História Comatose - Eu me lembro de você.

—  Esse é você? — Eu perguntei entre risadas, apontando para a página que ele acabara de virar. Um Namjoon mais novo com cabelos lilás; estranho, porém combinou com o seu tom de pele.

— É. Infelizmente.

— Definitivamente prefiro você de cabelo loiro. — zoei. Lilás não estava tão ruim, porém a cor atual era bem mais elegante.

— Em minha defesa, não estava tão ruim assim.

Viramos a página, estávamos aparentemente em uma cozinha branca com detalhes vermelhos; ele estava um pouco mais alto que eu. Parecíamos ter menos cinco anos do que nossa idade atual. Ele usava cabelos escuros e jogados pela testa, usava um chapéu de cozinheiro e eu usava uma coroa de flores. Fofos. Estávamos sorridentes para a foto. Nas mãos de Namjoon tinha um livro sobre como fazer massa de pizza e nas minhas tinha um pouco de massa.

— Esse dia foi engraçado. Você tacou massa no teto. — ele riu baixo.

Passei a página novamente. Ele tinha aparentemente 10 anos, e eu — provavelmente — estava ao lado dele, com as mãos na cintura. Nosso rosto estava sujo de tintas coloridas. Namjoon riu e comentou que nesse dia estávamos pintando um ateliê em nossa nova casa. Ri junto a ele. Estava sendo divertido ver todas essas lembranças. Eu jurava que seria assustador me ver fazendo coisas que eu não lembrava, mas estava sendo divertido. Namjoon era divertido e me trazia confiança.

— Ah, eu lembro desse dia perfeitamente! — exclamou no mesmo segundo que eu mudei a página. — Você estava tentando andar de bicicleta sem a minha ajuda.

Na foto eu estava com os joelhos ralados e Namjoon apontava para os meus joelhos, rindo com uma cara de "Sabia que você não ia conseguir sem mim". Babaca.

— Grande irmão protetor. — eu disse irônica. Ele riu baixo e me abraçou de lado. Sentia minha falta, sabia disso.

— Desculpa atrapalhar o momento em família e tal... — Jimin disse assim que abriu a porta. Usava uma blusa branca, dessa vez.

— Aconteceu alguma coisa? — Namjoon perguntou normalmente, como se ele não tivesse tido uma quase-briga com Jimin hoje de manhã.

— É o Jeongguk.

— ... — Namjoon suspirou pesadamente. — De novo?

Jimin assentiu. Estava com o semblante preocupado.
— Eu já volto. — Namjoon disse e saiu do quarto rapidamente, Jimin o acompanhou com os olhos. Fiz menção em levantar.

— Acho melhor ficar aqui, Hye... — Jimin pronunciou. — É uma coisa bem... Diferente. Pra quem não conhece o Cookie. 

Me sentei novamente, Jimin agradeceu e então saiu do quarto, fechando a porta em seguida. Eu estava curiosa, bastante. Mas eu decidi seguir as palavras de Jimin e permanecer no quarto, apenas esperando. Depois de alguns minutos eu me deitei na cama novamente e fiquei olhando as fotos no álbum. Iria perguntar depois à Namjoon se eu tinha algum celular. Até porque isso ajudaria a descobrir mais coisas sobre mim mesma. Afinal, onde mais guardar seus segredos além do seu celular? E toda garota na minha idade deve ter um celular. Fiquei observando as outras fotos, até que Namjoon entra no quarto.

— É... hm... — soou confuso. — Você gosta de filme de terror?

— Não sei. — respondi, sincera. — Eu acho que tenho medo.

— Eles querem fazer uma sessão de filmes de terror a noite. Se importa?

— Ah. Não. Vocês podem ver... Eu fico aqui e-

— Claro que não, Hye! Se não fosse pra você participar eu não perguntaria se você gosta de filme de terror. — revirou os olhos.

— Eu gosto. 

