1. Spirit Fanfics >
  2. Come to the past >
  3. A vida, às vezes, parece um pesadelo

História Come to the past - A vida, às vezes, parece um pesadelo


Escrita por: LunaSelene

Notas do Autor


Sem desculpas dessa vez, embora eu pudesse dar umas 3 rsrsrs

Espero que vcs gostem o/

Capítulo 68 - A vida, às vezes, parece um pesadelo


“O que acontecerá àqueles que se intitulam, ou assim corre o boato, Comensais da Morte?”

- Enigma do Príncipe

 

How much can you change and get away with it, before you turn into someone else, before it's some kind of murder?

O quanto você pode mudar e continuar você mesmo, antes de se transformar em outra pessoa, antes que isso seja algum tipo de assassinato?

 

— Harry? Harry, você me ouviu?

Ele não ouviu, mas assentiu mesmo assim. Ele olhou para os outros para tentar pegar alguma pista do assunto, mas ao fazê-lo pensou que talvez ninguém estivesse a ouvindo de verdade e que assim como ele, ninguém queria estar ali.

Fazia sol e Prudence tinha os arrastado para o lado de fora depois de arrancá-los da enfermaria. Todos estavam esmorecidos e a intenção dela era… Harry não sabia o que ela estava pretendendo realmente. Fazê-los se sentirem melhor? Não apostaria muito que aquilo estava dando certo.

Havia algo estranho no dormitório do sétimo ano e Harry queria incendiar e apaziguar aquilo em iguais medidas. O que adiantaria dizer a eles que os balaços foram enfeitiçados e que aquilo provavelmente foi uma tentativa de assassinato? Uma marcha barulhenta até as masmorras? Exigências de punição? Não havia provas e os culpados eram ricos, de famílias influentes, com os pais ocupando cargos no ministério e no conselho da escola.

Todos pareciam acreditar que Charlus ia melhorar, eles sorriam e faziam graça e agiam como se não estivessem com medo, mas então tinha momentos como aquele, quando eram forçados a normalidade, ao banal, e alguma coisa pesava e eles tentavam continuar sorrindo, com brincadeiras e barulho, mas Harry sentia que lá no fundo talvez houvesse uma vozinha na mentes deles que estava dizendo que aquilo não foi causado por balaços velhos.

Harry sorriu da imitação que Prudence estava fazendo atraindo a atenção de Bill e Andrew.

— Você fez igualzinho.

Os outros riram também com segundos de atraso, como se tivessem demorado a perceber que era o momento de sorrir.

Harry os queria assim, com seus olhos voltados para outra pessoa, com sorrisos altos abafando os ruídos, assim ele poderia se mover pelos cantos e seus olhos podiam se distanciar do grupo e focar em quem era importante.

Prudence tinha dado meia dúzia de razões para levá-los aos jardins e nenhuma delas interessou a Harry, mesmo assim se deixou ser levado. Seu plano era sentar com eles por cinco minutos e então sair de lá, mas assim que chegaram ele a avistou. Topaz Dolohov.

Ela era a filha mais nova daquela linhagem, com dois irmãos mais velhos e já fora de Hogwarts. Tinha a pele morena, com olhos no tom de caramelo queimado, os cabelos castanhos  e cacheados tinham mechas finas em um tom mais claro. Não era algo comum entre os bruxos, até onde Harry tinha visto. Todas as vezes que a viu, Topaz estava com um cordão ao redor do pescoço usando um pingente de topázio amarelo, a jóia que lhe deu seu nome. Observando-a por todos aqueles dias ela quase parecia inofensiva, mas havia algo de cruel no sorriso dela e um veneno em sua voz.

Harry não precisava ir até Tom e pedir a lista de seus comensais. Não… Ele lembrava. Ele quase podia ouvir a voz de Dumbledore sussurrando em seu ouvido Nott, Rosier, Mulciber, Dolohov… Havia outros, é claro. Nomes que Dumbledore ignorou ou não estavam no Cabeça de Javali naquela noite em que Tom foi pedir emprego para o diretor. Nomes como Malfoy, Avery, Mcnair. 

Topaz estava deitada em cima de uma manta, com os olhos fechados e os braços estendidos acima da cabeça, como um gatinho preguiçoso. Nott e Mulciber tinham aula naquele horário, Trato das Criaturas Mágicas, Malfoy estava com horário livre, provavelmente escondido no Salão Comunal, assim como Avery. Não havia nenhum aluno da família Rosier ali e pelo que sondou, o último tinha se formado três anos antes.

Era uma pena que não pudesse abrir o Mapa do Maroto naquele instante. Ele precisava estudar os movimentos de todos eles, descobrir seus caminhos preferidos para ir às aulas, biblioteca, estufas ou jardins, as escadas preferidas, quem sempre se atrasava para o jantar, e quem se adiantava para o café.

Ainda não tinha conseguido alcançar nenhum deles, mas já começava a imaginar tudo que faria.

 

— Não vamos ter essa conversa pela terceira noite, Srta. Black. — Madame Lincoln estava prestes a expulsá-los usando magia. — A senhorita tem deveres, tem que comer e pela Mãe, tem que dormir na sua própria cama.

— Que diferença faz onde eu durmo? — Dorea cruzou os braços.

— Eu vou deixá-los dizerem boa noite ao Sr. Potter. — E se dirigindo a Harry ela continuou. — E quando voltar espero encontrar esse lugar vazio.

Dorea ia rebater ou amaldiçoá-la, o que fosse, ia bani-los para sempre da enfermaria, então Harry a puxou pela mão para longe de Madame Lincoln e para perto de Charlus.

— Nós temos que ir, mas voltamos amanhã cedinho.

Deixar Charlus parecia doloroso demais para Dorea e Harry não queria ver aquilo. Ele não queria ouvir Dorea dizer boa noite como se acreditasse que ao chegar lá no dia seguinte eles apenas fossem descobrir que Charlus não resistiu.

Não!

Ele estava bem. Estava melhorando. Se curando.

— Fleamont escreveu. — Ela fungou. — Esqueci de falar antes, desculpa. Ele e Mia vão vir amanhã ver você. Não seria maravilhoso se você acordasse para ver seu irmão? Mia ficaria tão feliz que tenho certeza que conseguiríamos convencê-los a nos dar uma viagem de presente depois da escola. Pense nisso, querido.

 

— Charlus não vai acordar amanhã. — Harry disse quando eles já estavam fora da enfermaria. Dorea parou de repente, os olhos arregalados, vermelhos e tristes. — Você imagina como Fleamont ficaria insuportável se Charlus acordasse justo quando ele viesse visitar? Ele jamais permitiria isso.

Dorea sorriu. Foi como um sopro molhado e durou apenas um segundo.

Harry estava olhando para Dorea, ele via as olheiras, a palidez e como o sorriso dela foi sumindo, até virar novamente aquela máscara de tristeza. E o mais triste é que Harry estava bem ali olhando para Dorea, mas sem de fato vê-la. Porque a verdade é que Harry não estava realmente ao lado dela.

Se estivesse perceberia o quão infeliz ela estava e tentaria puxá-la daquela tristeza, ele diria coisas reconfortantes e a convenceria que Charlus estava melhorando e acordaria em breve. Harry via a tristeza dela, é claro, qualquer um veria, mas ele não estava vendo Dorea de verdade, assim como ele não via Irma, Archie e os outros.

Naquele momento ele pensava que Mulciber, Avery e Dolohov poderiam estar em uma sala ali perto confabulando. Eles se encontraram todas as outras noites e por duas vezes Malfoy apareceu, embora não tenha demorado. Em uma delas saiu com Avery, os outros os seguiram logo depois.

Dorea, por sua vez, pensava em Charlus deitado sozinho. E se ele acordasse no meio da noite sem saber o que aconteceu? E se o coração dele simplesmente parasse de bater e não tivesse ninguém lá para notar? E se… Ela olhou para Harry querendo perguntar a ele como se sobrevive aquele tipo de dor. Como se fazia para ultrapassar aquele tormento e o medo e acordar, viver e fazer coisas comuns e cotidianas. Como poderia voltar a sorrir e não se sentir completamente miserável. Ela queria perguntar se era assim que Harry se sentia todos os dias de sua vida.

Mas ele parecia sereno e distante, como se não estivesse ali de fato e ela sentia que ele não estava. Era como se Harry tivesse congelado o rosto naquela expressão tranquila enquanto sua mente se afastava e ele ia embora.

Eles chegaram à entrada do Salão Comunal da Sonserina e Harry puxou Dorea para um abraço de despedida e quando ela se afastou quase fez todas aquelas perguntas, mas Harry parecia muito distante e se ela não estivesse completamente exausta não o deixaria ir embora. Não o deixaria se afastar enquanto os olhos dele não parecessem vivos de novo e reais e ali.

— Tente dormir. — Ele disse.

— Eu vou. — Ela respondeu, embora soubesse que não conseguiria. — Você também.

Harry também não estava conseguindo dormir, mas no lugar de falar qualquer coisa nesse sentido, ele apenas assentiu e se afastou, voltando todo o caminho até seu próprio Salão Comunal.

: :

Harry…

Ele despertou de repente e olhou ao redor, já sentado na cama, com a varinha que ele deixava embaixo do travesseiro na mão. Buscava pela pessoa que tinha chamado aquele nome, o seu nome, e encontrou apenas a escuridão.

A escuridão era densa e parecia prendê-lo, e como já tinha acontecido antes, durante aqueles primeiros segundos, às vezes minutos, Harry estava de volta a um armário embaixo da escada ou numa masmorra gélida, num calabouço assustador, numa floresta cheia de inimigos ou no fundo de um lago. Ele fechava os olhos, dando a si mesmo algum resquício de controle, porque quando os olhos estavam fechados era ele que controlava a escuridão e ela não tinha poder nenhum.

