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História Como cães e gatos - O amor não pode ser algo destrutivo.


Escrita por: jofanfiqueira

Capítulo 24 - O amor não pode ser algo destrutivo.


Passo mais de meia hora esquadrinhando o Hostel, mas realmente não consigo encontrar Juliana. Penso em ligar para Martinha, mas não tenho o número dela, também não sei como entrar em contato com Jabá para saber se ele teve mais sorte. Não posso voltar para casa sem Juliana ou meu pai vai desconfiar que algo está errado, além disso, estou preocupada. Fico lembrando da expressão em seu rosto, ela estava tão pálida, tão desolada, nem mesmo quando ela suspeitava que Jabá fosse o pai do filho da amiga parecia tão abalada. Me sento numa das cadeiras da entrada do Hostel e encaro o relógio, já passa das 23h então decido fazer aquilo que eu e Juliana sempre fazemos quando tempos algum problema: ligar para Bárbara.

Em menos de vinte minutos minha irmã chega. Entro no carro e ela me encara com um certo ar de superioridade vencedora, algo como “precisando de mim agora, né?”.

-Eu espero que isso seja bom. – Ela diz jogando os cabelos.

Começo a contar o que aconteceu, conto que Lucas é o pai do filho de Martinha e que Juliana sumiu no meio da briga entre Jabá e Lucas.

-É incrível como esse pessoal é burro! A menina não tem nem dezoito anos e já está grávida, o pai é um office boy, quando eu falo para Juliana se afastar dessa gentinha... mas vem cá Manu, por que a Juliana ficou tão abalada com essa história? Não é como se o pai fosse o pé rapado do namorado dela.

-Não sei. – Digo. Realmente não sei porque minha irmã reagiu daquela forma. Meu primeiro pensamento para o modo como a Juliana reagiu é que minha irmã não está bem emocionalmente. É isso que tenho notado nos últimos meses. – A Ju não está bem tem meses, mudanças de humor, chegando tarde em casa...

-Mudanças de humor? Como? – Bárbara questiona me encarando.

-Sei lá... às vezes ela parece muito bem, mais feliz que o resto do mundo, mas em outros momentos, do nada, a Ju parece a pessoa mais miserável da face da terra. – Percebo que há algo que Bárbara está escondendo. – Você vai me falar no que está pensando?

-Que precisamos encontrar a Juliana. – Ela diz me encarando.

-Você tem o telefone de algum dos amigos dela?

-Você acha mesmo que eu tenho telefone de adolescente suburbano? – Ela pergunta sorrindo. – Se bem que, claro, tenho um sim. -Ela pega o telefone e procura um número na agenda. – Tenho o número do Lucas, ele trabalha fazendo entrega então...

-Me dá aqui. – Digo interrompendo-a. Pego o número e ligo do meu telefone.

Lucas atende com uma voz terrível, me identifico e conto que Juliana sumiu. Ele fica preocupado e diz que ela não está com Martinha.

-O que ele disse? – Bárbara questiona. Devolvo o telefone da minha irmã.

-Que ela não está com ele, nem com a Martinha. Estou começando a ficar assustada. – Confesso. – Eu não deveria ter tirado meus olhos dela.

Penso em Fábio, em como gostaria que ele estivesse aqui comigo. Ele teria algo reconfortante para me dizer, mas sei que no momento ele tem seus próprios problemas.

-Talvez o Jabá tenho a encontrado. – Bárbara diz. -Ou talvez ela tenha voltado para casa.

-O papai não está em casa?

-Não. Ele vai dormir na Tita hoje. Vamos voltar para casa, a Juliana deve estar chateada por não ser o centro das atenções do grupinho de amigos. Só isso. Aposto que está em alguma festa. – Bárbara tem esse costume de tratar as coisas com desprezo mesmo quando elas são importantes e algo me diz que ela está preocupada com Juliana também.

(...)

Acordo as seis da manhã assustada. Tive esse sonho no qual a minha mãe brincava comigo e minhas irmãs na pracinha, mas tínhamos a idade atual. Minha mãe e Juliana sorriam juntas, eu sei que pareço mais com a minha mãe, fisicamente, mas elas duas compartilham algo, talvez o espírito. Lembro que a minha mãe também tinha grandes períodos de alegria extrema seguidos por um pouco de tristeza. O sonho me deixa pensativa.

