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História Come to the past - Minha tempestade carrega o seu nome


Escrita por: LunaSelene

Notas do Autor


Olá o/
Capítulo novinho hihihi
Esse bonito era p sair dia 23 de novembro e depois dia 23 de dezembro, e eu nem tenho desculpas decentes, pq nem lembro o que foi que eu fiz nesse 1 mês e alguns dias.
De qualquer forma, mesmo muuuuito longe da data, esse capítulo é dedicado ao meu querido, lindo e todo anjinho Gui. Uma dessas criaturas especiais que por um acaso do destino veio parar na minha vida para me mostrar como as pessoas podem ser incríveis.
Um feliz aniversário muuuito atrasado, um feliz natal só um pouquinho atrasado e um feliz ano novo adiantado.

Aos demais, que esse novo ano nos traga coisas boas, felicidade e saúde (e vaciiinaaaas) e que possamos a cada dia nos tornar uma versão melhor de nós mesmos.

Capítulo 61 - Minha tempestade carrega o seu nome


“Talvez Hermione soubesse o que ele estava sentindo, porque pegou-o pela mão e assumiu a liderança pela primeira vez, puxando-o para prosseguir.”

- Relíquias da Morte

 

A lembrança mais antiga de Pollux era, na verdade, uma sensação.

Um dia o Sr. Black tinha levado o filho para conhecer o Ministério, ele tinha se afastado do pai em determinado momento e andado para longe. Não lembrava de mais nada daquele dia, só de se sentir muito pequeno e muito sozinho.

Essa sensação o acompanhou por toda sua vida.

Algo engraçado de pensar, já que ele nunca estava, de fato, sozinho.

Esse era, muito provavelmente, o maior segredo que escondia de Dorea e a razão para não falar para ela sobre esse estranho sentimento que o atormentava, era porque ele ainda não o entendia e uma parte de si sabia que a irmã se sentiria confusa e perturbada. Poderia até mesmo ouvir a voz de dela dizer “mas como você pode se sentir sozinho? Eu estou aqui o tempo inteiro.”

O sentimento vinha de muitas formas. Quando ele era encarado pelos adultos e não fazia nada além de ficar em silêncio e esperar eles desviarem o olhar. Quando ele se sentia alheio ao redor das outras crianças com suas vestes escuras e com corte adulto, que sempre lhe deixavam com um aspecto exacerbado de seriedade. Às vezes Pollux achava que a única razão de não ser zombado pelas outras crianças, era que as roupas combinadas com sua carranca, lhe davam um ar muito severo – talvez fosse esse o motivo do pai lhe vestir assim. Ele era um Black, agir como uma criança não era adequado, mesmo quando ele tinha a idade de uma. E quando ele escutava a risada de Dorea no andar de cima, enquanto ele estava na biblioteca lendo mais um livro chato.

Pollux nunca falou sobre como se sentia, porque poderia parecer uma reclamação e reclamar não era nenhum pouco digno de um Black.

 

Houve um momento – na verdade, houveram muitos – em que tudo que Pollux queria era ser um bom filho e dar orgulho aos pais. Ele não gostava de pensar sobre o momento em que esse desejo morreu, quando ser o que era esperado se tornou amargo e aquele destino tão brilhante, aquele futuro pelo qual tinha esperado tanto, se tornou algo pelo que temia.

Em todos os momentos na sua infância ele tinha esse tipo de alarme dentro da própria cabeça, sempre soava antes dele fazer uma travessura que o traria problemas ou mesmo algo trivial, bobo, até. Algo que as outras crianças faziam, mas que ele, por ser o herdeiro dos Black, sabia que não poderia fazer.

Ser um Black estava entranhado dentro dos ossos dele, envolvido junto com a sua magia e não havia nenhuma outra família a que ele queria pertencer, mas às vezes ele apenas queria esquecer quem tinha nascido para ser.

Não seria hipócrita, ele gostava da deferência, dos privilégios, do olhar que recebia. Porque era bonito, rico e sua família detinha mais poder político que qualquer outra.

A verdade é que Pollux vivia entre odiar seu nome e ter prazer em usá-lo. Os sentimentos podiam se alternar várias vezes durante o dia. Sempre ser atendido primeiro na livraria: prazer. Passar longas horas ouvindo pessoas entediantes: ódio. Conhecer Mathis Lestrange: prazer, prazer, prazer.

Ele sabia que quando o Sr. Lestrange decidiu que estava na hora do seu quarto filho começar a se relacionar com outras crianças, o seu nome devia ter sido um dos primeiros da lista e virar seu amigo tinha sido uma ordem dada pelo pai, Mathis o disse anos depois.

Mathis disse isso sorrindo, aquele sorriso de lado e travesso, o real, com um ar conspiratório e divertido. Pollux nem ficou chateado, porque o Mathis criança não era nenhum pouco igual aquele maior, cheio de disfarces e falsidade, ele tinha sido uma criança bem sincera, com todos os sentimentos bem visíveis apenas de se olhar para o rosto dele. Além do mais, Pollux sabia que todas as crianças que conhecia tinham recebido a instrução de virarem seus amigos, Mathis apenas achou interessante comentar sobre isso.

Mathis tinha sido uma das grandes constantes da sua vida e um de seus maiores problemas.

Aquele alarme que soava dentro da sua cabeça quando ele previa a chegada de problemas sempre zunia quando Mathis se aproximava, mesmo quando eles eram crianças. Porque Mathis não tinha controle, gostava de correr, escalar e pular, mesmo que as roupas dele ficassem todas amarrotadas, mesmo que houvesse ordens para que ele se comportasse.

Quando eles cresceram aquele alarme apenas se tornou mais alto.

Mathis era como uma dessas estrelas que se sabe que está no céu, mas que é difícil encontrar. Ele estava sempre ali, uma presença constante, e mesmo assim era difícil enxerga-lo. Quanto mais Pollux o observava mais parecia que ainda tinha coisa para descobrir. Algo que se escondia atrás dos olhos castanhos e de cada um dos sorrisos de Mathis. Mas não importava o quanto ele quisesse ir nessa direção, buscar mais respostas, sempre se forçava a parar de olhar.

Eles nunca teriam uma chance, seria inteligente da parte dele lembrar disso.

 

Pollux não era dado a dramaticidade. Ele era um Black e um sonserino. Mas, é, ele tinha feito algo possivelmente reprovável, que poderia trazer uma repercussão negativa se alguém descobrisse e um grande problema com seus pais, os Crabbe e talvez com toda a comunidade puro-sangue que estava tentando dissuadir a população e fazê-la acreditar que eles não forçavam seus filhos em casamentos arranjados visando apenas manter a linhagem pura.

Para o bem ou para o mal, ele sempre tinha sido um filho exemplar, um herdeiro distinto que era elogiado por todos e visto como parâmetro sobre como um puro-sangue devia ser. Por isso ele tinha sido escolhido para ajudar naquela maldita matéria no jornal. Ele era um Black, todos queriam ouvir o que ele tinha a dizer.

Merlin...

O fato dele sempre ter de seguir as regras não o tinha preparado para quando as quebrasse. A culpa que isso traria, o temor de ser descoberto e de ter que responder por suas ações.

Pollux não era uma pessoa dramática. Ainda assim fazia três dias que ele estava escondido no quarto de Tom não fazendo nada além de ignorar todo mundo que conhecia e remoer o que tinha acontecido.

Ele disse a todos que estava estudando para os NIEMs, que precisava de silêncio e espaço, e ele tentou. Ele fez todos os ensaios e redações, treinou os feitiços e fez mais trabalhos. Ele leu algumas páginas de uns livros que eram de Tom e tentou praticar alguns feitiços que estavam lá.

