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História Como tudo aconteceu e além... - Parte XI


Escrita por: ksnrs

Notas do Autor


DBZ não me pertence e seus personagens também não.
O intuito dessa fanfic é totalmente interativo e sem fins lucrativos.
Por isso, não me processem, por favor. Não tenho como pagar uma fiança e da cadeia não dá pra postar.

Socorro, que eu quero chorar.

Boa leitura!

Capítulo 11 - Parte XI


Se Goku não tivesse a capacidade de se teletransportar, não teria chegado a tempo de impedir Vegeta de trucidar seu filho. Foi um flash de segundo, entre ele sair do lugar e golpear o peito do amigo, o tacando metros pra trás.

Se Vegeta estivesse com o mínimo de racionalidade aflorada, teria ficado ainda mais irritado por isso.

- Se acalma, Vegeta. – a voz de Goku soou firme, fitando o outro sayajin, que se levantava rosnando do chão.

Ele não olhava Goku. Não olhava nada além de Goten e Bra, que o encaravam de volta, assustados.

- Você... Você não... – mastigava as palavras, com os olhos faiscando em verde. Não conseguia dar voz à própria raiva, que só o instigava a voar no pescoço de Goten e estraçalhar cada maldito pedaço daquele corpo fraco.

Um fraco. Seu solzinho estava metida com um garoto fraco, que sempre esteve à sombra de alguém, fosse do pai, do irmão e até da mãe, que o fazia de bobo a cada vez que punham os pés na rua.

Jamais ele aceitaria isso.

Quando estava de pé, Vegeta não saiu em disparada, como antes. Caminhou devagar, indo em direção à Goten. O ódio que exalava do seu corpo era tão grande, que todos conseguiam enxergar.

Ele ia mata-lo. Se bobeasse, matava todo mundo naquele lugar e deixava só Bra, pra que ela soubesse que o pai tinha se tornado um assassino de novo e se culpasse por isso.

Mas Goku o pegou pelo ombro. Ainda dentro daquele transe colérico, Vegeta olhou pra trás pra vê-lo de olhos baixos, o segurando.

- Tira essa mão imunda de mim, Kakaroto. – foi uma ordem. Uma ordem dada por aquele antigo príncipe dos sayajins, que não se deixava levar por conversas emocionais. Goku, nesse momento, não era nem um rival. Era um inimigo que se impunha em seu caminho.

- Você presta atenção em como fala com o meu marido, seu marg... – a voz estridente de Chichi ecoou pelo lugar, pegando todos de surpresa.

Era a deixa que Vegeta precisava. Ainda olhando pra Goku, vestiu aquele sorriso maluco, que não tinha mais usado desde que tinha virado o Majin Vegeta. Era exatamente como se sentia nesse momento: alucinado, transtornado, tomado por sentimentos que não conseguia controlar. E a voz da Chichi, da escandalosa que ele detestava até o último fio de cabelo, desencadeou a volta daquele Vegeta que não liga pras consequências. Apenas age.

Ia começar por ela.

- Chichi, quieta. – Goku ainda estava calmo. Ou não. Tava do jeito que costumava ficar quando lutava, mas na parte final, quando ele já está levando o adversário a sério.

Ela poderia ter retrucado, mas Chichi também reconheceu aquela postura de Vegeta. Engoliu uma saliva e deixou que Goku tomasse conta do problema. Mas uma outra esposa também estava naquela sala e essa, por mais respeito que tivesse pelo marido, temia que ele fizesse algo do qual se arrependeria pelo resto da vida.

Bulma deu um passo pra frente, chamando a atenção de Vegeta. Ele reagia por instinto. Quando ela se mexeu, seus olhos se viraram pra Bulma, como um animal que se mexe pelo movimento do outro. E pra ela, Vegeta também lançou um olhar feroz.

Talvez, só talvez, fosse de Bulma que ele mais tinha raiva. Mais até do que de Goten. Porque ela sabia, claro que sabia. Agora, com a clareza dos fatos em seus olhos, era nítido pra Vegeta que Bulma vinha escondendo isso dele. As conversas tortas, as vezes que ela mudou de ideia ao iniciar uma fala, o segredo de Bra que ela queria que a própria menina contasse.

