Interagir socialmente sempre foi um grande desafio para mim; a sensação de estar me comportando de maneira inadequada ou falando coisas que não devia me perseguem até hoje. Me comunicar verbalmente é um grande desafio. Não que eu tenha problemas de dicção ou em formar frases, mas pessoas me deixam nervoso e eu sempre prefiro o silêncio, além de transmitir paz, ele evita problemas.
Nos últimos dez meses, tenho percebido que a minha socialização tem sido desenvolvida; não tenho oitocentos amigos mas participo de um clube do livro com alguns colegas da escola e um grupo de estudos e posso dizer que tenho me saído muito bem. Com eles consigo falar sem maiores preocupações.
Isso tem influência de Raquel, ela como a pessoa carismática e comunicativa que é, é super popular na escola e fala em público de uma maneira tão segura que até quem passa na rua e a vê através da janela presta atenção no que ela tem a dizer; ela me diz sempre que preciso ser mais espontâneo. Preciso interagir com as pessoas da mesma maneira que faço com ela, mas eu acho isso uma utopia.
Raquel é dessas pessoas que podem ser consideradas o próprio céu e consegue deixar qualquer um super confortável para conversar sobre todos os assuntos. E comigo não é diferente.
Tem algo diferente que eu não consigo explicar, mas sei que ela me deixa confortável da mesma maneira que apenas meu pai conseguia e a maneira como o meu corpo reage a ela me assusta um pouco mas apenas quando estamos distantes. Pois quando ela está perto tudo se torna lindo e natural.
Há quatro meses ela terminou seu relacionamento com Alberto e algo grave aconteceu, mas ela nitidamente não se sente confortável em compartilhar, no entanto, pela maneira que ela ficou após o ocorrido, foi algo grave. Prometi a mim mesmo que iria ajudá-la da mesma maneira que ela fez quando eu cheguei aqui despedaçado e assim o fiz.
E foi então que coisas muito inesperadas aconteceram. Em alguns momentos sentimentos se misturaram e tudo o que eu quero é ficar perto dela e protegê-la. Raquel é como um feitiço para mim, só estou completamente satisfeito quando ela está perto; Seus olhos me fitam de uma maneira extremamente expressiva e me dizem muito.
A nossa comunicação visual diz muito mais do que a verbal. Algumas coisas não precisam ser expressadas para se saber e eu sei, ela me faz saber, que esse turbilhão confuso é recíproco.
Estávamos estudando física quando o primeiro beijo aconteceu, nossas bocas viraram imãs, atraindo-se mutuamente e foi um gesto natural. E me senti como se pisasse nas nuvens, não sei explicar o que aconteceu.
Aquele foi o meu primeiro beijo mas foi muito bom, de verdade. Era como se eu soubesse detalhadamente o que fazer e o fiz com segurança. Tudo é natural quando estamos juntos, esse é o dom dela, tornar a vida mais leve.
Passamos os dias juntos e as coisas apenas fluem e acontecem no nosso tempo e no tempo do destino. Não sabemos o que isso significa, mas eu, Sérgio, sei que isso tem me dado muita vontade de viver.
Como nunca antes tive.
Não consigo nem mesmo abrir um dicionário sem parar na primeira palavra em que meus olhos são atraídos sem sorrir ao lembrar dela.
Amor:
- Forte afeição por outra pessoa, nascida de laços de consanguinidade ou de relações sociais.
- Atração baseada no desejo sexual.
- Relação amorosa; caso, namoro, atração sexual natural entre espécies animais.
- Afeição baseada em admiração, benevolência ou interesses comuns; forte amizade.
- Devoção, adoração.
- Devoção de uma pessoa ou um grupo de pessoas por um ideal concreto ou abstrato.
- O objeto de tal interesse ou veneração.
- Demonstração de zelo, de dedicação.
- Divindade que personifica o amor, como Cupido (Eros para os gregos).
- Cada uma das divindades infantis subordinadas a Vênus e a Cupido.
Creio que seja impossível expressar o que eu sinto, mas resumindo de uma maneira muito sucinta, são todas essas definições que traz o dicionário para essa palavra tão pequena e ao mesmo tempo tão potente.
Hoje é mais um dia em que Raquel entrou pelo meu quarto como o furacão que é.