Levanto da cama e vou até o quarto de Juliana, a cama continua vazia, arrumada da mesma forma. Tento ligar para ela novamente, o celular continua na caixa postal. Não consigo mais dormir, então fico na sala tentando me distrair com uma série.

Um tempo depois o interfone toca. O porteiro avisa que Lucas está lá embaixo perguntando por Juliana, peço para que ele o deixe subir. Abro a porta e convido-o para entrar, ele ainda está usando a mesma roupa da noite anterior, parece cansado.

-A Juliana apareceu? – Pergunta.

-Não. – Respondo convidando-o para entrar. – Você procurou por ela a noite toda?

-Eu não consegui dormir. – Ele conta. Então fui em alguns lugares que costumamos ir com o pessoal a noite, barzinhos próximos, fui até mesmo no M.O.F.O, mas não sei mais onde procurar. Eu ia te ligar, mas meu celular ficou sem bateria. Falando nisso, me empresta um carregador?

Pego um carregador na gaveta da sala e entrego para Lucas. Ele coloca o celular na tomada e volta a me olhar, peço para que ele se sente.

Você teve alguma sorte? – Lucas questiona.

-Não. O Jabá não sabe dela. Ele também pensou que ela pudesse estar no M.O.F.O. Espere, vou tentar ligar para ele novamente.

 O telefone chama várias vezes, estou quase desistindo quando um sonolento Jabá me atende. Pergunto se ele teve alguma notícia de Juliana e ele diz que não. “Manuela, sinceramente, sua irmã não tem motivos para sumir, deve estar apenas fazendo marra em algum lugar para chamar atenção. Me avise quando ela aparecer” afirma desligando.

 -Ele também não sabe nada? – Lucas questiona.

-Não.  – Olho para Lucas. O olhar de desespero em contraste com a voz de desdém de Jabá. Penso em como Jabá e Bárbara seriam o par prefeito, mas Gabriel não fica muito atrás do Jabá no quesito egoísmo. Penso também em Luiza, no porquê dela ser maluca pelo Lucas, ele parece mesmo ser um cara bacaba, mas uma parte da minha mente me lembra de que ele também é o cara que está tendo um filho com uma garota enquanto namora com outra.

-Isso é tudo culpa minha. – Ele fala caminhando pela sala. – Eu achei que fosse a melhor opção, mas claramente estava errado. Martinha estava errada.

Encaro-o sem entender nada, mas percebo que ele está falando com ele mesmo, não comigo.

-O que é culpa sua? – Pergunto curiosa.

-Ela estava lá e eu comecei a brigar com o Jabá. Então ela sumiu, eu vi que a Ju não estava bem, eu sabia que ela não estava bem, mas eu fiquei tão irritado com o que ele falou... Você deve achar que eu sou um grande idiota não é?

-Um pouco. – Confesso. – O que você quis dizer quando disse que a minha irmã não estava bem, que você sabia disso?

Lucas passa a mão no cenho parecendo em conflito consigo mesmo

-Sua irmã tem estado, como posso dizer..? Eu só vou te contar isso porque estou preocupado com ela, ok? Mas você precisa me prometer que não vai deixar ela saber que te contei, se ela souber ela não vai mais confiar em mim... se bem que, depois dessa história toda de ontem eu duvido muito que ela confie em mim de qualquer jeito. Ela deve estar achando que eu menti para ela... meu Deus, onde eu me meti?

-Lucas, você vai me contar ou não? – Pergunto tentando mantê-lo focado, percebo que fui rude, mas Lucas não parece se importar.

-A Juliana me ligou algumas semanas atrás. Ela estava numa boate, bêbada, sozinha. Eu fui buscá-la e levei ela para minha casa, ela não tinha condições alguma de voltar para casa daquela forma, além disso, ela disse que se eu tentasse levar ela para casa ela fugiria.

O telefone de Lucas começa a tocar e ele levanta para atender.

-Não. Ainda não. Suponho que você não saiba de nada também? (....) Tudo bem... eu também não previ isso Martinha, você não deveria ter feito isso desse jeito. (...) Eu sei que a outra opção era pior, você tá certa. – Ele fala num tom mais baixo.  - (...) Tudo bem, eu te ligo se souber de alguma coisa. 

Lucas desliga o telefone e volta a se sentar. Ele me olha como se estivesse tentando me sondar, sei que tem algo de errado nessa história, só não sei o que é.

-Quando foi isso? – Questiono. – Você lembra mais ou menos quando ela te ligou dessa primeira vez?

