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História Como cães e gatos - Quadrilha


Escrita por: jofanfiqueira

Capítulo 7 - Quadrilha


Observo enquanto ele conversa com os amigos do outro lado da quadra, estão todos com cadernos nas mãos e parecem tentar revisar matéria encima da hora, é o último dia da semana de prova, fizemos geografia no primeiro tempo e, em seguida, logo após o intervalo, teremos a prova de geometria. Estou sentada com Luiza, Bruna e Carlinha, diferente dos garotos não estamos revisando, Luiza está observando Lucas como uma águia observa a presa, as outras duas meninas conversam sobre alguma coisa na qual estava concentrada antes de notar a presença de Fábio. Sinto falta dele, nos falamos tão pouco desde nossa tarde na praia, as provas começaram, o campeonato juvenil de Jiu-jitsu está chegando, as coisas foram tomando o espaço, o tempo...

-Talvez a Manuela saiba. – Carlinha diz. A menção do meu nome me faz despertar. – Manu, você acha que é verdade que o Giovane da dupla está namorando com essa garota? Tem fotos deles juntos no último campeonato.

Observo a foto que ela me mostra no celular, postada num perfil de fã no Instagram. Aquilo faz com que Luiza também retome sua atenção para a conversa.

-Que garota? – Ela pergunta. Ao perceber que falam de Joana ela fica defensiva.

-Essa é a Joana. Ela trabalha com a dupla, o pessoal também vê maldade em tudo. Mas se eles tivessem namorando não seria um problema, ambos são bonitos, solteiros..

-Ah, mas ele é muito gato pra ela. Eles não combinam. – Bruna pontua como se esse fosse o tipo de coisa mais normal pra se dizer no mundo. Fico irritada.

-A Joana é linda. – Digo – E, sinceramente e, com base em quê você diz que eles não combinam? Você conhece o Giovane? Conhece a Joana? Tudo que você sabe sobre eles é o que as fofocas dizem, pois fique sabendo que ela é linda e incrível e que seria sorte dele namorar com ela.

-Caramba Manu, o que deu em você? – Carlinha pergunta.

-Me desculpe pela grosseria. – Digo realmente arrependida no modo como falei, mas não do que falei. - A Joana é minha irmã.

-Essa é a garota que...

-É! – Luiza diz. -Agora, sinceramente, vamos mudar de assunto?

-Ok. -Bruna diz. – Mas agora que a minha paixão platônica pelo Giovane não vai mesmo deixar de ser platônica... – ela diz com um sorriso. – Eu preciso mesmo arrumar alguém para paquerar.

-Você já namorou antes? – Carlinha pergunta. Bruna é uma garota ruiva de olhos castanhos, uma daquelas meninas que faz você se sentir como se ainda estivesse na quarta série em comparação.

-Claro! – Ela responde. Vocês não?

-Não.- Respondemos em uníssono.

-Só falta nunca terem beijado ninguém. -Bruna diz.

-Eu nunca beijei ninguém. – Luiza assume. -Eu nunca gostei de ninguém dessa forma até conhecer o Lucas. Na minha antiga escola as coisas eram mais liberais, mas eu nunca me interessei.

Carla, um pouco mais nova, apenas catorze anos, conta que também nunca beijou ninguém. Quando ela termina todas olham para mim.

-O que? – Pergunto.

-Não vai dizer nada?

-Eu já beijei sim. – Digo. A imagem de Fábio enche minha cabeça.

-Parece ter sido bom. – Bruna diz. – Pelo sorriso no seu rosto agora mesmo. Estava lembrando, não estava?

-Foi bom. – confesso. – mas também nunca gostei de ninguém.

– E o seu irmão Luiza?

-Você quer saber se o Fábio já beijou? – Ela questiona. A voz de Luiza afina um pouco quando ela se exalta, percebo que ela acha a pergunta desnecessária. –Ele namorava uma garota da nossa antiga escola.

- Quero saber se ele está solteiro. –Bruna diz sorrindo. - Não dá pra deixar de notar que ele é um gato. – Me sinto mal instantaneamente, como se eu pudesse vomitar a qualquer minuto, abro minha mochila e retiro uma squezze, tomo um pouco de água enquanto Luiza afirma que não entende o que as garotas veem em Fábio.

-Claro, ele é seu irmão. – Carlinha diz. – Mas tem algo nele, esse jeitão calado.

-O Fábio não tem nada de calado. – Luiza retruca. – Ele só é estranho mesmo.

