O dia amanheceu com a tortura do torneio de Cell latente na cabeça de todos por ali. Vegeta saiu cedo, quis se afastar pra poder se concentrar. Bulma foi ao laboratório preparar um novo uniforme pra ele, já que o último estava destruído. Se encontraram pouco antes do almoço. O torneio começaria as 13 horas.
Já trocado, Vegeta se deu conta de algo que faltava.
- Cadê o Trunks, mulher? Ele ainda não chegou?
Bulma deu de ombros. Tava tudo bem com ele.
- Ele não vai vir aqui, Vegeta. Vai direto da plataforma, com Goku e os outros.
“Vai com o Kakaroto. Humpft! Muito certo o meu filho ir pro torneio com o Kakaroto.” – pensou, contrariado.
- Como você sabe disso? – tinha uma pontinha de esperança que ela dissesse que tinha inventado tudo.
- Bom, pelo jeito o Goku conseguiu mesmo um novo Kami-Sama. Ouvi uma vozinha na minha cabeça e depois Trunks avisando que iria direto de lá. – respondeu, com admiração na voz.
- Nossa... como o Kakaroto é incrível... foi buscar um inseto verde... palmas pra ele! – respondeu, irônico, totalmente enciumado dos olhos brilhantes da mulher.
- Pára, Vegeta! Isso é importante sim! Desde a fusão do último Kami-Sama com Piccolo, estávamos sem deus na Terra. E sem deus, sem Esferas do Dragão. – mandou, direta e firme.
Vegeta ponderou. É, era importante mesmo.
- Humpft! – e voltou a comer.
Estava ansioso demais pra esperar mais tempo. Decidiu ir logo, acabar com isso de uma vez. Antes, precisava se despedir dos dois que ficariam:
- Moleque, eu vou agora. Estou deixando a princesa em seus cuidados. Você é um sayajin nobre. De alta classe, como eu. Cuide dela e a proteja, nem que custe sua vida! – falou firme pro bebê, como se ele estivesse entendendo tudo.
- Não vai custar vida de ninguém, não! – interrompeu, Bulma, estranhamente calma.
- É modo de dizer, Bulma... nossa, mas você é chata, hein? Deixa eu dar as ordens pro menino em paz! – disse Vegeta, contrariado.
Ela riu. Sabia disso, só quis atormentar.
- Tá certo, sayajin. Mas agora, com você, é sério. Cuidado lá. E cuida do Trunks. É sério, Vegeta. Eu cuido desse aqui e você cuida do outro que vai estar lá. Por favor. – pediu, Bulma, que agora estava séria.
Ele concordou com a cabeça. Tinha uma promessa pra cumprir e essa seria só a primeira vez que faria isso. Sabia que iria mantê-la pelo resto da vida. Puxou Bulma pra si e, mais uma vez, sentiu o cheiro dos seus cabelos. Era a força que lhe faltava. Falou no seu ouvido:
- E quando eu voltar, eu lembro de uma promessa de ficar a semana inteira no quarto.
Ela se arrepiou, sorriu e respondeu:
- Eu já estou te esperando, meu bem.
Depois dessa, ele sabia que tinha que ir embora, senão perderia a hora do torneio. Voou do quintal, deixando Bulma com o coração ligeiramente apertado na sala.
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Quando Vegeta chegou à área destinada ao torneio, ainda não tinha ninguém. Quer dizer, ninguém importante. Apenas alguns terráqueos estranhos que contavam uma vantagem insana de que um deles seria capaz de derrotar Cell. Ficou ali, parado, esperando o tempo passar. Durante esse período, analisou cada parte do corpo do monstro, procurando um ponto fraco. Não tinha. Teria que ser eliminado à força, na luta. Só se divertiu vendo o terráqueo apanhar de Cell. “Bom que aprende!” – pensou.
Sentiu o ki os outros se aproximando. Dois absurdamente poderosos, dois bem altos e três razoáveis. Já sabia até quem era quem mesmo sem olhar. Quando desceram, Trunks logo foi falar com ele:
- Oi, pai!