-Acho que foi depois da festa da Dona Irene, ela tinha discutido com o seu pai, com o Jabá.

Isso foi um dia antes da festa da Carlinha, um mês atrás. Percebo que eu e Fábio estamos juntos há exatamente um mês. Juliana me disse que tinha dormido na casa da Martinha.

-Depois disso, ela voltou a me ligar várias vezes. Passamos a conversar mais, às vezes, eu saia da casa da Luiza e ia encontrar com a Ju em algum lugar para conversar. Eu me sentia mal pela Luiza, mas não estava fazendo nada de errado e eu não podia deixar a Juliana sozinha naquele estado. Eu nunca vi sua irmã daquele jeito, eu a conheço desde a quinta série...

-E é apaixonado por ela desde a quinta série. – Digo. Lucas fica claramente envergonhado.

-Não. Eu amo a sua irmã desde sempre, ela é a minha melhor amiga, e vai parecer idiota se sentir assim aos dezoito anos, mas ela é a pessoa com a qual eu imaginei a minha vida. Então não, eu não sou apaixonado pela Juliana, eu a amo. Ela é um pedaço de mim. Mas eu entendi que ela não sente o mesmo, que ela não pode corresponder às minhas expectativas. E eu prefiro a amizade dela do que ficar chateado porque ela não me ama de volta, eu prefiro tê-la como amiga do que simplesmente não a ter por perto.

Acredito nele. Chego à conclusão de que ou Lucas é um excelente mentiroso ou eu sou uma péssima julgadora de caráter.

-Mas eu só te contei tudo isso porque, embora eu não tenha certeza, acho que Juliana sofre de depressão. – Ele diz me encarando.

-Claro que não! – Digo. A ideia parece absurda. – Minha irmã é uma das pessoas mais pra cima do mundo. Eu percebi que ela tem mudado um pouco, estado triste algumas vezes, mas depressão não é quando alguém passa o tempo todo triste?

-Não exatamente. E eu não tenho certeza Manuela, eu só sei que a Juliana não está nada bem e que ela precisa de ajuda. Eu pensei em falar com seu Ricardo, mas eu acho que qualquer coisa que ele disser ela vai fazer exatamente o contrário.

-Você tem razão. – Admito. Juliana realmente não ouviria meu pai. – Em momentos assim eu realmente queria que a nossa mãe estivesse aqui.

-Sua mãe! É isso! Acho que eu sei aonde a Juliana pode estar. – Ele diz ficando de pé.

-Aonde você vai? – Questiono.

-Checar se estou certo. Eu te aviso.

-De jeito nenhum. Eu vou junto. – Respondo. - Me deixe apenas trocar de roupa.

Ainda estou de pijama.

-Tudo bem, eu vou chamar um táxi então.

Corro para o quarto e troco de roupa o mais rápido possível. Em seguida, pego as chaves do carro do meu pai no escritório. Seu Ricardo tem dois carros, um social que ele usa para trabalhar e uma Strada cabine dupla.

-Você tem habilitação? – Questiono jogando as chaves para Lucas.

-Não é melhor um táxi? Sabe, se eu bater com o carro do seu pai eu vou ter que trabalhar de graça para ele até completar uns trinta anos.

 -Lucas, você sabe dirigir ou não?

-Sei.

-Então pronto. Vamos embora!

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Passei a noite entre cochilos enquanto Luiza soluçava em sua cama. Foi incrível o modo como minha irmã pareceu passar por vários estágios em tão pouco tempo. Primeiro, ainda na festa do Hostel, no momento que soube, ela estava em negação. Luiza não parecia entender ou acreditar no que estava acontecendo, ela questionava Lucas, pedia para que ele dissesse que estava mentindo, mas quando ele não disse nada, lá mesmo, ela já passou para a fase seguinte: raiva. Ela brigou com Lucas, ela tentou partir para cima da Martinha, da Juliana, ela disse que não queria mais ver o namorado, ela estava cuspindo fogo, mas isso foi mudando no percurso para casa. Posteriormente à raiva, minha irmã entrou na fase da dor, ela chorou tanto que eu achei que não fosse mais conseguir parar. Era quase quatro da manhã quando ela finalmente dormiu e eu pude levantar, comer alguma coisa, tomar um banho.

Agora, são sete da manhã e ela ainda dorme. Provavelmente exausta pelo choro. Só me resta esperar que ela acorde pronta para seguir em frente, mas conhecendo Luiza, posso apostar que ela vai retroceder para a raiva. Levanto da cama devagar e saio do quarto me esforçando para não fazer barulho. Já na sala, dou de cara com a minha mãe, ela parece preocupada.