Nas noites como aquela, ele respirava fundo e deixava que os sons do ambiente nublassem seu medo, ele ficava assim até ser envolvido pelo leve assobio causado pelo vento ao atravessar a janela entreaberta, um ressonar baixinho que vinha a sua esquerda ou direita. Abria os olhos, enfim e antes que fosse tomado pelo pânico novamente, deixava sua visão se acostumar com a escuridão, até que alguns contornos tomavam forma e ele conseguia definir onde estava.

Estou em casa, foi o primeiro pensamento coerente que ele teve. Estou em Hogwarts.

Isso deveria ser acalentador. Estar em Hogwarts, mesmo depois de tudo que havia acontecido lá, sempre o fez se sentir em segurança. Não importava os perigos, o medo que ele sentia, os monstros escondidos atrás das paredes, ele não estava sozinho ali, era onde ele era mais forte. Seu verdadeiro lar.

Agora Harry acordava no meio da noite com o coração assustado e não conseguia fazê-lo parar de bater daquela forma agoniada e sofrida.

Estou em casa, ele pensava e pensava e às vezes falava em voz alta, como se precisasse ouvir aquela afirmação. 

Uma voz muito distante, vinda de uma memória ainda mais longínqua, atrapalhava seus próprios pensamentos. Era um progresso que ele a percebesse, que ele se lembrasse de Hermione falar sobre gatilhos e como algumas coisas podiam trazer de volta as perdas, os traumas, os pesadelos e a insônia.

Durma, Harry. Ele ouvia Hermione dizer.

Em sua cabeça ele conseguia imaginar ela dizendo coisas como: procure ajuda ou fale com alguém sobre o que você está sentindo. Diga a eles o que o ataque ao Charlus está lhe causando.

Mas Harry sempre foi bem ruim de escutar a Hermione real quando ela estava bem ali falando na cara dele, era ainda mais fácil ignorar aquele espectro que vivia apenas em sua mente.

Peça ajuda!

Mas ele não sabia como. Nunca soube.

Então ele estava parado ouvindo os pequenos sons que quebravam o silêncio do quarto e que o traziam de volta à realidade, o tirando de onde quer que ele estivesse antes.

Os sonhos – ele não conseguia chamá-los de pesadelos – estavam diferentes. Ele não tinha lhes dado atenção antes, porque não havia nada neles que fosse extraordinário ou completamente medonho. Eram estranhos, mas no começo Harry os tinha preferido aos pesadelos reais.

Agora não mais.

Era diferente com aqueles sonhos vindo todas as noites.

Eles não eram exatamente físicos como os sonhos podiam ser, com cores e formas e texturas. Era só um grande vazio ou assim parecia para Harry quando ele acordava. Raramente lembrava quem o chamava, nunca via um rosto ou lembrava o lugar em que estivera. Tinha apenas uma voz, nunca parecia a mesma e sempre chamando por ele. Apenas seu nome. Apenas Harry.

Ele sorria amargamente quando pensava nisso, porque nunca tinha tido a chance de ser apenas Harry. Não com os Dursley, que nunca o chamavam assim. Com certeza não no mundo mágico que tanto gostava de lhe dar títulos.

O Menino que sobreviveu.

O Eleito.

Indesejável nº1.

Que ele sonhasse agora com alguém simplesmente o chamando pelo seu nome mais comum parecia ser uma chacota.

: :

Harry pensou que ao acordar no dia seguinte aquele terrível treino de quadribol algo estaria diferente, mas a verdade cruel é que a vida em Hogwarts não iria parar apenas porque Charlus ainda estava desacordado na Enfermaria.

Era Hogwarts, afinal, havia sempre algum aluno na enfermaria precisando ser consertado. Então, quando Harry saia do dormitório tudo parecia igual. Alunos transitando livremente, apreensivos, sorridentes, impacientes, preocupados, animados. Eles saiam de seus dormitórios e sentavam nas poltronas, sofá e pufes, desciam para as aulas, para o Salão Principal, para os jardins, comiam, faziam os deveres e estudavam para as provas que viriam.

Charlus estava desacordado e nada havia mudado.

Os Potter apareceram, é claro. Henry e Anne caminhando atrás do diretor com impaciência, como se não precisassem de um guia e pudessem atravessar o caminho correndo.

Anne, tão forte quanto era, se manteve firme ao passar os dedos pelo cabelo castanho do filho, ao olhar para a atadura na cabeça dele e falar com Harry com sua voz doce e suave, com olhos singelos e sem lágrimas, segurando-lhe o rosto ao agradecê-lo.

"O diretor Dippet nos contou o que aconteceu. Ele disse que você os tirou lá de cima em segurança. Ah, Harry. Meu precioso e querido, Harry.”

Henry estava logo atrás dela olhando para ele como se também quisesse segurá-lo.

Não consegui salvar Charlus, pensou.

Havia momentos, principalmente a noite quando ele acordava para encarar a escuridão do quarto, nas manhãs estranhamente silenciosas e vazias – tão vazias quanto a cama no dormitório do sétimo ano – ele pensava a mesma coisa que tinha pensado quando viu os Potter: Não consegui salvar Charlus.

Às vezes a mente dele o traia e o fazia pensar em algo terrível. Era cruel e ele se sentia perverso, ainda assim ele tinha pensado aquilo tantas vezes que era difícil ignorar o quão sincero era aquele pensamento. 

Charlus Potter era a junção de todas as coisas boas que havia no mundo. Ele não era cruel, a raiva que ele sentia era frívola e nunca permanecia nele. As regras pelas quais vivia eram justas, ele nunca era trapaceiro ou desleal. Era gentil, do tipo especial cheio de bondade que se importava com todos, mesmo se não os conhecesse e não fossem amigos. E Charlus, gentil, bondoso e amável, não se importava que os outros soubessem disso, não achava que ser assim em um mundo em guerra, repleto de preconceito e hostilidade era uma franqueza.

Alguém tentou matá-lo e ao redor deles tudo parecia igual.

Não consegui salvar Charlus, Harry pensava. Não consegui salvar a única pessoa que importava.

Era pior quando ele acordava no meio da noite rodeado por aquelas pessoas que ele se ressentia de salvar à custa da segurança de Charlus. E Harry não queria pensar aquelas coisas, não queria sentir raiva ou como a magia que impregnava seu corpo parecia se agitar, como se buscasse uma forma de sair, como se quisesse que ele a usasse naquele momento.

Harry pegava o Mapa do Maroto, então. Eu juro solenemente não fazer nada de bom. Os olhos deles partiam imediatamente para o mesmo ponto, as masmorras, o Salão Comunal da Sonserina. Ele via os diversos nomes empilhados, seguia até onde sabia que era o dormitório do sétimo ano e odiava vê-los lá, com os nomes parados, que poderia indicar que estavam dormindo, enquanto Harry era incapaz de fazê-lo.

Ele criou o hábito de ficar trançando o nome de Tom com a ponta dos dedos, quase como se quisesse que ele o sentisse muitos andares abaixo. Por quatro vezes ele fez aquilo e em três noites Tom estava acordado. Uma vez sozinho, uma vez com Pollux, uma vez com Abraxas, embora Harry evitasse pensar demais naquilo ou no seu significado.

Ele sentia o fantasma das mãos de Tom em seu rosto,  lembrava-se dos olhos azuis cheios de receio e de uma sala cheia de silêncio, da solidão que se seguiu e da raiva preenchendo o vazio.

Malfeito feito.

 

Existe algo absolutamente triste que acomete crianças especialmente solitárias e que crescem em desamparo. Não se trata de uma ciência exata, é claro, mas quando se observa um número elevado delas pode-se perceber um padrão.

A solidão é um universo peculiar e assustador, mas sendo um lugar tão silencioso e tranquilo, quando acostumado parece estranho viver fora dele. Solidão é um estado de permanência e indiferente de se estar acompanhado de pessoas ou não. Tom sempre teve seu séquito, seus seguidores, o acompanhando e seguindo suas instruções, ainda assim sempre se sentiu solitário, porque acreditava que no fim não tinha ninguém além de si mesmo.

Mas para Tom era uma questão de confiança, de não poder se abrir para ninguém mais e estar tão preso dentro de si mesmo que criou sua própria bolha. Harry entrou naquela bolha e os gêmeos e Tom se amaldiçoaria por sequer pensar nisso, mas Irma e Charlus e os Gregori-Voorhis. Aquela bolha pequena e fantástica estava ficando pequena demais.

Alguns anos atrás, ele teria matado Harry para se livrar do problema que ele representava, teria usado os Voorhis por prestígio e dinheiro e os gêmeos por influência.

O problema é que se você acredita que está sozinho por muito tempo, então você não aprende a pedir ajuda, porque intrinsecamente, de uma forma quase inerente, sabe que nenhuma ajuda virá. Em alguns casos isso deixa de ser real em algum momento, mas seu cérebro não sabe disso, seu coração não sabe e as palavras não conseguem se formar na ordem correta e é assim que seu pequeno mundo foi se formando. Você é um bebê e você cai e então se levanta sozinho, porque depois de tantos tombos você percebe que é isso ou ficar no chão. Você se machuca e se machuca de novo, até aprender como colocar o curativo usando apenas uma mão. Você tem pesadelos e acorda com medo e aprende a lidar com o medo e chorar em silêncio e esperar até o sol nascer.

Você aprende e você vive e sobrevive.