Sempre que algum pensamento proibido invadia sua mente ele o expulsava, se levantava e ficava dando voltas no quarto recitando todos os feitiços que conhecia, ou os ingredientes de poções que ele aprendeu desde que tinha sete anos.

Ele estaria bem mais feliz se qualquer um desses artifícios tivesse funcionado.

Quando se cansava, Pollux fechava os olhos e simplesmente deixava as lembranças virem e o consumirem. Ele lembrava da textura da pele de Mathis, em como ele estava quente embaixo das suas mãos, como o cheiro dele era bom. Lembrava da ponta dos dedos dele correndo pela linha da sua coluna, subindo e descendo, um movimento repetido até que Pollux relaxasse.

Quando finalmente dormia sonhos e pesadelos se embrenhava se tornando uma coisa só. Mathis sempre estava a alguns passos de distância.  Ele não se movia e nem tentava tocá-lo e não importava o quando Pollux andasse ou corresse, Mathis sempre estava a alguns passos de distância.

Ele não queria lembrar, mas não poderia esquecer tudo que Mathis o tinha feito sentir, só que era doloroso demais ter que viver com aquilo. Sua única solução foi se esconder, para poder descobrir como lidar com todos aqueles sentimentos.

Ele não podia passar muitas horas na companhia da irmã, porque Dorea tinha o péssimo hábito de saber quando havia algo de errado com ele e nunca o deixava em paz. Também não podia ficar no quarto, no salão comunal ou em qualquer parte social de Hogwarts, já que sentia calafrios quando qualquer pessoa se aproximava e pensava que poderia ser Mathis, era quando a decepção misturada com algo mais amargo vinha.

Ele com certeza não podia ver Mathis. Não sabia como agir agora que eles tinham estado realmente juntos. Ele perdia completamente as palavras e se tornava uma mistura de tensão, vergonha e desejo. Nas poucas vezes que ficou perto dele naqueles últimos dias se viu perdido observando os lábios dele se moverem ao falar com toda aquela graça e fluidez que lhe era de costume. Agora sabia exatamente os tipos de sensações que aqueles lábios podiam provocar em contado com sua boca, pescoço, ombros, em seu... Merlin!

E havia Irma... Ele mal suportava pensar nela.

Ele estava muito mais seguro escondido ali.

Era mais fácil antes. Simples. Ele tinha todos esses pensamentos e fantasias e tudo que ele fazia era isso, pensar e fantasiar. Ele o via andando de um lado a outro, sorrindo para outras pessoas, flertando e sendo encantador e pensava como seria ser a pessoa para quem Mathis olhava, ser quem ele beijava.

Estava seguro nas fantasias, por que o que poderia fazer agora que sabia exatamente como era tê-lo?

Era fácil colocar todo aquele sentimento junto com a fantasia e dizer que era apenas uma ilusão que vinha de um desejo não realizado. Ainda podia continuar com a mentira, mas era tão mais difícil agora que seu corpo inteiro sabia da verdade. Agora que ele desejava tanto Mathis que sentia dor ao pensar que não podia tê-lo.

Pelo menos tivemos aquele momento.

Ele sorriu.

Aquele sorriso que sabia que não podia dar. Nem sabia como esse sorriso era, nunca o tinha visto, mas o sentia por todo o seu corpo.

O sorriso sumiu, como sempre sumia naqueles dias, porque havia a outra coisa, aquela coisinha perniciosa que o fazia querer caçar Mathis pelo Castelo e sacudi-lo pelos ombros e perguntar como ele podia não ver a verdade por trás do nome.

 Ele o tinha agradecido.

Mathis o beijou uma última vez e disse obrigado. Não soube o que fazer. Eles estavam quase nas escadas que davam para os dormitórios, Mathis ainda segurava a mão dele e Pollux não conseguia pensar em nada além daquela palavrinha horrível. Porque soava como se tivesse lhe feito um favor, como se Pollux não quisesse aquilo tanto quanto ele.

Poderia ter feito qualquer coisa, mas não fez nada e as palavras que deveriam ter sido ditas naquele momento estavam vivendo dentro de Pollux desde então, se revirando, subindo e descendo por sua garganta, fincando garras no seu coração e trazendo ardor aos seus olhos.

Ele era Pollux Black. Foi graças ao seu nome que ele pode conhecer Mathis e era por causa dele que não podiam ficar juntos.

 

Eu sou um Black, terei que fazer sacrifícios, mas todos eles irão valer a pena.

 

 

— Tom! — Pollux saltou da cama muito rápido.

— O que você está fazendo no meu quarto?

— Que bom que você voltou. — Pollux o abraçou tão logo Tom largou a mala.

Tom olhou ao redor, para os livros por cima da mesa, os sapatos e meias jogados pelo chão e embalagem de doces.

— O que aconteceu? Por que você está aqui? Quanto tempo vai precisar para limpar tudo isso?

Pollux sorriu. Era bom ter a presença familiar de Tom por perto.

Tom, para a surpresa de qualquer um que o conhecesse, não o expulsou imediatamente do quarto. Talvez tivesse a ver com o quão desesperado Pollux parecia ou tão totalmente perdido aparentava estar. Tom ainda o fez ajuda-lo a desfazer a mala e guardar os novos presentes que Honória o tinha dado: livros, penas, um caderno encantado e um colar muito bonito – e caro. Depois Tom deitou na cama enquanto Pollux arrumou toda a bagunça que havia feito naqueles dias.

— Então?

— Então o que? — Pollux tinha sentado na ponta da cama.

Tom apontou para a própria cabeça, o que causou uma careta de irritação em Pollux.

— O que você viu?

Eu poderia falar com o Tom. — Ele respondeu numa péssima imitação de sua voz.

Tom era bom com segredos e embora fosse péssimo com qualquer coisa envolvendo sentimentos, ainda era muito melhor do que só ficar com aquilo preso, e com quem mais ele poderia falar?

Ele não podia conversar com Dorea, porque ela ficaria triste e absolutamente revoltada. Ela diria algo sobre ele não precisar casar com Irma, que ele poderia lutar contra os pais deles, porque de alguma forma ela tinha pegado para si um pouco da insensatez grifinória. Mas ambos sabiam que não podiam vencer aquela briga e ele ter que explicar aquilo para ela, mesmo em pensamento, já era muito doloroso.

Pensou em Cassiopeia e sentiu o ardor da raiva e culpa o queimando.

Ele a tinha abandonado. Não fazia ideia do que ela estava fazendo, como estavam as coisas em casa e o que ela estava sentindo. Ele tinha pegado toda a sua raiva e dor e se afastado dela, como se ela não sentisse a mesma coisa, como se eles não fossem iguais, ambos vivendo com a sombra de um nome, sob o olhar atento dos pais e de todos. Cassie era melhor naquele jogo do que ele, sabia todas as regras, as tinha ensinado a ele com toda dedicação, tudo para que ele não sofresse como sabia que sofreria caso falhasse.

De todas as pessoas na sua vida, foi Cassie quem o amou primeiro, quem o ensinou o que era o amor, quem deitou ao seu lado e o fez voltar a dormir. Era ela que lhe sorria e dizia como ele estava fazendo um bom trabalho, algo que seus pais quase nunca faziam.

Mas ao pensar em sentar e lhe escrever Pollux sentiu os músculos da mão doerem.

Dorea diria para ele ser sincero consigo mesmo, com Irma e Mathis. Diria que ele não precisaria ser infeliz, que ele devia lutar pela própria felicidade, mesmo que isso o afastasse de quem ele era. Mas Pollux não fazia a menor ideia de quem ele poderia ser além de um Black e isso era assustador.

Cassie diria para ele se manter firme e seguro, que aquilo mal tinha sido um erro, apenas uma confusão de sua mente jovem. Ela apontaria seu bom gosto ao escolher Mathis e no fim diria que não tinha porque ele aborrecer Irma com aquela história. Que todos podiam seguir em frente.