— Eu vou com o Jin, Jimin, Hoseok e Taehyung comprar algumas coisas, você quer vir? — questionou, levantando uma das mangas da blusa.
Minha mente me levou inconsientemente para a cena de manhã, quando o tal de Taehyung nem mesmo cogitou a possibilidade de me dar um bom dia educado, nem mesmo olhar pra mim. Eu não queria repetir a dose.

— Não, eu prefiro ficar aqui.

                                                                                     xx
— Licença, Hye? — ouvi uma voz baixa, abafada pela porta do quarto. Relembrei a voz como a de Yoongi.

— Pode entrar. 

— É... O Jin deixou um almoço pra você... — Yoongi abriu a porta. Usava uma roupa azul celeste, fofo. Ele não olhava nos meus olhos. — Mas o Hoseok deixou cair no chão... E... Eu não sei cozinhar, e o Jeongguk está impossibilitado de fazer algo agora. Você sabe cozinhar? — ainda olhava para o chão.

— Eu acho que sei. — eu ri. — Você pode me ajudar, né?

— Pode ser. — proferiu baixo. Me olhou por alguns segundos, seus olhos eram bonitos. Ele deu um pequeno sorriso de lado, mas logo voltou a olhar para o chão e seguimos em silêncio até a cozinha.

— Então, Yoongi... — disse. Chegamos à cozinha e eu logo avistei aventais brancos encostados no balcão da esquerda.

— Me chama de Suga, se quiser. Falando Yoongi parece minha mãe quando me dava bronca. — pediu em voz baixa. 

— Então, Suga... — corrigi com um riso baixo. — Vamos testar suas habilidades com culinária. — Joguei um dos aventais nele, que o pegou com uma mão.

— Desista, a única coisa que eu já tentei fazer foi macarrão instantâneo. E nem ficou tão bom assim... — Yoongi disse cruzando os braços.

— Então vamos fazer o melhor macarrão instantâneo do mundo.

— Olha, não sei se vai dar certo. — riu, pegando o macarrão instantâneo no armário.

— Ok, vamos começar. — eu disse e, sem dificuldade, conseguimos colocar o macarrão dentro da panela com água, e colocamos um fogo baixo.

— Viu, nada difícil. — eu disse e ele concordou.

— É. Poderia ser pior. — sorriu. — E o tempero?

— Não sei fazer.

— Vamos colocar um pouco de qualquer coisa. — ele disse e pegou alguns potes de vidro que estavam em cima do balcão. Ri e peguei os outros.

— Agora com Suga e Hye, no nosso programa "Cozinhe com os melhores"! Ensinando como improvisar em um macarrão instantâneo. — eu disse, como se estivéssemos em um programa de televisão, apontando para a geladeira, que acabara de virar nossa câmera imaginária.

— Isso mesmo, começamos com uma pitada de... — Yoongi olhou o pote que estava em suma mão direita. — De... isso aqui que não sei o que é. 

— Não tentem fazer isso em casa! — eu disse para a geladeira, e logo peguei um pote com um tempero verde e olhei de novo para a geladeira.  — Bem, agora só coloquem um pouco disso e... 

— HYE! — Yoongi começou a gargalhar. Me virei para ver o motivo da risada. A tampa do pote havia caído e derramou todo o tempero no macarrão, incluindo a tampa.

— Pessoas que estão assistindo! — Yoongi foi até a geladeira, ainda rindo — Não façam isso em casa! 

— O que vocês estão fazendo? — uma voz perguntou, soou confusa. Olhei para a porta, tinha um garoto de aparentemente a minha idade, encostado no batente da porta. Tinha cabelos negros, pele clara e possuía olhos avermelhados. Parecia que havia acabado de chorar. Ou talvez de acordar. Também usava roupas pretas.

— Jeongguk! Já melhorou? — Suga perguntou, ainda ria um pouco.

— É, eu tô bem. — Jeongguk disse, e me olhou diretamente. — Ela é uma army? Por que ela está aqui? 

