História Committed - Nós não temos nada para conversar.

De certa forma, foi um alívio para Kara descobrir que, no final das contas, não era um alienígena que estava matando casais por ai em nome do amor.

National City nos últimos tempos já tinha estourado sua cota de problemas com alienígenas.

Era bom ter um caso de um humano desequilibrado que teve o coração partido por uma alienígena só para variar, tendo em vista que era pedir demais viver em uma cidade sem criminosos.

O caso também ajudou em sua carreira como repórter.

Se Snapper fosse capaz de amar alguma coisa, ela podia dizer com toda a certeza do mundo que o novo chefe havia amado o seu artigo.

Em outros dias ela ficaria feliz com isso, mas escrever o artigo foi uma forma de fugir do grande problema que estava lhe esperando no DEO.

- Como você está? – Kara bateu uma mão na outra, sem jeito ao direcionar a pergunta para Maggie. – Se você quiser pode passar a noite aqui, descansado.

- Eu estou bem. – a detetive levantou-se da maca. – Você sabe onde está a Danvers? – olhou para os lados tentando encontrar Alex. – Quero saber se ela já está me odiando por eu ter a eletrocutado.

- Você não a eletrocutou.

Maggie fez uma expressão de “ah isso não é verdade”. Ela ainda sentia-se mal por sua mentira ter machucado Alex.

Quem disse que mentiras machucavam nunca deve ter pensado que elas poderiam, literalmente, machucar.

- Eu queria me desculpar. – Kara desviou rapidamente o olhar quando Maggie passou a encará-la com uma expressão confusa por causa do pedido de desculpas. – Eu acho que não fui muito legal com você esses últimos dias. – completou, olhando para Maggie.

- Está tudo bem. – esboçou um sorriso afetado. – Ela era a sua parceira, eu cheguei e você foi obrigada a trabalhar em trio. – pegou os saltos na mesinha ao lado da maca. – Eu também não iria muito com a cara da terceira pessoa.

- Eu vou com a sua cara! – respondeu apressadamente tentando evitar mais mal entendidos. – Eu só tinha entendido algumas coisas erradas. Agora está tudo bem. Eu não ligo em trabalhar em trio.

- Para quem não gostava de ter parceiros – Maggie passou por Kara e parou na entrada do quarto – eu também não ligo de trabalhar em trio.

A detetive mandou um sorriso para Kara.

Ela realmente gostava de trabalhar com a Supergirl. Quantas pessoas podiam dizer que eram parceiras de uma super-heroína? Maggie só escondia muito bem esse lado fangirl.

- A Danvers...? – apontou para o lado de fora do quarto intercalando o olhar entre Kara e todas aquelas salas com paredes de vidros.

- Claro!

Maggie seguiu os passos de Kara até o quarto que Alex estava.

Se as coisas não estavam estranhas e confusas o suficiente desde que foram resgatadas, elas ficaram no instante que a detetive viu que ela poderia ter tranquilamente dividido o mesmo quarto com Alex já que o lugar possuía mais duas camas vagas.

Como elas haviam sobrevivido, não seria mesmo nenhum absurdo Alex não querer conversar com ela depois de tudo que aconteceu.

- Da próxima vez eu acho melhor jogarmos sinuca. – tentou soar descontraída antes de começar com todos os seus pedidos de desculpas. – Como você está?

- Pronta para outra. – sentou-se na cama e no mesmo instante deu um gemido de dor, levando a mão até as costelas. – Mas talvez amanhã.

Maggie soltou um pequeno riso e Kara encarou a irmã com repreensão por causa da brincadeira.

- Eu estava pensando... – Maggie passou a mão por alguns fios de cabelo, visivelmente sem jeito. – Como nós fomos atrapalhadas ontem... Você não quer ir tomar aquela bebida comigo agora?

- Eu não posso. – desceu da cama. – Eu tenho uma noite das garotas com a Kara. – olhou discretamente para a irmã.