Ela já não bate mais para invadir o meu espaço pessoal, mas isso já era de se esperar; ela é uma força da natureza e pessoas assim ninguém controla e tentar fazê-lo seria de um estupidez sem tamanho. O mais estranho é que isso não me incomoda; eu, Sérgio, que sempre preferi viver como um lobo sem matilha, tenho me sentido confortável com essa invasão em meu espaço pessoal.
Não sei se confortável seria a palavra correta. Mas certamente a palavra tem ‘feliz’ como sinônimo; quando ela entra, sempre com os olhos brilhando em empolgação com alguma ideia que teve, com uma nova descoberta, com a empolgação de ter resolvido uma equação com a fórmula de bhaskara sozinha e dizendo que eu deveria ser professor, já que o meu método foi infalível.
“Você não vê, Sérgio" falou exasperada “o seu método é infalível; você precisa iniciar uma corrente pedagógica!” diz pulando de uma vez na cama “já posso imaginar você ganhando vários prêmios de educação por ser o vanguardista do Marquinismo!”
“Não seja exagerada, Raquel.” respondo timidamente “Eu não fiz nada, você que tem uma mente brilhante." respondo com sinceridade, ela é uma dessas pessoas que são muito boas em quase tudo. E bom, como o santo tem sempre os pés de barro, o ponto fraco dela era a matemática, mais por falta de interesse do que de inteligência.
“Ah, Sergio. Não fode!” ela respondeu rindo, enquanto deitava na cama e espalhava seu cabelo em meu travesseiro “ Você me ensinou da maneira que eu preciso, como se eu fosse uma acéfala!”
Admirá-la é o meu hobby preferido, posso ficar horas vendo-a falar da maneira empolgada e apaixonada que só ela é capaz. Temos todo o tempo do mundo para ficarmos juntos mas ainda assim não parece ser o suficiente.
Algumas tardes sua amiga, Carmem, vinha para casa e ficávamos jogando ou vendo alguns filmes. Ela não é bem o tipo de pessoa que eu teria próximo, mas a respeito.
A maneira como ela olha Raquel me incomoda, não sei explicar o porquê. Mas tenho a impressão de que ela direciona a Raquel a mesma expressão de desejo que Alberto e isso me incomoda de maneiras que não sei dizer. Apenas queria ter a opção de tê-la distante.
***
Durante todo o período que esteve exercitando-se ao ar livre, a única coisa que Sérgio não conseguiu foi pôr a cabeça no lugar. Enquanto corria e tentava mudar o foco de seus pensamentos, ele apenas conseguia visualizar Raquel despida na cama, os olhos dela que são quase olhos atraindo todas a suas atenções para eles, a expressão satisfeita dela enquanto ele a preenchia, o movimento do quadril dela e por fim, a facilidade com a qual ela havia dado as costas para ele.
Suas pernas moviam-se por conta própria.
Era uma corrida contra a insensatez.
Nem mesmo a playlist para exercícios que ele costumava ouvir na plataforma de streaming estava o ajudando a distrair-se. Era como se tudo naquele dia e em todo o momento fosse um gatilho para rever cenas da noite anterior em sua mente.
Sérgio já não sabia a quanto tempo estava fora de casa mas sentia que não o suficiente para ordenar as ideias; se é que ele iria conseguir.
Vestia uma calça de moletom preta e uma blusa cinza, os tons sombrios contrastando diretamente com as cores vivas e alegres do ambiente pelo qual se deslocava. Era a primeira vez que estava fazendo o (re)conhecimento do local; os pequenos caminhos construídos em meio ao gramado eram praticamente iguais a quando vivia aqui, porém o jardim mostrava que estava melhor tratado, a maneira como as plantas estavam organizadas era diferente de antes. Talvez seja resultado do trabalho de um paisagista.
Inconscientemente ou não, ele havia garantido que não passaria parto do campo das margaridas, seria muita memória e bons momentos para dificultar um momento que já não era dos melhores. Sem se dar conta estava se aproximando do balanço que antes era testemunha de muitos momentos felizes.
Sua atenção estava voltada unicamente para o som que saia através de seus fones de ouvido, ele tinha a cabeça erguida e quem o visse de longe poderia jurar que estava atento a todos os detalhes a seu redor, porém era como se enxergasse através. Seu olhar estava direcionado a muitos detalhes mas ele via através.