— Ela é a irmã do Namjoon. 

— Eu não sabia que você estava aqui, desculpa. Que bom que você melhorou. — se desculpou com uma reverência. — Eu sou o Jeongguk, mas pode me chamar de Jungkook. É menos formal. 

— Eu sou Hye. — eu sorri e fizemos um aperto de mãos. Nada formal.

— Você é bonita. — Jeongguk disse e pegou uma maçã em cima do balcão. Se virou, e saiu da cozinha.
Eu juntei as sobrancelhas, confusa.

— Ele geralmente não é assim, ele está sensível hoje, acho. — Yoongi explicou. Assenti ainda confusa, mas voltamos a rir quando olhamos a panela com diversos temperos coloridos. 

Ficamos quase uma hora tentando — inutilmente — refazer a receita. Depois nós desistimos e comemos uma fruta, cozinhar não era o nosso forte, definitivamente não. Depois das nossas inúteis tentativas desesperadas, ficamos no sofá sem fazer nada, até que os meninos chegassem.

—Chegamos! Espero que não tenham se matado nesse tempo. — Hoseok foi o primeiro a se pronunciar, assim que chegou na sala de estar.
 
— Claro que não nos matamos. Sr. Jogador De Comidas No Chão. — Yoongi retrucou, cruzando os braços.

— Comida? — Jin perguntou confuso. 

— O Hoseok derrubou o almoço que você fez para a Hye, e então a gente teve que tentar fazer macarrão instantâneo. 

— Você? Na cozinha? — Namjoon perguntou preocupado e deu uma olhada em volta da casa. — Cadê os bombeiros? 

— Muito engraçado. — Yoongi revirou os olhos — Não tivemos bons resultados, então, comemos maçã. 

— Grande história de vida! — Jimin zoou, se sentando ao meu lado. — Oi, Hye. — sorriu. 

— Olá, Jimin.

— Então, Jimin! — Namjoon o puxou pelo braço. — Vai ver se o Jungkook está melhor, vai.

— Chato. — Jimin murmurou, subindo a escada em seguida. Namjoon fez uma cara de vencedor, e acompanhou Jin até a cozinha para guardar os pacotes.

— Então. Como foi a tarde de vocês? — Hoseok perguntou, enquanto se sentava no outro sofá, ao lado de Yoongi. 

— Foi engraçada. — fui sincera. 

— Cadê o Taehyung? — Yoongi perguntou, ignorando a pergunta de Hoseok. 

— Estacionando o carro. Ele não tem carteira ainda, mas sempre deixamos ele estacionar. — Hoseok respondeu simples. — O que aconteceu à tarde? —voltou a falar sobre. 

— Nada demais. Hoseok, vai ver se alguém precisa de ajuda. — Yoongi pediu.

— Você tá precisando aqui...

— Ho. Se. Ok. — Yoongi o olhou e cruzou os braços.

— Tá. Tá. — Hoseok fez cara de derrotado e foi até a cozinha, provavelmente ajudar Jin e Namjoon.

— Vou fingir que entendi...

— Tem coisas que é melhor nem saber, Hye. — Yoongi disse revirando os olhos, e voltando a olhar no celular. Ri baixo e assenti.

— Eu vou no quarto. — eu disse e me levantei. Yoongi me olhou rapidamente, mas logo voltou a atenção para o celular, assentindo com minha frase. Subi as escadas olhando os quadros que tinham na parede. Parei ao ver o primeiro. Eu e Namjoon com roupas de natais, ao lado tinha uma grande e iluminada árvore de natal. Sorri.

"— Feliz natal, Hye, seu presente é... — Namjoon disse e me entregou uma caixa. Abri feliz e vi que era um cachorrinho branco. 
— QUE LINDO! — gritei e abracei Namjoon. — Eu te amo!" 

Isso foram...

