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História Com amor, Santiago - Dia de jogo


Escrita por: HayaVedder

Capítulo 2 - Dia de jogo


Ele estava no vestiário masculino, se preparando para entrar em campo. As conversas ao seu redor pareciam ecoar de uma outra dimensão, porque Santiago gostava de se concentrar sozinho antes de cada jogo. Cultivar pensamentos positivos era o seu jeito de manter o foco.

Para a maioria dos jogadores aquela seria só mais uma partida. Mas não para ele. Santiago sabia da importância que cada jogo tinha para a construção de sua carreira profissional, e ele sabia que tinha que ser brilhante se quisesse se destacar dos outros. Viver do futebol era mais do que um sonho, era o seu objetivo de vida.

Quase todos os jogadores já tinham deixado o vestiário quando ele finalmente acabou de amarrar sua chuteira. Mas ainda assim, quando se virou para sair, foi atingido por uma pancada forte na lateral do corpo.

— Hey, vê se olha por onde anda! — protestou aquela voz irritante que ele já conhecia bem.

Era Vitor. Sempre ele. O garoto homofóbico que o perseguia com indiretas e piadas sem graças. Santiago sentia o sangue ferver de raiva com as provocações do colega de time.

— Agora não é hora pra isso, Vitor — disse ele, tentando manter controlado seu tom de voz. — Temos um jogo pra ganhar.

Vitor soltou um risinho de deboche.

— E acha que está em condições de ganhar algum jogo trombando com as pessoas desse jeito?

— É melhor que eu esteja, porque se eu não for bem, o time inteiro vai mal. Acho que não é o que você quer, é?

— Você não é tão importante quanto pensa que é, Santiago. Vou te provar isso — finalizou ele o encarando de cima a baixo com um olhar de superior antes de deixar o vestiário.

Santiago teve que respirar fundo algumas vezes para se conter e não sair correndo atrás dele para socá-lo.

Por um instante, a imagem de Michael passou por sua mente e seu coração logo se acalmou. Saber que o namorado estaria na plateia, torcendo por ele, era reconfortante. Não podia cair na pilha de Vitor. Podia não ser importante, mas naquele dia ele jogaria por Michael.

Assim que entrou em campo, ele passou os olhos pela torcida, logo localizando Michael sentado na primeira fileira junto de Pérola e Jade. Eles trocaram um sorriso rápido, o garoto o incentivando com um gesto de mãos. Como tinha sido um dos últimos a entrar, não daria tempo de falar com ele.

Assim que o apito soou e a bola começou a rolar, Santiago soube que aquele seria um jogo difícil. o time adversário era bem entrosado e passou com facilidade pela defesa do Sapiência, logo marcando o primeiro gol. A torcida, que em sua maioria era do time da casa, explodiu em vaias.

Santiago gritou com o time, irritado com a desorganização dos jogadores. No lance seguinte, Vitor estava com a bola nos pés e ele em posição favorável para fazer o gol de empate.

— Eu tô livre — gritou ele para Vitor, esperando que o garoto passasse a responsabilidade para ele.

No entanto, para a indignação de Santiago, Vitor chutou direto para o gol, a bola passando direto por cima da trave.

O jogo continuou apertado, o time adversário sempre ameaçando um novo gol, mas a defesa estava mais atenta. Porém, sempre que conseguiam um contra-ataque, Santiago era sabotado por Vitor e eles perdiam o gol.

Já caminhando para o fim do jogo e cansado de ser passado para trás, Santiago foi pra cima da zaga, lutando para conseguir a posse da bola, driblou um, dois jogadores, mas o terceiro que lhe bloqueava a passagem do gol passou-lhe uma rasteira e ele foi ao chão.

Diante dos protestos indignados da torcida, o árbitro concedeu a falta e Santiago se preparou para cobrá-la. Ele ignorou a expressão de desprezo de Vitor, concentrando-se somente no gol. E então o breve instante de silêncio e suspense foi rompido pelos gritos acalorados, quando a bola fez a rede tremer, deixando o goleiro no chão.

Santiago, porém, mal teve tempo para comemorar o gol marcado porque o time adversário, aproveitando-se da distração dos jogadores, partiu para o contra-ataque, deixando o goleiro do Sapiência para trás e desempatando o jogo.

O jogo terminou com a vitória dos visitantes, o que deixou Santiago muito irritado. Vitor tinha ido muito longe com sua implicância dessa vez, mas ele não estava mais disposto a aceitar sua homofobia de forma passiva. Sentindo o sangue ferver em suas veias, ele interpelou o garoto antes que ele pudesse escapar.

— Qual é a sua, Vitor? Você tem todo o direito de não gostar de mim, mas me sacanear de propósito pra fazer a gente perder o jogo? Você é masoquista ou o que?

Vitor então esboçou aquele sorrisinho de deboche que ele tanto odiava.

— Olha só, Santiago, eu disse que ia provar que você não era tão importante quanto pensava, e agora você já sabe. Não se pode ter tudo nessa vida.

— Qual é o seu problema comigo? — bufou Santiago, aproximando-se ameaçadoramente dele.

Vitor o encarou de volta, não se intimidando com sua postura. O clima entre eles estava tão tenso que nenhum jogador se atreveu a interferir na conversa.

— Se liga, Santiago — disse Vitor. — Você chegou ontem aqui, ganhou o intercolegial, ganhou o Michael, tá se achando demais.

— Que? Como assim?

