1. Spirit Fanfics >
  2. Como cães e gatos >
  3. A carta

História Como cães e gatos - A carta


Escrita por: jofanfiqueira

Capítulo 46 - A carta


Três meses se passaram desde que estivemos em Paraty e as coisas têm estado consideravelmente nos eixos.  Meu pai finalmente permitiu o namoro com Fábio, embora a marcação seja cerrada em cima de nós dois, principalmente porque Fábio completou dezessete anos no mês passado e eu só faço dezesseis em algumas semanas. Além disso, meu pai tem dedicado mais tempo a família, principalmente à Juliana, que teve recentemente seu diagnóstico como bipolar comprovado. Minha irmã aceitou a notícia surpreendentemente bem, sua única preocupação era com Lucas, ela achava que ele podia acreditar que o modo como ela se sentia por ele era, de alguma forma, um reflexo da doença, mas é claro que ela estava enganada, Lucas não fez nada além de apoiá-la incondicionalmente e eles estão mais firmes do que nunca, por sinal, planejam ir para a mesma faculdade em alguns meses, considerando que ambos consigam ser aprovados. Eles montaram um grupo de estudo com Martinha, que agora está com seis meses de gravidez e uma barriga imensa, Juliana e Lucas continuam mantendo a história de que o bebê é de Lucas, mas ver os três sempre juntos levanta suspeitas, todos comentam que algo está errado nessa história.

O clima também está mais ameno entre minhas duas irmãs mais velhas, Bárbara e Joana obviamente não passaram a se amar, mas estão aprendendo a lidar com as diferenças por aquilo que possuem em comum: elas são irmãs, cunhadas, elas compartilham amigos. Bárbara não voltou para casa, mas acabou sendo para o melhor, a independência fez com que ela se tornasse menos minada, lutasse mais pelo que deseja. Joana está administrando os negócios aqui no Rio, ela lida com as expansões para São Paulo e Minas. Ambas supervisionadas por seu Ricardo.

-O que é que você está fazendo aí tão quietinha?  - Fábio pergunta passando a mão na minha cintura e ficando atrás de mim. – Sou em quem deveria estar me escondendo não você.

-Não estou me escondendo, estou apenas apreciando a vista. – Respondo me virando para encará-lo. Estamos na varanda da minha casa. – E por que você se esconderia? Posso saber?

-Eu, Luiza e minha mãe nos mudamos amanhã para casa de Caio.

-Achei que você estivesse feliz com isso.

-Feliz e uma palavra muito forte. E eu estou conformado. Vou sentir falta da minha casa, do meu bairro.

-Manuela! Fábio! Para sala, os dois. –Meu pai fala entrando na varanda. – O jantar vai começar.

Voltamos para sala e encontramos Giovane de pé, pronto para fazer um discurso. Me parece surreal que estejamos aqui hoje, testemunhando o noivado dos dois depois de todos os problemas que enfrentaram para ficar juntos, inclusive as questões com Bárbara e Gabriel, é ainda mais surreal que toda a minha família esteja reunida no mesmo cômodo sem nenhuma briga.

............................x.........................

A mudança para casa de Caio foi menos ruim do que eu antecedi, eu vou sentir falta da minha antiga casa – que agora está alugada – e da vizinhança, mas eu posso me acostumar com meu novo endereço, principalmente, porque eu moro mais perto de Manuela e da escola. Ainda estamos terminando de organizar tudo, mas voltar a ter um quarto só para mim compensa o trabalho, além disso, Manuela e eu ganhamos um local mais apropriado para passarmos tempo juntos. Luiza está mais animada do que eu, obviamente, ela adora o aparamento de Caio, ela adora Caio.

-Fábio? Você pode me ajudar com essa caixa? – Luiza pede. – Preciso colocá-la na dispensa. São coisas do Caio que estavam no meu quarto, ele disse que podemos colocar por lá que depois ele organiza tudo.

Estou deitado no chão montando as peças da minha escrivaninha, a última parte de mobília que ainda preciso colocar no lugar. Depois disso, restam as caixas com roupas e livros. Deixo o que estou fazendo e levanto para ajudar Luiza, pego a caixa em seu quarto e carrego até a cozinha enquanto ela abre a porta da dispensa, coloco-a no topo de uma bancada e quando estou me virando para sair bato num rodo e acaba derrubando uma outra caixa, colocada bem mais acima, cheia de poeira.

-Você deveria receber um título ou prêmio por ser tão desastrado. – Luiza pontua me olhando. Minha irmã se baixa e me ajuda a juntar as coisas. São faixas, medalhas, fotos antigas, estou guardando enquanto Luiza para e encara um envelope nas mãos, parecendo surpresa.

