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História Intersex - A história de Emma - G!P - Cap 2


Escrita por: KikyoArtemis

Notas do Autor


Estou editando essa história, não se assuste, ok?

Capítulo 2 - Cap 2


Sentada a mesa, poucos anos de existência, com minhas roupas de garoto e bonecos de ação nos bolsos. Eu permanecia muda, como meus bonecos, devia me calar, uma criança jamais deve falar quando não for conveniente. Ser educado é ficar em silêncio. Entrar na mesa e dizer apenas “obrigado”, sair com um “com licença”. Ficava vermelha quando sem querer raspava a louça, meu pai me olhava por cima e minha mãe escondia os dentes.
 

Uma família feliz jantando feliz, digna de pintura para expor na sala de estar, porém longe de ser como as propagandas de margarina. Meu pai falava sobre os negócios e quantas pessoas o irritaram ao longo de sua jornada de trabalho, ou sobre os vizinhos com suas músicas alegremente irritantes. Nenhum comentário inteligente vinha a minha mente, e mesmo se viessem, eu não ousaria correr o risco de uma bobagem ser dita. Minha mãe falava sobre supermercado e em como a vizinha nova é irritante, sempre havia uma vizinha nova, e sempre ela era irritante aos olhos de mamãe.

Jamais questionei minha infância, todos os hábitos nela instalados, tudo que eu queria era me ver livre daquela mesa silenciosa de atenção e voltar a segurança do meu quarto também silencioso. As vezes o silêncio sufocava, então colocava Britney ou Freddy Mercury no som, usando fone, claro. A música sempre foi meu maior refúgio.

Aprendi Mozart como minha mãe queria. Comia legumes e verduras devagar e com ódio, era o mesmo alimento da merenda. Brócolis me causava caretas, e inhame me dava enjoos, porém me proíbiam criticar, me censuravam antes da minha própria censura. E eu me limitava antes de chegar aos limites.

E agora aqui estou eu, mais de vinte e cinco anos depois sentada em uma mesa silenciosa, mastigando brócolis e remexendo legumes e verduras frescas no prato.  As coisas que mais odiamos na infância fazemos por vontade própria na fase adulta e tudo que queríamos tanto fazer na fase dos dentes de leite, hoje nos privamos. Como dormir tarde e comer doces.

“Pinoquita, David tá louco atrás de você!” Ruby chegou ao restaurante que eu estava com seu jeito silencioso e discreto que chamou a atenção de todos no local. “Não sei como você consegue comer esse mato. Credo!”

“Preciso manter a minha forma. E como você me encontrou aqui?” Ela sentou à mesa, jogando minha bolsa pra mim e já procurando o garçom com os olhos.

“Você só vem nesse lugar Emma, tudo seu é uma rotina. Ainda tô surpresa com a moça que você levou pra cama mês passado”. Sussurrou a última frase e me lembrei da morena. Regina e seu lindo sorriso. Ual um mês! Como os dias passam rápido, ela deve me odiar. Saí e a deixei como se ela fosse uma qualquer, como se o que tivemos não tivesse significado nada. Mas deveria significar?

O garçom se aproximou e Ruby o olhou animada. “Quero um flapê com bastante calda de chocolate, e quero a calda quente.” Olhei Ruby surpresa pelo pedido extremamente calórico.

“O que? Preciso manter a minha forma.” Ela falou com a mão na cintura e eu revirei os olhos “E aquela latina lá? Não te procurou mais?”

“Ela não era latina. E não, não me procurou, e também não deixei nenhum contato pra isso.” Ruby me olhou surpresa.

“A única mulher até hoje que vai pra cama com você sem você precisar se vestir de homem, sem te julgar e você nem pega o telefone dela?” balançou a cabeça negativamente “Não esperava isso de você Pinoquita, não te criei pra isso.” Ruby era muito dramática.