Há tempos ele não se sentia traído assim.

No meio de todo aquele ódio, Bulma reconheceu a dor. Só ela seria capaz de ver a dor no meio dos olhos negros de Vegeta, que faiscavam em verde. Só ela conseguiria enxergar que, por baixo daquele sorriso insano, tinha uma mágoa que o dilacerava. Naquele momento Bulma se arrependeu de não ter contado nada à ele. Não era uma coisa boba, que ela conseguiria lidar com a irritação de seu sayajin depois. Era sobre a vida da filha deles! E ela tinha mentido. Tinha escondido. Tinha enganado.

Bulma sabia que Vegeta a odiava nesse instante e não o criticava por isso.

- Vegeta, a gente precisa conversar.

Olhando pra Bulma, ele começou a sorrir de novo. Era como se quisesse mostrar pra ela que, muito do que estava fazendo, era resultado de seu silêncio. E a voz, a fala, a ordem, vinha de quem ele mais queria trucidar.

Virou o corpo em direção à Goten.

- Não precisa não. – sibilou as palavras, com o sorriso maluco estampado de lado a lado do rosto.

- Papai... – Bra tentou interferir e, pra ela, o olhar foi ainda mais mortal.

Ela não conseguia enxergar toda a dor por baixo daquela expressão alucinada. Não era capaz de entender a dor que o pai sentia, apesar de fazer questão de esconder. Porque Bra não o conhecia assim. Conhecia o sayajin turrão, manhoso, que fingia estar bravo só pra que ela lhe desse um beijinho. Mas esse de agora, esse ela nunca tinha visto. Todos naquele lugar sabiam do que Vegeta era capaz de fazer quando estava assim, mas Bra não.

Só que isso não tornava mais fácil. Mesmo que nunca tivesse visto o pai nesse estado lamentável de irritação, ela também nunca tinha recebido um olhar tão frio.

Desprezo. Era isso que sentia, quando olhava Vegeta.

- Cale essa boca. Eu não quero te ouvir. – ele respondeu devagar, compassando as palavras.

Foi pior que um dos golpes que ele lhe dava nos treinos. Bra entrou em desespero. O choro explodiu em sua garganta e, no ímpeto, deu um passo em direção à Vegeta. Mas antes que desse o segundo, Goten passou o braço em sua frente, a impedindo de continuar. Vegeta arqueou uma sobrancelha ao ver a cena. Seu sorriso, agora, era irônico.

- Papai, eu... – Bra tentava se desvencilhar do obstáculo que Goten propunha, mas estava tão desnorteada que não conseguia nem se organizar.

- Já mandei calar a boca. – Vegeta voltou a olhá-la, agora com a mesma ironia que encarava Goten. – Agora é tarde pra me falar qualquer coisa... garota.

Garota.

Vegeta tinha o péssimo hábito de chamar os outros assim. Chama Videl e Pan de “menina do Gohan”. Chama a própria esposa de “mulher”. Mas Bra sempre tinha sido Bra. Foi como se ela tivesse caído de categoria, se tornando uma garota comum.

Mas ela não era comum. Não pra ele. Pra ele, era seu solzinho, sua florzinha de dente de leão.

- Não fala assim, papai... – e caiu no choro. O braço que a impedia de avançar, nesse momento tratou de ampará-la. Goten trouxe Bra pro seu peito, escondendo-a dos olhos endemoniados de Vegeta.

E ele, ao ver isso, caiu na gargalhada. Uma gargalhada tão fria, que gelava a espinha de todos por ali.

- Me solta, Kakaroto. – deu a ordem mais uma vez, sem sucesso.

- Não enquanto você não se acalmar.

Vegeta deu mais uma risada alta, totalmente demoníaca.

- Eu tô calmo.

Talvez por inocência ou por acreditar que Vegeta pudesse estar pensando de um modo mais racional, Goku afrouxou o aperto. Foi automático. Assim que soltou, Vegeta voou em direção à Goten, o agarrando pela gola da camisa. Ainda empurrou Bra pro lado que, por puro choque, não se mexeu.