"— Ei, ei, cuidado! — Um Namjoon de 10 anos exclamou me vendo sentada em cima da bancada da escada — Você pode cair. 
— Você se preocupa muito, bobão! — eu disse e dei língua, me desequilibrando um pouco. — Eu vou cair, eu vou cair... — comecei a chorar. 
— Não se mexe! — Namjoon correu e me pegou no colo, me tirando de lá. — Você não tem medo de morrer? 
— Você sempre tá aqui pra me ajudar, não tenho — sorri. 
— Idiota. — ele bagunçou meus cabelos" 

Lembranças...

"— Eu vou debutar com o bangtan, eu vou ficar longe por um tempo. Mas eu volto, eu prometo. — Namjoon beijou minha testa. 
— Vou sentir sua falta.
— Eu sei, é difícil não sentir. — riu — Eu volto." 

Senti meu rosto molhado. Lágrimas. Lágrimas desciam dos meus olhos sobre meu rosto. Lembranças de Namjoon passavam na minha cabeça como um flash. Apenas dele. Apenas Namjoon. Corri até a cozinha e o abracei fortemente.

— Hye? Você está chorando. O que aconteceu? — me olhou confuso, preocupado. 

— Eu me lembro de você. Meu irmão.

                                                                             xx
Passou um tempo, depois do momento irmãos na cozinha, eu voltei para o meu quarto e fui dormir por algumas horas graças a recomendação do médico e Namjoon prometeu me acordar quando começassem os filmes. Mas acabei acordando antes, tomei um banho, fui no guarda-roupa e coloquei um conjunto neutro de moletom. Fiquei mais alguns minutos no quarto, sem fazer absolutamente nada. Então, logo decidi abandonar meu mundo sozinho e desci as escadas.

No sofá estava Jeongguk, Jimin e Hoseok, jogando video-game. Não consegui distinguir o nome do jogo, mas parecia ser de rpg. Yoongi dormia no sofá mais afastado. Assim que eu cheguei no final da escada, Namjoon e Jin saíram da cozinha com duas vasilhas nas mãos. Nas de Namjoon era uma com batatas fritas, na de Jin tinha pipocas.

— Alguém pega as bebidas . — Namjoon pediu, e Jimin se levantou na hora para pegar, menino educado.  — Eu vou chamar a Hye.

— Cheguei. — Eu disse antes que ele se virasse. Namjoon sorriu. Talvez por me ver, talvez por não precisar subir as escadas para me chamar. Nunca iria saber.

— Suga, acorda. — Jeongguk disse assim que me viu. 

— Não encosta em mim. — Yoongi murmurou.

— Acorda logo.

— Deixa que esse eu acordo. — Hoseok sorriu. Parecia um sorriso malicioso. Ele se levantou do tapete e andou até a ponta do sofá, onde Yoongi dormia; abaixou seu rosto próximo ao rosto do mesmo e sussurrou algo no ouvido dele que ninguém poderia ouvir além deles.
Yoongi se levantou em poucos segundos. Olhou primeiramente para Namjoon, com olhos assustados. Logo, para Hoseok, com um olhar o repreendendo, e por fim me olhou rapidamente, voltando seus olhos para suas mãos. 

— Me ensina essa técnica. É sempre tão doloroso acordar ele... — Jin resmungou.

Hoseok riu alto, trocando um olhar cúmplice com Yoongi, que estava envergonhado. Logo pararam com as piadas internas e Jeongguk se sentou ao lado de Yoongi, e Hoseok ao lado de Jungkook. No outro sofá, Jin, Namjoon e eu. Jimin voltou com as bebidas e sentou do meu lado.

— O Taehyung não vai vir? — Jimin indagou.

— Ele subiu há horas, não quer descer, disse que está indisposto.

Indisposto.
Ele estava realmente indisposto ou não queria descer pelo simplesfato de eu estar aqui?