 

Passam-se cinco dias. Os pesadelos aparecem todas as noites – sonhos, Harry não os chama de pesadelos mais. Eles vêm, alguém o chama, ele acorda e não consegue dormir. Pensa em levantar e ir ao Salão Comunal, a Biblioteca ou a Torre de Astronomia, mas o estômago está se revirando, às vezes por fome, às vezes por algo diferente.

A cama de Charlus é como uma sombra encobrindo todo o resto e tudo que Harry consegue ver é aquele grande vazio e o silêncio que se segue. 

Harry fecha os olhos e tenta fazer seu coração parar de doer.

Cinco dias se passam e Harry… 

Harry parece ótimo.

Ninguém percebe e ninguém pergunta e ele é o grande herói, é incrível e talentoso e uma pena que ele não tenha chegado a Hogwarts antes, porque com certeza a Grifinória teria conseguido manter o padrão que a Sonserina alcançou desde que Tom começou a estudar lá.

Harry não sabe buscar ajuda e ninguém percebe o quanto ele está precisando.

Ainda não.

 

A rotina se manteve como todos os dias, ele tinha subido e descido escadas, tinha ido ao Salão Principal e comido, não foi dispensado das aulas, então ele as assistiu. Ele respondia as perguntas que lhe faziam para esquecê-las minutos depois. Harry respirava e respirava, sentindo os pulmões se encherem apenas para esvaziá-los em seguida.

Às vezes ele se imaginava indo até Prudence ou Bill e falando tudo que sabia e tudo que queria fazer. Às vezes ele se imaginava indo até Avery ou Mulciber e apertando seus pescoços até ver os olhos deles se apagando e se tornando vazios.

Aquilo ainda era apenas uma fantasia. Não ia matá-los.

É claro que não.

Ele não era realmente um assassino, era?

Embora… misture uma dose de privação de sono com punhados de traumas, pitadas de perdas e algumas gotas de medo e como resultado você ganha um desastre na forma de um ser humano. Mas Harry não sabia disso naquele primeiro momento.

Não seja como eles, aquela voz sussurrava dentro da cabeça de Harry.

Mas a cada dia que passava e ele não fazia nada mais difícil era ouvi-la. Ele não tinha percebido ainda o quanto tudo era silencioso quando Charlus não estava por perto e aquele silêncio estava o consumindo. O vazio no quarto, na mesa do Salão Principal, nas salas, parecia um grande buraco o sugando e ele não tinha força para se segurar mais.

 

— Espero que todos tenham trazido um livro que lhes é especial.

As aulas de adivinhação eram uma espécie de tortura. Harry achava a professora Maeve desconcertante e tinha medo dela, e ele ainda tinha que passar duas horas na mesma mesa que Abraxas e agora não tinha a companhia reconfortante de Charlus. Dorea estava lá, com suas olheiras e seu cabelo em uma trança mal-feita e numa bolha de silêncio cheia de tristeza.

— Bibliomancia é, como todos devem saber, já que o dever da última aula foi ler esse capítulo, a arte da adivinhação através de livros. Essa arte requer muita interpretação e por isso foi abandonada pela maioria dos videntes. — Ela sorriu graciosamente. — Acreditem, alguns de nós já cometeram erros terríveis com interpretações equivocadas.

Eram nesses momentos que Harry sentia sua mente esvaindo. Ele via Dorea na sua frente sem realmente vê-la, o lugar ao lado dele vazio, Malfoy na frente incapaz de olhá-lo nos olhos, Tom na mesa ao lado e ainda assim distante.

Era quando sua mente fazia aquele jogo doentio e imaginativo. Ele já tinha pensado em uma dúzia de terríveis coisas que faria com os sonserinos. Os imaginava gritando de dor e sem ninguém para ouvi-los. Pegando um por um até chegar a quem deu a ordem final. Eles se manteriam leais uns aos outros quando Harry começasse a torturá-los? Ele quase torcia para que sim, apenas para manter a dor por mais tempo.

Em seus devaneios ele nomeava todos os feitiços que podia usar, todos os lugares que poderia ferir para não levantar suspeitas. Claro que os feitiços mentais seriam os mais apropriados e ele já sabia todos que usaria.

— Sua vez, Sr. Gaunt. — A presença de Maeve quase ao lado de Harry o fez despertar. — Faça uma pergunta importante.

— Quando vou me tornar chefe do Departamento de Mistérios?

Alguns alunos deram risadinhas.

Era apenas mais uma aula em um dia normal.

Harry sufocou a dor que aquilo lhe causou. Concentre-se. Parecia que fazia séculos que não ouvia aquela voz e era como se estivesse a ouvindo pela primeira vez. Ela sempre foi firme e melodiosa, com uma entonação completamente encantadora? Tom tinha um sorriso de lado e colocava toda sua atenção em Prudence, como se ela fosse uma vidente de verdade pronta para abrir o seu futuro bem ali.

Era por isso que todos o adoravam, não é? Tom os olhava e de repente era como se não tivesse ninguém mais especial no universo. Ao mesmo tempo em que a pobre criatura se sentia especial, fazia com que ela desejasse conquistar mais reconhecimento, que aqueles lindos olhos azuis olhassem para ela mais uma vez com aquele brilho de orgulho e aprovação.

— Hã… Eu só abro o livro em uma página qualquer? — Prudence perguntou.

— Materialize a pergunta do Sr. Gaunt, a deixe penetrar na sua mente e então abra o livro e que a magia faça sua parte.

— Hã… Er… — Prudence olhava de Tom para a professora Maeve e de volta para o livro que tinha escolhido. — Eu não tenho certeza… Quer dizer… Foi a primeira frase que eu vi quando olhei, mas…

— Apenas fale, querida.

— Er… Algumas pessoas só percebem o que elas têm quando as perdem. Não responde a pergunta…

— Não responde a pergunta que ele fez, mas responde alguma pergunta, não é mesmo, Tom?

E foi inevitável. Tom olhou para Harry diretamente, algo que não vinha fazendo desde aquele dia na sala de duelos. Ele o olhou e demorou vários segundos incômodos, segundos esses que fez todos perceberem que talvez algo tivesse acontecido.

Um assobio zombeteiro saiu da mesa atrás de Harry, mas ele estava muito concentrado em Tom para perceber isso.

— Sua vez, Sr. Hunter. — Maeve se virou para Harry com um sorriso constrangido.

— Não me leve a mal, professora, mas eu prefiro pular pela janela.

: :

Ele caminhava por um corredor escuro, o tipo de escuridão que devia paralisá-lo, mas naquele momento ele sabia que tinha que continuar andando sem importar se não conseguia ver para onde estava indo. Aquela voz, a voz de… ele sabia de quem era, tinha certeza que já a tinha ouvido antes e bastava ele continuar a andar e finalmente encontraria a pessoa que tanto o chamava.

Tinha essa sensação, mais como uma certeza, que se encontrasse a voz, se encontrasse a pessoa que o estava chamando com tanta determinação, então tudo ficaria bem. Se ele encontrasse a voz estaria em casa.

Ele andou e depois correu, caiu e se levantou e correu novamente. Nada bastou. Ele nunca chegou perto de alcançar a voz, era inútil, mas ele nunca parou de correr. Nunca. Até que abriu os olhos e encontrou a mesma escuridão de antes. Ele ainda estava naquele corredor? Não… Ele estava deitado num lugar macio, coberto por uma manta suave…

Estou em Hogwarts.

Estou em Hogwarts.

 

— Mas isso não é um feitiço das trevas?

— Se você estiver perto de um dementador e se ver incapaz de produzir um patrono, sugiro que use qualquer feitiço a disposição, mesmo que o próprio Grindelwald o tenha criado. — Harry respondeu irritado.

— Você não está falando sério. — Archie se intrometeu. Ele olhava para Harry com as sobrancelhas franzidas e o rosto todo retorcido.

Crianças ingênuas, pensou Harry com amargura. Ele já tinha sido assim antes, uma criança estúpida, incapaz de derrubar um inimigo da vassoura, porque isso significaria a morte dele, incapaz de usar feitiços mortais mesmo que sua vida estivesse em risco.

— É improvável que qualquer um de vocês cruze com um dementador, exceto aqueles que seguirem carreira com os aurores e os examinadores não devem exigir um patrono corpóreo, porque é nível de defesa muito acima do que aprendemos aqui.

— Mas… — Miles Oliver começou a falar, era um lufano, tinha aparecido ali com Logan. Harry não sabia nada sobre ele além de qual casa pertencia, mas ali com a varinha segura na mão de forma frouxa, com a gravata folgada ele parecia demasiadamente jovem. Jovem demais. Inocente demais. — Deveríamos aprender a nos defender e não só para conseguirmos passar em um teste, não é?

Harry lembrou da AD, de crianças e adolescentes aprendendo feitiços complexos demais para suas idades, porque a guerra estava se aproximando e eles tinham que lutar por suas vidas e pelas pessoas que amavam. Lembrou-se dos corpos enfileirados no Salão Principal. Lembrou-se de uma grama verde cheia de sangue.

Jovem demais…

— Harry?

Harry…

— Vamos passar para o próximo feitiço.

 

Frio.

Era como se ele estivesse mergulhando em um lago em pleno inverno e não importava quantos casacos e suéteres ele usasse, parecia ser impossível se aquecer, mas pior que o frio era a sensação de que estava enlouquecendo, porque aquilo não podia ser real. Eles estavam no meio da Primavera, o sol aparecia todos os dias, brilhante, quente, belo e ainda assim ele sentia letargia, as mãos dormentes e tremendo, o cansaço que o fazia querer fechar os olhos, a forma como o coração parecia se esforçar mais para continuar batendo.