Mas os outros sim.

Trunks virou Super Sayajin na hora. Vegeta ainda não tinha saído de sua forma comum e, ainda assim, ele sabia que no mano-a-mano não dariam conta dele. Mas vegeta não estava preocupado com ninguém. Até notou que o ki do filho cresceu exponencialmente mas sabia que conseguiria nem chegar perto. Enquanto Goku não se manifestasse, ele sabia que poderia continuar o que fazia.

- Então você achou que podia colocar essas suas patas nojentas em cima da minha filha, seu verme? – ele rosnava as palavras, encarando Goten muito de perto. Seus olhos eram tão alucinados quanto seu sorriso.

Goten não se mexeu. Não fez menção a virar Super Sayajin, muito menos tentou se soltar. Ele sabia que não adiantaria. Sabia que, na mente confusa de Vegeta, o que estava acontecendo era inconcebível.

Só continou o encarando, com os olhos tão firmes quanto podia.

- Moleque insolente... Não se enxerga... NÃO SE ENXERGA! – e chacoalhou Goten, que continuou estático. – VOCÊ OUSOU ENCOSTAR NA MINHA FILHA, NA PRINCESA DOS SAYAJINS!

Vegeta chacoalhava Goten com força, desafiando ele a fazer qualquer coisa que justificasse o soco monumental que queria dar nele. Mas Goten não fazia simplesmente nada. E a cada chacoalhão, mais ódio tinha daquela postura submissa dele.

- Pai, pára com isso! – Trunks tentou interferir, vindo em direção ao pai. Parou no segundo em que Vegeta colocou os olhos nele.

- Eu estou decepcionado com você. – falou pro filho, que congelou ao ouvir essas palavras. – Você me prometeu que cuidaria da sua irmã.

A mágoa de Vegeta era latente. Talvez, depois de Bulma, Trunks era o que mais conseguia enxergar isso.

- Eu cuidei dela, pai. O Goten ama a Bra. – a intenção de Trunks foi boa. O que ele queria, era acessar aquele sentimento que o pai insistia em guardar no fundo do peito mas, é claro, teve um efeito contrário.

- Ama? – Vegeta perguntou com uma sobrancelha arqueada, ironizando. Olhou pra Goten. – Você ama a minha filha?

Pela primeira vez, ele sabia que podia se manifestar.

- Tanto quanto você.

Era audácia demais.

Vegeta baixou a cabeça por um momento, dando uma risada confusa. Soltou a gola de Goten, o que fez com que todos dessem um suspiro de alívio. Não fosse aquela gargalhada insana, poderiam até achar que ele estava mais calmo, quem sabe aceitando o fato.

Menos três pessoas, que sabiam exatamente o que ele ia fazer quando deu um passo pra trás.

Assim que Vegeta começou a acumular o ki na palma da mão, Goku interferiu. Trunks correu pra tirar a irmã de perto de Goten.

Era o que ia acontecer. Vegeta ia mata-lo, sem nenhuma dúvida. E teria feito isso, se a terceira pessoa que o conhecia, não tivesse entrado em sua frente.

- Pára. – a voz firme de Bulma fez com ele levantasse os olhos. A essa altura, Goku já tinha o imobilizado de novo, mas foi a expressão raivosa de sua terráquea que o congelou. – Você não vai fazer isso.

- Você não tem o direito de me dizer o que fazer, mulher. – mastigou as palavras. Sentia tanto ódio de Bulma, que poderia mata-la junto com Goten. E com todos os outros. – Você mentiu pra mim. Você preferiu ficar do lado dessa gente.

- Eu fiquei do lado da minha filha, Vegeta. Da nossa filha.

Ele gostaria de ter rido dessa ironia. Mas nem isso conseguiu.

Vegeta estava ruindo. Quanto mais olhava as pessoas ali, o encarando como se ele fosse o errado nessa história, mais ele sentia o corpo ir se despedaçando.

