Lauren's pov
Não mais que um par de horas correu desde que Camila e eu nos pusemos à estilística representação perfeita de um casal entregue aos influxos do amor; sentadas naquele velho tronco do meu, e agora dela também, recondito no mundo, esquecidas de tudo ao nosso redor. O meu mundo se fez ela e eu me fiz o mundo dela. Nossos olhos e lábios entregavam-se um para o outro, misturando-se, fundindo-se, acariciando-se. Talvez uma hora e metade de outra ou uma hora e um quarto da próxima tenham nos servido de melodia universal (chame isto de tempo, se assim lhe convir à interpretação) enquanto ficamos ali. Vá, para mim não havia relevância no tempo quando se tratava de Camila. Ao lado dela, duas horas eram sempre dois minutos e eu estava sempre insatisfeita, queria sempre mais e mais e mais. E mais! Ao dar-me conta do avançado da hora e tendo em mente as recomendações de Sinu, via mensagem, para não demorar com Camila longe da cidade (sabe-se lá por quê... Mães, quem as entende?), decidi, por férrea martelação mental da minha consciência que alertava-me da necessidade de cumprir a minha palavra de levar Camila para casa cedo, então, que era hora de cessar, temporariamente, o nosso momento "paraíso na terra". Camila foi quem definiu o momento por essa expressão e eu era apaixonada demais para não adorá-la e usá-la o tempo todo a partir de então.
Assim, duas horas depois, quando o sol já havia se posto no céu, lá por volta das sete, estacionei o carro na frente da casa de Camila.
- Você quer entrar Lolo? - Camila perguntou-me enquanto soltava o cinto de segurança. Ela respirou profundamente, parecia cansada.
- Não, amor... - ela olhou para mim, arregalando os olhos. Jurei que estava com uma banana atravessada em minha testa. - O que foi? - passei a mão pelo rosto, achando, seriamente que havia algo errado ali.
- Você... - ela falou mansamente - você me chamou como? - a sua expressão já estava levemente diferente. Seus olhos, embora ainda arregalados, não davam mais a impressão de que saltariam da cara.
Entendi o questionamento dela por muito pouco e pelo mesmo pouco quase perguntei a ela o que estava querendo dizer, entretanto, tão logo quanto minha língua iria perguntar-lhe o motivo da pergunta, entendi o motivo de Camila estar me perguntando aquilo. Eu a havia chamado de amor pela primeira vez. É bem verdade que, mentalmente, eu já a chamava assim desde sempre, então, tecnicamente, não era, exatamente, a primeira vez, entretanto, para ela, era.
Soltei também o meu cinto e me pus sentada de lado no banco do carro. Camila estava com os olhos postos em mim, sedentos por qualquer ato meu que lhe respondesse antes mesmo da minha boca. Quase ri, mas poupei minha boca para fazê-la sorrir, antes de me permitir sorrir. Minha mão não resistiu à necessidade de tocar-lhe o rosto e então, lá estava a minha mão, puxando o rosto de Camila até que nossas testas estivessem encostadas e nossos olhos fossem, quase, uma coisa só. Suspeito que meus olhos sorriram para os olhos dela, naquele momento.
- Eu chamei você de amor. - Eu respondi-lhe. Nossos lábios estavam tão próximos que enquanto eu falava, os lábios dela se moviam também.
Ela não respondeu. Não com palavras. Camila respondeu com boca muda que se lhe formou um sorriso de açúcar, qual doçura lhe cobria. Respondeu com olhos de milhões e milhões de vagalumes brilhando freneticamente em um campo, bem no meio da escuridão. Não contente em responder-me dignamente a conseguir me matar de amor, Camila, já com certa experiência em beijos, colou-me seus lábios aos meus com cola de chocolate. Beijou-me, lambeu-me, sugou-me os lábios, como se a doçura daquele beijo viesse da minha boca e não da dela. Mal sabia!