Não é real, ele repetia para si mesmo, mas era impossível se convencer. Como poderia se seu próprio corpo o estava traindo com todas aquelas sensações muito físicas e reais? Mas como poderia ir a enfermaria dizer aquilo sem parecer que estava enlouquecendo?

Estou morrendo.

Estou congelando de dentro para fora.

E assim, sem querer, Harry achou a resposta. Ele não estava enlouquecendo, seu corpo não estava querendo matá-lo. Ninguém mais estava sentindo aquilo, porque o frio não estava lá fora, estava dentro dele, nascendo em algum ponto entre suas costelas, com estacas de gelo chegando perto demais do seu coração.

Mas o gelo não era nada comparado ao fogo.

Harry ia explodir. Simples assim. Como uma bomba e a única coisa que o impedia era saber que se de fato explodisse ele levaria consigo todas aquelas pessoas inocentes.

Era estranho que depois de tudo que ele havia vivido ainda houvesse sentimentos que ele não conseguisse entender. Charlus estava vivo, estava se recuperando e todos acreditavam que muito em breve ele acordaria. Por que aquilo estava o consumindo então? Por que ele não podia ser como Bill e os outros, preocupados e esperançosos vivendo suas vidas esperando pelo momento que Charlus acordaria? Por que ele tinha que estar preso naquele momento, revivendo todas as suas dores e perdas e sentindo aquilo?

Harry queria a paz de volta, as tardes nos jardins e os risos leves e despreocupados, mas se ficasse parado por muito tempo ele poderia ouvir o gelo crescendo, ele podia sentir os cristais de gelo se estendendo para além dele dando a tudo uma cor cinza, fazendo as plantas murcharem e morrerem e se ele permitisse atingiria outras pessoas, iria congelá-las e por fim matá-las.

O frio fazia com que se mover fosse muito difícil e às vezes até mesmo o ato de pegar a varinha era penoso. Naqueles pequenos momentos parecia para Harry como se ele nunca mais fosse conseguir se mexer, mas no segundo seguinte que ele se movia e o gelo ao seu redor quebrava. Ele andava e falava e ouvia, ia para as aulas e fingia que tudo estava normal, porque a vida em Hogwarts não tinha parado.

Às vezes o calor parecia irradiar e era uma surpresa que mais ninguém sentisse o quão quente ele estava. Aquela coisa queimando dentro dele estalava e ele tinha que cerrar o punho antes que perdesse o controle sobre as chamas. Ele olhava para o próprio peito como se esperasse ver as labaredas saindo. Ele sentia como um ferimento e a dor era tamanha que ele não sabia o que fazer com aquilo que morria dentro de si. Ele tinha sentido aquela dor uma vez e a tinha ultrapassado com gritos e quebrando tudo ao redor, usando a raiva para nublar qualquer outro sentimento, mas ali tudo que tinha lhe restado era uma fúria controlada e duradoura. Sem gritos e nenhum barulho, o silêncio parecia um veneno que ia subindo por suas veias e chegando ao seu coração.

Talvez essa fosse a diferença entre todos os momentos terríveis que ele tinha vivido. Não só dormência, não só explosão.

Em todos esses instantes, no frio e no fogo, quando ele tinha que lançar forças sobre si mesmo para não deixar aquelas sensações vencerem, ele se pegava preso ao mesmo momento. Eram segundos apenas. Um instante no tempo. Ele lá no céu vendo o balaço sendo destruído e então Charlus sendo arrancado da vassoura pelo que tinha sido esquecido.

Um segundo de triunfo, foi tudo o que sobrou para Harry e então…

— Encontrei você.

Tom.

— Tom. — Harry falou em voz alta, emergindo do que parecia um longo mergulho em águas congelantes.

Não. Não. Não.

— “Os caminhos para a animagia”. — Tom pegou o livro que ele segurava e franziu as sobrancelhas. — Algumas pessoas ficarão decepcionadas se o virem com esse livro. Elas acreditam fielmente que você se tornou um animago aos treze anos.

Harry não sabia como responder, nem o que deveria sentir.

Respire.

Ele sentia que tinha tido segundos de Tom nos últimos dias. Eles se viram nas aulas e Tom sentava ao lado dele em Poções, mas era como se os dois estivessem em duas bolhas que não se tocavam, mesmo quando Tom segurava a mão dele, ou suavemente passava os dedos por seu rosto. Sentia que nos últimos dias ele teve apenas olhares distantes, pequenos toques, rápidos olás, mas ali, naquele momento, era como se Tom tomasse para si todo o espaço, como se reivindicasse o que sabia ser seu.

— Eu não sou um animago. — Harry respondeu pegando o livro de volta. Não lembrava se precisava pegar algo mais na biblioteca. Naquele instante sentia sua mente vazia, que era o que ele queria desde o começo, mas não era aquele vazio que ele buscava. Não queria aquela sensação inquietante.

Era um dia frio e Harry só precisava ficar longe de todos até aquilo passar. Até ele não conseguir mais ver o rosto de Miles Oliver ou ouvir sua voz, até ele esquecer os corpos e o sangue e sentir que não doía mais.

Ele só tinha que esperar passar.

Seja normal.

Desistiu de tentar lembrar o que sabia estar esquecendo e foi se dirigindo até a saída da biblioteca. Tom o estava seguindo? Ele não tinha força para olhar para trás e verificar. Ele queria olhar, queria poder sorrir e… Não sabia o que tudo aquilo significava para os dois ou se os dois ainda eram alguma coisa.

A última vez que eles tinham ficado frente a frente… A última vez que tinham realmente se falado…

“Há escuridão em todo lugar e de vez em quando ela passa a morar dentro de nós. Luz e trevas lutando por um espaço. Mas às vezes… às vezes, Tom, só há trevas”, Harry dissera.

Só há trevas…

Trevas…

Seja normal.

Ele se lembrava do toque de Tom em suas mãos e braços, um toque firme como se precisasse ter certeza que Harry o estava sentindo ali. 

“Você sabe que eu nunca seria hipócrita de julgá-lo, Harry.” Tom disse. A voz dele parecia um sussurro fantasma, como se Tom estivesse buscando algo dentro de si e não soubesse exatamente onde encontrar. “Mas eu conheço você… Eu acho que conheço... e eu sei, Harry, eu sei que você não é assim”.

O que Harry era afinal? Um órfão desprezado e odiado pela única família que tinha? Um alvo para bruxos das trevas? Um mártir usado pela resistência? Um herói?

Aquilo o vinha perseguindo desde então, e Harry tentava com muito esforço não pensar sobre isso.

Eu sei que você não é assim.

Ele queria ser Harry, só Harry. Com família e amigos e pessoas para amar e um futuro. Isso foi tudo que Harry sempre desejou, mas o destino parecia sempre levá-lo para o mesmo ponto. Um lugar onde ele não poderia ser feliz ou livre e que sempre estaria a um passo de perder o que era importante. 

“Você não sabe. Você nunca poderia saber”, Harry respondeu. Tom conseguia ver como a escuridão ia se entranhando nele? Ele sentia como aquilo era doloroso? “Você nunca perdeu nada. Nunca perdeu ninguém. Nunca amou ninguém o suficiente para que a perda significasse alguma coisa. Sabe o que acontece quando alguém que você ama é tirado de você? O que isso faz com a sua alma? Tudo que sobra são buracos, Tom. E não importa… Não importa o quanto você se esforce, quantos feitiços você aprenda, quão poderoso e forte você se torne, sempre haverá alguém disposto a levar aquilo que você ama. Sempre haverá mãos para quebrá-lo. A menos… A menos que você destrua todos antes deles o destruírem primeiro. Você foi mais esperto, Tom. Você aprendeu a quebrar as mãos antes que elas o tocassem. Eu devia ter aprendido isso também, há muito tempo… Eu aprendi agora.”

Tom o soltou, como se Harry o tivesse eletrizado e não falou que o entendia ou que estava ao lado dele e quando ficou claro que ele não falaria qualquer coisa, Harry o deixou.

— Gael mandou uma carta.

Tom estava ao lado dele novamente. Harry piscou. 

— Gael mandou uma carta. — Repetiu, como se soubesse que Harry não o tinha ouvido antes.

— Ele já sabe quando vai vir? 

— Ainda sem uma data, mas em breve, mas isso não era o mais importante na carta. — Tom os fez parar. O corredor em frente a biblioteca estava vazio e a luz atravessava os vitrais tornando aquele lugar deserto estranhamente belo. —  Ele disse que teríamos notícias sobre o assunto ainda não resolvido da Páscoa.

Hagrid.

Harry não tinha esquecido ele, é claro… Ele só… esqueceu. Tantas coisas tinham acontecido. O casamento de Irma estava logo ali, a carta do MACUSA e seu destino não resolvido e agora Charlus. Ele pensou em Hagrid e em alguns momentos quase escreveu para Anthony, mas algo sempre surgia. Algum texto que ele tinha que refazer, ir treinar com Tom ou com seus colegas, estudar com Dorea. Ele confiava em Anthony e Colin, que eles fariam a coisa certa e resolveriam tudo, mas ali ele se sentiu terrível e desleal.

— Isso é bom. — Harry respondeu. Ele quase sorriu. Quase.

— Harry? — Tom o olhava, algo entre receio e suspeita. — Você parece… 

O que? 

— Ouvi que você ensinou um feitiço das trevas e disse que Grindelwald é brilhante?

— Eu… que?

Tom tinha o rosto em branco, aquela expressão neutra que não era séria, não era risonha, não era nada. Não dava para entender o que se passava em sua mente ou qual era sua intenção, lhe dava um ar de ligeiro desinteresse.