As duas versões o faziam querer gritar.

Tom ainda o olhava esperando por uma resposta.

O problema era que Pollux não sabia como começar e as palavras simplesmente não conseguiam sair. Ele era uma pessoa perfeitamente articulada, ou foi até cinco minutos atrás, agora ele era apenas um monte de balbucios e palavras ininteligíveis.

— Como foi o feriado? — Foi o que ele conseguiu falar por fim. — Não sabia que tinha chamado os Voorhis também. Um grande feriado em família.

A risadinha que ele deu no final foi totalmente falsa e patética, o que só fez a sobrancelha de Tom subir ainda mais.

Mas talvez não precisasse falar.

Soltou um longo e sofrido suspiro e olhou para Tom. Viu quando ele entendeu o que queria. Era estranho ter aquele nível de confiança em alguém que não tinha o seu sangue, mas Tom já ocupava o mesmo lugar que Dorea em sua vida.

Sentiu a pressão atrás dos olhos e se deixou pensar naquela noite. Em Mathis brilhando num marrom quente sob a luz da lareira, em beijá-lo e ouvi-lo dizer que o amava, em ele próprio confessar que também poderia amá-lo, que queria poder amá-lo.

 

— Ai meu... — Tom levantou da cama, surpreso como Pollux nunca o viu. — O que você fez?

— Eu...

— O que você fez? — Tom perguntou de novo.

Pollux não tinha uma resposta para isso.

Cada passo já dado tinha sido calculado, a direção já tendo sido definida antes por alguém. Ele nunca tinha andando por um caminho que não sabia para onde levaria, até mesmo a sua crescente amizade com Harry tinha limites estabelecidos. Ele era um mestiço, afinal, não era tão ruim assim. Desde que ele nunca cruzasse aquela linha seria aceitável.

Mas aquilo, Mathis e sentimentos e ações, aquilo era inaceitável. Aquilo era um caminho que ele nunca deveria ter trilhado e agora não sabia como voltar.

— Eu não sei. — Pollux respondeu baixinho, igual quando era criança e não lembrava da resposta certa e sabia estar sob o olhar julgador de um dos pais.

Tom voltou a sentar, muito lentamente, o olhar ainda surpreso no rosto, um misto de confusão pontuado de descrença. Pollux não aguentou o peso do olhar dele. O peso da vergonha de suas ações refletido nos olhos azuis de Tom.

— O que tudo isso significa?

Nada, era o que Pollux queria responder. O que devia responder. Um erro, um equívoco, algo pontual que jamais voltaria a acontecer.

— Você o ama? — A palavra soou estranha na voz de Tom, como se amor fosse parte de uma língua desconhecida e ele ainda não soubesse como pronunciar.

— Eu vou me casar com Irma. — Respondeu como se fosse o bastante.

Deveria ser. Tinha que ser.

Dever foi a primeira coisa que Pollux aprendeu. As longas horas na biblioteca estudando, todas as regras que ele seguia, até mesmo a escolha de vestuário, tudo vinha do dever que lhe foi incutido desde que aprendeu a falar. Deixar Marius ir embora, aceitar casar com Irma, também fazia parte de seus deveres.

Entre todas as coisas que seus pais e Cassie o ensinaram, ser uma decepção não foi uma delas e isso era o mais aterrador, o que o consumia e o deixava paralisado.

Você é um Black, o pai dele disse no dia em que ele foi para Hogwarts pela primeira vez, nos deixe orgulhosos. E ser menos do que ele tinha sido criado para ser era insuportável, decepcionar todas aquelas pessoas estava lhe devorando por dentro e ele não conseguia arrancar aquele sentimento.

Quando era criança pensou que sua vida era muito fácil. Ele tinha que estudar, quando crescesse iria para Hogwarts, depois se casaria com uma mocinha de boa família e teria sua própria família.

Aí ele cresceu e tudo se complicou.

Em raras ocasiões o Sr. Black sentava ao lado de Pollux, a voz dele era forte, grossa por causa de todo o charuto que ele fumava. Às vezes, mais raramente ainda, ele o colocava em seus joelhos. Pollux tinha certeza que uma de suas melhores lembranças da infância era ele sentado nos joelhos do pai o ouvindo falar sobre os Black. Ele tinha tanto orgulho, Pollux podia ouvir isso na voz dele, e o olhar dele se tornava caloroso e até mesmo gentil.

Naqueles dias só o que Pollux fez foi pensar na sua família, em tudo que aprendeu, em tudo que perderia caso fizesse algo errado. A todo instante ele conseguia ver aquela versão mais nova e mais delicada de Cassiopeia, sentada no quarto dele dizendo o que ele deveria fazer para ser bom para a família.

Eu fiz, Cassie. Você está feliz?

— A não ser que... — Tom começou e parou. Pollux fechou os olhos com muita força, contendo toda aquela angústia dentro de si e a proibindo de sair.

Tom não podia fazer aquilo, ele não podia falar algo esperançoso e inalcançável. Ele sabia, tinha que saber, que não havia nenhuma saída para Pollux.

Ele tinha que saber que falar algo menos que o sensato ia magoá-lo.

Tom tinha sido a pessoa mais egoísta que Pollux já havia conhecido. Nunca se importando com sentimentos alheios, principalmente se ato o beneficiasse. Isso o levava a fazer coisas absurdas, como ameaçar Dorea para o manter sob controle, algo que lhe enchia de raiva, mas também de compreensão. Estava acostumado a pessoas egoístas. Tinha crescido com um monte delas.

Mas o olhar no rosto de Tom não era nenhum pouco pragmático. Ela dolorido também, como se houvesse uma torrente de coisas para serem ditas e ele estivesse contendo tudo atrás dos dentes muito bem cerrados.

Tom piscou duas vezes, escondendo a preocupação atrás de um semblante sério.

— Bem... — Ele limpou a garganta. — Contenção de danos, não é? Posso garantir que ele não fale nada e nem queira tirar vantagem da situação.

— Vantagem? Por que ele faria isso?

— Somos sonserinos. Estamos sempre pensando em tirar vantagem e sair na frente.

— Mathis não é assim. — Pollux disse muito seguro. Tom fez um barulho de escárnio como resposta.

— Você é um tolo se acha que Lestrange não é igual a todos nós. Ele é apenas melhor em esconder o que sente atrás daquela fachada despretensiosa e encantadora. E se acha que vou deixar você nas mãos dele, apenas por causa do que seu estúpido-

— Tudo bem. — Pollux esfregou os olhos. — E a Irma?

— O que tem ela?

— Eu não sei como ela vai reagir quando souber.

— Um plano de contenção de danos serve para que as pessoas não saibam, Pollux. Eu vou embora por uma semana e você troca de cérebro com Mulciber?

— Tom, eu não posso mentir para ela. Eu não posso...

— É claro que você pode. — Tom bufou. — Até Harry diria que é estúpido falar sobre isso com ela e ele é um grifinório.

— Ele diria que eu devo ser sincero com a minha noiva.

— Ele é um grifinório. — Respondeu encerrando a discussão.

 

Mas nenhuma contenção de danos foi precisa, porque ninguém sabia sobre o que tinha acontecido e mesmo quando Tom tentou levantar o assunto, Mathis disse que não tinha ideia do que ele estava falando. Ele ainda não confiava em Lestrange, mas sabia que a lealdade dele estava com Pollux e talvez ele fosse um desses tolos que preferiria ver seu objeto de afeto sendo feliz com outra pessoa.

Tom não entendia aquilo muito bem.

 

— Dá para você parar de se contorcer? — Tom reclamou.

— Desculpa.