Não foi a primeira vez que Camila conduziu um beijo entre nós. Ela mordeu-me o lábio inferior com as pontinhas dos dentes e em seguida, acariciou-me o mesmo lábio, antes, deliciosamente mordido, com a sua língua. Língua quente de mulher urgente. Isto, pode ser que não lhe cause mais que um suspirar entediado, mas para mim que senti aqueles lábios amando os meus, ah...para mim aquilo foi causa maior de um frenezi incontrolável. Se é que se pode dizer que lábios tem orgasmos, os meus o tiveram bem ali. Pulsaram, satisfeitos, dignos da excitação do antes e do aconchego do depois.
Consciente disso, ou não (é mais provável que não), Camila aconchegou os meus lábios "cansados" entre os seus e ao mesmo tempo em que expirou e seu ar nos tocou os lábios, ela então afastou-se, parcamente, de mim. Não podendo falar, permaneci calada. Camila, entretanto, podia falar e falou.
- O seu beijo é o meu sabor preferido no mundo, amor. - Ela disse e como consequência óbvia, abri os olhos.
Entendi, então, como Camila havia se sentido quando eu a havia chamado daquela maneira "nova" para nós duas. Sorri e até que eu morra não há quem me convença do contrário, naquele momento a minha expressão abobalhada foi digna de recorde!
Ouvi-la me chamar daquela maneira era, era... Era como uma confirmação de que ela era minha. Era como pular de um penhasco e não morrer, nem me machucar. Apenas voar.
- Acho até que a minha comida preferida deixou de ser pizza! - ela declarou, continuando o que havia falado e eu ri, ainda sem muitas forças para falar. Ela, conhecendo-me tão bem, continuava falando, dando-me espaço para recuperar-me. - Mas só nós duas podemos saber disso, ok?! - perguntou-me enquanto arrastava o nariz, levemente, pelo meu. - Não posso sair por aí respondendo que a minha comida preferida, agora, são os lábios de Lauren Jauregui. - ela sorriu e já iria falar qualquer outra coisa, mas eu a interrompi.
- Lauren Jauregui que, por acaso, é a sua namorada. - falei, respondendo ao seu carinho em meu nariz com um arrastar de lábios sobre os dela.
Ela enrubesceu e mordeu o próprio lábio, em seguida, baixou o olhar.
- O que foi, amor? - perguntei, levando a mão ao queixo dela, forçando-a a olhar para mim. Procurei os seus olhos e então, ela me olhou novamente.
- Você vai falar para todo mundo que namora comigo? - ela perguntou, seu tom era de total insegurança.
Era bem possível que todos, ou quase todos, já pensassem que eu e Camila namoravamos, mas havia uma grande diferença entre saber que os outros pensavam que acontecia uma coisa que não era verdade e saber que os outros pensavam que acontecia uma coisa que realmente era verdade.
Saber que os outros apenas especulavam coisas a respeito de nós duas era como ser um pedaço de carne em uma vitrine, protegidas dos leões, intocáveis. Porém, quando todos soubessem, estaríamos atiradas aos leões, definitivamente.
Eu não tinha medo de enfrentar as coisas por Camila, eu estava disposta a matar por ela e morrer por ela e repetir isto até que fosse impossível. Eu era forte para lutar contra os leões da escola, eu era forte para lutar contra os leões da rua. Eu só não sabia se eu era forte para lutar com os leões de dentro da minha própria casa. Daqueles leões, eu tinha medo.
- Eu não sei... - respondi com sinceridade e deixei que ela percebesse a insegurança em minha voz. Só assim ela poderia entender. - Por mim, eu colocaria anúncios em todos os jornais, para que todos soubessem que você é minha e eu sou sua. - Escapou-me um suspiro inesperado e meus ombros perderam a força. - Mas eu tenho medo da reação do meu pai... - minha voz quase sumiu e eu precisei tossir. Camila estava com os seus olhos indecifráveis postos em mim. - Não me importo com o que ele pensa sobre... - procurei a maneira certa para falar - relacionamentos como o nosso. Não me importo mesmo! Mas você sabe, embora eu não seja mais menor de idade, ele tem certos poderes sobre mim. Se ele se opuser posso acabar tendo que voltar para Londres com a minha mãe e... - como a ideia me doeu, uni as sobrancelhas, sentindo-me frustrada só com a possibilidade de acontecer. - eu não quero ir embora. Não quero ir para longe de você. - falei de uma vez. - Eu também não quero esconder isso das pessoas que não precisamos esconder, só...me dê um tempo para pensar no que fazer, está bem?
