Sem rumo. Sem direção. Sem força. O corpo esguio se direcionava à beira do mar lentamente, sentando-se perto de onde as ondas quebravam, não ligando para a baixa temperatura que o ambiente impunha contra seu corpo. O rosto marcado pela maquiagem destruída pelas lágrimas que insistiam em descer estava sem expressão. Nem tristeza, nem angústia. Apenas apatia. O branco.
Olhou para o céu e contemplou a lua. Ela seria a única que presenciaria sua desgraça final. Talvez estivesse finalmente fazendo algo certo, pelo menos uma vez. Talvez isso não fosse uma desgraça, afinal. Era apenas mais um andante, mais um peão no jogo da vida. Não faria diferença alguma no mundo, pensou. Deu um sorriso irônico ao lembrar o quão insignificante fora sua trajetória.
Mais uma vez, dirigiu seu olhar para o céu e sussurrou um "sentirei sua falta, minha eterna confidente" para o astro que ali estava e refletia timidamente por entre as nuvens pesadas sobre as águas do oceano. Puxou o ar e o soltou devagar, reunindo a coragem e as forças que ainda restavam em seu corpo. Passou mais alguns longos minutos aproveitando o vento frio que bagunçava suas madeixas, até que decidiu agir. Dar um fim naquela grande tortura que o perseguia e, quem sabe, ficar em paz.
Colocou-se de pé e caminhou olhando para infinito escuro a sua frente. O frio extremo da água salgada castigava impiedosamente a pele aquecida. Seu corpo tremia. Os espasmos passaram a tomar conta de si. Seus dentes trincavam de forma violenta. Mas isso não importava. O fim estava próximo. Nada mais importava se todas as suas reações corpóreas terminassem da mesma maneira: a sua morte.
Queria apenas se libertar de alguma forma. O sofrimento lhe seguia como se fosse uma sombra. Momentos de felicidade eram raros e, quando existiam, logo eram destruídos por esse fantasma que lhe acompanhava. A qualquer hora. A qualquer momento. Em qualquer lugar. O que era ser feliz, afinal? Não sentia nada além de desgosto, nojo de si mesmo. Do que se tornara. A culpa era sua. Sempre fora sua. E sempre seria sua.
A água já se encontrava em seu pescoço. A essa altura, tinha começado a chover. Estava tão absorto em seus pensamentos que nem havia notado quando as lágrimas pesadas do céu começaram a chorar em seu templo de morte. Murmurou um adeus e mergulhou. A sua expressão era calma, mesmo que o oxigênio lhe faltasse. Mesmo que seus pulmões exigissem o mínimo de ar. A escuridão preencheu sua visão e seus sentidos foram se esvaindo. O escuro.
Sentia algo lhe puxar com força. Suas narinas queimavam. Sua garganta mais ainda. Estava claustrofóbico com a escuridão que lhe cercava. Sua passagem seria assim mesmo? Até aqui teria que conviver com a dor? Com o medo? Tossiu, expelindo toda a água que estava em seu interior e conseguiu respirar. Seu interior estava em brasa, mas se sentia mais calmo. Abriu os olhos e seus pensamentos sumiram. Aquelas grandes orbes castanhas demonstravam preocupação e ansiedade. Assim que vira aquele rosto desconhecido que exprimia um alívio inestimável por ver seus olhos abertos. Os cabelos, também castanhos, pingavam em sua face. Sua mente estava uma confusão, mas tudo que conseguia pensar de forma concreta era: Por que?
Aquele era o real significado de reviver ou não?
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