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História Com Você - Aprender a perdoar


Escrita por: MannuRodrigues

Capítulo 41 - Aprender a perdoar


Fanfic / Fanfiction Com Você - Aprender a perdoar

Conheci o amor só de te olhar 

Tava quase congelando, você veio pra esquentar. 

Conheci o amor e ele me fez ver 

Que eu voei tempo demais 

Deixa eu pousar em você. 

Contramão – Gustavo Mioto. 

 

Mel ligou a luz da sala ansiosa e gargalhou quando contemplou o ambiente limpo e com o cheiro de lavanda que ela tanto gosta. 

Faz vários dias que ela não vê seu quarto, suas coisas e sua ansiedade e animação eram contagiantes. Ela nos fazia rir a cada segundo. 

— Chegamos em casa, finalmente! — respirou aliviada. — Lar doce lar. — balançou as perninhas querendo sair do colo de Will que a colocou no chão, sorrindo.  

Ela saiu praticamente correndo, conferindo cada canto da casa, como se estivesse conhecendo algo novo. O alívio de estar em casa era enorme e também a emoção. 

Eu parecia mais uma manteiga derretida do que qualquer outra coisa. Chorava várias vezes pela felicidade de estar de volta, mas isso é fácil de compreender. Depois de toda aquela aflição que parecia não ter fim, respirar um pouco de tranquilidade era tudo o que eu mais queria é ver minha filha bem era minha maior recompensa. 

— Então aqui é sua casa? — Josie perguntou sorrindo ao meu lado e segurando firme minha mão. 

Ela teria que ficar em casa pelo menos por esses dias até se recuperar totalmente e poder voltar para Stoltfold ou até meu pai ligar desesperado porque não conseguiu encontrar o par de meias da sorte como ele sempre fazia, como uma desculpa para fazer minha mãe voltar mais depressa para casa. 

Josie sempre foi o alicerce daquela casa, ninguém consegue sobreviver sem ela para dar instrução ou achar algum objeto que está bem na nossa cara. Sorri lembrando do tempo em que moramos juntas. 

— É sim. Will a comprou há muitos anos e desde então não saímos mais daqui. — comecei a conduzi-la até as escadas. — Se quiser posso te mostrar a casa amanhã quando levantar. 

Sugeri como uma idiota. Me sentia mais como um guia turístico do que como alguém que está recebendo visitas em sua casa. 

Não me leve a mal. 

Era estranho tê-la sob o mesmo teto que eu, confesso. Todavia isso parecia mais do que necessário do momento. Havia coisas que eu queria saber, perguntar. 

Eliminar qualquer dúvida dentro do meu peito em relação a ela. 

Will estava certo quando dizia que mais cedo ou mais tarde essa conversa seria inevitável e isso não me deixava mais calma ou com mais segurança sobre o que falar. Sentia-me, literalmente, pisando em ovos, quando o assunto era Josie Clark e nossa relação consideravelmente abalada. 

Ajudei-a subir as escadas até o quarto de hóspedes que arrumamos para recebê-la. Na verdade, a casa toda passou por uma enorme limpeza para receber tanto ela como Mel. 

As roupas de cama ainda estavam sujas na minha lavanderia e pensar que perderia um dia todo lavando era de arrepiar os cabelos da cabeça. Não que eu fosse uma pessoa preguiçosa, mas a gravidez está esgotando o restinho de energia que ainda me resta. 

Josie se acomodou na cama e ajustei os travesseiros atrás de sua cabeça para que ela se sentasse de forma confortável. Era nítido que metade daquilo era pura encenação, para ter um pouco mais da minha atenção, mas não seria eu a falar sobre isso. 

Não estava em posição de exigir ou comentar nada inapropriado. 

— Precisa de alguma coisa? — ela negou com o rosto. — Vou pedir para Will passar no mercado e comprar coisas saudáveis porque aqui em casa não tem praticamente nada. — ri de nervoso. — A única coisa que deu tempo de comprar foi um pote de sorvete que Mel estava me cobrando desde que soube que iria receber alta. Você quer? Posso trazer para você? 