Camila abriu um sorriso compassivo e levou a sua mão ao meu rosto. Fez carinho na minha bochecha, usando o polegar e ficou me olhando por alguns segundos. Quando eu estava prestes a falar, ela falou.
- Não estou preocupada com isso. - O sorriso compassivo continuava em sua boca, acalmando-me o coração. - Só perguntei, por perguntar. A única coisa que eu quero é que... - ela olhou para baixo rapidamente, mas voltou a me olhar antes que eu pudesse reclamar. - você me ame. -falou, por fim. - até não poder mais.
- Como assim "até não poder mais"? - fiz aspas com os dedos. - Eu vou amar você até quando for impossível!
- Foi só uma maneira de falar. - ela sorriu brevemente e me deu um beijo rápido nos lábios. - Eu preciso entrar Lolo. Você não vai mesmo entrar comigo?
- Mudei de ideia! Acho que precisamos conversar com a sua mãe sobre nós duas. - falei mais para mim mesma do que para ela. - Quer dizer, eu preciso conversar com a sua mãe sobre nós duas. - completei para mim mesma outra vez e Camila riu.
- Vai dizer que está com medo da dona Sinu? - Camila perguntou, rindo.
- Talvez... - falei, intercalando o olhar entre as minhas unhas e Camila.
- Ah amor, qual é?! - Camila disse, dando-me um empurrãozinho no ombro. - A minha mãe adora você e já sabe que eu sou louquinha por você, então...
- Você é louquinha por mim, é? - olhei para ela pelo canto dos olhos e dei um sorriso malicoso.
- Sou louquinha pra meter a mão na sua cara de vez em quando. - Ela respondeu irritada e envergonhada. Seu bico denunciou o seu humor. Eu ri.
- E eu sou louquinha por você. - Falei, para melhorar-lhe o humor e também porque era verdade. Ela me olhou pelo canto dos olhos e pareceu que iria ceder, entretanto pôs a mão na porta. Fez que ia abrir.
- NÃO! - praticamente me joguei por cima dela e tirei a mão dela de lá. - Quem abre a porta pra você sou eu. - falei, já abrindo a porta para que eu pudesse sair. Camila riu.
...
A conversa com Sinu foi breve. Ela facilitou muito as coisas para o meu lado e nos deu a sua benção antes mesmo que eu lhe falasse o que desejava.
Não, ela não tinha poderes de adivinhação. Soube com antecipação porque minhas bochechas vermelhas denunciaram-me. Talvez as risadas incontroláveis de Camila enquanto eu tentava falar, tenham denunciado-me também. Talvez tenham sido nossas mãos entrelaçadas ou talvez foram só os nossos olhos apaixonados.
Fato é, que Sinu, cansada de esperar que eu lhe falasse, falou por mim.
- Você quer namorar a minha filha, não é? - Perguntou-me, enquanto fechava o livro que lia quando entramos em sua casa. Fiz que sim com a cabeça. - Vocês podem namorar, mas se você engravidá-la...
Camila deu uma gargalhada tão alta que, é possível que o bairro todo a tenha escutado. Sinu, por sua vez, riu da própria piada e eu cedi ao riso também.
Fui embora cinco minutos depois, acompanhada por Camila que me deixou na porta e me deu um beijo tímido ali mesmo. Eu havia pedido para Sinu deixar Camila passar o dia seguinte em minha casa e ela deixou, depois de alguma relutância, ela deixou. Acrescentei que gostaria de levar Sofia também, o que ajudou para que ela deixasse. Na verdade, a ideia de levar Sofia para a minha casa surgiu, não para ajudar a convencer Sinu a me deixar levar Camila, porque ela já havia deixado, mas sim para deixar Sinu ter um tempo para si.
No dia seguinte, um sábado de manhã brilhante e céu azulado, me pus de pé às oito e meia da manhã. Às dez, eu toquei a campainha da casa dos Cabello, como eu havia prometido que faria. Camila havia duvidado da minha pontualidade e eu fiz mais questão ainda de chegar na hora correta.