Era tão difícil ficar parado com todos aqueles sentimentos dentro dele. Hora ele se sentia muito quente, hora muito frio. Às vezes ele se sentia tão nervoso que sua pele pinicava e ele começava a se coçar e seu coração batia tão rápido que era insuportável esperar até ele se normalizar.

Começava a achar que era assim que uma pessoa começava a enlouquecer.

 

— Sejamos práticos, seu noivado é uma mera conveniência, um acordo entre duas famílias. Você não está apaixonado por ela e por algum milagre ela não está apaixonada por você. Qual é o problema de você ter... você sabe? Você ia sentir alguma coisa se fosse Irma no seu lugar?

Ele nunca tinha pensado nisso. A ideia de Irma se envolvendo com qualquer pessoa estando noiva dele era tão absurda que era até difícil imaginar. Ele não sentia ciúme dela, não a desejava como uma esposa deveria ser desejada, ainda assim pensar nela com outra pessoa fazia sua pele pinicar.

— Pollux?

— Você vai me achar o maior tolo de todos os tempos.

— Eu já acho. — Tom cruzou os braços e revirou os olhos. — Se ela acabar com você, saiba que eu vou ajuda-la a esconder seu corpo.

Pollux tinha que fazer aquilo. Tinha que se libertar daquela opressão. Era tido como uma verdade irrefutável que todos na Sonserina eram mentirosos patológicos e indignos de confiança. Seria muito mais fácil se aquela fosse a verdade real.

Mas enquanto Pollux poderia enganar quem quisesse e remodelar a verdade ao seu bel-prazer, ele não conseguia fazer aquilo caso se importasse com a pessoa e ele se importava com Irma.

 

Ele encontrou Eliza primeiro. Sempre seria assombroso como as irmãs Crabbe poderiam ser tão parecidas quanto eram diferentes. Mas além de qualquer semelhança genética, enquanto Irma era gelo, Eliza era só fogo, queimando em labaredas altas.

— Irmãozinho. — Ela pulou do meio do grupo de meninas em que estava quando o viu se aproximar.

Irmãozinho. Era como ela o estava chamando agora. Se ele tivesse sido inteligente não teria demonstrado nenhuma reação quando ela falou da primeira vez, agora ela falava apenas pelo prazer de incomodá-lo. Ele já tinha irmãs suficiente, obrigado.

— Não me diga que você também veio para saber o desfecho da história.

— Que história? — Ele olhou ao redor. Não era incomum terem tantos alunos por ali aquela hora, mas só então percebeu que eles estavam em grupinhos, com suas cabeças próximas e fofocando.

— Você não soube? Parece que Bill Weasley morreu.

O coração de Pollux parou por um segundo.

— O que?

Eliza sorriu.

— Foi isso que o Parkinson disse, mas você sabe como ele gosta de aumentar as histórias. A história real, e eu ouvi da boca da Rookwood enquanto ela explicava para o professor Dippet, é que Weasley foi burro e não prestou atenção e na hora de mexer com as mandrágoras pegou uma bebê no lugar de uma muda ainda não crescida. Logicamente ele estava sem a proteção. Ele está desmaiado na enfermaria. Deve acordar em algum momento. — Ela fez um sinal de descaso com as mãos. — Se você não veio aqui para testemunhar a estupidez grifinória, o que veio fazer?

— Eu estava procurando a sua irmã, disseram que ela estava aqui, mas devem ter confundido a qual Crabbe eu me referia.

— Na verdade, você a perdeu por alguns minutos. Ela não achou tão interessante o dilema se o Weasley vai acordar ou não e foi embora.

— Ótimo. — Agora ele teria que caçá-la pelo Castelo antes que perdesse a coragem.

 

Era demais para a dignidade de Pollux ficar correndo pelo Castelo atrás da sua noiva, por isso dele deixou o recado com várias pessoas e esperava que Irma fosse ao seu encontro. De preferência antes que ele desistisse daquilo.

— Falou com ela? — Tom perguntou assim que o viu, o olhou de cima a baixo e riu venenosamente. — Você ainda parece um diabrete enjaulado, então vou dizer que não. Soube do Weasley? Será que a Grifinória vai perder pontos por isso?

— Por que ele foi idiota e quase causou a própria morte? — Pollux sorriu. — Espero que sim.

— Pensei que vocês fossem amigos agora. — Tom estendeu os lábios no que deveria ser um sorriso amistoso, mas que só deu vontade de soca-lo.

— Mesmo se fôssemos, ainda ia querer ganhar a Taça das Casas. — Ele se jogou numa poltrona. — Se você fizer uma grande descoberta mágica é capaz do Dippet nos dar a Taça.

— Claro, Pollux. Se eu fizer uma grande descoberta mágica vai ser unicamente para vencer esse campeonato.

Sorriu.

— Temos um punhado de grifinórios ao nosso redor agora, sempre podemos fazê-los perder alguns pontos ou vários.

— Vocês não deveriam querer ganhar jogando limpo?

Pollux se virou rápido dando um pulo da poltrona ao ouvir a voz dela e encontrou Irma o olhando com uma sobrancelha erguida.

— Você entrou no Salão errado, esse que você está procurando fica perto da cozinha. — Tom respondeu quando ficou claro que Pollux não o faria.

Irma ignorou Tom, uma das poucas pessoas que faziam isso, bendita seja ela, e se voltou para Pollux.

— Cinco pessoas diferentes me pararam no caminho até aqui para dizer que você estava me procurando.

— Eu estava. — Ele disse. Tom bufou, Pollux entendia, estava sendo patético em níveis inimagináveis. — Eu queria falar com você.

Vários segundos se passaram sem ele se mexer.

— Verbalmente ou você pretende esperar eu aprender legilimência?

Tom fez um barulho muito parecido com um engasgo. Ele se levantou, dando uma cotovelada em Pollux e parou na frente de Irma.

— Meu primeiro julgamento estava errado, Crabbe. Você é muito mais que uma concha vazia. — E se virou para Pollux. — Você deveria leva-la ao meu quarto.

E saiu.

— Então? — Irma cruzou os braços.

 

Um dia, quando ele e Dorea eram pequenos, ela tinha chorado porque a boneca preferida dela tinha perdido a cabeça. Era algo bobo para o mundo deles e facilmente consertável, mas ela ainda era muito pequena para entender isso ou muito mimada para lidar com o desapontamento, mesmo o mais insignificante deles.

Cassiopeia sabia que não poderia buscar os pais para algo tão irrelevante, mas antes que ela pudesse chamar um elfo que pudesse consertar a boneca a Sra. Black apareceu. Ao contrário do que eles esperavam, a Sra. Black se ajoelhou, ficou na frente de Dorea, com o rosto na altura do dela, limpou as lágrimas que lhe manchavam o rosto e disse:

— Você precisa crescer e crescer significa não chorar. Você tem que aprender a sofrer de forma elegante e graciosa e principalmente não permitir que outros percebam sua dor.

Ela não consertou a boneca.

Dorea tinha cinco anos.

Por alguma razão a Sra. Black sempre tinha sido um pouco mais paciente com Dorea, mais suave. Ela dizia que Dorea não era como Pollux e Cassiopeia, não tinha um sangue tão vivo. Ele tinha entendido isso com o tempo. A mãe deles achava que Dorea não era tão forte quanto ele e a irmã e isso era algo terrível de pensar, mas esse era um dos poucos motivos para ele ainda amá-la. O fato dela ser mais delicada com aquela que achava ser a mais fraca, assim como amava o pai por ter Cassiopeia como a preferida e tentar nunca a magoar.

Ele olhava para Irma e pensava se ela tinha algum motivo para amar os pais. Qualquer coisa que tornasse aquilo um pouco mais suportável.