Vegeta não respondeu. Acenou com a cabeça. No fundo, estava enciumado pelo filho ter ido até lá com Kakaroto, mas não falaria. Amaldiçoou esse ciúme. Já não bastava Bulma, agora sentia isso pelo filho também. Olhou pros outros. Kakaroto e o filho ainda estavam na forma de Super Sayajin. Não entendeu como o idiota deixava o filho se vestir como aquele namekuseijin irritante, mas não falou nada. Nessa ele ganhou, porque Trunks se vestia igual à ele. Sentiu uma ponta de orgulho, que só demonstrou com o sorriso de canto habitual. Encarou os outros três e não acreditou no que faziam ali. E dois, inclusive, já tinham dito em alto e bom tom que só tinham ido pra assistir. “É muita petulância, mesmo!” – pensou. Ainda tinha um androide esquisito do lado. “Vai saber que que ele veio fazer aqui”.
Então, quando o momento chegou, viu Goku se aproximar do tablado. Ele tinha dito que seria o primeiro oponente de Cell. Tinha que admitir, era impressionante ver Kakaroto lutar. A potência que imprimia nos golpes, era de deixar qualquer um admirado, inclusive ele mesmo. Só tinha essa maldita mania de não lutar com todas as forças. Vegeta não aceitava esse tipo de coisa. Com inimigo não se brinca, se esmaga. E essa era uma das muitas atitudes em Kakaroto que o deixava louco. Depois pensou, que pra esse tipo de torneio, não seria de todo ruim ele fazer isso. Porque enfraqueceria Cell, tornando a batalha mais fácil pro próximo adversário. E é claro que seria ele. Era o segundo melhor entre os que estavam lá. E, é lógico, que Kakaroto não mandaria o filho pra uma luta mortal como aquela. Estava ansioso. Logo lutaria.
Assistiu, de perto, o poderoso golpe que Goku deu em Cell. Poderoso a ponto de partir o maldito no meio. Mas o desgraçado regenera. Olhou com ódio pra Piccolo, sabia que essa vantagem vinha dele. “Maldito, namekuseijin!” – resmungava em pensamento, como se Piccolo tivesse tido escolha ao passar as células pro monstro. Mas mesmo regenerado, Cell estava muito fraco. Tinha perdido muita energia com o golpe que tomou. Estava dando certo. Kakaroto também estava fraco, mas ainda tinha muita gente pra substituí-lo. Era genial.
- Mas agora é a hora! Aproveitamos que ele está fraco e atacamos todos ao mesmo tempo! – ouviu Trunks dizer.
Sentiu tanta vontade de dar uma coça nele, que pensava que era só isso mesmo que faltava. O filho pensando como um verme. “É isso que dá, ficar andando com esses insetos!” – pensou. Se conteve pra não falar nada além do que o necessário, mas o menino insistia:
- Vamos! É uma excelente oportunidade!
- Cala a boca, Trunks! – gritou, chamando atenção de todos. – Bem se vê que você não faz ideia do que é a honra de um sayajin! A luta é do Kakaroto! O maldito é um gênio! Quando ele terminar, outro entra. – terminou, deixando os olhos envergonhados do filho no chão.
Pensou que não perderia a oportunidade de ensinar isso ao pequeno. Não queria, nunca mais, ouvir aquelas palavras saindo da boca de um filho dele.
Voltou a prestar atenção na luta, que não continuava. Sentiu o coração parar de bater de ansiedade quando percebeu que sua vez estava chegando. Só não imaginava que seria daquele jeito. Ouviu Goku dizer:
- Eu me rendo. Não serei capaz de te derrotar, Cell. Mas o próximo combatente será.
Sentiu o orgulho lhe invadir. Claro que seria. Estava esperando por isso. Nem ouviu o resto da conversa mole dos dois. Já estava aumentando o ki pra acabar com aquela palhaçada o mais rápido possível. Seria mais fácil do que jamais poderia imaginar. Só voltou à si, quando ouviu o nome do substituto:
- ... Gohan!