- Aposto que você colocou o despertador! - ela disse, assim que me viu parada à sua porta. - Não apostamos que eu acordaria por mim mesma, apostamos a minha pontualidade. - tirei os óculos que estavam no meu rosto assim que entrei. - E eu cheguei pontualmente! - declarei.
- Ainda bem que eu perdi a aposta. - Camila disse, dando-me um beijo no rosto. - Eu estava com saudade. - ela confessou, fechando a porta de sua casa.
- Claro que estava. - eu disse. - Se eu estava, você estava. - Devolvi o beijo em sua bochecha e a abracei.
- Estava, estava, estava... - ela falou enquanto nos abraçavamos. - Você precisa de um dicionário. - ela brincou.
- Não, eu não preciso. Conheço muitas palavras, mas a sua presença dificulta o meu raciocínio, Camila Cabello. Esqueço até meu nome, imagine as palavras. - ela corou e não respondeu, apenas me puxou em direção à cozinha.
Lá estavam Sofia, Sinu e Thereza, que dava para Sofia, em uma colherzinha rosa, o seu mingal.
- Olha quem chegou Sofi! - Camila foi dizendo assim que pisamos na cozinha.
Sofia se virou para olhar para a irmã e abriu um sorriso de orelha a orelha quando me viu, deu até um pulinho na cadeira.
- CAMILA ME DISSE QUE TEM UMA PISCINA GRANDONA - ela abriu os bracinhos o máximo que pôde e quase bateu com o cotovalo na colher que Thereza tentava colocar-lhe na boca. - NA SUA CASA! - seus olhos estavam arregalados de tanta excitação. - EU POSSO TOMAR BANHO NA SUA PISCINA LAUREN?! POR QUE EU ESTOU USANDO O MEU MAIÔ DA PEQUENA SEREIA! - ela lavantou a blusinha que vestia e revelou o seu maiô por baixo. Eu ri.
Enquanto Sofia falava eu caminhei até ela e quando ela finalmente parou de falar eu lhe dei um beijo na testa e disse:
- Tem uma piscina GRANDONA - abri os braços, imitando o que ela havia feito e ela olhou a extensão dos meus braços abertos e arregalou mais ainda os olhos. - assim, na minha casa e também temos bóias e um escorregador na piscina! Você pode brincar lá o quanto quiser. - CARAMBA! - ela exclamou olhando os meus braços abertos. - A sua piscina é maior do que eu imaginei! Todas na cozinha cairam na gargalhada com o comentário inocente de Sofia, que não entendeu o motivo do riso, mas riu também.
Não demoramos mais muito tempo por ali. Sinu me alertou para levá-las para casa até as oito da noite, no máximo e nos levou até a porta.
- Cuide da sua irmã, Kaki. - Sinu disse para Camila, dando-lhe um beijo na testa. E sussurrou outra coisa. - Cuide de você também, por favor, tenha cuidado.
Camila olhou para ela e elas disseram alguma coisa, uma para a outra, com o olhar. Achei melhor não perguntar.
- Sofia Cabello! - Sinu chamou, já que Sofia tinha saído andando cheia de empolgação, porta a fora, carregando a sua mochila nas costas, sem nem se despedir da mãe. Sofia virou-se.
- Sim? - Sofia perguntou, usando um tom imponente, engraçado de ver em uma garotinha da idade dela.
- Volte aqui. - Sinu, ordenou. - Você não me deu um beijo de despedida.
Sofia andou de volta, batendo um pouco os pés.
- Você já me deu trezentos beijos de despedida hoje mama. - Ela se pôs na frente de Sinu que se abaixou e beijou-lhe a testa.
- Agora dei trezentos e um. - Sinu disse. - Agora vão! Se não, vão acabar chegando lá na hora de voltar.