— Não deveria ensinar arte das trevas para grifinórios, mesmo para tentar salvar a vidinha medíocre deles e nem elogiar Grindelwald, mesmo ele sendo de fato brilhante.

— Mas… 

O que estava acontecendo? Aquilo era um sonho? Não… Ele se lembrava de acordar e comer torradas no Salão Principal. Prudence o tinha feito comer cinco antes dele dizer que mais uma o faria vomitar em cima dela. Ele tinha ido treinar feitiços para o teste de DCAT e fugido de lá assim que conseguiu. Ele disse que ia à Biblioteca para fugir de Bill. Ele encontrou Tom depois de cinco dias.

Tom soltou um suspiro.

— Você parece… Quantas horas você dormiu essa noite? — Tom perguntou. Ele tinha parado bem na frente de Harry e cruzado os braços. Era uma figura impressionante naquele momento. O rosto sério, os cabelos bagunçados com os cachos caindo sob a testa, os impressionantes olhos azuis brilhando a luz da tarde, o maxilar forte e decidido. — Não acho que você esteja em condições de fazer qualquer coisa relacionada a esse livro.

Livro? Ah! De animagia, é claro.

Harry assentiu e tentou voltar a andar, mas Tom continuou parado bem ali na frente dele.

— Você parece… disperso. Como se não estivesse aqui, como se estivesse sonâmbulo.

Harry riu. Não foi uma risada feliz. Na verdade, não seria surpreendente que ele começasse a chorar. Ele tinha repassado seus passos até ali para ter certeza que não era um sonho, era realmente tão óbvio o quão terrivelmente exausto ele estava? Tinha passado a maior parte daquela noite com os olhos abertos e a noite anterior e na anterior a essa.

— Você está tendo pesadelos de novo? Eles não estão te deixando dormir?

— Não estou tendo pesadelos.

— Não? — Tom se aproximou, Harry queria se recostar nele e fechar os olhos, mas esse movimento também parecia consumir muita energia.

— Não. Não são pesadelos, são… — Eu queria saber quem está me chamando e às vezes eu queria conseguir chegar até as vozes e ficar lá. — Eu só estou cansado.

E Harry estava cansado de se sentir assim.

— Vamos dormir então.

— Prudence está esperando...

Ninguém estava esperando, é claro. Harry estava fugindo de todos eles e ali ele estava tentando fugir de Tom.

— Pense em uma cama grande e confortável, um quarto na temperatura certa e eu ao seu lado. O que poderia competir com isso?

Em outro momento Harry teria rido da arrogância de Tom, os dois sabiam disso. Tom ficou esperando por um sorriso e Harry esperou pela sensação que não chegou.

 

Havia tantas coisas a serem ditas. Eles deveriam mesmo estar lá em cima como se tudo estivesse bem? Mas Harry se deixou ser levado. Ele deixou que Tom tirasse a mochila de suas costas e o casaco que vestia – não perguntou por que Harry estava usando aquilo – e se viu tirando o tênis e subindo na cama.

O frio ainda estava lá. Tão forte e tão presente que Harry quase podia sentir os cristais de gelo na ponta dos dedos, mas Tom parecia não ver qualquer diferença. Ele puxou Harry e o fez deitar a cabeça em seu peito e ficou fazendo suaves carícias no cabelo dele.

E se nada daquilo fosse real? Ele ainda poderia estar dormindo. Fazia sentido. Um sonho dentro de um sonho, ele já os teve antes e eram particularmente irritantes. Isso explicava porque Tom estava ali com ele, o tocando e fazendo carícias em seu cabelo, como se o embalasse para dormir. 

— Gael disse que encontrou casas potencialmente agradáveis e quer voltar para os Estados Unidos com uma escolha feita.

Um longo silêncio se estendeu depois disso. 

— Não deixe Gael decidir qual vai ser sua casa. Sabe-se lá o que ele escolheria. Provavelmente algo no meio do mato.

Sentiu o peito de Tom vibrando com a risada.

— Nossa casa. — Tom respondeu e beijou a cabeça de Harry.

 

Nossa casa.

Não seria perfeito se fosse real?

 

Harry acordou sem saber que horas eram e com a mente mais limpa do que esteve desde o treino de quadribol. Não tinha sido um sonho, afinal, Tom estava bem ali ao lado dele na cama lendo um livro de Runas Antigas.

— Você faria uma tatuagem de runa egípcia que alegam aumentar a inteligência?

Harry sorriu. Sua mente ainda estava enevoada pelo sono, mas aquela pergunta era cara de Tom.

— Tem qualquer possibilidade disso ser real? — Harry perguntou de volta.

— Não tantas quanto gostaria. — Tom o olhou e sorriu. — Como está se sentindo?

Como se pudesse começar uma guerra.

— Bem. Descansado. Por quantas horas eu dormi?

— Umas 14 horas, provavelmente. — Tom sorriu quando Harry deu um pulo da cama. — A história é que você estava com uma dor de cabeça estarrecedora que o impedia de descer do dormitório da Grifinória e tudo isso foi dito pelos lábios confiáveis de Bill Weasley.

— Você falou com Bill?

— Dorea falou. Eu não quis correr o risco de deixar você sozinho.

— Tom, você não é visto há 14 horas?

Ele deu de ombros.

— Pollux está controlando as massas. — Ele pegou os óculos de Harry e com cuidado colocou no rosto dele. — Daqui algumas horas será o café e Madame Lincoln ficará muito feliz em saber que a poção que ela forneceu o deixou disposto tão rápido.

 

Eles deixaram a Sala Precisa antes que o sol nascesse e cada um tomou a direção de sua casa. Harry entrou no dormitório da Grifinória com todos os seus ocupantes ainda dormindo, ele esperou por quase um minuto para ver se alguém tinha notado sua presença, mas todos continuavam em sono profundo. Aquilo deixou uma sensação pesada no estômago dele, porque Charlus teria acordado e sorriria para Harry sabendo com quem ele esteve até àquela hora.

Não restava nada para Harry além de fechar os olhos e tentar dispersar aquele sentimento.

 

Tom não voltou a deixá-lo, afastando os rumores de que eles estavam brigados ou pior. Ninguém percebeu a sutil diferença entre os dois, a leve distância imposta por ambos, os silêncios e olhares cheios de algo que não era realmente afeto.

Tudo parecia ainda mais normal e isso apenas piorava aquela dor que Harry estava sentindo. Tom estava de volta e ele parecia tentar preencher o espaço, mas aquele lugar não lhe cabia. Eles não conversavam sobre Charlus, mesmo quando Tom aparecia na enfermaria e ficava lá por horas ao lado de Harry ou Dorea.

Eles vão à biblioteca, como antes, e estudam juntos e passam um longo tempo na Sala Precisa, onde Harry pode finalmente dormir mais do que duas ou três horas por noite. Ele ainda acorda com alguém o chamando e ele ainda deseja ter continuado lá para encontrar a voz, mas com Tom ao seu lado fica mais fácil voltar a dormir e ignorar aquele desejo.

O fato de Harry ainda não ter conversado com nenhum dos sonserinos é culpa de Tom, sabia disso. Desde que tudo aconteceu, percebeu que os comensais estavam sempre em bando, para onde quer que fossem. Mas não importava, no fim eles ainda eram adolescentes e aquele comportamento iria irritá-los e a qualquer momento um deles se cansaria e cometeria um erro.

Harry estaria pronto.

Às vezes, quando Tom o olha diretamente, nos raros momentos em que acontece, Harry não sabe o que ele vê, porque ele sempre desvia o olhar muito rápido.

O que você está vendo? Harry quer saber, mas ele não pergunta, no lugar empurra o livro de Poções na direção de Tom e faz uma pergunta sem sentido cuja resposta ele já sabe.

: :

— Eles não podem adiar o jogo de quadribol por mais tempo. — Bill chegou sem qualquer cerimônia. Ele parecia triste, zangado e envergonhado, tudo ao mesmo tempo. — Não faz sentido, porque mesmo que Charlus acorde amanhã, ele não vai poder simplesmente subir numa vassoura.

Harry sabia o que viria a seguir, mas mesmo assim ele esperou que Bill falasse.

— Não podemos jogar sem um apanhador. — Ele bufou e só então olhou para Harry. — Precisamos que você fique no lugar do Charlus. Eu sei que ele apoiaria a decisão se tivesse acordado.

Ele não devia aceitar, é claro. Havia um motivo para Harry ter escondido por tanto tempo que sabia jogar quadribol, mas simplesmente ignorou.

— É claro. Pelo Charlus.

Ele sorriu. Foi pequeno e quase não estava lá. 

— Eu devia dizer para você treinar um pouco, mas não acho que você precisa disso, certo?

— Certo.

Bill ainda passou alguns segundos olhando para Harry, a tristeza, raiva e vergonha ainda presas no rosto dele. O leve movimento de garganta dele fez Harry pensar que Bill estava com medo, mas do que? O time ainda parecia suspeito com o acidente envolvendo os balaços, Bill poderia estar temendo voltar a voar? 

— Certo… — Ele se afastou devagar.

 

— Bill disse que você vai jogar no lugar do Charlus. — Dorea disse. Ela estava com olheiras, os cabelos antes perfeitamente penteados estavam presos em um rabo de cavalo mal feito.

— Sim.

Charlus estava com uma aparência melhor. Menos adoentado, como se o sangue que ele havia perdido tivesse finalmente voltado ao corpo dele e lhe dado uma cor melhor, mais saudável. Ele ainda dormia, no entanto. O machucado estava se curando perfeitamente, Madame Lincoln não cansava de dizer e Charlus ainda não ter acordado era perfeitamente normal.