-O que foi? Parece que viu fantasma.

-Fábio, essa é a mãe da Joana, não é? – Minha irmã pergunta virando a foto. Pego o envelope de sua mão e encaro a fotografia, eu não lembrava direito da foto que tinha visto antes da mãe de Joana, mas era difícil não perceber a semelhança entre as duas, o sorriso, o olhar.

-Acho que sim. – Digo tirando a foto do envelope. Olho para o verso e vejo o nome dela “Caio, Carmem e Ricardo, 1991”. – É ela sim. – Confirmo mostrando o verso para Luiza. Volto minha atenção ao envelope e retiro um dos papéis de dentro dele, o primeiro é um cheque no valor de uma grande quantia de cruzados, há uma carta, na verdade um bilhete, presa nele.

Caio,

Obrigada pelo dinheiro, mas eu não posso aceitar. Eu e o meu bebê vamos ficar bem. Nunca precisei de nada de ninguém, sempre pude tomar conta de mim mesma através do meu trabalho. Eu sinto muito por ter causado mal a sua irmã, ela não merecia, e gostaria de poder dizer isso a ela, mas sei que esse não foi o combinado, vamos esperar que todos cumpram suas promessas. E não se preocupe, não pretendo nunca mais colocar os pés no Rio de Janeiro.

Carmem.

Leio e repasso para Luiza que parece tão, ou mais, espantada quanto eu.

-O que vamos fazer com isso? Precisamos mostrar a mamãe não precisamos? A Joana também precisa saber disso, ela acha que o pai dela não a quis esse tempo todo, mas parece que ele nem mesmo sabia de tudo que aconteceu.

-Eu não sei. – Respondo. - O Ricardo e a Joana estão bem agora. Além disso, eu não sei o que exatamente essa carta significa.

-Significa que o Caio sabia que a mãe da Joana estava grávida e escondeu do Ricardo, da irmã, significa que ele deu dinheiro para ela ir embora. Significa que esse tempo todo, nós achávamos que ele era um cara legal, mas que...

-Luiza! Fábio! – A voz de Caio ecoa pelo aparamento. – Será que vocês podem me ajudar com as compras?

-Juntamos o conteúdo da caixa às pressas e eu coloco tudo no lugar.

-Não faça nada idiota. – Digo a Luiza antes de sair da dispensa para ajudá-lo. A primeira coisa que faço é me colocar no lugar de Caio, se fosse com a Luiza, para evitar que ela sofresse, talvez eu também fosse capaz de fazer o que ele parece ter feito

Dois dias depois eu estou sentado com Caio na Forma enquanto Joana e Giovane conversam a apenas alguns metros de distância e uma oportunidade de sondá-lo surge quando ele comenta que é bom ver o casal tão feliz.

-Acho que a mãe dela estaria feliz. – Pontuo encarando o meu padrasto. Nada muda em sua expressão, há apenas, talvez, um pouco de tristeza com a menção. – Você a conhecia, não?

-Conhecia. A Carmem era minha amiga. – Ele conta me olhando. – Elas se parecem bastante, é incrível. No momento que eu vi a Joana pela primeira vez achei que estava voltando no tempo.

-Vocês eram muito amigos? – Pergunto.

-Por um tempo, depois acabando nos afastando, mas porque você está perguntando isso? Quer saber se eu me envolvi com a Carmem? A reposta é não, mas sim, eu tinha uma pequena queda por ela. Agora me deixe trabalhar. Giovane horário de namoro acabou, agora é treino!

Decido que a melhor coisa a fazer é deixar as coisas como estão, decido confiar em Caio.

........................................................x...................................................

Minha festa de dezesseis anos, organizada por Juliana e Bárbara como surpresa, mesmo depois de eu ter deixado claro que não queria uma festa, acaba sendo maravilhosa. Todos os meus amigos estão lá, minha família, todos juntos, alegres. Estou dançando com Fábio quando o volume do som é abaixado e ouço meu pai pedindo a atenção de todos.

-O que ele vai fazer? Era por isso que eu queria comemorações pequenas e separadas, uma família e outra para amigos. Ele vai me deixar constrangida não vai? – Pergunto escondendo o rosto no ombro de Fábio.

-Tente sorrir. – Meu namorado diz erguendo a minha cabeça. – Vamos ter uma comemoração só nossa mais tarde.

-Como você planeja conseguir isso? Vai amarrar meu pai na dispensa?

-Eu já pensei em tudo. Não se preocupe.