-Tudo bem? – Questiono.

-Nada demais meu filho. – Ela responde. – Você não precisa se preocupar.

-Foi o Caio? Se aquele cara fez alguma coisa para te magoar eu juro que...

-Não. Você precisa parar de implicar com o Caio. Ele é um cara bom, gentil. – Ela me interrompe com um sorriso. Mesmo atrás do sorriso posso identificar sua preocupação e, talvez, um pouco de tristeza. Quero acreditar que Caio é mesmo esse cara bacana que todos dizem, quero que minha seja feliz, ela merece.

-Você vai me contar o que aconteceu? – Insisto.

-Só se você me contar porque a sua irmã entrou em casa chorando ontem à noite. Ou você pensa que eu não notei? Não falei nada porque não queria piorar as coisas, mas vocês saíram de mim, eu conheço cada pedacinho de vocês, cada expressão.  – Ela diz me encarando.

-Acho que você vai ficar sabendo de qualquer maneira. – Falo me sentando à mesa. – Não tem um jeito fácil de dizer isso, então vou dizer de uma vez: A Luiza descobriu que o Lucas é o pai do filho da Martinha.

-Como é que é? – Joana pergunta. Não tinha notado a presença dela até aquele momento. Joana está vestida para ir à praia.

-É. – Respondo passando a mão no rosto. – Ela contou para todo mundo ontem, no meio da festa no Hostel. A Luiza quase teve um troço.

-Mas isso não faz o menor sentido. – Joana diz. – O Lucas é um cara responsável, centrado...

-Caras responsáveis e centrados também esquecem de usar camisinha. – Minha mãe afirma com um tom de julgamento. – Coitadinha da minha menina.

-Eu sei que esquecem, você tem razão. Mas o que eu quis dizer é que o Lucas assumiria essa criança, ele não mentiria – batidas na porta fazem com que Joana não conclua seu pensamento. -Deve ser o Giovane. – Joana avisa. – Eu tenho que ir, combinei com ele de acompanhar o treino hoje, mas quero saber direitinho dessa história mais tarde... Coitada da Luiza.

Quando Joana sai volto a encarar a minha mãe.

-Sua vez. – Falo.

-Seu pai ligou. – Ela confessa. Entendo a expressão triste, deveria ter a reconhecido. Meu pai é capaz de causar os piores problemas na vida da minha mãe, sempre foi assim.

-O que ele queria? – Questiono.

-Falar com vocês. Ver vocês.

-Ou seja: marcar, adiar, encher de expectativas, promessas e depois nunca aparecer. Não estou interessado. Nem mesmo lembro que já tive um pai.

-Não fala isso que o teu pai é daquele jeito dele, mas ele ama vocês. Disso eu tenho certeza.

-A única coisa que eu tenho certeza é que eu nunca me senti amado por ele. O cara separou de você e sumiu no mundo, separou da gente também. Isso não é amar. Acho que você não deveria dizer nada disso para Luiza. Tudo que ela não precisa no momento é se decepcionar com outro cara.

Minha mãe se aproxima de mim e beija o topo da minha cabeça.

-Às vezes eu esqueço que você é mais maduro do que parece.

-Deve ser porque eu não facilito. – Afirmo. – Se ele aparecer, tudo bem. Mas não conta nada para ela.

-Tudo bem. Eu vou tomar um banho pra ir no supermercado fazer as compras do mês. O Caio tá vindo pra me dar uma carona. Você cuida da sua irmã? Não deixa ela sair sozinha, nem fazer nenhuma besteira de cabeça quente, quando voltar vou conversar com ela.

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-Posso te perguntar uma coisa? – Questiono enquanto Lucas dirige. Ele parece tenso. Ainda assim, me responde um “pode” dando uma olhadela de lado. – Você não gosta da Martinha, como isso foi acontecer?

-Me desculpa, mas você é amiga da Luiza e irmã mais nova da Juliana. Eu não acho que posso falar sobre isso com você.

-É por ser amiga das duas que eu sou a pessoa perfeita para você conversar. Lucas, eu não quero ver nenhuma delas sofrendo, eu amo a minha irmã, mas isso não significa que eu sacrificaria a felicidade da Luiza da Ju. O amor não pode ser algo destrutivo. – O rosto de Lucas muda de cor e ele diminui um pouco a velocidade do carro.