Realmente, estou tão acostumada a ser rejeitada, ser humilhada e expulsa que quando alguém me trama diferente eu fujo, não sei como a agir.

“O que David quer?” mudei de assunto, não queria pensar em Regina. Por diversas vezes pensei em bater em seu apartamento, mas quão louco isso seria?! Ela abre a porta e eu falo o que? “Olha, sou a Emma, aquela que tranzou com você e saiu covardemente no dia seguinte.” Ela jogaria água escaldante em mim.

“Como se eu ligasse pra o que aquele alienado quer.“ Ruby deu de ombros me tirando do meu devaneio e eu nem lembrava mais sobre o que estávamos falando. “Deve tá querendo te empurrar mais um rapper. Mas o que eu quero é você, Mary, Killian e eu na Giz essa noite.”

“Não curto boates Ruby. Você sabe. E também tenho que avaliar alguns jingles que chegaram pra mim.” Voltei a atenção para meu prato.

“Hoje é sexta Emma! Qual é? Vamos ‘sextar’, sabe? Beber até esquecer o nome e querer se matar com a ressaca no outro dia, rezando que nunca mais vai beber. É a maravilha da vida! É por isso que vivemos!” Sua animação as vezes era tão exagerada

“Vivemos pra ressaca?” ironizei “Vamos lá, bebemos e voltamos pra casa pior do que quando saímos. É o que você quer Ruby?”

“O que eu quero é George Cloney pelado na minha cama” Revirei os olhos  “Você pode ir comigo e me ver pegando alguém, ou pode se animar e pegar alguém também. Não tem como dar errado.”

“Ruby, não. Não vou.” falei e ela me olhou magoada

“Ok então, mas se eu te ligar bêbada escorando nas paredes você vai me buscar?” Usou uma voz de criança pedindo doce.

“Mantenha seu celular seguro então, você sempre perde ele.” bebi de meu suco que já estava amargo.

“Foi só uma vez Pinoquita.”  brincou com o guardanapo da mesa.

“Cada saída sua é um celular novo.” ironizei e ela concordou.
 

***

Quando a criança é diferente, ela é tratada como uma doente. E a infância da lugar a sabedoria. 
O filho se torna pai para acalmar a resignação paterna. Através do silêncio dizer que "a culpa não é sua", “você não errou em nenhum lugar”, "sou uma mulher no corpo de homem, mas ei, calma, é normal." "Não sou uma aberração, sou só um ser humano querendo ser entendida e amada."

Durante minha infância sempre me senti diferente dos outros meninos. Eu gostava de bonecas e de assistir novelas com minha mãe. A cozinha sempre foi meu lugar favorito, apesar que nunca aprendi a cozinhar dignamente. Meu sonho aos quatro anos era ser uma princesa da disney, sem a parte da maça envenenada ou o furo na roca de fiar. Quantas vezes dancei Beyoncé escondida no quarto. Ou Madonna enquanto tomava banho. Sempre interpretava uma mulher nas peças da escola. 

Interpretar...

Passamos boa parte da vida interpretando personagens para não nos machucar ou não mostrar o quanto somos frágeis. Vivemos tanto a vida de alguém que queremos ser, que nos esquecemos quem somos.

E todos somos um pouco atores.

Busquei no Google o nome "Regina Série", infelizmente não saber o sobrenome me atrapalhou um pouco. Então coloquei "Regina Série Morte personagem". E na sétima página de busca a encontrei. Seu nome era Regina Mills, e ela fazia um personagem meia boca, não por sua atuação, mas sim pela falta de exposição e profundidade. Uma médica que mal aparecia, ela merece mais que isso. É linda, aparenta ser inteligente...

Talvez ela fosse mesmo apenas mais uma atriz tentando a vida.

Agora me arrependo por não ter conversado mais com ela. Durante todo o tempo pensei que ela estivesse tentando me enganar, se aproveitar de mim de alguma forma, o que na verdade foi o contrário. Desde criança me sinto enganada, principalmente quando não sou.