— Não obrigada. Por mais que goste de doces, quero jantar. — disse de forma natural. — Se eu comer agora não entra mais nada depois. Quando a gente vai ficando velho, vai diminuindo a vontade de comer o que é chato demais! — sorri me sentindo incomodada por não ter muitas coisas em casa ainda. — Não fique envergonhada, vocês estavam fora, é natural estar com a dispensa vazia. Lembra que lá em casa a dispensa era vazia direto? — concordei. — Bom, já que vai pedir ao seu marido para ir ao mercado, pede para ele trazer maçãs para mim? Eu adoro maçãs. — disse como uma criança. 

— Eu sei que sim, mãe. — sorri desconfortável com a lembrança. — Então eu vou indo. — fui até a estante e peguei o controle remoto. — Aqui está se quiser ligar a televisão, tem vários canais legais para assistir. Vou tomar um banho e preparar o jantar. O médico disse que Mel precisa jantar cedo por conta do medicamento que ela vai continuar tomando. 

— Por favor, coloque orégano na salada, eu gosto. Faz tempo que não como por conta do seu avô. — reclamou e eu me atentei ao que ela disse. 

A curiosidade foi um pouquinho mais forte do que o meu cansaço corporal. 

— Como ele está? — perguntei como quem não quer nada e ela arqueou uma sobrancelha. Pois é, falha minha acreditar que ela não me conhece mais. 

— Morre não morre. — deu de ombros. — Mas eu ainda tenho fé que ele vai viver muitos anos. Seu avô foi um homem muito ruim quando era mais novo. Acho que tem muito que pagar nessa Terra. 

Neguei com o rosto. Josie não tinha jeito mesmo. Fiquei em silêncio sem saber muito que dizer depois dessa afirmação. Era difícil puxar o assunto sobre nós duas, suspirei e fui em direção à porta. 

— Se precisar de algo é só gritar que eu venho te ajudar, ok? 

— Obrigada. — respondeu simplesmente e ligou a televisão em uma novela qualquer. 

Fechei a porta do quarto levemente e desci as escadas ouvindo a voz de Mel. Ela trazia tanta alegria para essa casa que só sua presença preenchia todos os cômodos da casa, assim como sua voz extremamente alta quando estava conversando. 

Definitivamente ela não tem senso sobre o que é falar mais baixo. 

Fui até a cozinha de onde os gritos eram mais intensos e vi Mel, sentada em cima da mesa, com a colher melada de sorvete na boca. 

— Mamãe! – chamou assim que me viu. — Não acredito que comprou sorvete de morango só pra mim?! Obrigada. — esticou os braços com as mãos meladas e eu me acomodei neles, beijando seu rostinho. 

— Não há de que, luz da minha vida. Mas sabe que só pode comer um pouquinho por hoje. — fez bico e mordi de leve sua mão arrancando uma risada gostosa dela. Por incrível que pareça, Mel tinha cócegas no corpo todo. — Você precisa jantar cedo por conta do remédio que o Doutor Balisteros pediu para te dar por enquanto. 

— Quer um pouco, Lou? — Will perguntou e eu neguei. 

— Eu quero que vá ao mercado para mim, Will. — ele assentiu. — Estamos quase sem nada e preciso fazer o jantar. 

— Tudo bem, — ele foi até o armário e pegou um bloco de papel e tirou a caneta do seu terno. — O que eu preciso trazer, minha senhora? — perguntou sorrindo, fez uma reverência e beijou meu rosto. Revirei os olhos e ele deu de ombros. Tomei o bloco de papel e a caneta de suas mãos e comecei a anotar tudo o que lembrava ser necessário. 

— Posso ir com você, papai? 

— Melhor não, amor. Faça companhia para sua mãe e tome um banho porque está grudando de tanto sorvete que tomou. — ela fez uma careta e cruzou os braços, mas ainda assim continuava sorrindo. — O que foi, cabeção? 

— Você sabe que ela não gosta que chame ela de porquinha, apesar de estar mesmo. — admiti. 