-Eu só queria agradecer a presença de todos nos dezesseis anos da minha caçula e dizer que eu tenho muita sorte de ser pai de quatro garotas, digo mulheres, maravilhosas. E eu sei que como pai ninguém deveria ter um filho predileto, mas se eu fosse escolher uma seria a Manu, porque ela é a que causa menos dor de cabeça. – Todos riem quando ele diz isso e Juliana grita algo que não consigo entender. Quando olho para minha irmã, encostada em Lucas, ela me dá um sorriso. – Então... eu só queria dizer Feliz aniversário Manuela! Continue não me causando problemas.

Várias pessoas batem palmas e eu vou ao encontro do meu pai abraça-lo.

-Isso não foi totalmente horrível. – Digo. Quando abraço meu pai noto Luiza e Joana conversando e sinto que há algo de errado entre elas, mas meu pai me obriga a dançar uma música com ele e eu acabo perdendo-as de vista.

Quando a música termina procuro por Fábio mas não consigo encontrá-lo, então fico junto a Isabela, Antonio – que, mesmo depois de três meses, dizem que não são um casal – e Tiago.

-Sabe o que falta para melhorar essa festa? – Antonio pergunta. Acho incrível o modo como ele é sempre cheio de expressões insinuantes.

-Me dê três chances para adivinhar! Bebida, bebida e... bem, bebida. Sabe Antonio, você realmente deveria considerar a possibilidade de ter um problema com bebida.

-Não enquanto eu ainda puder ser uma pessoa funcional. – Ele retruca sorrindo e passando a mão no ombro de Isabela.

-Vamos apenas ficar feliz com o fato de que ele não trouxe nenhuma bebida escondida. – Tiago pontua. – Você viu a Luiza por ai?

-Um tempo atrás, ela estava com a Joana. Vou procurá-las.

Rodo todo o pátio da Forma e não consigo achar Joana, Luiza ou Fábio, noto também que Tânia, Tio Caio e meu pai também não estão no local. Então deixo o pátio e caminho pelos corredores vazios, à medida que vou me afastando do som da festa e me aproximando do escritório do meu pai posso ouvir os gritos. Então corro na direção do local para encontrar todos eles juntos, aos gritos, Fábio, Gabriel e Giovane se interpondo entre meu pai e Tio Caio.

-Você é um mentiroso maldito! Você pagou para que a Carmem fosse embora e me impediu de conhecer a minha filha! – Meu pai gritou.

-Caio, eu não acredito que você pode fazer uma coisa dessas. – Tânia falou com os olhos cheios de lágrimas.

-Se vocês pararem de gritar eu posso tentar explicar! – Tio Caio disse.

-Explicar o que exatamente? – Pergunto. Ninguém parece me ouvir, ninguém parece notar a minha presença na sala. Minha voz é sufocada pelos gritos dos outros. – Explicar o que? – Pergunto novamente, dessa vez gritando. E todos me olham assustados.

-Manu, meu amor... – Meu Tio começa, mas meu pai volta a gritar pedindo para que ele não me dirija a palavra, dizendo que não quer meu tio se aproxime de mim ou de nenhuma de minhas irmãs, e então meu Tio vem na minha direção, ele apenas me olha rapidamente, com tanto pesar nos olhos, e passar por mim sem dizer nada, indo embora. Fábio é o primeiro a sair atrás dele, ele apenas me diz “conversamos mais tarde, sinto muito” e vai embora, Gabriel, Giovane e Joana também deixam o local.

-Ricardo... – Tânia diz. Ela parece com alguém que acabou de acordar no meio de uma guerra e não faz ideia sobre em qual lado deveria estar. – Eu sinto muito, mas eu não posso mais trabalhar aqui. – Ela afirma e começa a caminhar, ignorando os protestos do meu pai, a última coisa que escuto-a dizer é que Luiza não deveria ter mostrado “aquela carta a Joana”, não do jeito que aconteceu. Então fico a sós na sala com meu pai que está encostado na mesa.

-Posso saber o que aconteceu aqui? – Pergunto.

-Você deveria ir lá para fora a aproveitar sua festa.

-Como se isso fosse possível!

.......................x........................

Entro em casa acompanhando de minha mãe e Luiza. Viemos no caminho conversando sobre o que fazer, Luiza fez mil perguntas, questionou minha mãe sobre ficar ou não com Caio depois de tudo que aconteceu hoje.

-Eu não sei Luiza. Eu preciso conversar com o Caio, e agora estou mesmo é preocupada, nem sei para onde ele foi naquele estado, dirigindo por aí.

-Sem contar que ninguém nem mesmo deu uma chance para que ele se explicasse. – Argumento. – Não dá para simplesmente crucificar o cara.

-Você acha que existe uma explicação?