Até o momento que percebeu um balanço de madeira antiga, suspenso por duas cordas a um galho de uma antiga macieira. A cerca que demarcava os limites da propriedade costumava ser vista daquele ponto, mas agora isso já não era possível, o que indicava que a propriedade havia sido expandida.
Parou antes mesmo de ficar muito perto da antiga árvore, foi ali, em uma tarde relativamente caótica, que Raquel havia pedido para que ele fosse seu namorado. Sérgio não costumava ser o tipo de pessoa que se arrepende de suas decisões, dizia sempre ”se a mente ou o corpo estão pedindo é porque vai valer a pena!”. Mas agora, analisando tudo o que havia acontecido de quando chegou a Espanha até o presente momento, tudo o que ele sentia era arrependimento.
Arrepende-se de ter saído de casa essa manhã, de ter ido para a cama com Raquel, de tê-la beijado naquele sofá preto ridículo, de ter aceitado o convite de Andrés para sair, de ter aceitado a ridícula proposta e chantagem do velho desgraçado que estava fodendo a sua vida ainda depois de morto, de ter voltado ao escritório e visto a foto daquela criança, pois agora tinha a curiosidade de saber mais sobre a vida de Raquel, de ter atendido aquela maldita ligação e de ter saído de sua casa para entrar no meio desse furacão surrealista.
Tudo parece desmoronar e ele acredita ser o único culpado disso.
A passividade não fazia parte da sua vida a muito tempo, ele sequer lembrava das sensações de não ter controle do que acontecia e apenas aceitar o que a vida lhe oferecia. Isso não faz mais parte de quem ele é e visto os últimos dias, caso não voltasse ao controle de suas escolhas, isso iria destruí-lo e voltar a ser quem era quando jovem.
Não que ele era um má pessoa, mas sua passividade havia custado muito. Muito mais do que estava disposto a pagar e por isso não iria permitir que a história se repetisse. Resolveu vestir a sua melhor versão alemão, como seus amigos costumavam dizer. E nada, nem ninguém iria desviá-lo se seu foco.
A volta para a casa pareceu ser mais rápida do que toda a caminhada anterior, andava sem visualizar tudo que estava à sua volta. Como se estivesse em um espaço vazio e a única coisa existente fosse a trilha pela qual ele se move. As músicas que antes ocupavam os seus ouvidos enquanto caminhavam já não existiam mais, sua mente estava agora, focada em listar seus passos de hoje até seu último dia nesse lugar.
Sim, seria uma longa estadia. Já que o acordo previa quarenta e cinco dias a partir do dia do funeral, também conhecido como hoje. Ele seria forte o suficiente para evitar qualquer tipo de interação com Raquel, para o seu próprio bem.
Nesta semana em que estiveram na mesma casa, ele já havia se habituado com os horários dela e isso seria o suficiente para evitar encontrá-la; nas viagens que teriam que fazer, exigiria viajar em assentos distantes ao dela e veria com Ágatha e Andrés a possibilidade de visitarem os hotéis e floriculturas da cidade em dias ou horários diferentes.
Ninguém duvidaria de que Sérgio é um homem focado e bem resolvido, sempre teve uma ótima concentração e dificilmente perdia o controle de suas ações, mas quando o assunto é Raquel, tudo isso vai por água abaixo. A única maneira de não cair nos encantos dela - ou no meio das pernas - ainda que ela sequer o provocasse, é a distância.
Só precisaria fingir que estava tudo bem entre ele esta noite e ele evita imaginar como ela estará vestida, por motivos óbvios. E depois já poderia erguer um muro continental entre ambos.
Estava completamente imerso em seu infinito particular e só se deu conta de que já estava quase na casa, quando José, o motorista que estava os acompanhando o comprimentou.
- Buenos días, señor. Não tem como perder a oportunidade de caminhar em um dia como esse, não é? - diz o senhor com a sua simpatia característica.
- Buenos días, José - responde Sergio, saindo de seus devaneios - jamais! Dias ensolarados e mulher bonita são duas coisas que a gente nunca pode deixar escapar - ele diz bem humorado e o senhor à sua frente ri com a sua brincadeira.
Brincadeira infinitamente infeliz, observou Sergio em pensamento.