��

Irma olhava para Pollux e não sabia muito bem o que esperar. Para ser sincera ele parecia muito que estava prestes a vomitar, o que a fez ficar nervosa e ainda mais ansiosa e com mil pensamentos desenfreados passando por sua mente. Porque ele a tinha levado até um quarto, com uma porta que poderia ser trancada por dentro e que tinha uma cama.

Ela também poderia vomitar.

— Pollux, você tem cinco segundos para começar a falar ou eu vou-

— Eu traí você.

Oh!

Ela não tinha imaginado aquilo, nem remotamente e agora que pensava se achava uma tola.

Foram precisos todos aqueles anos de árduo controle para que ela apenas piscasse diante daquela revelação.

O que ela deveria sentir?

— Foi no feriado. Foi... foi... — Ele deveria ter elaborado melhor o que falaria antes de simplesmente procura-la. Foi insensato? Uma coisa de momento? Nunca mais ia acontecer? — Ninguém sabe, então não precisa se preocupar com um escândalo. — Pollux esperou que ela falasse alguma coisa, mas ela apenas estava lá parada. — Você é minha noiva e nós vamos nos casar. Eu não queria te magoar ou ser falso e mentiroso. Eu não queria te magoar. — Disse mais uma vez, como se quisesse ter certeza que ela havia entendido essa parte.

— Eu entendo.

A pior parte era que não havia raiva na voz dela. Teria preferido a raiva aquela indiferença fria, iria preferir que ela gritasse e o azarasse a vê-la em pé com as mãos entrelaçadas a frente do corpo, numa postura elegante. Aquela não era a Irma que ele vinha conhecendo nos últimos meses, aquela era a garota criada pelo Sr. Crabbe. Sentiu vontade de abraça-la e assegurar que eles ainda podiam fazer dar certo, mas o olhar dela o fez não sair do lugar.

A muito custo ele sustentou aquele olhar. Ele já a conhecia há anos, como poderia um dia ter pensando em Irma como uma garota simples e sem personalidade?

Sem aquela expressão vazia e desinteressada, Irma tinha um olhar selvagem e indomável, como se houvesse uma ferocidade dentro dela cujo único vislumbre era através daqueles olhos. Às vezes era como olhar para um lago congelado, era lindo, suave, frio e aterrorizante.

— Irma...

— Você disse que ninguém sabe. Pode assegurar que ninguém vai saber? — Ela se afastou um passo quando ele fez menção de se aproximar. Ela não sabia o que deveria sentir, mas sentia um punhado de raiva ou poderia ser só um acúmulo de chateação. Ela queria sentar e bufar. Talvez pegar um dos tocos da lareira e bater nele. Ela também queria chorar. — Você teve todos esses meses para fazer algo do tipo e resolve agir com indiscrição justo quando estamos num momento crítico? Se um vislumbre do seu caso vazar os jornais transformariam isso em um espetáculo circense. Meus pais me avisaram... — Ela parou, sentia que seu controle ia se esvaindo e a vontade de começar a gritar aumentava. — Eu estou cumprindo meu papel. Estou sendo uma noiva afável e dedicada, digo a quem precisa ouvir sobre como estou entusiasmada com esse casamento, como estou animada em escolher um vestido de noiva e me tornar uma Black.

— Não é um caso. — Ele disse numa voz fraca.

— Estou cumprindo com minha parte nesse acordo e tudo que você precisa fazer é não estragar tudo no momento em que todos esses progressistas esquisitos estão olhando para nós em busca de um erro.

— Eu sei! Eu sei! Eu sinto muito, Irma.

E ele parecia sentir. Pollux parecia verdadeiramente lamentar, mas aquilo não lhe valia muita coisa. Talvez se ela não tivesse sido criada por seus pais pudesse ter se aproximado, segurado as mãos dele entre as suas e ter assegurado que tudo estava bem, talvez até feito uma brincadeira, algo espirituoso.

Só que ela não sabia fazer isso. Eliza era a irmã espirituosa, divertida e amigável. Ela era... ela era Irma.

— Era só isso? — Ela queria voltar para o quarto para poder socar os travesseiros até as penas voarem livres.

— Não! — Pollux deu alguns passos na direção dela, agora ela estava ao alcance das mãos dele. — Eu... Irma...

Ele disse o nome dela como uma prece, mas ela não entendia o que ele poderia estar pedindo.

O que mais ele poderia querer dela?

Quando ela olhou para Pollux se sentiu subitamente furiosa, com uma raiva feral que a queimava de dentro para fora e naquele instante ela quis ser capaz de infligir um pouco da dor que sentia.

Sr. Crabbe nunca escondeu que um dia ela iria se casar e que o escolhido seria aquele que lhe desse mais lucro.

Lucro, foi exatamente essa palavra que ele usou, como se a filha fosse só outro item de valor que pertencia aos Crabbe.

Geralmente mulheres como ela estavam presas a certos tipos de expectativa e casamento era um caminho que a maioria tomava, algumas sem qualquer escolha, como ela. Mas sabia que nem todas as mulheres encaravam seu destino com tamanha desolação, talvez algumas delas sonhassem com aquilo. Com o primeiro beijo, se o escolhido seria gentil, amoroso ou bonito, se ela viria a amá-lo um dia.

Irma nunca sonhou com seu possível marido, era assustador até pensar nele e nas vezes que sua mente a traia o cenário era sempre horrível.

Ela tinha um sonho, no entanto, e envolvia poções e liberdade. Em seus devaneios ela trabalhava no hospital ou numa loja própria, as vezes se pegava imaginando como o lugar seria, a cor das paredes, o cheiro de ervas que dominaria o ambiente, os fregueses que ela conheceria e as histórias por trás de cada compra.

Seu sonho mais simplório morreu no dia que seu pai chegou em casa e disse que ela casaria com Pollux Black.

Ela o conhecia, é claro, e ele era tudo que qualquer garota poderia querer. Conseguia imaginar suas colegas suspirando de inveja. Pollux era algo inalcançável que de alguma forma tinha ido parar nas mãos dela, sem ela nunca nem ter pedido por isso.

Ele é bonito, inteligente e muito atencioso com a irmã, Eliza tinha dito para ela numa noite. Por que isso é relevante? Eliza a tinha olhado como uma boba e explicado que o fato dele ser tão gentil, amoroso e atencioso com a irmã queria dizer que ele seria também com Irma, quando eles fossem família.

Irma não queria dizer a ela que não era a mesma coisa.

Ela não poderia aguentar todos aqueles sentimentos, então fez o que sabia fazer de melhor. Ela voltou para seu lugar seguro.

— Naquela noite em que você me fez uma promessa de união e fidelidade, também disse que poderíamos arrumar uma forma de sermos felizes, de fazer isso funcionar, de sermos leais um ao outro, mas você estava errado. Nunca vai funcionar, simplesmente porque nós dois nunca vamos nos escolher. Eu nunca vou ser a mais importante na sua vida e você nunca vai ser o mais importante na minha. Então, por que não paramos com essa brincadeira e encaramos isso como é de fato? Apenas um acordo entre nossas famílias. Nossas promessas não importam, só o que importa são os termos do contrato que nossos pais irão fazer. O dinheiro que sua família vai receber e a vantagem política que eles terão com essa união.

Naquela noite, na noite do noivado, Irma estava absolutamente apavorada. Nunca houve, de fato, uma saída para ela, mas chegar aquele momento foi como alcançar a boca de um vulcão e saber que a única opção era pular dentro. Mas aí Pollux chegou. Ele pegou a mão dela, ele a segurou enquanto ela chorava, ele a olhou com entendimento e disse que eles fariam dar certo. Não pensou em nada além disso. Não pensou que não poderia amá-lo como um marido deveria ser amado, ela só sabia que Pollux estava bem ali e que nunca tinha se sentido mais protegida que naquele momento.

Ele pegou a mão dela e com isso afastou toda a dor que ela sentia.