“Que merda é essa?!” – pensou, enlouquecendo. “Esse imbecil vai colocar o filho pra lutar com o Cell? Depois eu que sou o malvado!”. Viu que não era o único a discordar da escolha. Todos estavam ensandecidos com as palavras de Goku. O verdão parecia que ia matar o próprio. Percebeu que os dois eram próximos, o namekuseijin e o menino. Claro, até se vestiam igual. Viu Goku falar alguma coisa pro garoto, que se dirigiu ao campo de luta. Tentou se acalmar. Logo seria a vez dele. Apesar de que, com a força que Cell tinha agora, era bem provável que o garoto acabasse mesmo com ele. Precisava admitir, o menino era muito forte. Mas o seu seria mais, quando tivesse a mesma idade.
Quando viu Goku dar uma semente dos deuses pro monstro, aí sim ele achou que tinha ficado louco e estava imaginando coisas. Será que ele odiava tanto assim o filho? Ouviu ele falar alguma coisa sobre poder oculto e sei lá mais o que. Mas só conseguia pensar que ele estava mandando o menino pra morte. Por um segundo, deu uma olhada em Trunks. Não deixaria ele lutar, não mesmo. Era o que tinha prometido pra Bulma e era o que iria fazer. Voltou os olhos pra luta. Estava ansioso com o que iria acontecer.
E não é que Gohan estava se saindo bem? Mesmo que o poder fosse menor que o de Cell, estava se esquivando dos golpes ou os defendendo muito bem. Mas estava longe de conseguir ataca-lo de forma mortal. Todos estavam apreensivos, menos Goku, que olhava confiante pro filho e dava um ou outro grito de apoio, o incentivando a lutar com todo o seu poder. Por fim, essa história de “todo o seu poder” ganhou a curiosidade de Cell. O que isso significava?
Quando Gohan explicou que, ao ficar nervoso, seu poder aumentava, o androide se sentiu tentado. Queria lutar com esse ser poderoso! Era formado por células de Goku e Vegeta, que adoravam um adversário mais forte, pra sentir ainda mais prazer ao derrota-lo. Forçou Gohan ao seu limite. Destruiu o androide 16 com facilidade e ainda esmagou a cabeça do maldito que insistia em aconselhar o garoto a lutar com toda a força. Via que o menino estava ficando bravo, mas precisava chegar ao máximo. E chegou, quando criou 7 pequenos seres que se comparavam à ele em poder e que tinham a missão de matar os outros lutadores que esperavam.
Nesse momento a batalha debaixo se tornou obsoleta, já que Vegeta tinha seu próprio inimigo pra derrotar. Mas ele tinha o mesmo poder de Cell e, desde o começo, ele soube que era maior do que o seu. Só que não deixaria um merdinha daquele o derrotar. Pelo menos, não de modo fácil. Viu, um a um dos aliados, irem caindo com os golpes precisos dos Cells Juniores. Viu Trunks ser golpeado ao seu lado e cair também. Em um último movimento desesperado, juntou todo o seu ki e lançou contra o seu pequeno adversário. Sentiu o pânico quando viu que não o tinha afetado. Se angustiou, naquele momento, quando viu que tudo poderia estar perdido por causa daqueles insetinhos irritantes, que tinham derrotado a todos, inclusive ele e Kakaroto. Só uma coisa tirou o seu foco do pavor que sentia: o ki poderoso que emergiu do campo de batalha. No desespero que os amigos morressem, o menino tinha elevado o seu poder a um nível inimaginário, inclusive maior que o do pai.
Um a um, Gohan matou os Cells Juniores. Não falava nada, não reagia. Apenas se tornou uma pequena máquina de destruição. Ninguém ali imaginava tanto poder, só Goku, que tinha esperado por esse momento desde que colocou o menino frente à frente com Cell. E ele tinha razão, como sempre. Gohan era mais do que capaz de destruir Cell. Após comer mais uma das malditas sementes das quais ele tinha se tornado dependente devido à fraqueza e indolência, Vegeta assistiu, boquiaberto, a quantidade de golpes que Cell desferiu em Gohan que defendeu todos. Não teve o trabalho de se esquivar. O olhar intenso, a aura dourada, queimando um ki extremamente poderoso. Golpeou o maldito Cell até a exaustão, fazendo-o vomitar a androide 18. E, se Gohan podia com ele na forma perfeita, era cruel imaginar o que ele faria com o Cell Imperfeito.