A vida na Terra o tinha tornado fraco. Ele já tinha pensado nisso antes, várias vezes até. Sempre concluía que não, que a convivência com os terráqueos tinha aflorado algo nele que o deixava mais forte e isso se devia, principalmente, à Bulma. Depois, aos filhos. Mas agora, jogava no ralo tudo o que pensou durante os anos. A vida na Terra, realmente, o tinha tornado fraco. Porque, nesse instante, nesse exato instante em que via a mulher parada na sua frente e a filha chorando abraçada ao irmão, a única coisa que queria fazer era chorar também.

Dentro daquelas verdades que Vegeta não conta à ninguém, nem à ele mesmo, o que preferia era conseguir aceitar isso numa boa. Racionalmente falando, Bra não encontraria ninguém à sua altura nunca, mas Goten dava pro gasto. Só que não conseguia. Não conseguia suprimir essa sensação de traição.

Ele nunca escolhia o caminho mais fácil.

Goku sentiu os músculos rígidos de Vegeta relaxarem em seu aperto.

- Posso te soltar? – perguntou baixinho mas não ganhou uma resposta.

Vegeta continuou olhando um por um que estavam ali. Eles o olhavam com medo, chocados, com certeza pensando que ele ainda era o maldito destruidor de planetas. Era. Foi. Há segundos atrás, poderia ser. Mas agora ele sentia a carne cedendo aos olhos azuis de Bulma, que sempre foram sua rendição e sua redenção.

Ia desabar.

Quando sentiu o aperto de Goku afrouxar, sumiu daquele lugar, voando.

Os que ficaram, soltaram suspiros de alívio. O problema mais explosivo tinha diminuído. Mas ainda sobrava Bra, sofrendo com o desprezo do pai.

Goten se aproximou devagar, tomando a garota pro seu peito.

- Fica calma, minha linda. Tudo vai se ajeitar. – disse baixinho, afagando os cabelos dela.

Ela sabia que não. Bra tinha a certeza de que o pai reagiria mal, mas pensava que isso se restringiria à Goten. Sabia que Bulma também seria alvo dessa fúrias mas, definitivamente, não imaginou que ele a odiaria tanto por isso.

Bra conseguia escutar uma conversa ao fundo. Ao que tudo indicava, a mãe e Goku falavam sobre o que fazer. Chichi ralhava com alguma coisa, que ela não fez questão de ouvir pra não tomar raiva da mãe de Goten logo naquele instante. Mesmo abraçada ao peito do namorado, ela sabia que ele e seu irmão conversavam algo bem baixinho pra que ela não ouvisse. Não precisavam se preocupar. A única pessoa com quem ela gostaria de falar, agora, não estava mais ali. Pelo que ela sentia do ki alucinado do pai, ele estava na sala de gravidade.

Bra não pensou muito. Simplesmente saiu, voando até onde Vegeta estava.

A porta estava fechada, mas ela sabia o código de acesso desde o dia em que aprendeu a falar. Digitou os números com as mãos trêmulas e entrou. Literalmente, sentiu os pulmões sendo esmagados.

A gravidade naquela sala estava mais forte do que nunca tinha estado quando treinava por ali. Do outro lado, Vegeta encarava a filha sofrendo pra dar um único passo dentro daquele lugar. Sua mente, confusa, sentia ainda mais raiva dela naquele momento. Bra estava fraca. Sabia que o peso do ar estava maior do que o que ela estava acostumada a treinar, mas ela tinha que superar. Tinha que conseguir. Era sua filha! Ela tinha que conseguir!

Bra se arrastava pelo chão. A dor estava estampada em seu rosto e aquilo angustiava Vegeta ainda mais.

- Força! – gritou em tom de ordem.

Sua carne queimava pelo poder da gravidade e pelo desespero. Estava dividido entre ajudar a filha e fazê-la se tornar mais forte. A cada pingo de choro que caía dos olhos dela e se espatifava no chão, Vegeta sentia uma pontada no coração.

Não admitia isso. Não admitia que sua filha fosse inferior. Em sua cabeça, um paralelo complicado se formava, dela baixando o próprio nível pra ficar igualada à Goten. Se Bra fizesse isso, nunca mais ele a perdoaria.

- Papai... por favor... – ela balbuciou, se apoiando na mesa dos controles.

