Nossa última lembrança foi, de todas, a mais dolorosa; pensar que nunca mais teria meu companheiro, meu confidente, meu melhor amigo, meu amor proibido. Sua ferida era fatal e ter que sentir sua vida se esvair por entre meus braços e não poder fazer nada foi tão doloroso que tive vontade de morrer junto contigo, mas por obra do destino tive que viver, e viver por anos, sozinho.
Tentei esquecer-te, mas algumas coisas sempre acabavam arrematando meus pensamentos novamente para você, por vezes sentia que minha vida tinha parado naquele exato momento em que te perdi. Embora os anos tenham corrido como lebre na primavera, sua falta era sentida diariamente, o tempo a amenizou, mas nunca a apagou completamente.
Quando ganhei minha passagem para Valar pensei que a eternidade varreria esse sentimento para um lugar longe, onde nunca mais o sentisse, nunca estive tão errado, meus sentimentos perduraram da mesma forma que meu corpo perdurou.
Contudo nem todas as coisas eram ruins sobre a eternidade. Gandalf com o passar dos anos me ensinou muito sobre como a alma funcionava e como nossas ações, ideias e sentimentos poderiam permanecer em nossas almas, como se fossem assinaturas em um livro.
Com isso, decidi voltar a minha amada Terra Média para enfim perecer, e então um dia voltar a te encontrar. O ruim do meu plano era que ninguém estava disposto a abandonar a terra eterna para nunca mais voltar, por isso me fiz de ladrão uma última vez e sorrateiramente surrupiei um barco. Mesmo não sabendo navegar tentei voltar para casa, tentei voltar para você.
Engraçado como os anos se acumulam quando estamos em Valar. Quando fui para a terra élfica já tinha idade, e quando sai de lá, os anos que tinha deixado para trás voltaram e começaram a me levar, percebi o quão decrépito estava...
Não chegarei em terra, mas a última coisa que vi foi o mais lindo pôr do sol do mundo, acho que tal beleza que me deixou sem ar. Quando fechei meus olhos puder ver toda minha vida passar, como se fosse uma historia sendo contada para mim, até que os pensamentos chegaram a você; a primeira vez que te vi na porta da minha casa, a primeira vez que sorriu para mim, nosso primeiro abraço... Abri meus olhos e tive certeza que te vi, sorrindo e me chamando para ir contigo, sua mão estendida em um convite silencioso para que a segurasse. Onde quer que você estivesse eu iria junto, sem hesitar. Se nessa vida eu não pude tê-lo comigo, Thorin, juro por Eru Ilúvatar que na próxima eu não deixarei você partir.
Com amor,
Bilbo.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.