- Tem? – as duas perguntaram juntas, surpresas.

- Tenho. – acenou um positivo com a cabeça. – Nós vamos comer pizza, tomar sorvete e colocar em dia Grey's Anatomy.

- Parece divertido. – comentou com um sorrisinho afeado.

- Eu espero que seja. – olhou mais uma vez para Kara com um discreto sorriso. – Remarcamos?

- Claro! – Maggie sacudiu os saltos em sua mão, sem jeito. - Divirta-se.

As irmãs Danvers não foram juntas para o apartamento de Kara. Antes a Supergirl teve que fazer um último salvamento para finalmente encerrar o dia.

Alex comprou a pizza, o sorvete, as cervejas, ajeitou o episódio na televisão e ficou esperando pela irmã.

Algo lhe dizia que elas não iriam assistir episódio nenhum naquela noite. Ela só não imaginava que seria por um motivo totalmente diferente do que imaginava.

- Por que você não me contou?

Kara fez a pergunta, sem nem ao menos dar tempo de Alex processar a sua presença no apartamento.

Na ida até o apartamento ela pensou em mais dezenas de desculpas para pedir a irmã por ter sido uma idiota. Só que ela ainda estava chateada - com si mesma, não com Alex - por isso que precisava de algumas respostas antes de começar com os pedidos de desculpas.

- Contei o que?

Alex realmente não fazia ideia ao que Kara estava se referindo.

- Sobre você e a Maggie.

- O que? – soltou uma risadinha de nervoso. – O que tem eu e a Maggie? – caminhou até a geladeira atrás de uma cerveja, balançando a cabeça negativamente. – Não tem nada acontecendo entre mim e a Maggie.

- Eu vi vocês duas, Alex. – disse em um tom ameno, complacente, com os braços cruzados. – Eu ouvi você.

Que ótimo! Agora não tinha mais para onde fugir.

Alex soltou um longo suspiro e caminhou de volta até a sala. Antes de começar, ela tomou um gole de sua cerveja.

- Eu não contei porque nem eu sabia o que estava acontecendo.

Kara sentou ao lado da irmã no sofá.

- Você gosta dela?

- Você sabe que eu gosto. – respondeu em tom debochado. – Você ouviu. – mandou um sorrisinho para Kara. – Às vezes eu odeio essa sua superaudição.

A Garota de Aço ergueu os ombros em resposta.

Às vezes era difícil controlar, ainda mais quando estava desesperada procurando por sua irmã que foi sequestrada por um louco, então não tinha muita coisa que ela podia fazer sobre isso.

- Ela gosta de você?

- Eu não consegui descobrir. – falou em seu tom mais óbvio.

No mesmo instante Kara desviou o olhar, culpada. Ela que tinha atrapalhado.

– Mas isso não importa.

- É claro que importa Alex! É a sua vida. A sua felicidade.

- Talvez não seja com ela. – levantou-se do sofá e começou a andar de um lado para o outro. Ainda estava difícil terminar de processar tudo que aconteceu. – Ela mentiu sem necessidade nenhuma e eu fui eletrocutada por causa disso. Duas das ex-namoradas dela – gesticulou o número com a mão – falaram que ela as superou rápido. – balançou a cabeça em negativo. - Eu não vou entrar nisso Kara. – o tom de voz começou a embargar. - Eu não posso.

Kara nunca tinha visto a irmã daquela forma por causa de ninguém. Sentiu uma pontada no coração quando Alex deixou derramar as primeiras lágrimas. Era visível o quanto a irmã estava sofrendo e não fazia a menor ideia do que fazer.

Levantou-se do sofá e abraçou a morena.

Kara queria mostrar que agora estava ali e que a irmã podia contar com ela para qualquer coisa que decidisse referente a Maggie.

Com toda força que possuía, Alex abraçou a irmã, soluçando. Entendeu o recado de Kara com o abraço e apreciava muito tê-la em sua vida. Era tranquilizador saber que a irmã estava lá por ela.