- Tenho que ir na cidade buscar algumas pessoas para arrumar Raquel, o senhor precisa que eu busque algo para você também?
Sergio leva dois segundos para processar o fato de José ter chamado Raquel pelo nome, isso indica que ela havia sido no mínimo simpática com o senhor à sua frente. Onde estava a pose de superior que ele tem visto nos últimos dias?
- Senhor Sérgio?
- Não José, tudo certo. Tudo o que preciso já está aqui - mais uma vez ele se maldiz pela frase utilizada, ainda que ela tivesse dúbia apenas na sua cabeça e o senhor sequer poderia imaginar tudo que houve entre ele e Raquel.
- Vale - diz José em concordância - Sabe, senhor, agora a pouco encontrei com a menina Raquel na cozinha e ela estava recém desperta, com um hobby, o cabelo um pouco despenteado e sem nenhuma maquiagem e ainda assim era uma das mulheres mais bonitas que já vi em todos os meus anos de vista. Eu realmente não entendo o porquê de ela ter que contratar uma equipe para "deixá-la apresentável" como ela mesma disse.
Sergio concorda com tudo o que o senhor havia dito, porém resume-se em responder apenas com um aceno de cabeça, preferia não imaginar Raquel recém desperta, com sua beleza natural em evidência e menos ainda ela extremamente arrumada para um evento público.
Após despedir-se do senhor, finalmente chegam a casa e vai em direção ao seu quarto, para tomar um banho. Na cozinha, percebe que Marta ainda não havia retornado e que a cozinheira estava já iniciando os preparativos para o almoço, estranha Raquel não estar ali, pois é o horário em que ela costuma tomar café, mas não questiona sobre isso e vai para o andar de cima, em direção ao seu quarto.
Diferente de todas as outras vezes em que adentrou aquele ambiente, não fora o sofá preto ridículo, que agora lhe trazia inúmeras recordações, ou os pôsteres na parede, ou as fotos na estanque, ou a porta do quarto de Raquel que chamaram a sua atenção.
Sua atenção e fôlego foram tomados pela vista que vinha do lado externo da casa, a parte de trás, onde estava localizada a piscina e uma bela área de descanso, mas também não foi isso que prendeu a sua atenção e sim Raquel, que estava exatamente como José havia descrevido, tomando seu café da manhã ali, ao ar livre, vestida com um hobby rosa e aparentava estar em bem distraída falando com alguém ao telefone.
Parecia bastante leve para tudo o que havia acontecido na noite anterior, mas observando bem, era possível notar seus olhos menos iluminados que o normal, consequência da péssima noite que havia passado. Ao julgar sua vestimenta, a empolgação com que falava e o contexto em que estava, Sérgio imaginou que ela estivesse conversando com alguém bem íntimo.
Essa constatação fez com que um nó se formasse em sua garganta, muito provavelmente ela estaria falando com Alicia, sua provável esposa e nesse momento ele sente-se extremamente mal por haver interferido em uma relação aparentemente bastante feliz.
Sergio estava mais próximo a parede vidro que proporcionam a vista do lado exterior do que havia percebido, sequer notou seus passos em direção a ela. Percebeu Raquel largar o telefone, indicando que tinha finalizado seu contato e direcionar o olhar para onde ele estava, quando o viu, arqueou a sobrancelha direito, enquanto ajeita sua postura e o sorriso que antes tinha em seu rosto desaparece, ele perceber os olhos de ressaca dela estão um pouco apagados, mas ainda o puxam como o mar em um dia ensolarado.
Afasta-se dali e vai para o banho, com a cabeça fervilhando ainda mais.
***
Raquel havia despertado com a dor de cabeça de quem entornou uma adega inteira de em uma única noite, mas sequer havia passado perto de bebidas alcoólicas, a ressaca em questão era moral. Seu humor ficou ainda pior quando lembrou que o evento ‘de funeral do Dr. Prieto’ é hoje, havia planejado ficar o dia todo no quarto, remoendo as suas feridas e se martirizando pela sua falta de controle.
Mas isso com certeza não iria acontecer.
Ao pegar o celular, levanta-se de uma vez. Além de estar atrasada, pois já eram quase nove e meia da manhã e ela havia marcado com cabeleireiro e maquiador as onze, ao olhar-se no espelho viu que a noite passada não havia deixado marcas, pois além da cara de poucos amigos, nenhum sinal das muitas horas de chorar havia ficado, o que é quase um milagre.