Meu celular tocou e pulei da poltrona, olhei as horas no relógio da parede da minha casa. 02:11am  Não percebi a hora passar. Estranhei o número desconhecido.

“Pinoquiiitaaa!” Ruby estava com certeza muito bêbada e com certeza perdeu o celular. Já fechei o notebook e peguei minhas chaves “Vem ‘mi’ buxcar meu amorr”  riu  “Você prometeu.”

 

“Onde você está Ruby?” Tranquei a porta e desci as escadas para a garagem.

 

“Lembra aquela casa de show onde você encontrou aquela morena gostosa? Pois é, vim parar aqui.” Parei na metade da escada, meu coração veio a boca sem eu saber por quê. “E sabe aquela morena gostosa? Ela tá aqui do meu lado.” Meu coração pulou uma batida.

 

“Ruby, me espera na porta, chego ai em dez minutos. Não aceite carona de ninguém entendeu?” Ouvi risadas  “Você me escutou?”

 

“Sim mamãe. “ riu pra si mesma “E a morena goxtosita perguntou de você. Que que eu falo pra ela?”

 

“Vou entrar no carro agora Ruby. Não vá pra nenhum lugar.”

 

 

Praticamente voei até a casa de shows, pedindo a Deus pra Ruby não estar com Regina lá a minha espera. Com certeza Regina iria me xingar, mas se isso acontecer terei calma e ouvirei tudo calada. Afinal sou a errada na história.

Durante todo o trajeto pensei em possíveis respostas para possíveis ataques verbais. Só espero que ela não seja muito dramática. Não antecipo o pior, e sim convenço me de que só me resta o pior. 
 

 

Quando virei a esquina, vi Ruby e Regina paradas em frente a casa de shows. Ruby gargalhava de alguma coisa que Regina tinha dito, e confesso que me permiti rir das caretas que Regina fazia, parecia estar contando uma história muito engraçada. Mas notei que a todo momento ela olhava ao redor, como se procurasse por algo.

Parei o carro e sai. Dei a volta e os olhos de Regina me encontraram, e ela pareceu soltar um suspiro de alivio.

 

“Pinoquiiitaaa” Ruby pulou no meu pescoço. “Você nem demorou. Vou só ali buscar a Mary e o Killian e já volto.” Segurei seu braço.

 

“Não, deixa que eu vou.” Quase implorei
 

 

“Você não esta com a pulseirinha amor.” me mostrou a pulseira verde limão em seu braço “Então não pode. Espera que volto já.”

 

Deu alguns passos e olhou para Regina, então voltou e agarrou meu pescoço de novo. “Ela é muito engraçada e legal, casa com ela.” Acredito que ela tenha tentado sussurrar, porém gritou no meu ouvido. Quando se afastou notei que Regina estava corada.

 

“Ei” falei colocando as mãos no bolso. “Tudo bem com você?”

 

“Tudo.” Me sorriu e deu dois passos para perto de mim “E com você?”

 

“Beleza também.” Ela deu mais um passo e eu cruzei meus braços no peito. “Você vem muito aqui nesse lugar?” Apontei a casa de shows com a cabeça.

 

“Eu não entrei ai hoje, mas vi sua amiga através da minha janela” Apontou o velho edifício do outro lado da rua “Ela estava fumando aqui, e tinha alguns caras estranhos perto dela. Então lembrei que ela é sua amiga.”

 

“Então você veio porque estava preocupada com ela?” Lhe dei meu melhor olhar de descrença.

 

“Fiz errado?” Não consegui entender o olhar que ela me deu, era enigmático.