Não conseguia dar mais um único passo e, quando o corpo ia ceder, sentiu o peso do ar diminuindo.

- Patética. – Vegeta ruminou. – Você já está se tornando uma fraca, como todos eles.

Isso era o que mais o apavorava. Não admitia a possibilidade que sua pequena princesa se tornasse alguém que não fosse digna de sua admiração. Vegeta admirou Bra quando ela ainda estava dentro da barriga de Bulma. Porque aquela garota era uma guerreira, desde sempre tinha sido. Aliás, enquanto ainda estava dentro da mãe, Bra tinha passado por mais loucuras do que em toda a sua vida fora dela. E, sempre, absolutamente sempre, ela tinha arrancado suspiros de admiração de seu pai.

Torturava Vegeta a mera ideia de que Bra pudesse se rebaixar.

Em seu íntimo, ele sabia que Goten também era forte. Tinha acompanhado o crescimento daquele garoto e, por mais que não gostasse de admitir, a convivência dele com o inconveniente Kakaroto tinha rendido bons frutos. Goten era um bom sayajin. Se fosse analisar bem, de todos os híbridos talvez ele fosse o mais esforçado. Gohan já tinha desanimado das lutas há algum tempo, Trunks vivia naquela dualidade entre ser mais terráqueo que sayajin, Pan parecia seguir os passos do pai e Bra ele fazia com que gostasse de lutar. Mas Goten não. Vegeta cansou de se ver enredado pelas brincadeiras que ele e Trunks faziam e, por vezes, se metia no meio. Eram abaixo de seu nível, isso era óbvio, mas lhe rendiam bons minutos de diversão.

Se fosse alguém diferente, Vegeta poderia até assumir que gostava de Goten. Mas jamais faria isso e era por três motivos. Primeiro, porque ele era cria de Kakaroto e nada que tivesse o dedo daquele sayajin lambão mereceria seu elogio. Segundo, porque não era de seu feitio elogiar nada, nem ninguém. E terceiro, ele não era prole sua.

Bons, em qualquer universo, só os descendentes da família real do planeta Vegeta.

E agora, a sua princesinha, o seu solzinho, tinha escolhido se mancomunar com o filho de Kakaroto. Não dava pra aceitar.

- Papai, por favor, me deixa explicar. – ela pediu arfando, se recuperando do impacto que a gravidade tinha causado em seus pulmões.

Mas Vegeta não queria explicações.

- Não me diga nada, Bra. Não me diga nada. Quando você teve a oportunidade de falar, mentiu. Eu não vou acreditar que não mentirá agora.

Era visível o quanto ele estava abalado. Vegeta se mantinha afastado, do outro lado da sala, de costas pra ela. Isso era pensado, ele sabia que tinha chances de se render se olhasse nos olhos dela.

Malditos Briefs, que tinham o dom de virar seu mundo do avesso só com um olhar.

- Eu não menti, papai! – ela gritou, consternada. – Eu só não te contei de imediato.

- E isso não é uma mentira?! – ele rebateu com fúria, virando pra ela no ímpeto. – Você não me contou porque sabia que eu não ia aceitar. Então você e aquela terráquea traidora decidiram me humilhar, trazendo aquele projeto de inseto pra me afrontar! Aqui! Na minha própria casa!

Tanta coisa naquele rompante a assustava... A começar pelo fato de Vegeta ter assumido que não aceitaria esse namoro. Depois, a menção à mãe. Bra não gostou de saber que Bulma estava em apuros por sua causa. Pra encerrar, o sentimento do pai. Vegeta estava se sentindo humilhado e ela sabia que isso, pra ele, seria imperdoável.

Sabia porque, se fosse com ela, também não perdoaria.

- Me desculpe, papai! Eu errei mas a verdade é que eu... – ela engoliu as palavras ao vê-lo dar um passo em sua direção. Vegeta já não tinha aqueles olhos insanos mas estavam mais raivosos do que ela tinha visto a vida toda. Ela sabia que se terminasse essa frase, algo muito ruim poderia acontecer. Mas não podia mentir, não mais. – Eu gosto do Goten, papai. Eu gosto muito do Goten.