— Ele adoraria ver você jogando com o time.

— Acho que ele adoraria jogar ele mesmo com o time.

— Harry… — Dorea o chamou. Harry demorou a atender o chamado e olhá-la, mas quando o fez, ela parecia preocupada, um pouco angustiada. — Aconteceu alguma coisa?

Ela ainda não tinha compreendido toda a situação. É claro que não. Dorea só pensava em Charlus e em quando ele acordaria. Ela passava tanto tempo na enfermaria quanto Madame Lincoln e era preciso forçá-la a ir às aulas para fazê-la sair. Ela fazia os deveres ao lado da cama de Charlus e quando comia era ali também. Harry suspeitava que ela não estava conseguindo dormir nas masmorras e já a tinha visto cochilando com a cabeça apoiada no braço de Charlus.

— Não queria jogar. — Uma quase verdade. — Mas Charlus me mataria se o time perdesse por causa disso.

Dorea sorriu. Vê-la sorrir quase fez o frio ir embora.

— Ele ia adorar jogar com você. — Ela sorriu mais uma vez. — Vamos fazer assim, quando Pollux for morar no Chalé vamos construir um pequeno campo de quadribol na floresta. Vamos chamar todos os nossos amigos para uma partida, assim você e Charlus vão poder jogar juntos. Que tal?

Harry tentou pensar naquilo, mas tudo que vinha na sua mente era aquele segundo em que ele pensou que estavam seguros e Charlus caindo.

— Parece perfeito.

Talvez algo na expressão dele o tenha traído ou sua voz saiu diferente do que costumava, porque Dorea estreitou os olhos para ele.

— Está tudo bem? — Ela inclinou um pouco a cabeça. — Você está…

Ela não completou a frase, parecia estar procurando uma palavra sem conseguir encontrá-la.

Ali Harry quase disse a verdade, quase contou tudo a ela. Pensava que de todos eles, Dorea o entenderia melhor, porque ela quase perdeu o que mais importava. Ela o entenderia e até o ajudaria. Ela faria pior, já tinha provado ser capaz.

Ele quase disse… Quase.

Mas aquilo não era sobre Dorea. Talvez nem fosse sobre Charlus. Não exatamente. Não totalmente.

Era sobre ele, Harry.

Ele tinha feito algo que parecia impossível e era tão perigoso que poderia ter resultado na sua própria morte, ainda assim ele colocou aquele colar ao redor do pescoço e voltou no tempo, porque a realidade dele era muito pior que a ideia de morrer. Ele voltou no tempo e arriscou tudo que lhe sobrava para tentar retomar o que foi perdido e não importava que ele não fosse viver aquilo pelo qual estava lutando. Harry nunca se importou de se sacrificar e não era realmente um sacrifício. Ele tinha aprendido a amar aquela vida e aquelas pessoas.

Ele tinha enfrentado batalhas ali e algumas delas quase o tinham vencido. Não foi fácil, ainda não era, mas ele não estava lutando mais. Por um instante Harry pensou que poderia parar de lutar, que poderia ser só uma pessoa normal, ao invés do guerreiro que foi criado para ser. Ele estava novamente preso à incerteza sobre a segurança daqueles que ele amava. Ele estava preso naquele passado tortuoso em que tinha que lutar e vencer.

Mas não era o mesmo Harry mais.

Ele estava cansado dos feitiços infantis e das batalhas longas.

Estava cansado de apenas esperar pelo ataque que viria.

Dorea ainda esperava uma resposta.

— Estou bem. Vou ficar melhor quando ele acordar. — Sorriu. Não sabia o que Dorea via naquele sorriso, mas ela sorriu de volta relaxando os ombros. — Enquanto isso estou fazendo tantas anotações quanto possível para ele conseguir estar preparado para as provas finais.

 

Era mais um dia normal, mais um dia de acordar, levantar e descer para o Salão Principal. Não havia Charlus para acordá-lo estranhamente cedo e com tanta animação que parecia ter passado a madrugada comendo doces e feliz demais para um simples dia de aula. Mas Charlus estava sempre feliz. Era irritante. Agora era um vazio.

 

Prudence estava lá na frente dele falando alguma coisa. Ela movia as mãos gesticulando e franzindo o cenho e ao lado dela Andrew afirmava com a cabeça concordando com o que ela falava. Harry queria prestar atenção neles, mas a visão dos dois estava embaçada, porque do outro lado do salão, na mesa mais distante da deles, Mulciber estava rindo.

Com o barulho das quatro mesas e a distância entre elas, Harry não conseguia ouvir a risada, mas ele via o riso aberto, os ombros balançando e a cabeça indo para trás. Ele parecia feliz. Livre de qualquer preocupação e culpa.

Harry lembrava do sangue de Charlus encharcando a grama verde, do rosto pálido com a aparência de morto.

Mulciber ria, Dolohov lia um livro enquanto segurava o pingente do colar, Nott comia calmamente. Avery não estava na mesa e já fazia um tempo que ele não aparecia durante as refeições. Aquilo fez Harry querer rir. Ele dirigiu seus olhos para Tom e não foi surpreendido quando percebeu que já era observado. Harry sorriu. Não sabia do que sorria ou porque, era um pouco doentio, mas ele achou fofo a tentativa. Era quase infantil ao invés de um plano diabólico criado nos confins da mente de um bruxo das trevas.

Tom achava que tirar Avery do Salão Principal ia ser o suficiente? Era um movimento tão bobo, tão tolo e um pouco decepcionante. Nada que Tom fizesse seria o suficiente para aplacar a raiva de Harry. O que ele faria em seguida, mandaria o menino não ir às aulas? 

Não havia como Tom ler a mente dele naquela distância, mesmo que Harry baixasse suas defesas, mas naquela altura os dois já se conheciam o suficiente. Tom deu de ombros apenas, o rosto completamente sério. Harry balançou a cabeça.

— Harry! — Prudence bateu o jornal na cabeça dele. — Pare de flertar à distância. O seu mingau tá esfriando.

Harry sorriu para ela.

— Ele é muito bonito, não consigo resistir.

Prudence fez um barulho no fundo da garganta e sorriu.

— Sabe, nunca na história de Hogwarts um sonserino torceu por um grifinório. Você acha que consegue fazer ele usar nossas cores quando for jogar?

Harry riu alto atraindo atenção.

 

Ele estava impaciente e tentava com algum esforço não se deixar levar pelo sentimento. Impaciência nublaria seu julgamento e o faria cometer erros, como já o fizera no passado. Ao mesmo tempo, toda vez que via um dos sonserinos andando por aí, fazendo os deveres, comendo, conversando e simplesmente vivendo, as veias dele se enchiam daquele fogo que parecia consumi-lo.

Era um dia em que ele tinha que controlar as fagulhas e a si mesmo.

Harry teria rido do tema daquela aula, mas seu senso de humor estava empobrecido e restavam apenas cinzas jogadas num cantinho, junto com o que sobrara da sua paciência e benevolência.

— O cérebro dos trasgos não é muito desenvolvido e isso os torna voláteis e imprevisíveis. São, sobretudo, violentos e agressivos, então quando-

— Como os gigantes. 

A professora Merrythought parou de falar para olhar o aluno que a interrompeu.

— Bem… É certo que os gigantes também são conhecidos como seres imprevisíveis, mas-

— Todos sabem que gigantes são monstros violentos e sanguinários. Criaturas das trevas praticamente. — Outro corvinal falou.

Merrythought tinha os olhos arregalados.

— Era de esperar que corvinais fossem inteligentes e não apenas um depósito de preconceitos e estupidez. — Harry não olhou para o garoto ao falar.

— O que você disse?

— Se você tivesse se dado ao trabalho de estudar o programa obrigatório da escola saberia que gigantes fazem parte de uma raça poderosa e formidável. Eles possuem uma língua própria e cultura e se agrupam em tribos, não são bestiais. São inteligentes e fortes e alguns deles podem ser melhores que criaturas de outras raças, como bruxos ignorantes.

Um longo silêncio se estendeu na sala e ninguém parecia querer quebrá-lo, deixando-os suspensos em um momento constrangedor.

— Continuando… — A professora limpou a garganta e bateu a varinha na lousa para chamar a atenção deles. Ela olhou para Harry, os lábios formavam apenas uma linha enrugada, mas os olhos dela pareciam atordoados e surpresos, como se ela nunca tivesse ouvido a voz dele antes. — Trasgos são criaturas extremamente fortes e derrubá-los, mesmo um trasgo jovem, é quase impossível estando sozinho. Então, qual o meio mais efetivo para derrotá-los?

Muitos olhares se voltaram para Harry. Até mesmo os alunos da sonserina pareciam esperar por uma resposta vinda dele.

— Senhor Hunter, poderia nos responder?

— Bater muito forte na cabeça dele? — Ele não conseguiu reprimir que seus lábios se estendessem em um sorriso que para a professora devia soar desrespeitoso.

— Senhor Hunter.

— Bem, deu certo uma vez. — Harry deu de ombros.

Ela parou. Toda vez que Harry falava algo sobre o tempo em que não esteve em Hogwarts, sobre os perigos que ele enfrentou lá fora e como sobreviveu, os professores ficavam com a mesma expressão, como se não soubessem o que falar em seguida, como se quisessem segurá-lo e repetir que ele estava seguro agora.

Mentirosos, todos eles.

— Eu diria que por sorte.

Harry sorriu.

— Se um deles encontrar um trasgo adulto por aí, ter sorte vai ser fundamental.