 

“Não, possivelmente você salvou minha amiga de algum maníaco.” Descruzei meus braços “E você tem o hábito de ficar olhando a janela de vestido e maquiada?” Apontei seu vestido preto com detalhes em renda preta acima dos seios, dava a impressão de transparência. Ela usava um casaco pesado, mas por algum motivo, ele estava aberto, expondo seu corpo para mim. Ela sorriu nervosamente, e então percebi que  estava com certeza a comendo com os olhos. “Desculpe”

 

“Tudo bem” se aproximou de mim, mais perto que a zona de amigos permite “Durante esse mês pensei muito naquela noite.” falou de forma um pouco sensual

 

Achei que ela fosse brigar comigo, gritar, mas... Essa mulher é uma incógnita mesmo. “Sobre aquela noite, desculpa. Deveria ter deixado algum contato ou algo assim. Desculpa mesmo. Não sou esse tipo de pessoa.” esfreguei minhas mãos e notei seus olhos direcionadas a ela, ela estava me avaliando.

 

Regina sorriu, só que seu sorriso dessa fez era um pouco mais diabólico, não o sorriso tímido de sempre “Eu sei. Você não é uma má pessoa.” Depois sorriu nervosamente e desviou os olhos dos meus “Só fiquei preocupada que eu tivesse feito alguma coisa errada. Talvez... Sido muito... Talvez... Te forçado a alg...”
 

“Não. Você foi ótima. E eu também queria. Então não se preocupe ok?”
 

Ela mordeu os lábios, e então me peguei admirando aqueles lábios carnudos, e ela deve ter percebido, pois sorriu.
 

Em um segundo eu estava admirando seus lábios, e no outro estava imprensando ela contra a porta do meu carro. Sua língua chupando a minha. Foi ela quem me beijou, e foi eu que permiti ser beijada. Durante um mês não me senti atraída por outra boca, outro corpo, mas ter ela perto de mim, seu perfume marcante me excitando... Fez todo aquele mês ser um desperdício.

Minha boca desceu ao seu pescoço, e distribui mordidas por ali, meu corpo já estava quente na fria madrugada de Manhattan. Ela abriu os botões do meu casaco e colocou a mão por dentro descendo por minhas costas apertando minha bunda, fazendo com que meu quadril se projetasse pra frente, meu centro de encontro ao dela.
 

 

“Eu pinoquita!”  Ruby nos interrompeu rindo  “Estamos prontos”. Se aproximou

 

Sorri sem graça para Regina enquanto fechava meu casaco e tentava lembrar como respirar, ela estava sorrindo diabolicamente de novo, o vento bagunçando seu cabelo curto. Ruby se jogou nos ombros dela e deu um alto “Bye”.
 

Então Regina me sorriu timidamente, o sorriso que eu já conhecia, o sorriso que me encantava. Abri a porta pra Ruby que se jogou lá dentro, ajudei-a com o cinto. Abri a porta de trás para Mary e Killian entrarem, porém quando olhei para trás, meu funcionário e amigo, estava entregando um cartão para Regina, eles conversavam intimamente.

Mary entrou no carro e gritou pelo moreno que beijou a mão da Regina, eles se olharam por alguns segundos Limpei a garganta e Killian entrou no carro. Dei a volta e acenei para Regina que me olhou confusa, acho que ela esperava um beijo ou algo assim. Ela já ganhou meus beijos e de gorjeta um de Killian. Tudo bem que era na mão, mas foi beijo. 
 

 

Entrei no carro “Não sabia que você tinha voltado a fumar Ruby.” Falei entre dentes

 

Dei partida. “Se uma linda mulher oferece um cigarro, como negar, não é?” Ruby falou gesticulando com as mãos

 

Pisei no acelerador devagar e a vi pelo retrovisor. Regina estava parada no mesmo lugar. Ainda com o cartão de Killian na mão, ainda me olhando. Mas dessa vez, dessa vez havia algo diferente nela. Algo que tive apenas vislumbre na nossa noite juntas. E é algo que com certeza me excitou muito hoje.

 

Não confiamos no obvio. Desprezamos o óbvio, e sempre criamos teorias. Quero ser esperta quando não é necessário, meu medo é não ser esperta quando for necessário.



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