Era a hora final. Um último golpe, mortal, e tudo estaria acabado. Foram esses os pedidos de todos, inclusive de Kakaroto. Mas Vegeta reconheceu aqueles olhos, reconheceu aquela atitude. Ele viu, no menino, o mais puro orgulho sayajin e mais aterradora arrogância que andava lado a lado com o poder. Ele sabia, no seu íntimo, ele sabia que o menino não daria o golpe de misericórdia, pois isso não fazia parte dele naquele momento. Ele não teria misericórdia, ele destruiria cada parte daquele corpo nojento que tinha ousado levantar a mão contra os seus. Ele, no fundo, se reconheceu. Reconheceu a honra dos sayajins no menino. No filho de Kakaroto. Só que Vegeta tinha aprendido, com duras lições, o que era se deixar levar pela arrogância. Então, só ele soube que tudo poderia ruir. Como realmente ruiu.
Cell, desesperado com o downgrade, sabia que não poderia vencer. Mas não seria derrotado. Antes de perder a batalha iminente, ele mataria a todos, nem que isso significasse morrer junto. Começou a reunir todo o poder e inflar como um balão. Foi o que Vegeta previu, com tristeza. A arrogância recém-adquirida de Gohan o levou à derrota. E, nesse momento, estava colocando tudo a perder. Sentiu uma dor estranha no peito. Se compadeceu do garoto. Sabia, exatamente, o que ele estava sentindo naquele momento. Gohan estava congelado, vendo um inimigo com o qual não poderia lutar. Era o mesmo que tinha acontecido com ele. Era, exatamente, o mesmo que tinha acontecido com ele. Mas Kakaroto teria um plano, claro que teria. Os olhos de Vegeta se voltaram, até com esperança, pro sayajin, que tinha um semblante calmo. Ouviu ele se despedir dos amigos. Não acreditou que aquilo ia realmente acontecer. Viu quando se teletransportou pra perto do monstro e o ouviu parabenizar o filho pela luta. Realmente tinha sido incrível. E, antes que Cell pudesse explodir, desapareceram da vista de todos.
Houve um silêncio sepulcral enquanto a poeira abaixava. Só foi rompido pelo choro insano que Gohan, agora entendendo os custos da arrogância, dava, jogado no chão. Vegeta, mais uma vez, viu a compaixão do povo da Terra, quando Kuririn foi até ele tentando consolá-lo. Ele, mais do que ninguém, sabia o que o menino estava sentindo e sabia o quanto aquelas palavras idiotas poderiam o ajudar. E se, pelo menos, tudo tivesse acabado... Mas ele sabia que não. Nem ele e nem Piccolo, que informou, apavorado, que o ki de Cell não tinha desaparecido. O garoto, com todo o luto que estava sentindo, seria obrigado a lutar mais uma vez, já que mais ninguém conseguiria derrotar o monstro.
Então, foi uma questão de segundos, até surgir uma forma entre a poeira que se levantou. E uma rajada de ki rasgou por entre ela. Uma maldita rajada de ki que atravessou o peito de Trunks. O tempo parou e o mundo congelou. Naquele momento, apenas Vegeta podia se mexer, apenas ele podia sentir, vendo o corpo do filho cair, com o peito aberto. Naquele instante em que nada mais fazia sentido, ele lembrou das palavras de Bulma: “Cuidado lá. E cuida do Trunks. É sério, Vegeta. Eu cuido desse aqui e você cuida do outro que vai estar lá. Por favor.” Ele tinha quebrado a promessa. Ele tinha perdido o filho. Ele ia perder Bulma. Ele mesmo estava se perdendo. O ódio rasgando seu coração. Maldito! O maldito tinha matado seu filho. O maldito tinha se atrevido a matar seu filho. A loucura foi crescendo dentro de Vegeta. A vida acabou. Bulma nunca o iria perdoar! Bulma nunca mais iria olhá-lo nos olhos! Não sem culpa-lo pelo que aconteceu. Ele precisava fazer alguma coisa.
