto demais. Esse prédio era ainda pior do que o que estive com Jungkook procurando por S/n. Manchas enormes de mofo e um musgo nojento ocupava cada canto, insetos asquerosos se arrastavam naquela nojeira. Aquele pântano parecia ser intocado pela humanidade a séculos e com isso quero dizer que não sabia para aonde S/n tinha ido. Olhei atentamente pro chão à procura de indícios de sua passagem, pois ela estava proibida de falar e eu de contactá-la. Jin apontou para o outro lance de escadas onde havia uma pedrinha colorida.
— É o que acho que é? — ele questionou se aproximando e catando o objeto.
— É da pulseira que Hoseok fez pra ela.
S/n fez uma trilha de miçangas escada acima.
Subimos o segundo, o terceiro e o quarto andar seguindo o caminho demarcado. Nos separamos. Espiei os apartamentos velhos um a um e num deles havia uma porta emperrada. Tomei impulso, batendo com o ombro nela e entrando num dormitório ocupado. Duas pessoas estavam entretidas demais dormindo com agulhas para notarem minha presença. É deplorável saber que existem milhões que vivem nesse submundo. Esse cara que raptou minha little girl é um drogado? Possivelmente.
— NAMJOON!!!
Sai em disparada quando fui chamado. Jin descobriu que tinha uma das pedrinhas marcando uma escada encaracolada enferrujada que dava para o terraço do lugar. Tomei a dianteira e segui em frente. Cada passo era um rangido e olhar pra baixo era uma péssima ideia.
No topo, nenhuma grade poupava quem quer que estivesse lá em cima de sofrer uma queda das grandes. O homem estava olhando pros lados, perdido, sem saber qual seria seu próximo passo. Uma mecha dura de seu cabelo queria fugir de seu coro cabeludo com o vento. S/n estava quase que pendurada pela barriga. Ver o quão indefesa ela estava quase me fezpartir pro ataque.
— Não tem como fugir! Acabou! — afirmei com tanta convicção que eu mesmo acreditei.
Assustado, o homem se virou e apontou a arma de fogo na minha direção. Mudando de posição, ele fez um mata leão na minha bebezinha, que se debateu tentando escapar. Era uma cena de velho-oeste, mas sem os assobios. Levantei as mãos calmante e mostrei estar desarmado, um ato que não chegou nem perto de acalmar a ameaça. Atrevi-me a me aproximar devagar. Estamos girando em uma batalha épica no topo do edifício.
— Não se aproxime ou eu atiro! — Dei mais alguns passos e ele recuou, apontando pra cabeça de S/n. — EU DISSE PRA VOCÊ FICAR AÍ OU VOU ESTOURAR OS MIOLOS DELA!!!
— Você não vai fazer isso. S/n é importante demais pra você — blefei, arriscando tudo que tinha e me destruiu por dentro o peso de minhas palavras. Ainda bem que a sorte estava do meu lado e me tornei o alvo mais uma vez.
— FICA PARADO AÍ, SEU MOLEQUE!!!
— Nam... joon... — S/n murmurou fraco, partindo meu coração.
— O que você quer, huh? — A calmaria com que dizia era desproporcional. — Se você me ferir aqui será apenas somado mais uma prisão perpétua a que você já ganhou por tentativa de homicídio.
— E-eu não matei ninguém! EU ME DEFENDI!!!
— Certo, certo... E quem irá acreditar em você, hein? Somos todos testemunhas. Se quiser se safar, terá que enfrentar cada um de nós e você não tem munição suficiente.
Na posição que estamos agora, o homem estava de costas para Jin que se escondia nas escadas. Fiz um sinal sutil pra ele se aproximar. Tinha que manter o cara distraído para termos uma chance de resgatar a refém.
— FIQUE LONGE DE MIM!!! NÃO CHEGUE PERTO!!! — seus olhos estavam esbugalhados e sua boca salivando feito um cachorro com raiva. Jin já estava erguido atrás dele, acompanhando suas viradas.
— Por que você não solta ela voluntariamente e se entrega pra polícia? Se fizer isso passivamente, talvez pegue só uns trinta anos de cadeia!
— Seu... SEU INSOLENTE!!! ELA É MINHA!!! S/N ME PERTENCE E IRÁ COMIGO DE UM JEITO OU DE OUTRO!!! — Os dedos dele saiam e deixavam o gatilho livre, a tremedeira deixa evidente seu nervosismo.