Obedecemos. Eu já havia aprendido a obedecer Sinu como se ela fosse a minha própria mãe, tal o carinho e respeito que tinha por ela. Demoramos quarenta minutos para chegar à minha casa, quando normalmente, chegaríamos em quinze ou vinte minutos. Aos sábados, atravessar o caminho da casa de Camila até a minha casa era horrível, naturalmente. Mas aos sábados de julho, fazer aquele caminho era um inferno, além de ser praticamente impossível. Necessariamente, para chegar à minha casa em Key Biscayne, teríamos que pegar a mesma rodovia que dava acesso à Miami Beach, que naqueles dias estava cheia de carros de turistas que queriam, desesperadamente, chegar ao bairro mais famoso de Miami. A despeito da chatice que foi o transito, Camila e Sofia se divertiam com um jogo de palavras, no qual me incluiram, o que tornou o processo todo muito divertido, ao invés de infernal.
Quando chegamos, Sofia não perdeu tempo e me pediu para irmos para a piscina. Ela foi, o caminho todo até a piscina, falando sobre o quanto a minha casa era grande bonita e que um dia ela iria querer morar lá, obviamente, sendo repreendida por Camila, que era ignorada pela irmã mais nova que continuava a falar e falar. Quando chegamos à piscina, adverti Sofia para que não ultrapassasse um certo limite, porque se o fizesse, estaria em uma parte funda demais da piscina para que ela conseguisse alcançar o fundo.
Camila ajudou a irmã mais nova a tirar a roupa e passou nela protetor solar e eu as observava. O amor com que Camila tratava Sofia era incomum. Ela era paciente, carinhosa, jamais se irritava com a pequena. A ensinava com mansidão e Sofia sempre ouvia o que a irmã mais velha dizia. Camila parecia sempre controlar a maneira como tratava Sofia, dando-lhe excessivo amor.
Não que o amor entre elas fosse coisa de outro mundo, porque eu mesma tinha algo similar com a minha própria irmã, entretanto, quando Taylor era mais nova, eu não tinha a mesma paciência que Camila tinha com Sofia. Camila parecia se esforçar para aproveitar cada segundinho que passava com Sofia.
- Agora você pode ir. - disse Camila assim que acabou de passar o protetor nos ombros de Sofia, que estava parecendo um boneco de neve de tão branca que estava.
Sofia se jogou na piscina sem contar até três.
- Não vai pra piscina também, Camz? - perguntei, olhando-a observar a irmã. Ela desviou o olhar para mim, olhando-me séria. - O que?! - perguntei a respeito do seu olhar.
- Prefiro quando você me chama de amor. - Respondeu, cruzando os braços e meu coração derreteu.
- Se sua irmã não estivesse bem ali, eu juro que lhe daria um beijo! - E era verdade.
- E se sua casa não fosse cheia de cameras também. - ela brincou e eu ri, concordando com a cabeça.
- É verdade! Enfim, você vai ou não? - repeti a pergunta.
- Depois. - Ela disse.
Como eu também não estava com muita vontade de entrar na piscina, não insisti. Ficamos por ali, sentadas nas mesmas cadeiras que antes haviam sido palco de noss reconsiliação, conversando sobre diversos assuntos aleatórios e observando Sofia brincando com a boia de baleia que ela resolveu batizar de Willy.
Por fim, era chegada a hora do almoço e Camila pediu para comermos lá fora, pois não queria atrapalhar o almoço de meu pai e meus irmãos. Eu insisti que meu pai não se incomodaria (fato sobre o qual eu não tinha certeza) e meus irmãos não estavam em casa, mas ela não se convenceu. Resultado disto foi que, Pierre nos levou o almoço lá fora.
Foi agradável, como tudo era quando envolvia Camila. Sofia comeu tanto que, decidiu, por conta própria não entrar na piscina até fazer a digestão. Sendo assim, decidimos ir para o meu quarto, para que Sofia pudesse descansar e dar um tempo do sol.
Sofia subiu as escadas correndo, enquanto Camila, subiu as escadas tão lentamente quanto costumáva subir as escadas de sua casa. A acompanhei a passos lentos, não queria perguntar o motivo da lentidão porque talvez ela não percebesse o quão lenta era para subir escadas. Quando chegamos ao meu quarto, Camila tirou o maiô molhado de Sofia e colocou nela uma outra roupa, que tinha, também, a estampa da pequena sereia. Ela pediu para ver desenho e coloquei para ela o filme Mulan. Ela deitou-se bem no meio da minha cama e Camila ao seu lado esquerdo, enquanto eu fiquei com o direito.