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Em casa, Bulma acompanhou a luta pela televisão até onde tinha sinal. Quando a transmissão se perdeu, tentou se distrair, conversar com a mãe, pra ver se conseguia afastar aquele sentimento ruim que tinha. Estavam na sala, quando ela decidiu ir buscar mais um docinho na cozinha. De repente, sentiu algo lhe atravessar o peito. “Trunks!” – falou, antes de cair, desmaiada.
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Vegeta precisava vingar o filho. Precisava provar pra Bulma que, apesar de não ser culpa dele, ele tinha dado um fim do maldito. Voou, desesperado até onde Cell estava. Não ouviu os gritos, não ouviu os apelos. Ele ia mata-lo. Ele tinha que mata-lo. E deu todos os golpes que tinha. Explodiu a energia de seu corpo sobre o de Cell. Ele ia mata-lo. Ele precisava disso pra continuar vivendo. Uma onda de energia que a explosão causou, destruiu rochas por um raio imenso. Ele precisava ter conseguido. Ele tinha que ter matado.
Mas não matou.
Vegeta tinha perdido tudo: a razão, a força, o desejo de lutar, o filho. Tinha perdido a Bulma, ele sabia que tinha perdido a mulher da sua vida. Com um golpe, foi jogado pra longe. E estava esperando a morte quando Cell jogou o segundo. Mas Gohan se colocou na frente de seu corpo caído, machucando o braço ao absorver parte do ataque. Achou que não podia perder mais nada, mas perdeu. Perdeu aquele último pingo de orgulho que lutava tanto pra manter. Tinha se tornado um peso na batalha e, por sua culpa, o único capaz de deter o monstro estava machucado.
Viu de perto o esforço que o menino fazia, reunindo suas últimas energias pra atacar o androide. Saiu de perto. Não merecia estar ali. Voou até uma rocha, sentindo o coração partido em um milhão de pedaços. Enxergou a bola de energia que os dois golpes geraram ao se tocarem. Por um segundo, sorriu. Os dois Kamehamehas ficaram azuis. “Da cor dos olhos da Bulma...” – falou baixinho, pra si mesmo. Ele não poderia fazer mais nada. Era o que estava tentando aceitar, quando viu quatro rastros voando pelo céu, indo em direção à batalha. O que aqueles insetos estavam indo fazer? Eles não estavam vendo o poder de Cell? Iam mesmo se matar? Não se enxergavam?
Pela segunda vez naquele dia ouviu as palavras de Bulma: “Nenhuma vez que os rapazes foram enfrentar um inimigo eles eram os mais fortes. Você está aqui, Vegeta. E está na hora de você escolher de que lado quer ficar. Dos que subestimam os outros e perdem, ou dos que enfrentam a luta mesmo sendo impossível de ganhar.” Era disso que ela estava falando. Era isso que eles estavam indo fazer. Iam lutar contra Cell, mesmo sabendo que não conseguiriam ganhar. Iam ajudar o menino. Ele tinha que escolher um lado.
E escolheu. Chegou a tempo de ver Cell rebater os ataques dos outros e deixa-los no chão. Voou acima do monstro e reuniu o resto de energia que tinha. Explodiu na cabeça do maldito, que oscilou. Ela tinha razão. Bulma tinha razão. Os insetos tinham razão. Um único descuido e Gohan conseguiu aumentar seu poder ao máximo e pulverizar até o último pedaço de célula do inimigo.
Caíram exaustos. Cada um deu o que tinha e, juntos, conseguiram. Não houve um guerreiro superior. Houve uma combinação de todos. Nada mais justo, já que o inimigo era uma combinação de todos eles.
- Você ficou maluco, Vegeta?! – Kuririn berrou, tirando Vegeta de um transe insano. – O Trunks pode ser revivido com as Esferas do Dragão! O Goku já tinha até reunido todas pra reviver quem precisasse! Você não podia ter atacado o Cell, daquele jeito! Você quase pôs tudo à perder, seu idiota!