Estar apresentável era tudo com o que ela não está se importando hoje, apesar de não aparentar fisicamente, está sentimental e psicologicamente destruída; se estivesse em Buenos Aires, cidade que havia a adotado, Alicia e Monica com certeza estariam com um enorme pote de sorvete de chocolate e uma pilha de filmes clichês em sua cama, garantido que ele não chegasse ao fundo do poço sem companhia.
Mas como isso não é possível no momento, após fazer sua higiene matinal, vestiu o seu hobby e passou rapidamente a mão direita pelo cabelo, para arrumá-los minimamente e saiu para se forçar a tomar café antes de passar o dia se arrumando para um evento que poderia facilmente pagar para não ir.
A parede de vidro do terceiro andar da casa lhe proporciona a melhor vista do lindo dia que estava iniciando, então decidiu que tomaria o café na área externa e assim, além de evitar contato com Sergio, ficaria ao ar livre e provavelmente teria seu mau humor amenizado. Antes de seguir seu caminho até a cozinha, deixou seu olhar se demora para o sofá preto, que estava posicionado em frente a parede de vidro; as lembranças que o móvel á trás, deixam ela um pouco zonza e alguns segundos são necessários para que ela possa despertar de seus pensamentos e finalmente seguir seu destino, ainda com o coração pesado.
Na cozinha, descobre que Marta não está presente, pois havia saído para resolver problemas na cidade e provavelmente só retornaria à noite. Não vê sinais de Sérgio pela casa, o que a faz respirar um pouco mais aliviada, um encontro com ele pela manhã com certeza iria acabar as chances de seu dia melhorar.
Prepara uma rápida bandeja de café e se direciona a área externa da casa, onde pretendia tomar o seu café enquanto tenta e pensar na melhor maneira de sobreviver por mais de um mês nesse lugar sem cometer um crime ou qualquer outro delito que a faça perder seu réu primário.
Caminhava para fora da casa lembrando de que ainda não havia avisado a sua filha que não iria chegar a tempo de comemorar seu aniversário e essa provavelmente seria outra dor de cabeça, já que Silene não costumava lidar bem com mudanças de plano e pode ser bastante explosiva.
O ambiente está completamente diferente de como costumava ser, até agora essa havia sido a maior mudança em toda a propriedade, até o azulejo da piscina havia mudado, antes era uma tom mais claro e o de agora tem um tom de azul marinho, deixando a água com um ar de mistério. A grama, assim como nas outras áreas que ela já tinha visitado, estava perfeitamente aparada e o local conta com uma decoração rústica e ao mesmo tempo sofisticada, espreguiçadeiras de cor escura estavam dispostas em do lado esquerdo da piscina e ao lado direito tinham mesas de madeira, também na cor escura, com guardas sol em cada uma delas.
Um pouco mais distante da piscina, tinha uma espécie de deck, que ao contrário do restante do ambiente, tinha o piso de madeira, sofás, poltronas e almofadas também de madeira e com almofadas brancas e cinzas. Tinha uma mesa de centro ali e foi para onde ela se direcionou, colocou a bandeja ali e sentou-se sob uma almofada, para ficar um pouco mais confortável.
Antes mesmo de tocar em sua refeição, decide avisar a filha que não poderia estar presente em sua festa, não tinha porque adiar essa conversa, pois quanto mais demorasse a falar maior seria a birra da filha, conhecendo-a como ninguém e contando com o apoio de Mônica, sua “cunhada”, que será a única a estar presente com sua filha, ela resolve enviar um áudio, pois sabe que uma ligação para tratar desse assunto seria longa e estressante. Não julga a filha por ficar chateada, já que ela mesmo estava imensamente decepcionada por perder a primeira festa organizada totalmente por Silene.
Após pensar muito sobre qual seria a melhor maneira de avaliar e perceber que, ainda que escrevesse um romance shakespeariano, não seria suficiente nem tornaria as coisas mais fáceis. Decide apenas falar, de maneira concisa.