Ela respirou fundo e o olhou com impaciência.

— Fogo. — Tom respondeu e também olhava para Harry com impaciência. — Trasgos têm uma pele muito resistente e a maioria dos feitiços são rebatidos, é praticamente impossível derrotar um trasgo adulto sozinho. Fogo vai assustá-los o suficiente para dar tempo de fugir.

— Está certo. 10 pontos para a Sonserina. — Merrythought continuou. — De todas as magias elementais, as de fogo são as mais perigosas, por quê?

— É mais fácil perder o controle.

— E por ser tão destrutivo, muitas vezes bruxos inexperientes acabam se machucando e machucando outros. — A professora completou.

— Mas Hunter usou magia de fogo na sala com todos nós dentro. — Disse um lufano com uma voz assustada, como se não tivesse se passado meses do incidente e ele estivesse ali muito vivo e ileso.

— Sim, mas o Sr. Hunter não é um bruxo inex… — Merrythought comprimiu os lábios antes de terminar. — Foi perigoso, é claro, mas como pudemos ver, Harry tinha total controle da magia que produziu e se por um acaso ele não tivesse, eu estava lá para ajudá-lo.

— Vamos aprender magias de fogo, professora?

— Sim, Francesca. — A professora sorriu agradecida. — Esse é o objetivo da aula de hoje.

 

Harry ficou encostado à parede olhando os outros aprenderem a recitar o feitiço de forma correta e guardar pequenas chamas dentro de potes. Ele não viu Merrythought se aproximando até ela estar na frente dele.

— Você devia estar fazendo a lição.

Ela não parecia irritada ou chateada por ele estar desobedecendo às ordens dela.

— Como a senhora disse, eu tenho total controle sobre essa magia, não preciso de mais lições.

— Então ao invés disso você vai apenas ficar aqui em pé observando seus colegas falharem?

Harry riu.

— Os Black devem precisar apenas de mais algumas tentativas, assim como Francesca e MacKenzie. Tom já está começando a ficar entediado. O restante… Eles eventualmente conseguirão criar estáveis chamas azuis.

— O que aconteceu com Charlus foi uma pena. — Ela disse de repente. Harry parou de respirar. Ele não estava esperando, então apenas olhou para o rosto velho dela. — Eu sempre lamento quando algo assim acontece. Parece que todos nós falhamos, não é? É uma escola, devia ser segura, mas… 

Ela continuou falando, mas Harry parou de ouvir.

Do outro lado da sala ele viu Calderón em mais uma tentativa infrutífera de realizar o feitiço. Ele já o tinha visto dezenas de vezes, mas até o momento em que o viu ajoelhando diante do corpo de Charlus, Calderón era apenas mais um rosto. Havia tantos iguais a ele naqueles corredores, tantos nomes a serem lembrados, tantos rostos a nomear que Harry simplesmente nem tentava.

Mas desde aquele dia era como se os olhos de Harry estivessem caçando Calderón por aí, durante as aulas, pelos corredores, nos jardins… 

Calderon repetia o movimento com a varinha de forma muito pacífica e movia os lábios com delicadeza. Todo o movimento dele seguia uma ordem e ele parecia ter pensado muito antes de finalmente proferir o feitiço de verdade, mas aí nenhuma faísca saia. Outros já começavam a ficar frustrados com a falha, mas ele fechava os olhos e respirava e tentava mais uma vez.

— Antigamente, séculos atrás, acreditava-se que magias de fogo eram das trevas e que apenas os piores de nós conseguiam conjurá-la. Uma magia violenta que só podia ser proferida por magos violentos. É uma tolice, é claro.

— E se eles estivessem certos? Eu sei que não existe essa coisa de magia boa e ruim, com algumas exceções, é claro. Eu sei que existe apenas magia, mas… E se precisarmos de algo mais do que dizer a palavra corretamente para conseguirmos conjurar o fogo? E se precisarmos de emoção? E se não for uma emoção boa? Olhe só para ele… — Harry disse e não precisou apontar para ela saber de quem falava. — Irma disse que ele vem de uma família de curandeiros, pessoas feitas para curar, mas o que é fogo além de destruição? Ele tem medo e por isso não consegue realizar o feitiço.

— Fogo foi o que nos fez evoluir, nos ajudou a sobreviver milhares de anos atrás. Ele não é apenas destruição, Harry. Nada é apenas uma coisa. — Ela se virou completamente para ele segurando-o no braço. — Me diga que sua recusa é porque você está sendo arrogante e não porque sabe que no seu atual estado de espírito provavelmente perderia o controle da sua magia.

Incendio moris. — Ele estava olhando para Merrythought ao apontar a varinha na direção de Calderon. A professora deu um pulo olhando assustada na direção de seu outro aluno, apenas para ver uma chama azul dentro do pote anteriormente vazio.

— Senhor Hunter! Isso foi… foi…

— Extremamente arrogante?

— Menos 20 pontos para a Grifinória! — Ela disse numa voz esganiçada.

Ela estava exasperada e se apressou para longe de Harry e em direção ao sonserino. Ele devia ter levado um baita susto se o peito subindo e descendo rápido era um indicativo e olhava para Harry com olhos arregalados e estranhamente furiosos.

— Você não se incomoda de eu usar seu pote, certo? Não é como se você fosse conseguir algo de qualquer forma.

 

Merrythought descontou mais 10 pontos dele e enumerou tudo que poderia ter acontecido se a brincadeira tivesse dado errado. Ela estava muito irritada, muito ofendida, muito preocupada. Como se ela visse atrás da máscara que Harry estava usando ali. Como se soubesse o que estava por trás do acidente com os balaços e a real intenção dele de fazer os responsáveis pagarem. Ela olhou para Harry pelo canto do olho até o final da aula, mas não voltou a se aproximar.

 

Não sabia por que fez aquilo. Não queria ter feito. Foi Merrythought. Foi o toque no braço dele e os olhos escuros e preocupados, a voz apenas um sussurro para ele ouvir. Foi a sensação de que ele era apenas um menino muito solitário e com muito medo e assustado demais com os perigos que o rondavam.

O que ele fez, fez para provar que não era mais aquele menino.

 

Calderón foi até ele e no momento que o viu andando com passos decididos em sua direção, Harry não conseguiu olhar para ninguém mais. Ele não viu Tom e os gêmeos o observando, com Dorea fazendo meia dúzia de perguntas e Tom tentando respondê-las da melhor forma possível ou Andrew olhando com alarme e suspeita e se afastando a passos rápidos.

— Você não precisava quase queimar minha mão para chamar minha atenção.

Harry sorriu.

Enquanto o observava estudando ou andando pelos corredores ou conversando com os amigos, tinha pensado que Calderón parecia muito dócil. Ele riu desse pensamento, porque ninguém dócil sobrevivia naquela casa. É claro que Calderón tinha garras e provavelmente presas cheias de veneno.

— Não cheguei nem perto de te machucar. — Era mentira. Harry não estava prestando atenção suficiente para saber o exato trajeto que a chama levaria para alcançar o pote. Se Calderon tivesse perto demais poderia ter se ferido.

— É assim que você agradece as pessoas quando elas salvam a vida dos seus amigos? Porque você sabe que o Potter provavelmente estaria morto sem mim, não é?

Presas e garras, ele pensou. 

— Obrigado.

— O que você quer, afinal?

— Por que não caminha comigo?

— Para longe de testemunhas? — Ele levantou a sobrancelha grossa.

— Com medo?

Calderón olhou em volta para os poucos alunos que restavam no corredor e de volta para Harry. Havia uma resignação muito forte nele. Poderia estar com medo, mas não seria limitado por ele. Calderón ignoraria seus instintos por pura teimosia.

 — Quer saber, por que não? Você é um herói, não é mesmo? Tendo enfrentado todos aqueles bruxos das trevas e suas criaturas e defendendo trouxas e nascidos trouxas e gigantes.

Calderón começou a andar antes de Harry. Se tivesse ficado um pouco mais, apenas um segundo a mais, teria visto como aquelas palavras o atingiram. Teria desistido de andar por aí com ele quando visse a escuridão que lhe preenchia os olhos.

 

Claudio Calderón parecia absolutamente normal e isso era o que ele tinha de mais estranho. Ele era um mestiço de pais bruxos e quando ouviu isso, Harry quase respondeu “como eu”, até lembrar que naquele tempo ele era realmente um mestiço.

Calderón tinha uma voz baixa e muito suave, a forma dele falar era sempre cuidadosa, como se ele sempre estivesse dentro de um hospital falando com pacientes. Era tão alto quanto Harry, com a pele oliva, olhar brando e um sorriso acalentador. Harry tinha passado minutos apenas olhando-o sorrir. Era tão… sincero. Com covinha na bochecha, canto dos olhos enrugados e pacífico. Ele era tão… normal.

Harry tinha encontrado um livro que falava sobre famílias antigas e famosas e os Calderón estavam lá. A bruxa mais famosa (a única realmente famosa) foi Josefina, uma curandeira reconhecida internacionalmente por ser quase milagrosa. A família tinha começado em algum lugar do México e foram para os Estados Unidos em algum momento, porque alguns anos depois ela se casou com um dos herdeiros de Ilvermony, fazendo com que Josefina ficasse ainda mais famosa e Ilvermony ainda mais reconhecida.

Claudio, até onde sabia, não tinha uma ligação direta com Josefina e seu marido, mas era um Calderon. Um bruxo de linhagem antiga, de uma família respeitada por ter formado inúmeros e prestigiosos medimagos e curandeiros, com parentes distantes que faziam parte de famílias americanas proeminentes.