- Chega, Kuririn! – falou Piccolo, com a voz impassível de sempre. – Quando você tiver um filho, você irá entender o que levou Vegeta a agir assim. – terminou, fazendo o baixinho se sentir envergonhado da explosão.
Mas Vegeta nem se importou com isso. Tinha parado de ouvir na parte de “ser revivido com as Esferas do Dragão”. Era isso, ele teria uma nova chance. Saiu voando em direção à onde estava o corpo do filho, sendo seguido pelos outros. Em silêncio, agradeceu à Kakaroto por lhe dar aquele presente. Na rocha onde estavam os corpos de Trunks e 18, houve a divisão. Piccolo e Gohan iriam pra casa contar à Chichi da morte de Goku. Tenshin Han e Yamcha iriam pra casa de Kame dizer o mesmo pro mestre. E Vegeta e Kuririn iriam pra casa de Bulma, onde o pequenino iria pedir pra mulher arrumar a androide de seu coração.
Voaram em uma velocidade incrível pra quem estava quase morto depois da batalha. Ao aterrissarem no quintal, puderam ver Bulma, pálida, esperando por ele. Quando a mulher viu o corpo do filho, inerte, nas mãos do sayajin, entrou em desespero. Começou a chorar tão loucamente, que todos acharam que ela teria uma síncope. A mãe de Bulma, com o bebê no colo, não entendia nada. Vegeta colocou o filho no chão e, sem ligar pra Kuririn, que também tinha a androide nos braços, tentou abraçar Bulma, que berrava descontrolada:
- VOCÊ PROMETEU, VEGETA! VOCÊ PROMETEU QUE PROTEGERIA ELE! VOCÊ MENTIU PRA MIM! – e o socava, na armadura destruída. – VOCÊ DEIXOU ELE MORRER! – gritou uma última vez, antes de se deixar levar pela tristeza e chorar, encostada no peito do sayajin.
Quando ele sentiu que ela estava parando de chorar, após alguns minutos apenas a abraçando com força, Vegeta abriu a boca pra falar sobre as Esferas do Dragão. Antes que pudesse falar alguma coisa, ouviu uma voz fria, saindo do peito dele:
- Você quebrou sua promessa, Vegeta. Eu quero que você vá embora daqui. Agora!
Bulma, de cabeça baixa, se afastou dele. Ao levantar a cabeça, encontrou os olhos azuis escuros, furiosos, com os olhos negros, se despedaçando, dele.
- Some daqui!
Vegeta não soube como reagir. Se afastou dela e voou, pro mais longe que pode dali. Kuririn, com os olhos arregalados, assistiu toda a cena sem conseguir reagir. Viu quando Bulma se ajoelhou ao lado do corpo de Trunks e passou a mão pelo seu rosto, tirando os fios de cabelo da frente dos olhos fechados.
- A culpa não foi dele, Bulma. Eu tava lá, eu vi. – falou baixo e devagar, com medo de que a fúria que tinha visto se voltasse pra ele.
- Ele tinha prometido que não deixaria nenhum inimigo machucar o nosso filho, Kuririn. Nunca. – ela respondeu sem tirar os olhos do jovem, chorando, sentada no chão.
- E não deixou. Ele cuidou dele o tempo todo. O que atingiu Trunks surgiu atrás de uma nuvem de poeira. Ninguém viu o ataque até que Trunks caiu no chão. – ele falou, depositando a androide no tapete e indo até Bulma.
- Ele prometeu... ele prometeu... – ela falava baixinho, meio enlouquecida.
- Bulma, ele quase morreu por isso. – isso chamou a atenção da mulher, que o olhou. – Ele ficou mais maluco do que você está agora. Vegeta tentou atacar Cell sozinho pra vingar a morte de Trunks. Eu até fiquei bravo com ele por isso, mas agora eu tô entendendo porque ele agiu assim... – e a abraçou.