Mas Vitor simplesmente virou as costas, afastando-se dele. Santiago tentou chamá-lo de volta, mas ele já tinha saído, não sem antes lançar um olhar em direção a Michael de que ele não gostou nem um pouco.

O que ele queria dizer com “ganhou o Michael”? E por que aquilo o incomodava tanto? Algo lhe dizia que ele preferia que Vitor fosse mesmo homofóbico a confirmar a desconfiança que agora lhe invadia.

— Nossa, que clima — ele ouviu a voz de Michael, imediatamente virando-se para o namorado. — Era um jogo muito importante?

Olhar para ele o acalmava. Era incrível como uma pessoa podia se tornar tão importante em tão pouco tempo. Santiago não podia sequer imaginar perdê-lo.

— Mais ou menos — respondeu ele, mas logo abrindo um sorriso. — O importante é que consegui fazer o seu gol.

Michael sorriu de volta, colocando a mão no ombro de Santiago.

— Que fofo!

— O amor é lindo — comentou Jade, que tinha se aproximado dos dois junto de Pérola. — A gente podia ir pro Le Kebek pra dar uma relaxada, o que vocês acham?

— Eu topo! — adiantou-se Pérola, já toda animada. — Vamos, a galera ficou de se encontrar lá mais tarde!

Santiago olhou para Michael, percebendo que o namorado estava preocupado com ele.

— Fica pra outro dia, agora eu tô muito cansado — desculpou-se ele, acariciando os cabelos de Michael. — Preciso esfriar um pouco a cabeça.

As meninas ficaram um pouco decepcionadas, mas Santiago insistiu que Michael fosse com elas. Não fazia sentido ele se privar da companhia dos amigos por sua causa, apesar do garoto dizer que não queria ir sem o namorado.

— Tem certeza que vai ficar bem? — insistiu Michael ao despedir-se dele.

— Eu vou ficar bem — Santiago sorriu, beijando a testa do moreno.

Desde que Vitor ficasse bem longe de seu namorado, ele ficaria muito bem.


***


Na manhã seguinte, Michael estava caminhando ainda sonolento pelo corredor em direção à sala de aula, quando reparou que alguém o observava, encostado na parede. Decidido a ignorá-lo, ele fixou o olhar à frente, apertando o passo. Porém, já quase na entrada da sala, sentiu um puxão em seu braço, impedindo-o de prosseguir.

— Algum problema? — disse ele ao virar-se para o outro, a expressão séria.

— Eu acho que você ainda não me conhece — começou o outro, o encarando fixamente. — Eu sou o Vitor.

Michael o olhou de cima à baixo, o analisando.

— Eu conheço sim. — Ele ergueu uma sobrancelha, em um misto de receio e curiosidade. — Você é o cara homofóbico que joga no time de futsal do Santiago.

O garoto começou a rir, deixando Michael desconfortável.

— Foi isso que ele te disse? Que eu sou homofóbico?

Michael cruzou os braços.

— Então você não é?

— O que acha? — tornou ele, aproximando-se perigosamente de Michael, o que o fez dar um passo para trás.

— Eu… — ele abaixou os olhos, ajeitando os óculos no rosto, como sempre fazia quando estava nervoso. — não tô entendendo porque você veio falar comigo. Se tem algum problema com o meu namorado, é melhor resolver com ele.

— Meu problema com o Santiago é você.

Michael não conseguiu dizer nada, apenas permaneceu congelado no lugar, tentando digerir o fato de que aquele cara estava dando em cima dele na cara dura.

— Mas relaxa — disse ele, percebendo a tensão de Michael, mas ao mesmo tempo aproximando-se um pouco mais dele e colocando a mão em seu ombro. — Eu só quero que você saiba que existe uma outra opção caso as coisas não estejam muito bem entre você e ele.

— Está tudo ótimo entre nós…

— Michael? — chamou de repente a voz irritada de Santiago, impedindo-o de continuar. — O que tá acontecendo aqui?

Michael imediatamente afastou Vitor com as mãos, encarando o namorado com surpresa.

— Santiago? Não tá acontecendo nada.

Vitor apenas se afastou, lançando um sorriso provocativo para Santiago ao passar por ele.

— Se liga — disse ele, desaparecendo em seguida.

— O que esse cara queria com você? — quis saber Santiago, ainda irritado.

Michael ajeitou os óculos novamente, a irritação de Santiago o deixando ainda mais nervoso.

— Olha, eu não sei… ele só chegou aqui e começou a falar comigo, eu não entendi nada. Não precisa ficar com ciúmes.

— Eu não tô com ciúmes!

— Não? Você tá todo irritado, falando como se eu tivesse feito algo de errado.

Santiago respirou fundo, tentando se acalmar. Michael estava certo, ele não podia descontar sua raiva no namorado.

— Desculpa, é que esse Vitor me tira do sério…

— Deu pra perceber.

— Quando eu vi ele perto de você, eu fiquei cego. Ele não vai com a minha cara e eu não confio nele.

— Tá, tudo bem. Isso não vai mais acontecer, tá bom? — disse Michael, tentando tranquilizá-lo. — Se ele voltar a me procurar, eu mando ele embora. A gente não precisa brigar por isso, precisa?

— Não.

— Vem cá.

Michael passou o braço em volta do pescoço de Santiago, o abraçando. O loiro sentiu-se confortado por aquele abraço, e logo a ameaça de Vitor dissipou-se. Ele não iria deixar que nada estragasse seu relacionamento.



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