— Vamos começar então. — Hoseok cortou o assunto. Agradeci mentalmente por isso me destrair e não pensar em inúmeras possíveis explicações sobre porquê Taehyung, aparentemente, me odiava.

—Isso parece mais comédia. — Yoongi bocejou, após meia hora de filme. 

— É-É. C-Claro. Nada assustador. Nadinha. — menti. Eu estava com medo, me assustava a cada dois minutos.

Assistimos mais dois filmes. O segundo era, particularmente, menos assustador que o primeiro e eu agradeci mentalmente por isso. Olhei no relógio da parede e me certifiquei do horário, uma e quarenta e sete da manhã. Olhei para a esquerda, Namjoon dormia apoiado no ombro de Jin, que também estava adormecido. Hoseok dormia e roncava alto, dando um contraste perfeito com o jeito que Yoongi dormia serenamente. Jungkook, aparentemente, já havia dormido à um filme atrás.

— Então. Vamos para o próximo filme? — Jimin perguntou, animado. Ele era o único, além de mim que estava acordado. 

— Mas eles dormiram...

— Que merda. Vamos fazer pipoca? — questionou simples. — Depois acordamos eles para o último filme.

— Tô com preguiça. Cansada. Tá frio. — inventei desculpas.

— Tá bom. — Jimin deu de ombros. — Prefere mesmo ficar aí? Todo mundo tá dormindo, e o maior clichê dos filmes de terror é quando pegam a garotinha indefesa... 

— J-Jimin... — estremeci.

— E essa é a minha parte favorita. — sorriu de lado.

— Eu vou com você! — Exclamei. Eu não ficaria sozinha com eles na sala sem fazer nada. O segundo filme pode não ter sido tão assustador como o primeiro, mas já foi mais do que o suficiente pra fazer eu não conseguir dormir. — J-Jimin, espera! — Corri para o acompanhar, já que ele estava andando para a cozinha. — Os primeiros que saem de madrugada são os primeiros a morrer. Sempre.

— Fica calma. Eu te protejo. — proferiu simples e foi em direção ao armário, provavelmente para pegar o milho de pipoca.

Decidi esperar Jimin fazer a pipoca e me sentei no balcão da esquerda, que ficava à frente do armário de copos. Jimin era habilidoso na cozinha, e por mais que estivesse fazendo apenas pipoca, isso foi fácil de perceber. Senti uma frente fria aleatória e me arrepiei, olhei para Jimin e ele continuou quieto, preparando a pipoca. Ele estava quieto demais. Não sabia se era porquê estava querendo ficar quieto, ou simplesmente não queria acordar os outros. 

Ouvi passos vindo em nossa direção.
— Jimin. Você tá ouvindo? — perguntei baixo. Já estava desesperada.

— Não tô ouvindo nada, Hye. — Jimin riu, como se eu fosse uma criança assustada. Ouvimos o barulho de uma cadeira sendo arrastada na sala e, então, o sorriso de Jimin rapidamente desapareceu. — Agora eu ouvi. 

— Eu vou morrer. É agora. Eu disse pra não vermos filme de terror. ISSO É O FIM. — Segurei Jimin pelos ombros, na minha frente.

— Vai me usar de escudo? Engraçadinha.

Jimin estava nervoso, e eu trezentas vezes mais do que ele. Os passos estavam mais altos vindo na direção da cozinha, e foi questão de segundos para a porta da mesma se abrir lentamente. Jimin segurava uma colher de pau com força, como se pudesse realmente matar o invasor com aquilo. Isso é, se o invasor fosse uma pessoa, e não um espírito maligno. Apertei os olhos com a ideia da morte me rondando.

— Oi.

Uma voz grossa disse, me arrepiando novamente. Particulamente eu não sabia se eu havia me arrepiado pelo medo, ou pela voz. Abri os meus olhos lentamente para ver quem havia dito isso. Um espírito assassino não teria uma voz assim, ou teria? Olhei para a porta e o meu coração descompassou e eu, cogitei a possibilidade de um espírito assassino ser melhor do que ele.