— Deixe-a ir! S/n não quer isso, não vê? — encurtava nossa distância à medida que Jin chegava mais perto com cautela. — Nós temos dinheiro! Aceita uma troca?
— Não preciso de troca pra conseguir a fortuna de vocês! IREI CONSEGUIR TUDO!!! A GRANA, A GAROTA E MINHA LIBERDADE!!!
— Não teria tanta certeza...
Jin atacou o braço do homem, derrubando a arma e fazendo com que S/n fosse solta. Corri e segurei minha garotinha nos braços antes dela atingir o chão. Acariciei seu rostinho freneticamente e perguntei se ela estava bem. S/n não me respondeu, ao invés disso gritou rouca o nome de Jin e eu me virei presenciando uma cena horrível.
Estavam os dois rolando naquela sujeira, dando socos um no outro. O homem estava em cima de Jin e o sufocava. A mão do meu amigo tatearam o chão em busca da pistola quase a alcançando. O homem, então, se jogou pro lado, dando a Jin uma chance de se levantar e chutar a arma para longe juntamente com a mão do homem, que gemeu de dor. Jin foi derrubado pelo joelho e o homem tentou ficar em cima dele novamente. Jin arrumou uma pedra e a bateu contudo na cabeça do cara, arrancando um pouco de sangue do indivíduo. Jin buscou apoio se colocando de joelhos, mas aí foi jogado para trás e cruzou os braços na frente do rosto para se defender dos murros. Irrevogavelmente o homem pretendia machucar meu amigo ao perceber que o mesmo havia achado um pedaço de vidro quebrado. Ele levantou os braços acima da cabeça para depois então abaixar e o apunhalar.
S/n gritou e eu fechei os olhos. Não conseguiria me mover rápido o suficiente para salvar Jin. Lágrimas começaram a escorrer no meu rosto e me recusava a presenciar aquela atrocidade. Foi aí que ouvimos um exército marchando e uma voz imponente ordenando:
— MÃOS NA CABEÇA!!!
As autoridades haviam chegado e o homem, vendo aquilo tudo, deixou a lasca de vidro cair e se espatifar. Os policiais não perderam tempo, a tropa chegou o arremessando de barriga no chão e o algemando se hesitar. Chamaria de verdadeira arma o que carregavam com tanta profissionalismo. Eles ajudaram Jin a se levantar e também vieram nos ajudar. Bakho surgiu dentre os coletes balísticos e tirou S/n de mim, levantando-a e a colocando no seu colo, que no mesmo instante desmaiou, os braços soltos e a melanina perdida. Olhei pra ele com uma mistura de admiração e gratidão. Recebi uma piscadela e me voltei para Jin, abraçando-o forte.
— Você foi muito corajoso, irmão — admiti choroso contra seu ombro.
— Nós fomos.
— VOCÊS ME PAGAM, MOLEQUES MIMADOS!!! VOU ACABAR COM A VIDA DE VOCÊS!!! EU voltarei e farei picadinho de vocês... — os berros sumiram à medida que levavam aquele demônio lá pra baixo.
Estava feito. Minha cabeça ainda não conseguia processar se aquilo tinha realmente acontecido. Tínhamos conseguido o impossível. Já fiz de tudo na minha vida, porém eu desejava nunca ter que passar por aquilo novamente. Foi um pesadelo do início ao fim e nem todos tivemos sorte.
Jin estava com hematomas esverdeados na face e nas costelas quando chegamos lá embaixo e o deixei com os paramédicos. Descobri que Yon havia mesmo sido baleado e que tinham o levado pro pronto-socorro às pressas.
Sempre me senti responsável por eles e os ver naquela situação mexeu comigo. Eu não era mais o mesmo, como poderia ser? Sentia-me destruído, indigno de qualquer liderança.
Fui guiado por policiais até um canto onde me encontrei com Jungkook e Taehyung enrolados em cobertores de resgate azuis. Era um alívio e um desassossego. Não tinha ideia de como seriam as coisas daqui pra frente. O que seria do BTS e nossos shows previamente marcados? O que seria da nossa sanidade mental? O que seria de Min Yoongi? E o mais importante: o que seria de nossa relação com a S/n?
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