Ele era normal, com seus amigos, livros, clube de bexigas e andanças tranquilas pelo Castelo. Por que Harry não podia só deixá-lo em paz?

A resposta era complicada e bem... terrível.

Ele era um sonserino.

Se ele fosse de qualquer outra casa Harry teria ido até ele e agradecido e deixado claro que daquele momento em diante Calderon poderia pedir qualquer coisa que Harry o daria.

No lugar, Harry o tinha seguido e vigiado como se o garoto tivesse feito algo errado e não salvado a vida de Charlus e aquilo era horrível, sabia disso.

Às vezes, quando eles estavam na biblioteca – em mesas separadas, com Harry observando a distância – se pegava imaginando os detalhes da vida de Calderon. Sabia que ele era um segundo filho e todos em sua família eram medimagos, até mesmo sua irmã mais velha, Maya. Imaginava como era a casa que ele cresceu, devia ser uma dessas casas mágicas cheia de utensílios trouxas, porque sabia que o pai dele era nascido trouxa e devia ser difícil abandonar algumas facilidades do mundo moderno em favor do mundo bruxo que estava de muitas formas atrasado.

Pensava que Calderon devia ter crescido com adultos falando em linguagem que era difícil até mesmo para outros adultos entenderem. Eles tinham dúzias de caldeirões em casa e Claudio aprendeu a fazer poções assim que conseguiu se equilibrar em cima de uma cadeira e pegava a varinha da irmã, tentando repetir os feitiços que tinha aprendido nos livros que tinham em casa. Ele visitava os pais com frequência no hospital e os tinha visto trabalhando inúmeras vezes, então doentes e sangue não eram um problema. Ele seguiria a mesma profissão, porque durante toda a sua vida aquilo foi tudo que ele conheceu e ser qualquer outra coisa nunca passou pela cabeça dele.

E aquilo, ser um medimago, não tinha nada a ver com Josefina. Ninguém comentava sobre a ancestralidade mágica de Calderón. Ele tinha salvado a vida de Charlus e ninguém o parava pelos corredores para o dizer como ele tinha conseguido aquilo porque seu sangue e o de Josefina eram os mesmos.

Ele era… comum.  Não era uma pessoa ignorada por todos e que vivia pelos cantos. Era bastante inteligente, esforçado, participativo e tinha seu próprio grupo de amigos, que se estendia por todas as casas, e ainda assim, se não fosse pela assistência que tinha dado a Charlus, Harry nunca saberia o seu nome.

Calderón era silencioso, atento e discreto. Aparentemente ele falava com todo mundo (ou poderia falar), mas naqueles dias de vigília, Harry o viu conversando sempre com as mesmas pessoas. Ele tinha seu próprio grupo, assim como Harry teve o dele.

Quando Harry pensava em parar com aquela perseguição e focar no que importava, ele sempre se lembrava daquele meio segundo em que os dois se olharam no campo de quadribol. Nos olhos assustados, mas cheios de determinação, nas mãos ensanguentadas e no emblema de serpente.

Algo nos olhos dele puxou Harry para a guerra, para as dezenas de jovens com aquele mesmo olhar e aquela determinação e sangue nas mãos. Mas ele vestia o emblema errado, por isso Harry não conseguia simplesmente deixá-lo ir.

 

— Então?

Calderon os tinha guiado até o jardim. Faltavam algumas horas para a última aula acabar, então eles teriam um longo momento até que as estufas se esvaziassem e alguém passasse por ali. Calderón sabia disso? Ele tinha pensado sobre aquilo enquanto decidia onde conversariam? Ele confiava em Harry o suficiente para aceitar ficar sozinho com ele?

— Obrigado. — Harry disse. — Você salvou a vida do Charlus.

Calderón fez um barulho de escárnio.

— Eu estou esperando há dias que você tome coragem e venha falar comigo e é isso que você tem a dizer? — Harry pensou que ele cruzaria os braços e bateria o pé no chão, mas Calderón apenas jogou a mochila no chão dando uma volta irritada, antes de parar de novo. — Acha que não percebi você me observando? Por que você não pergunta logo o que quer saber, Hunter?

O que Harry queria saber afinal?

Ele tinha imaginado aquela conversa tantas vezes, mas em todas elas Calderon nunca estaria irritado como naquele momento.

Não devia ter lançado aquele feitiço.

— O que eu quero saber? — Harry perguntou.

Você é uma ameaça também?

— De todas as pessoas… — Calderon riu e balançou a cabeça. — Você anda com sonserinos. Seu namorado é um sonserino. De todas as pessoas… Sabe o que percebi nesses últimos dias, Hunter, enquanto você fingia que não estava olhando pra mim? Você não estava realmente me vendo. Quando você me olhava tudo que conseguia ver eram as cores que eu vestia, o símbolo que eu usava. O quão hipócrita é isso? Quer saber, eu também tenho perguntas. O que aconteceu lá em cima, hein? Por que você e Pollux Black não estão se falando? Por que você e Thomas Gaunt se desentenderam? Por que você olha para mim como se eu tivesse tentado matar Charlus Potter ao invés de ter salvado a vida dele?

— Por que você tentou, afinal?

— Você faria essa pergunta se fosse um texugo e não uma serpente na minha farda?

— Você quer que eu peça desculpas? O que aconteceu, afinal? Você viu o Charlus e decidiu simplesmente ir ajudar?

— É tão surpreendente assim que tenha acontecido exatamente dessa forma? Você não teria ido ajudar no meu lugar?

— É claro, mas eu sou- — Harry parou de falar antes de completar.

— O que? O que você é, Hunter? Um grande imbecil preconceituoso? Sabe, nem todos da sonserina odeiam grifinórios ou azaram trouxas por diversão. Há boas pessoas na minha casa, assim como há pessoas ruins na sua.

Harry se viu consumido pela vergonha.

Foram seus olhos, ele queria dizer. Foi a forma como Calderon o olhou naquele pequeno instante após fazer o que podia para salvar a vida de Charlus. Ele tinha visto aquele olhar antes… E ali ele lembrou. Ele viu aquele olhar no rosto de Hermione no dia que eles fugiram para a floresta. Rony estava estrunchado e Harry não fazia ideia de como ajudá-lo, mas Hermione sabia. As mãos dela tremiam, mas em seu rosto, os olhos dela, havia algo mais, aquela coisa viva que também tinha nos olhos de Calderon.

— Os pais contam histórias de ninar para os filhos. Meus pais contavam sobre as pessoas que tinham salvado, as mais estranhas situações, feitiços, histórias mirabolantes, inusitadas e gosmentas. — Calderón sorriu. Foi um sorriso real vindo de uma lembrança feliz. Harry não sabia muito como era sorrir com coisas assim. — Todos nós vimos os balaços e a perseguição e o primeiro de vocês cair. Eu estava lá quando Gaunt conseguiu amortecer a queda do Andrew e depois Bill, todos estavam conscientes e fizemos os primeiros socorros para ver o que podia estar quebrado ou se a queda abrupta de altitude tinha causado algum dano imperceptível. Nós vimos Charlus cair e antes de me aproximar sabia que algo terrível tinha acontecido. Minha mãe gosta de falar que aprendi a ler com os livros de magia e que as imagens, mesmo as mais grotescas nunca me assustaram. Eu nunca enjoei vendo sangue e não sinto náuseas com ferimentos, mas Charlus parecia tão pálido e o sangue saia em profusão da cabeça dele e eu… Não posso dar uma lista de motivos de porque ajudei Charlus e os outros, não pensei que precisava de uma lista. “Usarei todos os meus feitiços para curar”, é um juramento que pretendo fazer um dia, Harry. Você consegue acreditar nisso? Em mim?

Eu sou Harry. Sou da grifinória, da Armada de Dumbledore e da Ordem da Fênix. Eu luto... Eu não machuco... Prometi nunca...

Não. Ele não era mais, não podia ser. Porque aquele Harry perdia pessoas, as via morrer e não podia mais ser aquilo. Ser ele.

Calderon parecia aguardar uma resposta. Queria dizer que acreditava nele, é claro que acreditava. Como poderia dizer o contrário quando ele parecia tão sincero? Os olhos dele tinham a mesma força que os de Hermione, mas havia algo em Harry que não o permitia afastar a mão de onde a varinha estava, algo que o faria continuar olhando para Calderon pelo tempo que fosse permitido.

Harry já tinha sido ingênuo e fraco. Nunca mais.

— Você vai ser ótimo, sabia? Um ótimo medimago. Você já é ótimo. Desculpa pelo feitiço e por… tudo. 

Claudio o olhou demoradamente, o avaliando, medindo.

— Não foi um acidente, não é? Balaços não começam a atacar pessoas do nada. É por isso que você estava me vigiando, para ter certeza que eu não estava envolvido com as pessoas que fizeram aquilo com o Charlus. Você já sabe quem são eles.

— Você ouviu Dippet. A magia não é perfeita e balaços velhos têm comportamentos erráticos. Não pense demais sobre isso, Calderon.

— Eu… — Calderon deu um passo na direção de Harry diminuindo o espaço entre eles, mas o que viu no rosto dele o fez parar. — Sinto muito, Harry.

E Harry que já tinha ouvido aquela frase mais vezes do que era possível contar, não queria perguntar o motivo de ouvi-la agora.


Notas Finais


Prévia do próximo capítulo (se não gosta de spoiler já para de ler aí hein)

"Há tantas formas de morrer, Roman, algumas mais dolorosas que outras. Algumas ridículas. Algumas corajosas. No fim todas levam ao mesmo lugar. Me diga de que forma você gostaria de morrer."


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...