Ele. Kim Taehyung.

Eu poderia até estar exagerando, mas eu sabia que no fundo ele não gostava de mim. Ou ele tinha péssimos problemas em se relacionar com pessoas nadas. Das duas, uma. Seus cabelos estavam desarrumados, e seus olhos agora nos fitavam entediado. Provavelmente havia acabado de acordar. Usava um conjunto de moletom azul marinho e estava descalço. Ele olhava apenas para Jimin, como se eu nem estivesse naquela cozinha.

— Merda, V. — Jimin suspirou aliviado. — Quase matou a Hye de susto.

— Eu? Você estava morrendo de medo também. — me defendi, falsamente indignada. Jimin riu e correu para a panela, que já estava com um leve cheiro de queimado.

Taehyung — como esperado — nos ignorou completamente e foi até a geladeira, pegando uma garrafa de água e a depositando em cima do balcão central. Se virou para a minha direção e olhou através de mim. Abaixei a cabeça e vi seus pés se aproximando de mim. Prendi a respiração quando ele parou à centímetros de mim. 

— Licença. — Taehyung tinha a voz impaciente. Percebi que ele queria pegar o copo no armário que eu estava sentada à frente. Pulei rapidamente do balcão, deixando-o pegar o copo. Em silêncio ele o pegou, e voltou ao balcão.

— Mal humor hoje, Tae? — Jimin perguntou, sem se virar.

— Não. 

— Ok. — Jimin deu de ombros e desligou o fogão, se preparando para abrir a panela.

— Boa noite, Jimin. — Taehyung disse, após guardar a garrafa na geladeira, e saindo da cozinha em seguida. Suspirei, me sentindo incomodada por ser totalmente ignorada. Mas, não era como se eu tivesse esperando ele falar comigo, ou me dar boa noite. Ser legal comigo era demais para Kim Taehyung.

— Ele é sempre assim? — sussurrei à Jimin, segundos depois que Taehyung saiu.

— Pior que não.  

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— Acordem, seus perdedores! — Jimin exclamou, chutando uma almofada em cima de Jeongguk, que dormia no tapete. 

— Ai! — Hoseok reclamou, recebendo de Jimin um tapa na testa. — Onde vocês foram?

— Fazer pipoca.
Hoseok deu de ombros e acordou os outros. O que, incrivelmente, não havia sido difícil.

— O que foi agora? — Yoongi perguntou, se sentando no sofá.

— Vamos ver mais um filme, pra fechar a noite. — Jimin explicou, sorrindo.

— Coloca o filme, Jimin. E me dá essa pipoca, eu tô com fome. — Jin disse, já pegando a vasilha de pipoca das mãos de Jimin.

— Você come o dia todo, Jin. Já está ficando gordo. — Yoongi zoou.

— Nossa, Suga. Você nunca me diz coisas doces. — Jin reclamou.

— Pra você comer também?— Yoongi retrucou e todos riram. 

— Idiota.

                                                                             xx

— Quem deve ser? — Fui acordada pela pergunta de Namjooon. Abri os olhos e vi que quase todos ainda estavam acordando, menos Hoseok, que já estava animado. Jeongguk mal se aguentava com os olhos abertos, igualmente como Jimin. Yoongi era o único que dormia, mas foi logo acordado por Hoseok. 
Ouvi três fortes batidas na porta. Jimin estremeceu.

— Eu abro. — Jin disse, se levantando e indo em direção a porta. Levantei a sobrancelha para Namjoon, como se perguntasse se ele sabia quem era, mas ele balançou a cabeça negativamente.

— Man... — Jin exclamou, assim que abriu a porta.  

— Qual o problema de vocês? — Um homem alto e robusto entrou na sala, com o semblante irado. — HEIN!? 

— Q-Quem ele é? — Sussurrei quase inaudívelmente à Jimin.
 

  — Ele é... Nosso manager.