— Eu sei que cometi um erro. Coloquei em risco o que nossas famílias... Não, esquece eles. — Pollux não parecia ele mesmo e Irma não sabia como lidar com aquela versão perturbada. — Eu... Eu gosto de você. Nos tornamos amigos, não foi? Eu não queria mentir, esconder algo que eu...

Irma passou por ele e caminhou até a janela. A luz esverdeada do Lago Negro era tão familiar que a acalmava. Por diversas vezes quando ela estava em casa, simplesmente fechava os olhos e pensava naquela luz, no movimento dos animais aquáticos, no jogo de sombras...

Ele é perfeito, Irma tinha escutado aquilo tantas vezes nos dias posteriores ao seu pai tê-la dado aos Black que as palavras tinham perdido o sentido. Ela tinha odiado Pollux por um tempo, porque odiava a ideia de casar com ele, mas talvez de alguma forma, sem nem perceber, tivesse internalizado aquilo também, que ele era perfeito. Porque Pollux era gentil com ela e Eliza, acolhedor e paciente como os pais delas nunca tinham sido. Ele nunca cobrava nada dela, nem sorrisos, nem bom humor, nem que ela fosse uma mocinha delicada e inofensiva. Quando ela falava ele era atencioso e demonstrava interesse. Ela sentia que ficaria bem tendo ele como sua família.

Irma o tinha colocado em um pedestal tão alto que a queda era inevitável.

— Me diga como remediar isso. — Ele pediu. Os olhos dele se tornaram uma poça de culpa. Ela se perguntava se ele já tinha feito aquilo por alguém, se já havia se mostrado tão miseravelmente arrependido assim.

Não estrague tudo, o pai dela tinha dito na última carta e só a perspectiva de ter que encará-lo caso aquilo se tornasse público a enchia de pânico.

— Não deixe isso vir a tona. Faça o que tiver que fazer para impedir que quem quer que saiba fale a respeito.

— Eu nunca permitiria que você fosse motivo de chacota em Hogwarts ou fora daqui.

— Não se... — Não é sobre meu ego. É sobre meu pai... Ele me culparia... me puniria. — Não pense que estou com ciúmes. — Ela disse no lugar da verdade.

Ele deu um sorriso pequeno e incerto.

— Eu não achei que estivesse.

— Podemos estar no mesmo jogo, mas não jogamos pelas mesmas regras. Nesse jogo eu estou em desvantagem e preciso que você entenda isso. — Era o mais perto que ela conseguiria chegar da verdade.

— Eu entendo.

Não achava que ele podia entender. Pessoas como Pollux, que sempre tinham tido o poder em suas mãos, nunca entenderiam pessoas como ela, que sempre estiverem sobre o poder de outra pessoa.

(Ela só esquecia que Pollux não tinha poder algum sobre os pais e que embora tivesse mais vantagens, ele era só mais uma dessas crianças criadas para um jogo muito maior.)

— Entende? — Ela estendeu os lábios numa sombra de um sorriso. Se algo acontecesse que colocasse em risco aquele casamento o pai dela a culparia, mesmo que ela tivesse feito tudo certo. Ela seria punida, ainda que o erro não fosse seu.

Pensou em dizer tudo aquilo para ele, ele merecia saber, talvez Pollux pudesse conhece-la melhor se soubesse como ela estava se sentido, mas isso daria a ele muito poder. Chance para ele conhecer as rachaduras da alma dela e saber onde atingir para causar mais danos.

— Bom, sendo assim, espero que você aja com mais discrição de agora em diante, nem que seja preciso firmar um Voto Perpétuo com o motivo da sua indiscrição. — Ela conseguiu falar tudo com muita dignidade. Teria deixado a mãe orgulhosa. Quando Pollux não se mexeu Irma assentiu. — Ótimo.

Pollux não deu qualquer indício de que aquela conversa tinha se encerrado e Irma se viu paralisada com a intensidade do olhar dele. Os olhos dele eram tão azuis, e não era um azul facilmente descritível. Não era da cor do céu ou do mar, não tinha riscos esverdeados como os de Tom, nem os riscos cinzentos como os de Abraxas.

Ela só conseguia pensar que era um azul sufocante e que estava totalmente focado no rosto dela. Irma conhecia muito bem o próprio rosto e não gostava quando as pessoas o encaravam. Sabia que devia ter feito as sobrancelhas umas duas semanas atrás e que seu cabelo estava cheio, volumoso e despenteado, porque tinha passado algumas horas no laboratório de poções, seu uniforme estava amarrotado e devia ter mais alguma coisa errada.

Pollux se aproximou mais, muito mais perto do que ela teria preferido e ela só conseguia pensar: Não. Não. Não.

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Pollux, por sua vez, não sabia o que via ou o que sentia. Sabia que começava a contar uma mentira para si mesmo, uma mentira que começava com “posso amar Irma Crabbe”. Ele tinha que amá-la, fazia parte dos seus deveres e daquele desejo doloroso de querer uma casa diferente da qual ele cresceu. Ele queria uma vida que não fosse miserável e odiosa, queria acordar sem pensar que sua vida tinha terminado, não queria raiva e dor e principalmente, não queria criar seus filhos no meio disso.

Irma parecia confusa e apavorada, ao mesmo tempo em que parecia forte. A observando começou a devanear. Ela era bonita de uma forma que outras garotas não conseguiriam ser, talvez porque ele soubesse que ela não tinha feito esforço algum em parecer bonita. Talvez outras pessoas nem a considerassem assim, mas elas iriam ver apenas o mais superficial.

Eles não veriam como os cachos volumosos davam forma ao rosto de maxilar forte, ou como as sobrancelhas grossas delineavam o olhar indisciplinado e o nariz dela era uma coisinha fofa, delicada, provavelmente a única coisa delicada em um rosto que poderia ser tão feroz.

Ele tirou um cacho da frente do rosto dela e a sentiu paralisar embaixo da sua mão.

O que ele estava fazendo?

Pollux não fazia a menor ideia.

— Você será minha esposa. — Pela primeira ele realmente sentiu as palavras. Irma não era dócil e parecia errado usar qualquer pronome possessivo para se referir a ela, mas ela seria dele para cuidar e proteger, para amar... Com algum esforço poderia imaginar crianças com os olhos escuros dela, com os belos cachos, com aquele rosto lindo, feroz e indomável. — Irma...

 Ele ia beijá-la, sabia disso e ela também. Era o primeiro beijo dos dois, devia ser algo especial, a meia-noite debaixo das estrelas ou em um jardim florido, onde ele poderia pescar uma rosa para ela depois. Irma gostava de flores?  Mas eles estavam no meio do quarto do monitor-chefe, entre paredes de pedra e um grindylow passando pela janela.

Ele a deu todo o tempo para que ela pensasse se queria aquilo, se permitiria que ele se aproximasse mais. Pollux esquadrinhou todo o rosto dela, parando nos olhos castanhos e no fim de uma espera interminável ele a beijou.

Não foi nada excepcional. Não houve explosões, nem um formigamento na palma das mãos. O coração dele batia rápido, mas isso deveria vir muito mais de todo o nervosismo da conversa que antecedeu o beijo do que do beijo em si.

Pollux tentou focar apenas em Irma e não deixar seu pensamento vagar em outra direção. Ele a segurou pela nuca e encontrou a boca dela em uma carícia breve e insinuante, dando apenas o prenuncio de um beijo, esperou qualquer reação por parte dela, mas Irma continuou parada. Ele entendeu isso como inexperiência e a estimulou a afastar os lábios um do outro.

Ele queria tanto querer aquilo. Querer ela, os beijos dela, o corpo dela colado ao seu. Tentou imaginar mil formas de como aquilo poderia ser melhor, talvez quando ela tivesse mais experiência, quando estivesse mais a vontade com ele. Mesmo que eles não se amassem, pensou que aquilo poderia se tornar bom para ambos. Se não houvesse amor, pelo menos poderia ter prazer.