- Me desculpa ter sido uma idiota por esses dias e não ter percebido antes. – separou-se do abraço. – Eu pensei que você estivesse me trocando pela Maggie.

- Está tudo bem. – limpou o rosto molhado pelas lágrimas, mandou um sorrisinho para Kara. – Eu também demorei para perceber que você estava com ciúmes.

- Eu não estava com ciúmes. – sentou quase afundando o sofá, indignada com tal acusação. – Eu só não queria ter que procurar outra parceira.

Alex sentou ao lado de Kara no sofá.

- Você nunca vai precisar procurar outra parceira. – pegou um pedaço de pizza dentro da caixa. – Ninguém mandou revelar seus poderes para o mundo. Agora vai ter que me aguentar pelo resto da vida. Somos mais fortes juntas, esqueceu?

- Eu pensei que isso de ter que te aguentar pelo resto da vida já estava explícito nos papéis de adoção que Eliza e Jeremiah fizeram.

- Só reforçou. – bateu levemente o seu braço no braço de Kara.

A loira riu.

- Como você descobriu onde estávamos? – como uma boa agente, Alex precisava perguntar. Estava com essa duvida por um bom tempo.

- Lena Luthor. – pegou um pedaço de pizza na caixa. – A joalheria faz parte dos patrimônios da L-Corp.

Alex fez uma expressão de “ah muito conveniente”, mas resolveu não dizer uma única palavra. No momento estava grata por Lena ter ajudado a salvar sua vida, de novo.

- Você vai mesmo ficar bem? A Maggie não vai querer conversar sobre hoje?

- Nós não temos nada para conversar. – deu uma mordida no pedaço de pizza, se fazendo de desentendida. – Mas nós duas temos muitos episódios atrasados para assistir.

- Se você quase não causasse a Terceira Guerra Mundial quando eu assisto sem você...

Alex tomou um gole de sua cerveja, ignorando o comentário de Kara. Não estava a fim de entrar naquele assunto de novo. Elas tinham um combinado: uma não podia assistir a série sem a outra, então não tinha porque Kara ficar querendo quebrar o combinado.

- Lena me convidou para uma festa, - comentou, após perceber que a irmã não ia entrar em suas provocações sobre assistir série sem ela - você deveria ir comigo e chamar a Maggie para ir junto.

- Por que Lena Luthor está te chamando para ir a festas com ela?

- Por que ela disse que só tem duas amigas em National City. – Alex a encarou com duvida. Sabia que uma das amigas era a própria Kara, mas quem era a outra? – As duas amigas dela sou eu e a Supergirl.

Alex deu uma gargalhada.

- Ela pensa que é amiga da Supergirl também? – mordeu outro pedaço de sua pizza. – Eu só quero ver no dia que ela quiser a presença das duas amigas em uma festa.

- A Supergirl é muito ocupada, não tem tempo para ir a festas.

- Certo. – apontou para a televisão. – Dá play logo. – tomou um gole de cerveja. - Eu quero saber quem vai morrer nesse episódio.

- Já não morreu todo mundo?

Alex deu de ombros, rindo. Toda vez que iam assistir Grey’s Anatomy era sempre a mesma pergunta.

O celular de Alex tocou e, no mesmo instante, o sorriso da morena desapareceu e ela começou a sentir um frio insuportável na barriga ao ver o nome de Maggie no visor.

Cedo ou tarde ela teria que conversar com Maggie sobre o que aconteceu no polígrafo. Preferia que a detetive esquecesse todo o dia que tiveram para que elas nunca tivessem que conversar sobre aquilo, mas se fosse o oposto, ela não fazia ideia se conseguiria fingir que nada aconteceu.

O grande problema era que não era o oposto. Ela que saiu dizendo por ai que estava apaixonada pela sua parceira, portando resolveu ignorar a ligação de Maggie.