-Estranhamente lindo. – Bruna pontua com um sorriso. -Como esse namoro dele acabou?

-Isso importa? – Luiza questiona.

-Bom, isso diz muito sobre a potencial pra ser um bom ou mau namorado.

-Resumindo a confusão que foi: ele acabou.

Vejo Juliana caminhando em direção ao M.O.F.O e uso como desculpa pra me afastar, consigo alcança-la antes dela sair da quadra.

-O que você tá fazendo aqui essa hora? – Pergunto.

-Reunião do M.O.F.O. – Ela diz. Percebo que seus olhos estão vermelhos.

-Você está bem? Estava chorando?

-Não. – Ela diz mentindo muito mal. Caminho com ela até o M.O.F.O. Percebemos que ainda não há ninguém no local.

-É por causa do Giovane? – Tomo coragem e questiono.

-Manu, não... – olho pra ela franzido a testa, sei que minha irmã não quer admitir. – Um pouco. – Ela confessa. – Mas não é exatamente apenas ciúmes, eu não sei se eu gosto mesmo dele, talvez eu gostasse da ideia, sabe Manu? Eu nunca fui louca pelo Gio.

-E como você sabe? Quer dizer, como alguém sabe que ama alguém?

-Eu costumava pensar que era pelo modo como você sempre quer estar com essa pessoa e como ela te faz bem, mas é mais do que é isso. Você precisa perguntar pra alguém que já amou de verdade. Sabe, as pessoas dizem que são as borboletas no estomago, e esse é um jeito brega de definir, mas se eu tivesse que chutar diria que é algo físico, é sobre seu corpo.. – Ela para. – Acho que essa conversa tá ficando muito adulta pra você.

-Ju, não seja ridícula. – Digo. – Eu não sou uma idiota.

-Não, você não é. – Ela diz passando a mão no meu ombro.  Obrigada pela força.

-Ju, você tá chateada com a Joana?

-Eu estava. – Ela diz pressionando os lábios. – Mas não, isso não é culpa dela. O Gio nunca quis ser mais que meu amigo, mesmo antes dela. Eu estava apenas me enganando, mas eu vou ficar bem. -Ela fala sorrindo. -Perto de todo o resto do drama esse suposto namoro deles não é nada.

Somos interrompidas pela chegada de Lucas. Percebo que ele tem um sorriso doce, talvez seja esse o encanto, talvez por isso Luiza, Belinhas e outras meninas suspirem pelos cantos por causa do grafiteiro. Ele sorri olhando pra Ju, noto como até mesmo seus olhos estão sorrindo. Penso na injustiça de como essa coisa de gostar de alguém funciona, quase nunca há reciprocidade, como no poema Quadrilha de Carlos Drummond de Andrade “João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém” e eu suspeita seriamente que Juliana era Lili, que ela não amava ninguém. Penso em Fábio, questiono a honestidade do que ele diz sentir. Talvez, eu devesse acreditar, mas como eu me sentia? Não tinha a menor ideia.

-Tudo bem Manuela? – Lucas pergunta.

-Tudo ótimo. – Respondo. – Eu vou indo pra não atrapalhar a reunião de vocês.

-Você viu a Luiza por ai? – Lucas me pergunta. - Eu ia chamar ela pra...

-Ah, não. – Ju diz.- Só o terceiro ano, minha cabeça tá explodindo e eu não preciso lidar com essa galera.

Lucas tenta argumentar, mas Juliana está irredutível, talvez ela precisasse que algo acontecesse do jeito dela. É por isso que, mesmo considerando a possibilidade de defender Luiza, decido não me meter. É algo que aprendemos na luta, a resistência e o melhor momento para atingir um adversário, se pegamos alguém com a guarda muito baixa, alguém fora da nossa liga, parece apenas covardia. O sinal tocou anunciando o fim do intervalo.

-A Luiza vai fazer prova agora. E eu também tenho.. - Me despedi deles, cruzei com Jabá enquanto voltava para a quadra “outro idiota” pensei. Encontro uma quadra vazia, efeito do sinal que anunciava as provas, caminho em direção ao pátio pra acessar o corredor pra minha sala e lá está ele, Fábio, sozinho, coçando a cabeça.

-Não me diga que se perdeu? – Questiono. Fábio sorri. -Tudo bem, deve mesmo ser difícil pra você.

-Sua sorte é que eu comecei a me acostumar com a sua cara. – Fábio me encara. – Porque você é insuportável. – Ele diz com um tom de brincadeira.

-Claro que sou. – Digo caminhando pra sala. 



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