Bulma começou a chorar no ombro do amigo. Tinha uma dor tão forte no peito que achava que também ia morrer. Ouviu o guerreiro continuar:
- Nós já reunimos as Esferas do Dragão. Vamos reviver Trunks o mais rápido possível, Bulma. – e olhou nos olhos cheios de água dela. – Mas eu não sei como você vai se resolver com o Vegeta. Isso ninguém vai poder ajudar. Você foi muito injusta com ele.
As últimas palavras acabaram de destruir a moça. Ela nem ouviu o que Vegeta tinha pra dizer. Deduziu que ele tinha se acovardado de novo e tinha deixado o filho lutando. Ouvir de Kuririn que não tinha sido isso e mais, que ele tinha tentado vingar a morte de Trunks, apertaram o frágil coração terráqueo de Bulma. O que ela ia fazer?
- Quando vocês vão reviver Trunks? – perguntou, tentando se acalmar.
- Na verdade, a qualquer momento. – ele respondeu, se soltando dela. – Piccolo só foi levar Gohan pra casa e contar pra Chichi que Goku morreu... – olhou pros olhos de Bulma que voltaram a se encher – Você não sabia disso, né? Pois é, Bulma. E dessa vez ele não vai voltar...
Bulma voltou a chorar. Esse dia estava sendo duro demais com as emoções dela. Kuririn continuou:
- Mas quando sair de lá, Piccolo já vai pedir ao Dendê que reviva todos os que morreram pelas mãos do Cell. Já deve estar lá... - foi interrompido.
- Dendê? Quem é Dendê? – perguntou, sem entender.
- Dendê é nosso amigo de namekuseijin. Você conheceu ele, lembra? – ela concordou com a cabeça. – Goku trouxe ele pra ser o novo Kami-Sama da Terra.
Ouviram um movimento no chão. Trunks estava voltando à vida.
- TRUNKS! Meu amor! – gritou, Bulma, se abraçando ao filho, que ainda tentava entender o que estava acontecendo.
- Mãe... – ele respondeu, quase sem ar, pelo abraço apertado. – Eu não tô respirando... – fazendo ela o soltar.
- Ai, graças a Kami! Você está bem! – agora o choro era de felicidade.
Trunks riu. Com os lábios e com os olhos. Mas reparou que os olhos dela eram muito familiares. Pareciam demais com os olhos da mãe que ficou.
- Cadê meu pai?! – perguntou, em pânico. – Ele morreu?! Ele morreu, Kuririn?! – perguntou, agarrando a gola do uniforme do amigo.
- Não, Trunks! Seu pai tá bem. Quer dizer... – e parou, constrangido de ter que falar o que houve.
Trunks olhou pra mãe.
- O que houve, mamãe? – teve medo da resposta.
- Talvez eu tenha feito uma cagada monstra, filho. – respondeu, sincera, baixando os olhos. – Eu achei que seu pai não tinha te protegido e o culpei pela sua morte. E o mandei embora.
O peito do sayajin pesou. Isso tava errado, ele sabia que estava.
- A culpa não foi dele, a senhora sabe disso, não sabe? – Viu quando ela concordou com a cabeça. – Na verdade, não foi o ataque que me matou. Eu ainda tinha um pouco de força, que só acabou quando eu tentei impedi-lo de atacar o Cell. Ele foi lutar com ele, mãe! Por mim! – seu olhar estava desesperado. Queria consertar tudo mas não sabia como.
- O Kuririn me disse. – e se sentiu nervosa de novo. – Por que você não falou nada quando eu tava gritando com ele, seu imbecil? – voltando o ódio ao amigo.
- E eu lá sou louco, Bulma?! Eu, me meter numa briga de Bulma e Vegeta?! Eu nem sei nem em quem eu aposto numa luta entre vocês! – falou, se afastando da mulher.
- Mãe, você precisa trazer ele de volta. Seus olhos... – ele vacilou. – Seus olhos... eu não gosto desses olhos... Eu os conheço muito bem. São os mesmos da minha mãe.
Bulma engoliu em seco. E agora, o que ela ia fazer?
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