— Mamãe! — exclamou. 

— Fala, minha vida! — ri e continuei anotando. 

— Eu sou uma princesa limpinha e não a Peppa Pig. –— disse brava e eu concordei. 

—Aqui está. — entreguei as anotações a Will. — Não demore Will, por favor. E não esquece as maçãs que anotei aí. 

— Sim, general Clark. — leu rapidamente e dobrou o papel colocando-o no bolso. — Já volto. — me beijou rapidamente. Se despediu de Mel e saiu batendo a porta da sala. Me virei para Mel que me olhou atenta. 

— Acabou de tomar o sorvete? — ela assentiu freneticamente. — Então tome um copo de água e suba para tomar banho que já já que vou ver se lavou bem atrás das orelhas. 

— Tá bom, mamãe. — bufou e eu a ajudei descer. Mel colocou o copo de sorvete na pia e começou a lamber os dedos que estavam sujos de sorvete. Não contive a risada. — Do que está rindo cara pálida? — perguntou sapeca. 

— De nada, cara pálida. — neguei com o rosto. — Suba rápido e não molhe o cabelo. Está ficando tarde. 

•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*   

O jantar correu bem e foi agradável na medida do possível. Lavei a louça, enquanto Will carregava Mel que havia capotado em cima do sofá e depois levou Josie para o quarto. 

Ela tinha me pedido um copo de leite e minha intuição dizia que ela não tinha me pedido isso à toa. Preparei meu psicológico assim que coloquei o leite quente com café na xícara apropriada e levei até o seu quarto. 

Bati na porta duas vezes, apesar de estar entreaberta e ela escutei sua voz abafada pela voz da jornalista da televisão que havia se tornado sua aliada desde as poucas horas que chegou aqui. 

Ela tomou o leite em silêncio e eu não tive reação nenhuma a não se aguardar, o silencio que dominava o ambiente estava insuportável e por incrível que pareça eu fui a primeira a quebra-lo sem qualquer receio. 

— Josie, eu queria.... 

— Não precisa, Louisa. — me cortou já sabendo do que se tratava. Suas mãos indicaram a cama para que me sentasse e assim o fiz, sem pensar muito. 

Eu tinha dado o primeiro passo, mas ao que parece ela queria começar com as explanações. 

— O que fiz pela Mel não foi mais do que minha obrigação como avó. — sorriu consigo mesma. — Sei que pode achar estranho quando digo isso, porque não a aceitei quando soube que estava grávida. 

— Isso é passado. –— lembrei, tentando não prolongar demais aquela conversa. Era doloroso mexer nas feridas do passado. 

— Exatamente. — concordou. Josie colocou a xícara em cima do criado mudo ao lado da cama e me olhou atentamente. — Sei que isso é passado, mas é algo que destruiu nossa relação de mãe e filha e por isso precisamos falar. Quero resolver essa situação com você antes de voltar para casa com meu coração em paz. 

Continuei em silêncio e ela prosseguiu. 

— Sempre sonhei com um futuro brilhante para Treena e você. Queria que fossem diferentes do que eu fui, porque vocês tinham mais oportunidades de vencer na vida do que tive. E acho que esse foi o meu maior erro: sonhar em nome de vocês, sonhar por vocês. Eu reconheço que não tinha esse direito. 

— Eu entendo, pensou no que era melhor pra gente. 

— Apesar da minha boa intenção, isso não justifica. Eu quis realizar em vocês aquilo que não tive como realizar em mim. 

As lágrimas molharam seu rosto, a impedindo de continuar. Resolvi abrir meu coração e colocar na mesa o que se passava na minha mente. 

— Quando descobri a gravidez também fiquei com medo da reação de Will, da sua reação porque não foi algo planejado e mudou nossas vidas por completo. Confesso que sua reação me assustou. 

Limpei algumas lágrimas do rosto. 

— Como toda filha, eu tinha a ilusão de que iria me acolher apesar de tudo e foi totalmente o contrário. Fiquei perdida e confusa porque não tinha para onde ir. 