Mas aí os devaneios cessaram, porque Irma tremia e não de uma forma boa e ela estava chorando?

Pollux interrompeu o beijo em um movimento abrupto.

Foi como ser puxado para dentro de um lago congelado.

Irma olhava para ele com uma expressão clara de horror e quase não foi uma surpresa quando ela correu até a lareira e vomitou.

Quando ela se voltou novamente para ele Pollux desejou que ela simplesmente tivesse corrido em direção a porta e o deixado.

 — Desculpa. — Ela disse.

— Não se... — Pollux passou a mão pelo rosto em total frustração. — Pela deusa, Irma, não se desculpe.

— Eu...

— Eu sou tão repulsivo assim? Você sempre achou isso ou é resultado do que fiz?

— Não, não. — Ela deu passos vacilantes até ele e Pollux teve a iniciativa de segurá-la quando pareceu que Irma ia cair. — Não é você. Sou eu. Eu sou...

As lágrimas que caiam lentamente antes vieram mais fortes, como se estivesse chovendo dentro dela.

— Eu não gosto de... — E Pollux esperou pelo “não gosto de você” e pela rejeição que viria. — De homens.

— O que? — Aquilo não poderia significar o que ele achava que significava, porque era... terrível, absurdo e algo tão grotesco que ele sentiu vontade de fazer como Irma e ir vomitar na lareira. — O que você disse?

Irma abraçou o próprio corpo e se retraiu, como se estivesse esperando pela próxima ação dele. Como... como se ele fosse puni-la de alguma forma. Aquilo arrefeceu parte do que ele sentia e Pollux puxou o máximo de controle que ainda havia em si.

— Quando você diz que não gosta de homens... — A mera sugestão do que aquilo significava lhe dava embrulhos no estômago. — Você quer dizer que não se sente atraída fisicamente por eles?

Irma assentiu levemente, um movimento tão pequeno e que parecia ter custado muito dela.

— Irma, Irma... Seus pais sabem disso? — A raiva vinha como ondas suaves batendo contra recifes, mas o mar parecia prestes a se agitar. — Como eles puderam fazer isso? Precisamos ter filhos e...

— Eles não sabiam, meus pais. Eu nunca disse a ninguém. — Ela ergueu o rosto finalmente, os olhos e a ponta do nariz vermelhos dando um claro sinal de que ela chorara, a boca sendo apenas uma linha muito fina, como era sempre que ela falava sobre os pais. — Mas não faria diferença. — Ela se empertigou, jogou os ombros para trás e o olhou seriamente. — Eu posso fazer isso.

— Pelas barbas de Merlin, Irma. Você não tinha que precisar fazer nada. Você não podia ser forçada em um casamento com alguém que nunca poderá sequer desejar. Eu nunca teria... — Ele passou os dedos na boca, como se precisasse de um lembrete tátil do que tinha feito minutos atrás. — Merlin... Me desculpa. Eu não sabia... Não fazia ideia que...

— Eu sempre soube. — Ela deu de ombros, um movimento banal de descaso, mas olhando para o rosto dela, ele viu como ela parecia sentida. Irma olhava para além dele, naquele tom meio monótono que todos eles aprendiam a usar em algum momento. — Ele nunca escondeu que me casaria e o escolhido seria aquele que pudesse dar a ele mais poder. Quando o seu pai apareceu procurando uma noiva ele apenas mordeu a isca primeiro. Nós tivemos sorte, já que Sybilla Nott e Maxi Fawley estão noivas, mesmo vindo de um ramo tão antigo, papai sabe que nunca poderíamos competir contra duas filhas do Sagrado Vinte e Oito.

— Você não é um cavalo para ser dado a quem deu o lance mais alto.

Ela sorriu, um sorriso tão frágil que partiu o coração dele, por que o que ele poderia fazer? Que poder ele tinha para proteger Irma como tinha protegido Dorea?

— No início confesso que não fiquei feliz, mas depois entendi a sorte que tive. Vou ser uma Black e como parte da sua família terei mais poder que meus pais. Poderei intervir quando chegar a hora de Eliza escolher o que quer fazer da própria vida. — Ela ficou se balançando na ponta dos pés e quando o olhou novamente tinha as bochechas rosadas. — Eu não devia ter dito aquelas coisas. Eu ainda acredito em você, no que você me prometeu naquela noite.

Irma se aproximou e pegou a mão dele, retirando o anel de compromisso do dedo dele e depois fez o mesmo com seu próprio anel. Ela juntou os dois na palma aberta dele e a segurou entre as suas mãos.

Havia muita determinação e força em Irma, uma segurança vibrante de quem sabia que a único caminho a seguir seria continuar indo em frente.

— Vamos ser leais um ao outro. Vamos ser justos e honestos e nunca iremos mentir, mesmo se acharmos ser o melhor. Vamos ser uma família e vamos cuidar um do outro, vamos nos proteger. Vamos ter filhos e sermos bons para eles, melhores do que foram conosco. — Ela limpou uma lágrima no canto do olho, puxou o ar e terminou. — Eu juro.

— Irma... — Ele queria muito dizer que eles não iam fazer isso. Ele ia se erguer, enfrentaria os pais dele e os pais dela. Mas a realidade era muito mais dura. — Eu juro.

 

Há vários tipos de famílias. Existe aquelas onde não se precisa fazer nada para conquistar a afeição, ela simplesmente é dada. Existe aquelas onde o amor precisa ser conquistado, como se os filhos estivessem em um campo de batalha lutando por migalhas de atenção e afeto, onde se sabia que o amor estava diretamente ligado a perfeição e ser menos que isso não era tolerável e eles estavam sujeitos a rejeição e abandono. E havia aquele outro tipo, onde simplesmente não existia amor, onde o que quer que fosse dado era cheio de vício e dor e traumas.

Pollux sabia exatamente de qual família ele estava vindo e qual ele queria para si. Mas uma perguntinha traiçoeira ficava indo e vindo: ele saberia mesmo como amar alguém e ainda mantê-la livre para ser quem ela quisesse ser?

 

— Você tem andado tão estranho. — Dorea falou quando o encontrou sentado numa das alcovas de um corredor abandonado.

— Por que estou sentado aqui sozinho?

— Porque vem preferindo estar sozinho na maioria dos dias.

— Um homem tem direito a ser taciturno uma vez ou outra. Ajuda a compor nosso mistério e encanto. — Ele piscou lentamente e deu um sorriso de lado.

— Está preocupado com algo? — A brincadeira não desviou a atenção de Dorea.

— Estou tentando escrever para a matéria do jornal. Já tenho vários rascunhos, mas ainda não está perfeito. — Ele queria que ficasse perfeito. Sabia que tinha que ficar. — E não consigo pensar quando metade do Castelo está preocupado com os exames finais e a outra metade com o campeonato de quadribol.

— Pollux... — Dorea mordeu o canto da boca. — Como você vai escrever algo perfeito sobre se casar por amor, se você não ama a Irma?

— Como você sabe que eu não a amo?

A pergunta a pegou de surpresa, ele percebeu, e gostou de ver a expressão no rosto dela. Às vezes era irritante como Dorea simplesmente presumia como ele estava se sentindo. Na maioria das vezes ela acertava, mas não deixava de ser irritante.

— Você a ama?

A pergunta o fez pensar instantaneamente em Mathis e isso deveria bastar para responder a questão. O pensamento o fez ri. Ele não podia amar Mathis e não podia amar Irma. Que destino infeliz tinha sido traçado para ele.

Ele pensou nas outras pessoas que amava.