-Existe. – Caio diz entrando na sala e nos assustando. Ele parece mais calmo, a expressão de raiva cedeu de vez ao abatimento, ele segura uma caixa em suas mãos, reconheço-a como a caixa que derrubamos, eu e Luiza, dentro de sua dispensa. – E se você puder me ouvir...

-Claro. – Minha mãe responde se aproximando do namorado. – Luiza, Fábio... quarto. Converso com vocês depois.

-Não, não precisa. – Caio diz. – É bom que eles saibam por mim, eu sinto que devo uma explicação aos dois. Principalmente a Luiza.

Nos sentamos e Caio começa a explicar.

-Quando eu conheci a Carmem a minha irmã e o Ricardo tinham acabado de casar, a Bárbara tinha poucos meses, estávamos todos felizes, nossas carreiras iam bem, tudo estava bem. E bastou olhar para Carmem uma primeira vez para me encantar, nós éramos constantemente assediados por fãs, mas ela era diferente, era doce, engraçada, não era uma fanática, ela adorava o esporte e acabamos nos tornando amigos, os três. Quando eu percebi que eles dois estavam cruzando a linha eu confrontei o Ricardo e disse que não ia deixar ele machucar a minha irmã e foi naquele momento que a amizade entre eu e ele acabou. Um tempo depois, a Carmem me procurou, quando a minha irmã foi diagnosticada com câncer, ela me pediu desculpas e disse que precisava ir embora, mas não me contou porque, então ela dormiu na minha casa naquela noite e no dia seguinte eu a levei até a rodoviária e ela foi embora para o Ceará. Eu voltei para casa e dois dias depois a faxineira me entregou um exame de sangue que estava no lixo e eu entendi que era por isso que Carmem queria ir embora, porque estava grávida. Eu escrevi para ela oferecendo dinheiro e disse que a ajudaria com tudo que ela precisasse e então ela me mandou isso aqui. – Ele fala entrando a carta para minha mãe. – Você pode ler em voz alta.

Querido amigo,

Sinto muito por todo mal que causei. Sinto muito mesmo. E talvez essa palavra pareça vazia, mas saiba que é do fundo do meu coração. Eu não posso mentir, estou mesmo grávida, mas não comente com sua irmã, ela já sofreu com a descoberta da traição e precisa estar bem e forte para enfrentar essa batalha contra a doença, prometi a ela que ficaria longe do caminho, e pretendo cumprir minha promessa.

Ricardo sabe que eu estou grávida, deixei uma carta para antes de vir, pois não achei justo esconder dele esse filho, e se, um dia, ele quiser conhecê-lo, saberá onde me encontrar.

Estou trabalhando por aqui, vou ficar bem, você não precisa se preocupar.

Sinto muito por ter partido o seu coração e te decepcionado. Principalmente porque você sempre esteve ao meu lado quando precisei, mesmo depois de todo mal que causei a sua família.

Espero te ver por muito tempo nas quadras, espero que você não deixe o que aconteceu marcar esse seu coração, sei o quanto pode ser cabeça dura.

Um abraço!

-Depois disso eu mandei o cheque, ela me respondeu devolvendo e todas as minhas cartas depois disso foram devolvidas ao remetente pois ela havia se mudado e ninguém sabia para onde.

-Então o Ricardo sabia? – Pergunto. Estou começando a ficar tonto com as voltas desse mesmo argumento. – Ele sabia que a mãe da Joana estava grávida.

-É o que ela diz na carta. – Caio afirma.

-E você nunca pensou em contar nada disso para Joana? - Minha mãe pergunta.

-Você contaria? - Caio devolve. - Você contaria a ela que o pai não quis saber dela?

-Não sei se eu teria coragem. - Minha mãe confessa. - A Carmem continuou me escrevendo por anos. –Tânia conta. – E ela me contou que estava grávida, me mandou fotos da Joana, mas ela nunca me disse quem era o pai. É claro que eu suspeitava que fosse um de vocês, mas ela nunca confirmou. Ela dizia que não queria que eu olhasse para ela diferente.

-Você vai contar isso para Joana agora? – Luiza questiona.

-Não sei. Eu não queria partir o coração dela antes, não queria que ela soubesse disso sobre o pai e continuo não querendo fazer isso. – Quando Caio diz isso minha mãe se levanta e o abraça.

-Sinto muito. Sinto muito por tudo que você passou hoje querido. – Ela afirma beijando o rosto do namorado.

-Tudo bem, o importante é que vocês sabem a verdade.  


Notas Finais


O próximo capítulo será mo último e estarei encarrando essa fanfic que eu adoro tanto. Obrigado a todo mundo que tem acompanhando, comentado. Tem sido um prazer :)


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...