“Bom dia meu amor, espero que esteja bem. A mamãe está morrendo de saudades e infelizmente não tenho notícias muito boas; não consegui resolver as questões de trabalho ainda e provavelmente terei que ficar aqui por pelo menos mais um mês. Eu estou muito, muito, muito triste por perder esse momento tão importante para você; nunca passamos datas importantes separadas e eu to muito frustrada por não poder estar ai. mas se você quiser, nós podemos marcar uma viagem só nossa, quando eu voltar para casa. beijos, carinho. Te quiero y te extraño.”
Ao finalizar a gravação do áudio, respira fundo; com a consciência pesada e prevendo a tempestade que iria acontecer mas consciente e que estava fazendo todo o possível para fazer sua filha feliz. jamais deixaria alguém magoar sua menina, que apesar de estar cada dia mais independente e já ser adulta, seria sempre sua menina.
Tudo o que havia já havia feito e sofrido para ter sua filha consigo não é nada perto do que está disposta a fazer agora, para garantir que Silene continue com suas lentes cor de rosa nos olhos, ele nunca seria envolvida em toda essa confusão e isso era uma coisa que Raquel estava disposta a lutar para manter.
Percebe que Sérgio está a observando do andar de cima, ainda está com muita raiva dele e de tudo o que tinha acontecido, mas principalmente dela, por ter perdido o controle. Resolve ignorá-lo e iniciar sua refeição.
O dia mal havia começado e
Sua saúde mental já foi posta à prova mais vezes do que desejava.
***
A equipe que havia sido contratada para ajudar Raquel a se preparar para o evento chegar logo após o almoço, teriam menos de três horas para deixá-la pronta para a festa e ela sequer tinha conseguido escolher o que iria vestir. Ficou muitos minutos analisando as opções de vestido que tinha e decidiu que iria primeiro decidir como iria arrumar o cabelo, para depois escolher seu vestido.
A equipe invadiu o quarto dela como um furacão, eram um cabeleireiro e seu assistente, José, um homem de meia idade com um humor aguçado e uma energia invejável e João, um jovem de cabelos escuros e olhos curiosos. E Manila, a maquiadora, uma bela mulher alta e com o corpo esbelto, era menos falante que os outros dois mas também bastante animada.
Os três organizavam seu material de trabalho enquanto conversavam sobre banalidades e Raquel ria e conversava animadamente com eles. Seu dia com certeza está bem melhor desde que eles chegaram e ela torce imensamente que consiga manter essa energia até o final dele.
Estava sentada em uma cadeira diante da penteadeira branca, com um grande espelho que está ali a muito tempo. José e João estão jogando suas mechas de cabelo de um lado para outro, enquanto falam o que podem fazer com elas. Raquel apenas se divertia e analisava os penteados sugeridos.
Mas como nem tudo são flores, sente seu corpo todo ficar tenso quando José comenta sobre o moreno, com cara de nerd misterioso e que deve foder muito bem que havia encontrado no corredor, claro que ele estava falando de Sérgio. Ninguém mais se encaixa naquela descrição além dele,
E sim, tudo o que eles disseram era a mais pura verdade. Principalmente a parte de foder gostoso, a noite passada e a cama do quarto de hóspedes eram testemunhas de que eles estavam corretos.
“Infelizmente ele tem a maior cara de hétero” lamenta o mais novo “eu se fosse qualquer mulher dessa festa, iria garantir de usar um vestido que fosse capaz de deixar qualquer homem louco, principalmente um deus desses" todos os presentes riem e Raquel ri apenas para disfarçar o incômodo que sentia.
Sim era isso, ela está com ciúmes de um homem que sequer pode ser seu novamente. E eles tem razão em dizer que todas as mulheres da festa iriam cair em cima dele. E é então que ela decide qual será o vestido que usará e tenta pensar no penteado que valorize o look.
‘’Meninos, vamos fazer um coque meio desarrumado com algumas mechas soltas na parte da frente, o que vocês acham?’’
“Manda quem pode e obedece quem tem juízo" respondem os dois homens ao mesmo tempo.
E sim, Raquel estava tomando uma decisão completamente egoísta, pela primeira vez em muitos anos estava priorizando as suas vontades e com certeza, sua maior vontade no momento é ter toda a atenção de Sérgio para si e era isso que ela iria ter.
Decidiu, nesse exato momento, que iria priorizar as suas vontades e desejos como ele havia feito e era uma decisão sem volta.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.