Ele amava Dorea e quando parava para pensar no porquê não sabia a resposta. Era tão natural para ele como era respirar. Parecia que vinha junto com o bater do seu coração e a amaria até o segundo em que ele não pulsasse mais.

Ele amava Cassiopeia, por todas as vezes em que ela permaneceu ao seu lado o dando sorrisos que o enchiam de força e determinação, por ela ter suportado o ódio dele sem odiá-lo de volta e por tê-lo amado tanto por todos aqueles anos.

E ele amava Tom, principalmente porque Tom se permitiu ser amado por eles, permitiu que eles o chamassem de família, mesmo depois de ter sofrido sabe-se lá o que ele sofreu.

— Eu acho que a amo. — Não era o tipo de amor que Dorea se referia, mas ele não precisava explicar isso a ela. — Pela família que vamos criar, por ela ser tão rude, mas nunca cruel, por ser tão brilhante em Poções e tão ruim em Transfiguração...

Havia tantas coisas mais, o amor dela por Eliza, que só poderia se equiparar ao amor que o próprio Pollux sentia por Dorea. Por ela ser tão menos preconceituosa do que eles foram e ter muito mais problema em conviver com grifinórios do que com nascidos-trouxas. Por ela segurar a mão dele, mesmo que não houvesse ninguém olhando, às vezes só em busca de conforto e segurança.

— Acho que você poderia botar isso. Se você quer que seja perfeito, tem que ser sincero.

Dorea deitou a cabeça no ombro dele, passando através do toque gentil toda a cumplicidade do laço fraternal que existia entre eles.

— Eu acho que a amo também, por todos os motivos que você listou, mas também por ela ser tão forte. Ela será uma ótima Black, irmão.

— Sim. Eles não poderiam ter escolhido ninguém melhor... — Pensou se talvez Dorea ainda fosse capaz de sentir quando algo estava doendo nele.

 

Quando eles acordaram naquela manhã parecia ser apenas um dia comum, uma manhã perfeita de primavera. O sol brilhava muito claro e o clima tinha aquele ar fresco, que não era frio e nem quente. Seria ótimo para aqueles que teriam aula dentro do Castelo e para os que teriam que se aventurar pelos terrenos da escola.

Passada a letargia inicial a vida em Hogwarts já começava a ser sentida. Poderiam ser ouvidos os planos daqueles que queria aproveitar o céu limpo para irem treinar, ou os preocupados com as provas marcando revisões, e será que eles poderiam pegar mais livros que o permitido na biblioteca? Era para uma boa causa. Ainda tinha os alunos que não tinham nenhuma preocupação imediata e só queriam saber o que teriam para o café, almoço e jantar e talvez dar uma volta pelo Lago Negro no intervalo das aulas.

Todos eles se dirigiram até o Salão Principal onde um vozerio incessável se mantinha fielmente como todos os dias. A chegada das corujas, embora aumentasse a animação, trazia certa apaziguação, quando aqueles mais saudosos de notícias de casa ou apenas curiosos, paravam suas conversas para ver o que as aves tinham trazido naquela manhã.

Na mesa da Sonserina tudo transcorria normalmente. Dorea tinha afastado o prato para a coruja da família pousar e ela já guardava um biscoito para dar a ave antes dela retornar seu voo de volta para casa.

— Uma carta de Cassie e outra do papai. — Dorea guardou as cartas. Já fazia muitos anos que eles pararam de ler as cartas da família em público. — Oh, que lindas. Veja, Cassie me mandou luvas.

Pollux arriscou um olhar rápido antes de voltar a comer.

— Oh! — Irma arquejou fraquinho ao lado dele e na sua frente Tom o olhava com demasiada atenção.

— O que aconteceu? — Os dois liam O Profeta Diário.

— Você... Você...

— O que sua noiva deslumbrada está tentando dizer é que sua nota no jornal falando sobre seu casamento está formidável.

— Ah...

— Atenção! Atenção! — Abraxas se levantou, estendeu o jornal a frente do rosto de forma extravagante, limpou a garganta dando tossezinhas afetadas e leu com a voz alta suficiente que ressoou pelo Salão.

 

Algumas coisas não tem explicação e talvez não tenham que ter, pois a magia está também no desconhecido, naquilo que não podemos dimensionar, mesmo usando as melhores palavras.

Uma dessas coisas é o amor.

Como poderia explica-lo? Ele veio sem se apresentar, sem pedir permissão para entrar e tudo que eu conhecia e sabia ser verdade mudou, como uma luz passando por um prisma e me dando de presente cores que nunca tinha conhecido antes. É claro que qualquer pessoa pode surgir e apontar como é estranho estarmos quase entrando em uma nova década e os jovens continuarem casando tão cedo, mas para estes eu digo: a resposta é sempre o amor.

Talvez não possa encontrar as palavras para explicar porque as pessoas escolhem se casar tão jovens, então vou tentar responder porque escolhi Irma Crabbe.

Eu poderia dizer que a conheço há anos e que a vi crescer diante dos meus olhos. Que vi aquela garotinha silenciosa, extremamente educada e delicada crescer para se tornar uma pessoa decidida e forte e que nunca se curva, tão talentosa quanto é brilhante, tão corajosa quanto é astuta e tão inteligente quanto é leal.

Eu a vi rir, sorrir e gargalhar e foi um som lindo e foi impossível não querer ouvi-lo mais vezes. O sorriso dela é capaz de descongelar montanhas e fazer florescer. Ela é linda como são lindas as estrelas e a lua.

E talvez a verdade seja esta. Quanto mais conheço você, mais acho que estou apenas me lembrando de quem você é. Como se eu já conhecesse cada um de seus sorrisos, os seus suspiros, aquela coisa que você faz com os olhos. Cada vez que olho para você é como se já te conhecesse completamente, o que me faz chegar em um único desfecho: eu te amava antes. Em um outro mundo, com um punhado de estrelas diferentes, talvez estrelas que nós mesmo fizemos. Eu te amei em um outro tempo, em outra existência e meu único destino é continuar te amando nesse.

Pollux C. Black

 

 — Eu não sabia que você era tão romântico. — Tom disse, com um sorriso muito suspeito.

Pollux tinha uma resposta perfeitamente pertinente para tirar aquele sorrisinho debochado do rosto de Tom, mas um bater de asas forte chamou a atenção dele e de todo o Salão.

Não era uma coruja, sequer uma ave comum. Era uma coisa monstruosa, uma dessas criaturas que estavam descritas no livro de Newt Scamander e ela era majestosa. Ela pousou bem ao lado da mesa da Grifinória e olhou para um punhado de alunos como se esperassem que eles curvassem a cabeça diante da sua presença real.

A essa altura ninguém ousava falar qualquer coisa, nem mesmo o professor Dippet, que parecia, como os demais, aguardar a próxima ação da harpia.

A ave devia ter quase noventa centímetros de comprimento, um bico reforçado com aço que poderia arrancar o olho de alguém e patas vermelhas, também reforçadas com aço. Pollux nunca tinha visto uma harpia de perto e provavelmente ninguém naquele salão, mas ele sabia de onde aquela vinha, assim como qualquer um que tivesse acompanhado as notícias da guerra de Grindelwald.

Nenhuma outra ave tinha tanto reforço bélico quando aquelas pertencentes ao MACUSA e as patas vermelhas só significavam uma coisa. Aquela ave, a harpia que entendia a pata e olhava com toda sua atenção para Harry Hunter, tinha sido enviada diretamente do alto comando dos aurores.

— Isso com certeza vai tirar a atenção das pessoas da sua declaração de amor. — Tom disse.

Alguém poderia ter percebido como a voz dele tremeu no fim?


Notas Finais


Próximo capítulo vai ter um monte de Harry e Tom, vou tentar não demorar um mês todinho pra atualizar
xoxo


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