História Como Se Livrar De Um Demônio Apaixonado - Jimin, O Generoso

Todos estávamos boquiabertos com tudo aquilo.

Então demônios existiam, vestiam-se como gogô boys e ainda eram atraentes. Sei lá, eu esperava uma criatura vermelha com um garfo gigante querendo me espetar porque eu ousei incomodá-lo por causa de um desafio idiota, mas, bom, não foi bem assim.

— Então, vão ficar ai parados me olhando? — perguntou Jimin já se aproximando da mesa e puxando uma cadeira vaga. — O negócio é o seguinte, qual o nome do moleque que me invocou?

Todos apontaram para mim, traidores.

— Então foi você, certo? — puxou de dentro de seu blazer um palito e colocou entre seus dentes. — Você sabe que agora sou, basicamente, seu animalzinho de estimação, não é mesmo?

— Como assim? — perguntou Hoseok.

Eu quem deveria perguntar isto, certo?

— Vou ser uma espécie de, como posso dizer...

O ruivo levou a mão ao queixo pensativo.

— ..."Demônio da guarda". — fez a expressão das aspas com as mãos. — Vou viver todos os dias ao lado dele, fazendo tudo que ele quiser.

— Af, por que vocês não me mandaram invocar? — reclamou Yoongi. — Eu queria um faz tudo! Eu estou com tantos trabalhos...

Ele se aproximou tocando minha canhota. Falso.

— Jungkookie... será que você poderia me emprestá-lo?

— Me solta, Yoongi! — puxei meu braço. — Eu não vou ficar com ele, era só pra cumprir o desafio. 

— Você não pode me devolver, babaca. — Jimin colocou seus pés sobre a mesa e as mãos atrás da cabeça. — Eu só vou embora quando for extremamente necessário. Você que me invocou, agora, se vira.

Como eu queria socar o lindo rosto alvo que parecia tão tranquilo.

— Ah, releve, Jungkook. — disse Namjoon. — Pelo menos ele vai ser, tipo, um escravo pessoal.

— Talvez. — Jimin abriu os olhos. — Não é como se eu fosse fazer tudo tão fácil. Ele me tirou do inferno, meu santuário de paz pra me trazer à terra por uma merda de desafio. Ele acha que vai ser tudo um mar de rosas? — pude escutar sua risada, um tanto sinistra até. — Eu vou infernizar a vida dele.

Engoli seco enquanto o ruivo me observava ainda com um sorriso, suas pupilas dilatas e completamente escuras.

— Vai ser um prazer ser seu demoninho particular. — dito isso ele se levantou e seguiu até as escadas. — Agora, se me derem licença, vou procurar uma loja que venda discos de vinil. Gosto de ficar acertando os bêbados que saem do bar com elas.

— Estamos em 2016, não existe mais lojas assim. — após escutar minhas palavras, Jimin que estava subindo as escadas parou e olhou para trás.

— Não? — perguntou surpreso. — 2016... Caramba, estou ficando velho mesmo.

— Verdade... — o demônio encarou Hoseok com os olhos comprimidos ao escutá-lo concordar consigo.

— Enfim, eu vou indo, logo apareço novamente.

Ele subiu as escadas logo batendo a porta. De repente me lembrei da senhora Kim. Puta merda! Se ela o visse, ficaria chocada. Corri escada acima tropeçando um pouco e então cheguei a sala onde ela assistia novela calmamente.

— Senhora Kim, você, por acaso, viu alguém passar por aqui...? — perguntei meio receoso.

— Não, Jungkook. — ela respondeu sem tirar os olhos da TV.

Mesmo que Jimin dançasse moonwalker na sala de estar, acredito que a Senhora Kim sequer perceberia já que a novela era deveras sagrada para aquela mulher. Fiquei observando um tempo a porta de entrada tentando assimilar tudo que acabara de acontecer e pensando na roubada que eu havia me metido.

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— Não é como se fosse tão ruim assim. — Yoongi devorava um sanduíche de peito de peru.

Estávamos no intervalo da escola, sentados na arquibancada da quadra. Não gostávamos muito de ficar no pátio junto dos outros alunos, já que éramos sempre alvos de zoações por sermos os diferentões daquela instituição. Eu sei, você já deve está pensando que lá vem um clichêzão, mas relaxe que com o Namjoon ninguém ousava se meter. Porém, como naquele momento ele ainda estava na sala de aula então não estávamos muito protegidos.

Já fazia um dia que Jimin não havia aparecido e, sinceramente, eu não estava nem um pouco preocupado. Estava era rezando — mesmo ainda não acreditando muito em toda essa coisa de seres sobrenaturais, mas vai que, né — para que ele tivesse ido embora.

— É, pensa. — Hoseok se pronunciou. — Pelo menos você vai ter com quem jogar videogame.

— Nossa, resolveu todos os meus problemas. — disse em um tom irônico. — Muito obrigado, Jung Hoseok.

— De nada! — respondeu ele com um sorriso antes de devorar seu lanche.

Revirei os olhos, estava cercado de idiotas mesmo.

— De repente ele foi embora, não deve ter achado alguma loja que vendesse discos de vinil e- — Yoongi foi interrompido.

— Na verdade, eu achei. — demos quase que um salto ao escutar aquela voz, olhamos para trás e vimos Jimin sentado em um banco atrás de nós.

— O-O que você está fazendo aqui? — estava nervoso. — Se alguém te ver aqui...

— Ah, relaxa! — Jimin estava despreocupado. — Só me vê quem eu quero que veja.