-Então está dizendo que não machucaria alguém para proteger quem você ama? – Lucas pergunta.

-Nunca de propósito. – Respondo.

-As coisas são mais simples no plano da teoria Manu. Eu provavelmente pensava da mesma forma, mas eu faria qualquer coisa para proteger alguém que amo. Pode ter certeza.

Imagino o que seria qualquer coisa, até onde ele iria. Então começo a suspeitar de algo, algo absurdo, mas que, ainda assim, faria mais sentido que toda essa coisa de Lucas e Martinha.

-Você não pretendia conversar com a Luiza sobre a gravidez da Martinha?

-Eu estava esperando que as coisas pudessem se resolver de outra forma. – Ele afirma. – Manuela, me desculpa, mas podemos não falar mais disso?

Respeito sua vontade e não falo mais sobre o assunto, mas não posso deixar de me questionar sobre o que ele quis dizer ao afirmar que esperava que as coisas pudessem ser resolvidas de outra forma. Lucas estaciona o carro, estamos na General Polidoro.

-O que Juliana estaria fazendo em Botafogo? – Pergunto.

-Visitando o túmulo da mãe de vocês. – Lucas fala. Sinto meu corpo gelar, eu nunca visitei o túmulo da minha mãe, não fui para o velório, nem acompanhei o enterro, meu pai me considerava pequena demais para isso. Mesmo depois que cresci, nunca considerei a possibilidade.

-Eu não sei onde fica o túmulo da minha mãe. – Confesso. – Eu nunca estive aqui antes.

-Você pode ficar aqui fora se quiser. Eu sei onde fica.

-Você já veio aqui antes? Já veio no túmulo da minha mãe?

-Algumas vezes com a Ju, logo quando sua mãe morreu, nós devíamos ter uns doze anos e Juliana me fazia acompanha-la. Ela sentava e ficava conversando com a sua mãe, fizemos isso um dia desses novamente, foi quando ela me contou que aqui era o lugar no qual ela se sentia mais protegida no mundo.

-Vamos entrar. – Digo determinada.

Passamos pelo arco de entrada e eu fico impressionada. O lugar é enorme e combina perfeitamente os tons de verde das árvores com o cinza dos túmulos. Lucas caminha pelos corredores espaçosos e eu o acompanho. As lápides com fotos, os nomes das pessoas, “devotado pai”, “Esposa amada”, quase sempre as mesmas frases, flores murchas, flores novas, terços, velas queimadas. Andamos por alguns minutos até que ele aponta em direção a um Jazigo, lá, deitada encima do mármore cinza, está Juliana.

-Eu posso falar com ela por um minuto? – Lucas pergunta.

-Claro. – Concordo.

Me aproximo um pouco, mas deixo espaço suficiente para que eles não se sintam invadidos. Lucas caminha até Juliana e toca no ombro da minha irmã, ela se senta de frente para ele e o encara, posso ver o quanto seu rosto está vermelho. Lucas passa a mão na face de Juliana carinhosamente. Dou alguns passos à frente aproveitando o momento de imersão dos dois, então posso ouvir quando Lucas pede desculpas.

-Eu sinto muito. – Ele diz encarando Juliana. Lucas se senta de frente para ele. -Vem aqui, vai ficar tudo bem. Você e o Jabá vão ficar bem.

Juliana o encara, sua expressão é de frustração e penar, e então eu finalmente entendo tudo. Ela não está daquela forma porque a amiga mentiu para ela, não é isso, ela está com o coração partido da forma mais óbvia possível, ela está apaixonada por Lucas.

Então me lembro da conversa entre Martinha e Juliana. “Porque ele é um capricho pra você. Ele, o Jabá. Qual vai ser o próximo dos seus caprichos?” Foi isso que Martinha disse, e se eu tivesse que apostar, apostaria que esse ELE é o Lucas, e eu posso não saber de muita coisa, mas eu sei que o olhar que eles compartilham nesse momento é de amor, e não de um amor fraterno entre melhores amigos. Luiza deve ter visto isso antes, por isso implicava com Juliana.

Se eu estiver certa, eles devem ser as duas pessoas mais sem sorte que conheço. Quando ele estava disponível ela não sabia que o amava, quando ela descobre, ele está namorando com outra garota e vai ser pai do filho de uma terceira.


Notas Finais


Juro, juradinho que teremos muito Fabiela no próximo capítulo. :)


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