Não muito tempo depois, Sofia dormiu. Eu estava olhando para a televisão, atenta à cena em que Mulan consegue se superar e realizar todas as tarefas do exército com bravura, quando percebi que a pequena Sofia havia dormido.
Camila segurava uma das minhas mãos e nela fazia desenhos aleatórios que eu apenas sentia, mas não via. Senti que estava sendo observada e desviei o olhar da televisão para a garota ao meu lado, minha namorada.
Deparei-me com os olhos de Camila apalpando-me, ouvindo-me, cheirando-me, gostando-me, abrindo-me, enrolando-me, despindo-me! Encontrar o olhar dela deu em mim uma reviravolta completa. Não sabendo o que fazer com a explosão dentro do meu peito, deixei-a sair em forma de sorriso. Provavelmente a explosão corou-me as bochechas também, porque Camila virou-se totalmente de lado e pôs sua mão em meu rosto.
- O que foi, amor? - perguntou-me baixinho.
- O seu olhar... - respondi. - O seu olhar é igual uma poesia.
Então foi a vez dela de enrubescer e sorrir.
- Se o meu olhar é uma poesia, o seu olhar é uma história de amor escrita por Shakespeare. - ela devolveu o elogio e apertou a mão, suavemente, em meu rosto.
Então, Camila iniciou uma sequência com uma série de perguntas aleatórias a respeito de coisas sobre a minha vida, sobre a minha história, sobre os lugares que eu já havia ido, sobre os costumes europeus, sobre a minha mãe, sobre meu pai. Não perguntou porque não moravam juntos, se ainda eram casados ou o motivo para eu ter passado anos com a minha mãe e meus irmãos não. Também não quis contar-lhe, não naquele momento. Aquilo era tema para outras narrações.
Quando lhe contava fato ou outro que me ocorreu quando estava em Londres ou em qualquer outro lugar do mundo por onde já havia andado, Camila pedia-me que desse detalhes. Pedia-me que lhe repetisse os fatos e as falas. Em certo momento, obrigou-me até a imitar a queda de um alemão que tentava impressionar a minha mãe com suas obras de arte que, na verdade, minha mãe havia odiado. Camila pedia que lhe imitasse os sotaques, a posição das palavras na frase, o som das palavras. A certa altura, sentou-se na cama, para dar mais atenção aos meus gestos. Era atenta e curiosa. Parecia pegar cada palavra que lhe contava e remoer para si, como se estivesse ouvindo ouro. Era possível que estivesse colocando em gavetas mentais cada coisa que eu lhe falava, para que, jamais esquecesse.
Camila era Camila. A melhor definição para ela, tentando buscar alguma dignidade gramatical, era essa. Camila era Camila. Comparar-lhe a qualquer coisa era crime.
Suas curiosidades eram variadas. Perguntava-me por detalhes relevantes como também irrelevantes, lógicos como também não lógicos. Perguntava-me da cor da grama em um lugar ou outro e queria detalhes. Perguntava-me do cheiro das pessoas, gostos de comidas, como aparentavam as palafitas das casas. Camila gostava de saber tudo. Desde as coisas mais inúteis até as mais úteis.
- Estou cansada de falar, me beije. - cortei-lhe no meio de mais uma pergunta, depois de quase uma hora respondendo-lhe.
Ela suspirou e pensei que fosse argumentar, mas só levantou-se da cama e deu a volta, para então, sentar-se ao meu lado.
- Só não reclamo porque, um, - fez o um com um dedo - você já me respondeu muitas perguntas e dois - acrescentou um dedo - quero beijar você.
Eu sorri e a puxei, gentilmente para um beijo que eu anseava desde que havia ido buscá-la naquela manhã. Colei meu lábios aos dela, primeiro com calma e depois, entregues à urgência de termos mais uma da outra, aprofundamos os beijo, nos contendo muito pouco para não acordar Sofia. Então, a porta do meu quarto se abriu em um estrondo.
- LAUREN!
Meu coração parou ao ver a pessoa parada na minha porta.
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