Vegeta deu mais dois passos em direção à ela, disposto a acabar com esse sentimento na força. Mas, no terceiro, ele viu seus olhos. Estava olhando pra eles antes mas foi só no terceiro passos que se afogou nas piscinas azuis que Bra, desgraçadamente, tinha iguais as de Bulma.

A diferença é que os olhos de Bra nunca precisaram dar à ele redenção. Mas faziam com que ele se rendesse imediatamente.

Vegeta lutava contra si mesmo. Os olhos azuis de Bra, marejados, trêmulos, o desconcertavam. O que ele queria era se render à sua princesinha mais uma vez mas, dessa vez, ele não podia. Ela tinha passado dos limites. Limites que, só agora, Vegeta via que tinham crescido demais.

Em outros tempos, nem passaria pela cabeça de ninguém excluí-lo de planos ou escondê-lo verdades. Em outros tempos, pensariam em sua reação antes de coloca-lo em uma situação ridícula. Em outros tempos, respeitariam seu jeito.

Bra tinha aumentado demais os seus limites e agora os dois sofreriam. Porque ele precisava delimitá-los de novo e era ela quem pagaria por isso.

Não deu o quarto passo. Apenas parou, a encarando firme. Bra e o pai se amavam mais do que tudo no mundo e, talvez, ela fosse a única capaz de entende-lo com um olhar. Mas pelas circunstâncias, ela não conseguiu ler que por baixo de toda aquela carranca irada, Vegeta estava quebrado de dor.

- Eu não quero isso, Bra. Eu não permito esse seu... caso.

Era o esperado que ele dissesse. Mesmo que as coisas tivessem acontecido de outro jeito, era natural esperar que Vegeta negasse o pedido de namoro de quem quer que fosse. O que ele não imaginava é que doeria tanto ver seu solzinho explodir num choro convulsivo, recheado de sofrimento.

Ele não podia com aquilo. Não podia vê-la assim. Virou as costas e deu a ordem.

- Saia daqui.

Bra não discutiu. Apenas se virou e saiu, caminhando lentamente. A cada passo que dava, mais ela sentia a distância se impondo entre os dois. Mais ela sentia que estava perdendo o pai. E mais: isso parecia insuportável.

Foi chorando, andando devagar, abraçada ao próprio corpo, por todo o caminho da sala de gravidade até a casa. Já não tinha mais aquele tumulto de gente, estavam apenas Bulma, Trunks e Goten, sentados no sofá. Eles a esperavam.

Quando Bulma viu Bra entrar, destruída, ela entendeu tudo. Mesmo que a filha não tivesse lhe dito uma única palavra, nem a olhado, Bulma sabia o que tinha acontecido. E mais: ela sabia o que ia acontecer dali pra frente.

Se levantou num movimento seco e parou na frente de Trunks, lhe dando a mão. Não disseram nada, simplesmente subiram as escadas, dando espaço e privacidade pra que os dois conversassem em paz.

Goten, ao ver Bra entrar na sala, foi até ela e a envolveu em um abraço. Bra não se manifestou, não correspondeu, nem respirou. O máximo que ela fez foi enrijecer os braços, tornando o conforto desagradável pra ambos. E quando Goten se afastou um passo, pra entender o motivo daquilo, Bra sabia que sua oportunidade tinha chegado.

Ela podia aproveitar seu amor pra justificar uma loucura, ir embora, enfrentar o pai, desistir da vida planejada. Mas não faria isso. Porque Bra não ligava de abrir mão de nada nesse mundo. Menos do pai. Era insuportável à ela pensar em receber aquele desprezo de novo.

- O que foi, amor? Por que está assim? – Goten estava preocupado. Tocou o queixo de Bra, pra que pudesse olhar em seus olhos, mas ela desviou o rosto. Seu coração falhou uma batida. Tentou de novo e ela recuou. O coração parou de bater de vez. – Bra você não vai...

Ele não teve forças pra terminar o que diria.

Mas ela sim.

- Sinto muito, Goten. Eu não posso fazer isso. – e saiu correndo pras escadas, deixando mais um sayajin destruído.



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