Ele pulou para a nossa fileira e se sentou ao meu lado, se inclinou observando meu lanche.

— Hm, isso parece estar muito gostoso.

— Mas é meu.

— Não deveria falar assim com seu demoninho da guarda. — fingiu um beicinho.

Muito falso por sinal.

— Eu não vou te dar nada, Jimin.

— Olha! Não é o inspetor de vocês vindo ali? — rapidamente viramos o pescoço para onde ele apontava, mas não havia ninguém. Quando voltei meu olhar para ele, Park estava devorando meu sanduíche.

— Hmmmmm, tá bom. Vai ser muito bom comer isso todos os dias.

M-E-U S-A-N-D-U-I-C-H-E! 

— JIMIN! — meu grito ecoou por todo o ginásio vazio.

Tomei meu sanduíche das mãos dele que apenas ria, já havia comido metade do meu lanche.

— Nunca mais toque nas minhas coisas.

— Ah, foi só um pedacinho.

— Eu vou sentir fome o resto do dia.

— Bom que mantêm a forma. — Hoseok se meteu, revidei com um tapa em sua nuca.

Me levantei possesso, podia jurar que saia fumaça de minhas orelhas. Segui para o banheiro masculino onde entrei já chutando a porta, o ambiente estava vazio. Agradeci por isto. Abri a torneira deixando a água cair por alguns segundos enquanto observava meu reflexo irritado, me inclinei e peguei um pouco d'água com as mãos e molhei meu rosto. Ao voltar a posição ereta, levei a mão ao peito quase enfartando de susto.

— Surpresa.

Jimin estava apoiado na porta da cabine com um sorriso, apenas balancei a cabeça em negação enquanto ia pegar o papel para secar o rosto.

— Qual é, Jungkook. Você está realmente chateado comigo?

— Eu tenho uma prova importante de matemática hoje, Jimin! — respondi. — E com fome vai ser um pouco difícil me concentrar.

— Não coloque a culpa na fome por sua idiotice, Jungkook. — revirei os olhos.

Pensei, por um momento, que ele fosse entender, mas eu havia esquecido. 

Ele era um demônio.

Sai do banheiro deixando-o para trás. Puto, não queria ver aquele ruivo nem que estivesse pintado de ouro. Acabei encontrando Namjoon no corredor que não estava com um semblante muito legal.

— Levei bomba em redação de novo, estou fodido.

— Por que não estudou com Yoongi? Ele é muito bom em redação.

— Ele ficou o tempo inteiro reclamando por causa do circo. — o loiro estava revoltado. — Eu não aprendi nada com ele.

— Af, que merda, Namjoon.

— Fazer o que, vou ter que fazer a recuperação. — coçou a nuca. — Vou nessa, boa sorte com a prova.

Ele passou por mim, olhei para trás observando-o se afastar, depois voltei a caminhar na direção oposta com o coração acelerado tentando me lembrar de todas fórmulas aritméticas possíveis e rezando para que as respostas de todas as contas fossem a fórmula de bhaskara.

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Já era a décima vez que olhava para o relógio acima do quadro-negro, batia o lápis contra a mesa a fim de controlar o nervosismo.

— Para com isto, Jeon! — mandou a professora.

Dei um sorriso amarelo e passei a coçar a nuca.

A prova à minha frente havia muitas questões, eu estava fodidamente desesperado, não conseguia me lembrar de nada e, vez ou outra, minha barriga roncava o que também não estava ajudando nem um pouco. Fui ficando ainda mais nervoso quando as pessoas começaram a entregar suas provas e a minha continuava em branco.

— Não está tão difícil assim... — olhei para o lado e Jimin estava parado em pé enquanto analisava a minha prova.

Quase dei um pulo.

— Jimin?!

— Jeon, shiu! — mandou a professora novamente e eu acabei me encolhendo.

— O que está fazendo aqui? — sussurrei.

— Vim te ajudar.

— Não preciso da sua ajuda.

— Ah, é mesmo? — apontou para minha prova em branco. — Espera um minuto.

Observei ele caminhando até a mesa da professora, aquele serzinho queria me ferrar, realmente. O ruivo se inclinou analisando o gabarito enquanto a professora lia um livro qualquer, meu coração quase parou quando ela olhou para o lado onde Jimin estava e murmurou algo.

— Vento estranho.

Talvez fosse a respiração do Park, não sei muito bem explicar. Ele voltou até mim com um pequeno sorriso.

— As respostas são essas, a primeira é A, a segunda E... — ele disse-me todas.

— Não posso fazer isso, Jimin, é trapaça.

— Jeon, não é hora para ser um santo. — se sentou na cadeira vaga ao meu lado. — Anota isso logo.

— Mas...

— Você prefere reprovar?

— Não.

— Então anota logo!

Acabei soltando um pequeno sorriso, ele parecia muito diferente do demônio que havia invocado ontem, mas eu não confiaria totalmente. Talvez ele estivesse querendo me pregar uma peça depois, por isso estava sendo tão generoso.

— Eu continuarei com um pé atrás, você é malvado. — sussurrei com o lápis encostado em meus lábios.

— Não pense que só porque estou te ajudando que é uma trégua. — se inclinou na cadeira e relaxou com as mãos atrás da cabeça. — É apenas nossos primeiros dias juntos. Você tem razão, eu sou um demônio malvado demais.

— Estou vendo. — ri baixinho enquanto voltava a prestar a atenção em minha prova.