— Eu agi muito mal ao te tratar daquela forma. Quando caí em mim já era tarde e todas as minhas tentativas de uma possível reaproximação se frustraram todas às vezes. 

— Fiquei muito magoada e esse foi o jeito que encontrei para lidar com a situação. Resolvi me isolar e fingir que não tinha acontecido, que eu não tinha mais família. Fingir que você não existia e confiei que o tempo ia apagar tudo da minha memória. 

— Eu entendi isso, só que foi difícil de aceitar. A falta que você me fazia era tanta que não me importei com mais nada e não soube respeitar seu tempo. 

— Te tratei muito mal quando nos encontramos em Stoltfold e isso me dói até hoje. — confessei. — Não agi certo contigo também. Não foi só você que cometeu erros. Eu te feri pagando na mesma moeda tudo que fez comigo e isso não fez com que eu me sentisse melhor, pelo contrário. 

— Sei o quanto é difícil porque me sinto da mesma forma. É como se faltasse um pedaço de mim. Sinto que apesar da nossa proximidade recente, você continua ressentida comigo... 

— Não é isso, Josie... é que eu... 

— Está tudo bem. — segurou minhas mãos e eu olhei para o seu gesto. — O que quero dizer é que está isso não importa mais. Meu único desejo agora é reconquistar o seu carinho, a sua amizade. Ter de volta a minha filha. 

Fiquei sem palavras. Meu coração disparou, querendo sair pela boca e eu sorri com vontade. Não contive as lágrimas que desciam pelos meus olhos. 

— Lou. — me chamou e a olhei novamente. — Quero reconstruir nossa relação que foi quebrada por diversos fatores. Quero poder te ligar para contar as novidades e saber como estão todos. Quero a oportunidade de falar para todo mundo sobre a neta maravilhosa que tenho e principalmente quero o seu perdão para limpar a minha alma de todo o peso que levo aqui dentro. 

Respirou fundo. 

— Sei que não vai ser fácil, sei também que não estou em posição de te cobrar nada e entendo se me disser não. Eu só quero ter a oportunidade de ser completa novamente, porque a falta que você me faz, minha filha, nada nesse mundo é capaz de pagar. Então Lou, você me perdoa? Posso te dar um abraço? 

•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*   

Tomei um banho demorado e me aconcheguei nos travesseiros da cama, cobrindo meu corpo com o edredom macio. Will já estava deitado a um bom tempo e ainda assim permanecia acordado. 

Normalmente quando ele dorme metade do quarteirão escuta, então sempre foi fácil saber quando está acordado. A britadeira ainda não tinha sido ligada e eu agradeci por isso. Sinal de que ele estava me esperando, para me amparar caso precisasse. 

Deitei sobre seu peito beijando-o no processo e senti sua risada baixa e sacana. Ele me abraçou e cheirou meu cabelo, sentindo o perfume do shampoo que ele mais gostava em mim. 

Depois de tanto tempo me sentia mais leve, conseguia respirar com mais tranquilidade e isso não tem dinheiro do mundo que possa pagar. 

— Foi tudo bem nessa conversa? — perguntou sussurrando, como se fosse um segredo. 

— Foi sim. — o olhei. — Acho que pela primeira vez, em anos, minha mãe e eu conseguimos nos entender. Pela primeira vez em anos, senti que ela foi sincera comigo e me sinto aliviada por ter tirado esse peso de dentro de mim. 

— Então quer dizer que vamos ter a minha sogrinha nas comemorações de fim de ano? 

— Acho que ainda é cedo. — fui sincera. — Como ela disse temos muito o que fazer para reconstruir essa relação quebrada. 

— O importante, minha vida, é sempre dar o primeiro passo e isso vocês fizeram muito bem. — me confortou. 

— É acho que sim. Agora é torcer para que os passos se tornem uma caminhada em direção à paz. 

Will concordou e apagou a luz do abajur. Fechei os olhos e deixei os sonhos me conduzirem, relaxando o corpo nos braços do homem que amo. 



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